O VIGÉSIMO NONO DIA…

Desde que aqui cheguei não havia enfrentado tanto calor e tanta umidade como hoje, transformando o pouco ventilado ginásio numa sauna insuportável. Mesmo sob essas condições realizamos um ótimo treino matutino de fundamentos e arremessos, com especial ênfase nos lances livres. Também procuramos acertar os pontos certos dos passes dirigidos aos pivôs em movimento, fator básico do sistema que utilizamos, onde a precisão dos mesmos é o objetivo maior a ser alcançado.

Sob uma temperatura mais amena, o treino do final de tarde foi muito proveitoso, intenso e exigente, quando detalhamos o ataque contra marcação por zona, pressão e individual, assim como, e concomitantemente, aprimoramos a defesa linha da bola. Como só estava instalada uma das tabelas, o ligeiro coletivo que encerra a fase que antecede um jogo oficial não foi realizado, mesmo assim, os jogadores  se sentiram satisfeitos com o trabalho. Amanhã bem cedo embarcamos para Bauru, de encontro, por mais uma vez, de um resultado que premie o enorme esforço de todos.

Sei das grandes dificuldades que enfrentaremos no interior paulista, mas, de acordo com as condições e atribulações por que passamos acredito seriamente que jogaremos muito bem, e constato isto admirando o enorme empenho nos treinos, onde sobram demonstrações na busca pelo movimento correto, pelo melhor passe, pela escolha e seleção do melhor arremesso, pelo incentivo de uns para os outros, antes, durante e depois das práticas realizadas. Aos poucos, mas seguramente, reencontramos o sentido de equipe, tão abalado pelos fatos ocorridos dias atrás. E vamos superá-los.

Serão jogos duríssimos, pois o final da classificação se aproxima com todas as equipes procurando e lutando pelas vagas no play off,  meta distante, mas não impossível para a nossa equipe.

E lá vamos nós, cheios de fé e a mais absoluta certeza de que o trabalho intenso e sacrificado nos dá a certeza de que estamos muito perto dos grandes resultados, apesar do descrédito de muitos, e das amargas situações porque temos passado.

Enfim, vamos a luta, vamos jogar o grande jogo como deve ser jogado.

Amém.

O VIGÉSIMO OITAVO DIA – A RETOMADA…

Chego ao ginásio para a sessão de vídeo às 9:00 hs, e encontro os jogadores sentados na mureta em frente ao mesmo a espera do assistente técnico e do preparador físico que estão trazendo de suas casas a TV e o reprodutor de DVD , já que a equipe não os possui. Vamos para o palco atrás de uma das tabelas, dispomos as cadeiras, ligamos os aparelhos e…a TV simplesmente falha seguidamente, inviabilizando a emissão das imagens. Fim da sessão, e ficamos sem poder corrigir posicionamentos e deslocamentos errôneos no jogo de domingo. Pacientemente nos deslocamos para a quadra onde funcionários acabam de constatar que o sistema hidráulico de uma das tabelas simplesmente não funciona.

Sem vídeo e sem uma das tabelas realizamos um treino especifico de fintas e arremessos, que pelo menos pudemos concretizar.

18:00hs- Iniciamos um treino de retomada após a tsunami que nos assaltou nos dois últimos dias, e como foi puxado no confronto defesa linha da bola versus nosso sistema de ataque, com enfoque detalhado na ação dos três pivôs. Repetições e mais repetições, minuciosas e cansativas, exaustivas mesmo, quando o cansaço embota o raciocínio e os gestos tendem à lentidão, num momento em que situações de jogo se tornam reais, num momento em que o treino pode se tornar realmente proveitoso na descoberta dos limites físicos, mentais, psicológicos, ou simplesmente no reconhecimento de que muitas barreiras ainda terão de ser transpostas, num sem fim de possibilidades alcançáveis ou não.

Nesses momentos mágicos a dimensão de cada jogador é revelada em toda sua extensão, além do cansaço, muito além da exaustão. Aquele que se entrega, aquele que se supera, outro que se exaspera, e mais outro que se sublima, e aquele único que lidera a todos pelo exemplo e pela resistência, mantendo sua reserva técnica pronta e lapidada para aplicá-la nos momentos decisivos. É a busca que todo técnico deve perseguir no conhecimento real de sua equipe, com parcimônia, objetividade, e acima de tudo com bom senso.

