SISTEMAS IV – COMO NÃO FAZER.

Publico hoje mais um artigo da serie Sistemas, abordando uma temática bastante controversa, os sistemas ofensivos utilizados em nossas seleções nacionais, e o faço par que possa suscitar discussões e reflexões sobre o que de melhor poderemos fazer e criar para o sucesso de nosso basquetebol. Espero que todos participem e acrescentem sugestões positivas a fim de encontrarmos nossos verdadeiros caminhos no grande jogo.

PS-A utilização do mouse aciona o zoom nas imagens.

A ARENA


A entrada da arena é impactante, enorme, profunda, lembrando um fosso de minas de ferro com seus anéis convergentes e de inclinação abrupta. Para quem tem algum problema com vertigens não é um bom programa, e o mais emblemático, quem a desenhou e projetou, verticalizou-a de tal forma quem pessoas de idade terão enormes dificuldades para acessar os assentos mais altos, assim como, crianças correm um sério perigo pelas suas características de mobilidade constante, de lá despencarem com sérios riscos de acidentes. Não é por acaso a existência de um sem número de corrimãos ao lado das escadas de acesso, cujos degraus se adequariam a um publico europeu ou norte-americano, cujas médias de estatura são muito mais elevadas que a media de nosso povo. Estranha opção esta para um projeto que poderia ter sido um pouco mais horizontalmente desenhado, visto os enormes espaços circundantes à arena. Entra-se no local transitando por largos e extensos aclives, e de repente somos surpreendidos por um a goela profunda e pouco convidativa, mas a imagem que é transmitida pela mídia realmente impressiona pela compactação e pela extensão vertical. Melhor designação não poderia ter sido escolhida, arena, pois de estádio, ou ginásio não tem absolutamente parentesco nenhum. E custou 260 milhões! Parabéns pela incúria, pois agora temos uma instalação de primeiro mundo, para uma população de terceiro, infelizmente.

Quanto ao jogo, assistimos uma aula, não fossem nossas adversárias uma equipe universitária, de como se ganha um jogo flertando com o inusitado, ante uma equipe previsível e atuando engessada a um sistema que só funciona de fora para dentro da quadra, senão vejamos: Temos jogadas, dizem que muitas, contra defesas individuais, pressionadas e por zona. E devem ser tão diferentes entre si ( o que honestamente jamais percebi…) que necessitam ser mudadas em pedidos de tempo. É tão notória tal situação técnico-tática, que qualquer adversário com um mínimo de presença de espírito se utiliza dessa deficiência para controlar o jogo. E quando o adversário é uma equipe americana, ai vira covardia. Bastou à excelente técnica Stanley acertar com suas jogadoras a utilização rotativa e alternada entre defesa individual e zona, num ritmo que variaria de “n” ataques da equipe brasileira, e que no quarto final chegou ao detalhe de mudança a cada ataque realizado, que desestruturou as brasileiras, presas às intervenções de seu técnico para as devidas mudanças, o que seria factível se não houvesse limites para pedidos de tempos. Mas como existe tal limitação, nos vemos repetidamente presos a esta deficiência técnica nas mais diversas competições internacionais. E o digo , por se tratar de uma “filosofia” técnico-tática implantada em TODAS as seleções nacionais pelo grupo que se apossou delas nos últimos vinte anos.

As americanas nos venceram praticando os oito movimentos básicos do basquetebol, com fundamentos bem executados, com jogadas de duplas, trincas e fortíssima defesa, inclusive a zonal, provando que esta somente funciona em seu todo se os fundamentos da defesa individual forem perfeitamente utilizados.

Existirá um dia que nossos talentosos jogadores e jogadoras serão treinados e preparados para variarem seus sistemas defensivos e ofensivos sem a intervenção castradora de técnicos afeitos à mídia e à exposição pública quanto ao seu poder de comando, discutível e enganoso. As jovens universitárias americanas nos mostraram como jogar um jogo, onde a técnica faz parte da equipe, e não a dona da mesma. O grande técnico é aquele que demonstra no jogo todo um processo adquirido e forjado no treinamento, através os verdadeiros artífices, os jogadores.

Que fique a lição, mais uma, para que no futuro, dentro ou fora daquela terrível arena, possamos eclodir desse pesadelo por que passamos por um tempo deveras prolongado.

A grande Janeth merecia o ouro em sua despedida, e de certa forma o conseguiu através os aplausos emocionados da platéia presente, assim como de todos os brasileiros que amam o grande jogo.

A ARQUITETÔNICA ILUSÃO.

