
Ele chegou sorridente, animando a patuléia com sua determinante vontade de defender a nova camisa da seleção manufaturada por um patrocinador que, em hipótese alguma poderia privar de sua presença, juntamente aos outros três enebianos, frente ao mercado promissor de seus produtos nas terras tupiniquins. Marqueteiros profissionais de plantão na CBB, logo trataram de omitir a realidade física do delfin, assim como o real momento técnico dos demais estelares com treinos secretos à imprensa, e até jogos fantasmas na Europa como esse com a França onde a “realidade” física de alguns dos jogadores selecionados veio irremediavelmente à tona.
Meu Deus, gritam os anônimos nos blogs com a incúria de um planejamento todo voltado a uma seleção de astros que enfim estaria junta na quadra, e não no imaginário dos muitos que somente reconhecem basquete se travestido sob o manto da NBA, basicamente em sua forma de jogar, forma essa que o coach K luta em desmitificar com sua seleção isenta de mastodontes pré-fabricados. Agora mesmo, em um dos blogs nacionais, anônimos já exigem 20 a 25 kg de massa muscular para o jovem Lucas como lastro necessário ao enfrentamento idealizado por seus devaneios de ignorantes absolutos do que venha a ser jogar o grande jogo com técnica e velocidade, e não “porrada under basket” ( desculpem, mas é o único termo que bem define tão brutal distorção), que é o que entendem do jogo.
Tudo pode acontecer gente, menos perdermos o Huertas, pois não temos ninguém no país para substituí-lo na armação da seleção, comenta outro anônimo. Então o que fazem o Raul e o Nezinho na seleção? Se não têm “experiência” internacional, por que lá estão? Quem os convocou ou sugeriu convocação, sendo que um deles, jovem e promissor, era reserva em seu clube no NBB2?
Pois é, o Huertas também está lesionado, que mesmo sendo uma contusão leve, nada justifica essa situação a uma semana do inicio de um mundial decisivo. E se a armação de um homem só, segundo os cânones do sistema único de jogo que praticamos a vinte anos, se torna agora claudicante, imaginem uma dupla armação? Impossível com os que lá estão, ainda mais tendo o Leandro e o Alex funções pontuadoras como prioridades, e três alas que além de serem péssimos marcadores fazem dos arremessos de três suas únicas armas ofensivas.
Toda essa situação já era previsível, pois “quem faz um cesto, faz um cento”, sabia filosofia popular nordestina, que bem exemplifica essa realidade. Treinos e jogos secretos, determinam grosseiras faltas de planejamento estratégico, da preparação física, ao condicionamento técnico tático, ambos fatores essenciais à formação de uma seleção nacional.
Ter um dos melhores técnicos do mundo não é suficiente para formarmos uma equipe vencedora, se esta não refletir uma realidade fundamentada na formação de base, a mesma formação que lastreou e sedimentou o título olímpico ao técnico Magnano, onde seus pedidos e exigências nos fundamentos básicos do jogo,tinham respostas imediatas de seus comandados argentinos, fruto de vinte anos de primorosa formação de base. Pergunta-se se estas respostas estão sendo dadas ao excelente argentino pelos convocados brasileiros? Nenhum de nós pode sequer aquilatar tal questão , fruto do hermetismo de um planejamento, e de uma negação presencial ao seu desenvolvimento.
A preparação da equipe, com seus quatro astros enebianos, foi restrita a uns poucos, muito mais interessados nas promoções de caráter comercial, do que àqueles que militam o dia a dia do basquete, informando e comentando, com erros e acertos, mas dando à patuléia uma imagem real, e não hipotética de uma equipe nacional.
Mas Paulo, dois treinos foram abertos ao público, claro, depois de credenciamento na CBB, e sem qualquer contato verbal com o técnico argentino, correto? Incorreto, pois uma seleção que pretenda ser uma representante de um povo, não pode se esconder, e somente dar as caras em dois treinos descompromissados, para depois vir à quadra mostrando jogadores fora de forma, desentrosados, e o pior, com contusões determinantes.
Temos armadores bons no país? Afirmo que sim, mas sem o poder de patrocínios e marketing poderosos, e isso é um fato que não podemos negar e omitir.
Quando veiculei alguns jogos de minha equipe, o Saldanha da Gama aqui no blog, muitos se surpreenderam com a existência de bons armadores na equipe, e quantos mais apareceriam se os jogos do NBB fossem veiculados na TV ou em stream na internet, quantos? E pivôs, e alas, e principalmente, sistemas de jogo?
Temos agora a melhor trinca de pivôs para este mundial, afirmavam os torcedores, os articulistas e até alguma imprensa internacional. Mas podem jogar juntos? Ou como serão realizados os rodízios? Quando o problema maior era a condição dos mesmos,técnica e física.
E sorridente, solícito e de bem com a torcida, já que integrado à equipe de corpo e alma, não joga, again, o mundial. Tacada de mestre, pois se uma recuperação, segundo o médico da seleção, poderia ocorrer de cinco a dez dias, a onze dias do primeiro jogo, arriscar um contrato de 60 milhões é ato a não ser sequer pensado, no mundo globalizado em que vive, e sonhado por todos aqueles que desejariam vivenciar tal experiência de um vencedor num país de vencedores, será?…
Logo mais a seleção enfrentará a Austrália, num momento em que silêncios e ostracismos não têm mais cabimento e prazos, e oxalá, os deuses, os incansáveis e pacientes deuses nos propiciem esperanças, por menor que sejam, de melhorias e efetivas mudanças em nossa forma de jogar, agora um tanto remendada pela fragmentação de um quinteto base inédito nos últimos anos, mas bem atual, como reflexo de uma realidade da qual não podemos continuar a fugir, impunemente.
E que estes mesmos deuses determinem o meu equivoco, apesar de ter certeza de que tal determinação poderá, infelizmente, ser relevada.
Amém.