Ligeira interrupção no esforço para os arremessos de lance livres, onde suor, tensão muscular e mental recriam com exatidão aqueles momentos em que as partidas são decididas, naqueles momentos em que a precisão depende de todo o controle físico e mental que possa ser alcançado.

Retomamos o duelo, agora contra defesa por zona, que no quinto minuto de duração é interrompido pela comunicação do administrador do ginásio que outro treino, de voleibol se iniciaria naquele momento. Frustro-me com a ausência de um planejamento mais elaborado, e prometo a mim mesmo que se o trabalho se estender para a próxima temporada fatos desta monta não se repetirão. Encerro o treino, e vejo nas feições cansadas dos jogadores o quanto de produtivo e compensador foi seu esforço, que amanhã, sem falta, repetiremos pelo prazer do dever cumprido.

Amém.

O VIGÉSIMO SEXTO DIA – O JOGO…

Como jogamos bem hoje, como lutamos e perseveramos, como suprimos no limite da resistência aqueles que não estiveram junto a nós, mas perdemos, ao final do último quarto, contra uma equipe que venceu a pouco os grandes da competição, e que não ultrapassou os 70 pontos, mas perdemos, o que nos tornam, a mim e os jogadores, alvo dos descrentes de que algo de renovador possa transcender a mesmice técnico tática a que nos habituamos nos últimos 20 anos, mas infelizmente perdemos, quando uma vitória nos redimiria de tanta incompreensão e imediatismo vindo daqueles cuja mediocridade arrasa mentes e espíritos abertos, e que não se cansam do que fazem.

Que pena a não divulgação pela TV de um jogo, de uma peculiar maneira de jogar, senão diferente, eficiente, democrática, criativa, onde jogadores aprendem a ler o jogo de verdade, onde se ajudam e discutem os melhores caminhos, errando algumas vezes, mas indo de encontro às soluções sem pranchetas e controle coercitivo de fora para dentro da quadra, onde o técnico os assessora e aconselha, e não escravizando e bitolando.

Iremos continuar, treinaremos muito, trabalharemos sem limitações, para em breve, ou um pouco mais adiante, estarmos realmente prontos e plenamente donos de um sistema que nos caracterizará, nos identificará como uma equipe a ser respeitada e digna de ser apreciada.

Amanhã reinvidicarei um pequeno equipamento de vídeo, e reforçarei o pedido de alguns apetrechos de madeira que desenhei para auxiliarem no treinamento, principalmente de arremessos. São muito simples e eficientes, e que muita falta nos fazem. Enviarei também um pedido à LNB para que nos permita colocar o vídeo de um de nossos jogos aqui no blog, para que os jovens técnicos do país o avaliem, comentem e discutam sua validade, ou não. Seria uma ótima oportunidade que a Liga daria aos mesmos, tão carentes de informação de qualidade.

Ainda mantenho as esperanças de que a administração possa solucionar de vez o impasse com os jogadores que não disponho para treinamento e jogos desde a volta de São Paulo, e que tanta falta nos fizeram contra Franca e Araraquara, e que também farão neste fim de semana contra Bauru e Assis.

Mas apesar das derrotas, sinto que algo nos tem empurrado de encontro a estes novos tempos, patrocinados por um sistema de jogo que aceitaram e lutam para incorporá-lo definitivamente em sua s ações e em seus comportamentos, e da melhor forma que é desejável, como base de uma equipe, de uma verdadeira equipe.

Perdemos, mas em breve não perderemos mais, pelo menos da forma que nos tornam alvo do descrédito e da mais absoluta falta de visão de todos aqueles que se acham donos do grande jogo, já que pasteurizados e colonizados irremediavelmente. Busco e todos buscamos um verdadeiro sentido de equipe, solidificado no terreno fértil dos bons sistemas de jogo, e de um espírito de união que nos leve de encontro a vitoria, e a conseguiremos.

Amém.

Adendo 1 – Aos juízes da Liga.

Em 1972 publiquei na Revista Arquivos da EEFD/UFRJ um artigo sobre a defesa linha da bola, onde mencionava a enorme dificuldade em convencer os juízes das ações não faltosas na marcação frontal dos pivôs. Somente quando professor convidado nos cursos de formação de juízes da FBERJ, lecionado aspectos técnicos dos fundamentos do jogo, é que pude vagarosamente provar a ação não faltosa. Hoje esse tipo de marcação pode ser exercida livremente, e por conta desta evidência é que apelo aos juízes maiores atenções nas ações extremamente faltosas embaixo das cestas, onde o aspecto físico em muito transcendem o técnico, em evidente prejuízo ao basquete brasileiro. É bom lembrar que os critérios atualmente empregues nos aproximam aos padrões eminentemente físicos adotados e praticados na NBA, quando nossos esforços deveriam ser dirigidos aos padrões FIBA. São situações e atitudes que deveriam ser devidamente discutidas, estudadas e aplicadas corretamente nos nossos campeonatos, onde técnicos poderiam ajudar nos esclarecimentos, como os fiz alguns anos atrás  nos cursos de formação de juízes no Rio de Janeiro.

Paulo Murilo.

O VIGÉSIMO QUINTO DIA – O JOGO E SUAS VERDADES…

São 4 horas da manhã, penso muito no jogo, no que fizemos e trabalhamos, e mais ainda no que sofremos. Vacilo junto ao teclado de meu laptop, mas os dedos, como guiados por algo maior que minha vontade  treinada em relevar pequenos e grandes falhas humanas, escorregam para ele, e digitam o que deve ser digitado, orientados por uma mente que guardou um maravilhoso  ensinamento de uma saudosa e velha amiga, minha mãe, que dizia do alto de sua sabedoria- Paulo meu filho, ouça  tudo na vida, conselhos e sugestões, para ao final seguir a sua consciência, pois é perante ela que você terá sempre que responder.

Imaginem a situação de um técnico que até o domingo passado orientava uma equipe capaz de em 18 dias de treinamento técnico e físico intenso, ir a São Paulo e desenvolver um basquete de alto nível, contra equipes tradicionais , como Pinheiros e Paulistano, e jogar magnificamente, a ponto de se tornar o foco de interesse e atenção das demais equipes, da extensa e categorizada mídia alternativa e imprensa em geral, e ao voltar para mais uma semana de preparo, a fim do enfrentamento com Franca e Araraquara, se vê privada de cinco de seus melhores jogadores, por motivos extra quadra, exceto um que tem tido problemas com um filho recém nascido, e os demais envolvidos com sérios problemas financeiros motivados por um atraso no repasse de verba pública retida em canais administrativos, originando necessidades e premências em uma equipe profissional composta de homens, com as mesmas necessidades econômicas de um cidadão comum.  E por tudo isso nove treinos não contaram com a participação de todos, inviabilizando o reforço, o ajuste e a busca da sintonia fina dentro do sistema acabado de ser implantado, com suas novas propostas e situações inéditas.

E você assiste dois dos quartos iniciais razoavelmente equilibrados, dentro de um planejamento estratégico contra uma fortíssima equipe, mas já sentindo que o nível cairia irremediavelmente ante o inegável desentrosamento, fruto da ausência daqueles jogadores que não treinaram, mas que ante a esperança de ver suas situações resolvidas à curto prazo, participam, três deles, sendo que dois sequer trocam de roupa, de um jogo desigual para eles, e logicamente para toda a equipe.

E no terceiro quarto a hecatombe, na forma de 10 arremessos de três pontos quase seguidos sem as justas e devidas contestações motivadas por um desentrosamento progressivo e irremediável, pondo fim às ínfimas esperanças de reverter a partida., agora sob total domínio de Franca. Nada pode se antepor ao cansaço motivado pela ausência de preparo, não só físico e técnico, como, e principalmente o mental, e psicológico, e mais, de dois jogadores muito bons na marcação,  na semana do confronto. Numa divisão de elite 9 treinos fazem muita falta.

Mas quem está de fora critica o que vê, demonstra insatisfação pelo que não vê do tão prometido e inédito modo de jogar, incensado pelos que assistiram os jogos em São Paulo, repletos de novidades e novos conceitos para o nosso insosso basquete, e cuja apresentação deixa um que de decepção pairando no ar.

E com 30 pontos de vantagem( 15/28, ou 53,57% em arremessos de três), a ajustada e encaixada equipe de Franca chega ao final da partida com a tranquilidade daqueles que se prepararam melhor, sob o seguro manto de uma organização bem planejada, presente técnica e administrativamente, e por isso mesmo, justa e meritória cúmplice da vitória natural e incontestável.

Quanto a nós, que tratemos com urgência de sanar questões extra quadra, já que no interior da mesma resolvo eu os problemas( como manter a supremacia reboteira( 35/28), a seletividade nos arremessos de três( 10 tentativas no jogo), as finalizações possíveis de curta distância(21/51, ou 41,18%, razoável dentro das perspectivas do jogo), mantendo um percentual satisfatório nos lances livres(10/14 ou 71,43%), e com somente 6 erros cometidos, claro, se problemas exógenos não obliterarem nossa trabalhosa e esforçada busca pelo melhor caminho a ser trilhado pela equipe, além do meu próprio, nesta retomada corajosa e exigente, merecedora de apoio, respeito e acima de tudo consideração, na mesma proporção do que recebo e sempre recebi por mais de 50 anos dentro das quadras, como os calorosos votos de insistência e determinação dos dois Hélios, pai e filho após a partida.

Acredito que tudo, ou quase tudo, possa vir a ser resolvido na urgente brevidade que nos separa de hoje com a próxima partida, amanhã, domingo, contra Araraquara, quando poderemos retomar um caminho momentaneamente  interrompido, e sabendo de antemão o quanto nos custou e sem dúvida custará os nove treinos incompletos pela ausência de seus mais experientes jogadores, mas que no de logo mais possamos encontrar soluções emergenciais para os próximos e decisivos jogos que nos aguardam. Tentaremos todos dentro da quadra, onde as legítimas verdades acontecem, reencontrar as mesmas ou outras soluções que nos encheram de brio e determinação no belo giro pela paulicéia, mantendo minha palavra e comprometimento integral com a organização, e principalmente com os jogadores que a mim confiaram seus esforços e futuro, e que em uma única semana situa na seleção LNB da 18ª rodada dois jogadores, Lucas e Roberto, sendo que este o “dono da bola” na mesma. Além de sites e mais sites, inclusive o da própria liga enaltecendo o trabalho dos mesmos.

Que assim seja, sempre.

Amém.

Foto – LNB- Roberto o “dono da bola” da 18ª rodada do NBB2.

O VIGÉSIMO QUARTO DIA…

Véspera de um jogo, de um grande jogo, Franca aqui está, com toda a sua tradição, com toda a sua mística. Para toda uma imprensa, a maioria dos torcedores, creio que até para eles mesmos, o favoritismo é inegável, o terceiro colocado na Liga duelando contra o último, chances desiguais, que a frieza dos números, as estatísticas, não desmentem.

Entretanto, não comungo com essas objetivas e pragmáticas evidências, afinal dirijo e tenho treinado uma excelente equipe, sem a tradição cinquentenária de nosso valoroso adversário, mas repleta de um certo tipo de vibração que me custou muito compreender, e aceitar. Uma vibração recôndita, inerme, como que sedada, acalmada em sua prisão comportamental, que aos pouquinhos fui fustigando com simplórios exercícios de fundamentos, que praticaram no inicio de suas carreiras, uns mais, outros menos, despertando aquela alegria desconfiada e juvenil de quem redescobria o prazer no manuseio de uma bola, descobrindo seus segredos , suas manhas, suas imprevisibilidades.

Poucos dias, somente 18 dias, passaram céleres, imbuídos de esforço e muito suor, de trabalho intenso e compensador, pois com os fundamentos em dia, com a técnica individual aprimorada, um conceito de jogo, inovador quem sabe, teria campo semeável à frente, molhado por mais suor, mais trabalho, e trabalho, e trabalho.

E um sistema foi absorvido, discutido e agregado à equipe, num comum acordo inédito e democrático, numa aceitação espontânea e leal. Dois jogos em São Paulo concretizaram e provaram a duramente conquistada identidade, uma nova e particular identidade para uma equipe desacreditada e esquecida, mas que se redescobre forte e proprietária de um sistema técnico tático próprio, pertencente somente a ela, conquistado com dedicação e trabalho.

Então, não posso concordar com favoritismos e resultados apriorísticos. Posso e devo acreditar que será um grande jogo, não um jogo travado entre equipes que ocupam posições díspares na tabela, mas equipes que ao disputarem uma liga nacional duríssima, se fazem presentes com o seu melhor, que no nosso caso é aquele fruto do comprometimento corajoso de uma equipe em busca de um lugar entre os melhores. Tentaremos ultrapassar este desafio com o ardor dos justos, mas antes vamos aos treinos de hoje, duros e exigentes, como sempre.

Amém.

O VIGÉSIMO TERCEIRO DIA…

Ainda com alguns jogadores se recuperando de pequenas lesões, fizemos um treino eminentemente técnico sobre arremessos (lances livres em particular), de diversas formas e situações, sempre procurando sanar deficiências de execução e concentração. Foi uma manhã proveitosa neste aspecto.

À tarde, um treino de fixação da movimentação básica dos pivôs móveis e dos armadores na busca detalhada de suas ações coordenadas, foi o tema principal abordado e desenvolvido à exaustão, tanto de execução, como de correção. Finalizamos o treino com series de lances livres, uma permanente preocupação, em face dessa deficiência crônica da equipe.

Uma discussão pormenorizada e com a participação opinativa de todos encerrou a atividade, altamente positiva em todos os sentidos.

Com a participação de todos os componentes da equipe, por certo obteremos nestes dois últimos dias que antecedem a rodada dupla  contra Franca na sexta, e Araraquara no domingo, um aumento significativo no trabalho coletivo, e na qualidade e eficiência dos arremessos de média distância. e lances livres., provando o quanto de melhoria um grupo de jogadores pode alcançar com trabalho intenso e dedicação integral..

Amanhã daremos seguimento a esta pequena, porém significativa saga de uma coletividade desacredita na busca de sua redenção.

Amém.

OS VIGÉSIMO PRIMEIRO E SEGUNDO DIAS…

?

Ontem, segunda feira descansamos até o treino da tarde, quando efetuamos uma atividade de ajustes nos arremessos e discutimos os números do jogo contra o Paulistano, principalmente o elevado número de erros, 22, entre passes, andadas e perdas de bola, que devemos corrigir para o próximo jogo contra Franca na sexta feira.

Hoje, treinamos mais fundamentos e arremessos pela parte da manhã com a ausência de alguns jogadores que se encontram em trabalhos de recuperação física.

Na parte da tarde efetuamos um duro treinamento de formações de ataque contra defesa individual, trabalhando desde as posições iniciais dos pivôs móveis, até os deslocamentos em dribles dos armadores visando o ajuste síncrono com os deslocamentos dos pivôs, verdadeira sintonia fina entre estes dois segmentos aparentemente dissociados, mas que interagem permanentemente através passes e deslocamentos sem a bola de ambos. É a parte mais sensível do sistema ofensivo, necessitando de altos padrões de atenção e concentração dos dois segmentos, sem os quais se desconectam e se anulam.

A busca deste sincronismo é apaixonante, pelo fato de que é a porta de entrada da criatividade, da improvisação e da percepção do jogo quanto às ações defensivas dos adversários. Em outras palavras, induz à leitura do jogo pela constatação direta do comportamento defensivo, liberando as ações ofensivas compatíveis ao mesmo.

Amanhã daremos continuidade a estes ajustes, sem esquecer os sempre presentes fundamentos, ferramenta de trabalho de todos os jogadores, sem exceções.

Amém.

O VIGÉSIMO DIA – O JOGO…

A saída do avião de São Paulo é muito demorada pelo intenso tráfego aéreo e as condições atmosféricas. Chove, e estou muito cansado. Somente agora o nível de adrenalina baixa às condições normais, e anseio chegar a Vitória para enfim descansar. Aos poucos o vozerio alegre dos jogadores arrefece e alguns dormem. O avião decola.

“Professor, precisamos vencer, vamos vencer, nem que eu tenha de me matar em quadra, pode confiar”. E confio, ele se mata na quadra, e vence.

Dois dias atrás uma gastrenterite somada à emoção do iminente nascimento do primeiro filho e a tensão pelo jogo que precisava vencer, derrubou o gigante. Mas hoje, jogou e lutou bravamente, ajudando seu time para a vitória. Mas para que ela viesse eu precisava recuperar a auto confiança da equipe, e do Jesus em particular, que é forte e habilidoso, e muito veloz também. O outro pivô, o André, já se estabeleceu na equipe, por sua técnica e garra, e por isso substitui-o pelo Jesus, ganhando para as futuras partidas mais um pivô de qualidade.

O André não jogou na quadra, mas jogou junto a mim no incentivo e orientação do renascido Jesus, numa atitude madura e competente de quem está compromissado com o trabalho e com o grupo, merecendo de mim o incontido agradecimento.

Sim, temos um equipe de verdade, um jogador subestimado como o Roberto, que com seus 24 pontos, e 100% no aproveitamento dos lances livres (14/14) e 15  rebotes, se tornou o maior pontuador da partida, e o Amiel com seus 22 pontos, ambos pivôs móveis, e não alas arrivistas à serviço de imponderáveis arremessos de três, lugar comum estabelecido pelos jogadores brasileiros e seus técnicos, cúmplices desta impensada temeridade, acobertada e incensada por um tipo de mídia a serviço do ‘espetáculo”, onde enterradas e aventuras de três sempre receberam os incontidos louvores dessa turma que de basquete pouco sabe, sequer ama.( E aqui cabe uma questão- Por onde se escondeu a salutar idéia da prova de habilidades nos fundamentos no encontro das estrelas em Uberlândia? Desculpem, esqueci que fundamentos não dão Ibope… ).

E num elenco pouco prestigiado conseguimos,  todos, estabelecer o conceito dos pivôs móveis, onde o André, o Jesus, o Casé e o Lucas completam com o Roberto e o Amiel  um sexteto rotativo de alta qualidade, pois se revezam no esforço tático de manterem seus domínios reboteiros em ambas as cestas,  sem flutuações para menos na condição atlética, fundamental nessa categoria de elite, além, muito além de complementarem à cesta de distâncias menores, garantindo também menores desvios angulares nos arremessos, otimizando os ataques, onde a freqüência de acertos é bem superior ao descalabro intencional da ditadura dos três pontos, em tudo similar às ditaduras de fato.

E outro conceito estabelecido da forma correta, a da dupla armação alimentadora dos pivôs móveis, sempre e permanentemente no foco da ação, conceitos estes compatibilizados pelo treinamento forte, esclarecedor e discutido por todos ( pedi um único tempo no jogo, aos 1: 53 do fim, mas de alerta do que tático, pois situações de jogo e sistemas são formuladas em treinos, e não rabiscadas hieroglificamente em inúteis pranchetas), na busca da ansiada e difícil, já que aleatória, coordenação em sintonia fina, somente alcançada em alguns momentos, que se percebidos com inteligência e apurada leitura do jogo defensivo adversário, leva a equipe à vitória. E para tanto, jogadores como o Munõz, o Rafael, o João, o Daniel, o Mosley e o Matheus, em duplas compostas  de n fatores,  na medida tática que se fizer presente, e em permanente rotação, constituem a força motriz do sentido da dupla armação, onde a ajuda constante referenda e embasa a força da equipe, como um todo.

E finalmente o conceito grupal, aquele que preconiza a responsabilidade pessoal à serviço da equipe, com mínimos rasgos de vaidade, auto controlada por jogadores que se pressupõem inteligentes, e que o provam a cada treino, a cada jogo, na montagem detalhada e muitas vezes fugidias das sutis nuances do ser humano, fragilizado no abandono, forte e ousado quando na busca do bem comum, da cidadania, do espírito( o verdadeiro) de equipe.

Mas não nos deixemos levar por devaneios motivados por duas apresentações, fruto do trabalho de somente 20 dias, mas eivado de novas propostas e possíveis soluções técnico táticas ( se discutidas e estudadas por técnicos de verdade), e sim nos condicionarmos da necessidade capital da continuidade do trabalho, inspirador da confiança e da determinação de todos, e que, obrigatoriamente deverá ser amparado pelos patrocinadores da equipe, em suas obrigações contratuais, inclusive para comigo mesmo, para que todos juntos, irmanados por um factível ideal, somemos  uma réstia de esperança ao nosso tão maltratado basquetebol. Que assim seja.

Amém.

O DÉCIMO NONO DIA- O JOGO…

As equipes batem bola na quadra, estou sozinho no banco, meu assistente ficou em Vitória, conto somente com o preparador físico Honorato e o fisioterapeuta Marcos, e um punhado de bons jogadores tensos, mas confiantes no trabalho até agora realizado em 18 dias apenas. Volto a comandar, a exercer o solitário mister de comandar, responsabilizando-me integralmente pelos sistemas sugeridos, treinados, discutidos e prestes a se porem à prova, numa jornada ousada e atrevida, pois será tentada uma nova forma de jogar o grande jogo, em anteposição ao sistema único globalizado, e contra uma das equipes mais centradas e desenvolvidas no mesmo, e na sua bela casa.

Dois armadores puros jogando fora do perímetro, três pivôs móveis no interior do mesmo, ambos os seguimentos interagindo permanentemente, num carrossel de bolas entrando e saindo do cerne da defesa adversária, compondo um complexo puzzle de possibilidades, cujas peças se encaixarão na medida da extensão da leitura do jogo, determinando situações tão inéditas para nós, como, e principalmente para o adversário, já que aleatórias, mas profunda e decisivamente ligadas ao domínio dos fundamentos do jogo, onde pranchetas decididamente não têm motivos de existir, quanto mais posarem de vedetes na TV.

Foi um jogo atípico, pois de um lado uma equipe engajada no lugar comum, mas contando com excelentes jogadores, um dos quais, norte americano que jogou de forma sublime, sem que o conhecesse, já que não tive acesso a vídeos com sua participação, privando-me de montar algo de efetivo em sua marcação ponderada, aquela que não o priva de jogar, mas tenta diminuir sua eficiência, que alcançou os 30 pontos. Mas que não foi o motivo definitivo de nossa derrota, já que com a utilização da defesa de linha da bola, baixamos as médias ofensivas de alguns jogadores do Pinheiros, como o Shamell, e principalmente seus dois especialistas em 3 pontos, o Mortari, que zerou, e o campeão dos arremessos de 3 do Festival das Estrelas, Thiago, que converteu tão somente dois lances livres.

Além do que, vencemos a disputa dos rebotes, ofensivos inclusive, já que contávamos permanentemente com três deles colocados, com 33 contra 25. Cometemos 7 erros contra 14, conseguimos 14 assistências contra 16, roubamos 4 bolas contra 6, e o mais importante, arremessamos 64 bolas de 2 pontos com 34 acertos, media mais do que satisfatória, contra 28/46 do Pinheiros, e mais, contando com a efetiva participação dos “considerados reservas”(não para mim, nunca…) com 35/67 tentativas, e 8/23 do adversário. E o mais importante, o fator que mais discuto, estudo e publico, e que tenho posto em prática nos últimos 20 anos, a erradicação da ditadura dos três pontos, e suas implicações que tanto prejudicaram nosso basquete. Arremessamos 8 bolas com dois acertos, sendo que as duas últimas foram por mim liberadas na tentativa de alguma diminuição do placar, prontamente obedecidas pelos jogadores em quadra. Atingimos 85 pontos jogando para dois pontos, provando o acerto do sistema, e privilegiando a precisão se antepondo à aventura, muitas vezes irresponsável de arremessos e arremessadores pretensamente especialistas, o que não o são com a mais absoluta das certezas, e que no fim das contas é a meta que pretendemos alcançar no desenvolvimento desta simples maneira de jogar.

Então Paulo, com tantos pontos positivos, onde se caracterizou a derrota de 13 pontos? Na perda de 15 lances livres? Ou numa falta técnica arrivista marcada por um juiz que ao final do jogo veio se desculpar pelo engano, mas que não teve a hombridade de fazê-lo no momento da ação?

Os lances livres foram o ponto que detectei logo que assumi a equipe, e que podem ter decidido o jogo, à primeira análise, sem muitas dúvidas estatísticas, e mesmo a nefasta e injusta falta em um bloqueio (toco…) legítimo de um dos meus pivôs, o mais calmo e tranqüilo deles, o André, mas que provocou no mesmo uma pequena explosão de indignação com o erro arbitral,  mais tarde (e tarde demais…) reconhecido em conversa privada e coloquial, quando deveria ter sido exposta em público, abertamente.

Mas em absoluto foram os motivos reais, e sim os progressivos traumas provocados pela sequência cumulativa de erros de arbitragens, jogo a jogo, temporada a temporada, por muitos juízes que se sentem no direito de julgarem aprioristicamente, de interferirem nas zonas de atuação uns dos outros, e que mesmo se seu número aumentasse para 4 ou 5, continuariam nas intromissões indevidas e pouco éticas, causando apreensões e medos indevidos em jogadores e alguns técnicos, num confronto absurdo que sempre me neguei a participar, arbitro que fui na federação do RJ, e professor de técnica de basquete nos cursos de formação de árbitros, onde tais comportamentos eram discutidos e dirimidos, evitando a criação de  áreas de atrito permanentes e antipáticas, levando muitos jogadores a se colocarem em antagonismo com os mesmos logo que a bola subia para o jogo.

Mesmo ante tais evidências, esse também não foi o motivo real da derrota, e sim a incapacidade de alguns jogadores em abstrair tais influências, longamente plantadas em suas mentes, tornando-as indesejáveis companheiras de suas realidades desportivas, e não inconscientes álibis para constantes derrotas.

Perdemos pela ausência dessa abstração, que será de agora em diante um objetivo a ser estudado, discutido e erradicado de seus comportamentos, para quando amanhã se defrontarem com a verdade das quadras mantenham o equilíbrio e a devida distância de uma variável imutável, mesmo que sob o domínio do erro crasso, da vontade e da decisão irrecorrível, correta ou errada do trilar do apito de um juiz.

E os 15 lances livres perdidos Paulo? Nos ajudariam a vencer, mas adiaria a correção do mal maior, o domínio comportamental consciente ante uma injustiça cometida.

Isso posto, nos concentremos, pois tudo recomeçará amanhã.

Amém.

O ARRANJO…

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Infelizmente está progredindo no basquete aqui jogado em alto nível (assim muitos o definem…) o arranjo já bem conhecido na NBA, de que jogo mesmo, aquele para valer, somente é disputado do terceiro quarto em diante, onde tanto diferenças elásticas de placar são dirimidas, ou equilíbrios são quebrados de forma inversa, como num acerto de compadres que professam a mesma disposição em poupar “desnecessários” esforços, pois afinal de contas não são feitos de ferro.

E por conta de tais arranjos, assumidos por muitos jogadores, e não sei se por algum técnico de comportamento mediador, podemos tentar compreender e analisar tantas e muitas vezes “inexplicáveis” oscilações entre os iniciais e finais quartos de uma partida.

No jogo deste domingo, entre Brasília e Flamengo, duas das melhores equipes do país, nada de plausível pode ser mencionado que explique os comportamentos passivos nas defesas das duas equipes nos quartos iniciais, o que originou uma tempestade de arremessos longos sem quaisquer anteposições defensivas, onde notórios arremessadores como Alex e Marcelo exerceram suas especialidades da forma mais livre que se possa imaginar, num espetáculo de pirotecnia pura e descompromissada, num verdadeiro e lastimável tiro aos pombos.

E veio o terceiro quarto, com as equipes descansadas pela economia de esforços nos quartos iniciais, e fez-se a diferença, quando de repente, não mais que de repente, descobriram, ou se lembraram  que a não cedência de espaços à esquerda depois de um corte iniciado à direita, retiraria dos arremessos do Marcelo a enorme eficiência quando os armava daquela forma, anulando sua maior arma, a mesma que o premiou com quatro arremessos de três seguidos nos quartos de permissividade defensiva.

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