Estou indo conhecer a arena de 15000 pessoas e 260 milhões de reais construída perto aqui de casa. Levo comigo uma estranha sensação de vazio, imaginando o que poderia ter sido construído nas escolas do estado com tamanha verba. Bem próximo dali, em Curicica, um valente professor inicia jovens da comunidade no atletismo, num arremedo de pista e caixa de saltos na praça em frente da escola onde leciona. Seu trabalho rendeu na semana passada uma vitória no Campeonato Mundial Juvenil de uma sua atleta nos 200 metros rasos na longínqua Europa. Um pouco mais adiante, no Mato Alto, outro abnegado inicia jovens carentes no Badminton, numa quadra construída com enormes sacrifícios, inclusive pessoais. Num passeio preliminar pelas escolas públicas da região não encontramos instalações esportivas com um mínimo de conforto, espaço e material necessário à pratica desportiva. Locais cobertos e piscinas, então nem pensar. No entanto, constrói-se arenas megalômanas para já serem entregues à iniciativa particular para explorá-las econômica e comercialmente. Muito em breve estarão sendo usadas para cultos religiosos, desfiles de misses, concertos pop’s, feiras e congressos, e um ou outro espetáculo esportivo, isso se não forem abandonadas simplesmente. Mas no fundo foi essa a destinação inicial de tais locais, o enriquecimento de empreiteiras e a exploração dos mesmos pela iniciativa particular. O que poderíamos fazer com 260 milhões no equipamento de áreas desportivas escolares seria inimaginável, mas utópico dentro da realidade nacional. “Temos agora uma arena de primeiro mundo”, deliciam-se os deslumbrados perante monumentos arquitetônicos e irreais, que os remetem a uma superioridade material ante outras nações, orgulhando-os de “serem brasileiros”. Deveriam, isto sim, voltarem seus olhos para uma juventude carente e escravizada a um destino, onde a luta inglória para se educarem se choca com a indiferença daqueles que conotam o concreto e as ferragens maquiadas em pinturas de gosto duvidoso, com os verdadeiros preceitos de nacionalidade e patriotismo. Não é atoa que muitos poucos atletas cariocas representam as seleções nas diversas modalidades, e mesmo esses poucos sequer treinavam no estado.

Saio daqui um pouco para a arena, levo uma pequena câmera para ilustrar um espetáculo falso e anacrônico, fruto da insensibilidade brutal de nossos dirigentes, mas pleno em sucesso comercial e econômico para uma minoria abastada, vaidosa e profundamente desleal para com a juventude abandonada deste imenso e desigual país.

Peço humildemente aos deuses, que olhem um pouco por todos nós. Amém.

O JOVEM GRITO.

Quando no quarto final do jogo contra os australianos, a equipe brasileira desencadeou uma avalanche de ações improvisadas , calcadas em seqüências de penetrações, intensa movimentação e defesa antecipativa, utilizando para tal uma formação de três armadores e dois ágeis pivôs, que a levou à vitória, seria uma questão de bom senso e inteligência repetir tal esquema no jogo decisivo contra a equipe sérvia. Mas não, a “disciplina tática” teria de ser mantida(se é que existiu em algum momento…), assim como os princípios de um comando claudicante e ausente da realidade do jogo. No jogo decisivo, classificatório para a ambicionada final, em nome de um principio técnico-tático falido, foi a equipe escalada dentro da formula conservadora e retrógrada implantada pelas comissões técnicas da CBB, colocando de lado a êxitosa experiência da véspera, e que se revelou num placar adverso de 13 à zero nos minutos iniciais da partida. Daí para diante, a pouca vivência em competições internacionais, e a inquestionável inferioridade nos fundamentos do jogo, traçaram os rumos da partida, traduzidos nas largas diferenças de pontos no transcorrer dos quartos seguintes. Por que não repetir a formação final do jogo de véspera? Por que não ousar na plena utilização dos três endiabrados armadores, bem superiores em técnicas individuais do que a maioria dos alas da equipe? Por que não inovar, mesmo indo de encontro ao sistema estabelecido preliminarmente para a equipe, tanto na preparação, quanto no transcorrer da competição, ainda mais quando na véspera levou de vencida uma das candidatas ao título? Porque não?

A diferença inicial desestabilizou a equipe, fortaleceu o ânimo do adversário que jogava em casa, e a levou a uma derrota que poderia ter sido contestada caso ousasse e arriscasse, como fizeram contra os australianos, equipe tão, ou mais forte que os sérvios.

E no limiar de uma derrota de grandes proporções, num pedido enraivecido de tempo, vocifera o técnico- “O que vocês querem ?”. A platéia juvenil, inexperiente e insegura não ousa responder, afinal de contas se encontra na presença do líder e condutor de todos. Simplesmente abaixam a cabeça humilhados pelo abandono em hora tão marcante em suas vidas.

Mas do alto de minha experiência sofrida de magistério e técnica desportiva por mais de 50 anos respondo por aqueles talentosos e infimamente preparados jovens- “O que vocês querem ?” – UM TÉCNICO!!

PS- Infelizmente se repete nas transmissões televisivas a invasão de técnicos de equipes masculinas travestidos de comentaristas, todos em busca da rentável visibilidade da mídia mais desenvolvida do país. Falarão das belezas arquitetônicas das instalações, da necessidade de massificarmos o desporto, das benesses do esporte junto à juventude, da necessidade da união dos técnicos, de projetos quiméricos, de propostas com verbas oficiais, é claro, de apostas supostamente engraçadas, como se isso fosse de interesse público, e eventualmente de um jogo que pouco conhecem e secretamente desdenham, o basquete feminino. E é bem provável que vejamos ao vivo e à cores uma nova corrida em busca de uma etérea toalha humedecida por lagrimas e suores das artistas da bola laranja. Quem viver, verá. Constrangedor.

JOVEM ANARQUIA.

Apesar do incrível número de erros e perdas de bola no ataque, de falhas seguidas na defesa, de completa anarquia no sistema de jogo, mesmo assim a jovem equipe brasileira levou de vencida a invicta equipe australiana no Mundial sub-19, indo para a semi-final da competição com três derrotas, ao passo que sua adversária irá disputar uma classificação de 5ª a 8ª posição estando invicta até a derrota de hoje. Foi merecida a vitória brasileira? Sem dúvida, pois apesar de uma atuação caótica taticamente, soube com maestria fazer valer a presença em quadra de três armadores, principalmente no quarto final do jogo, um ala talentoso, Thomas, e um pivô extremamente inteligente. Essa formação impensável ante os padrões implantados na preparação da seleção, desencadeou um turbilhão de ações improvisadas de extrema rapidez no ataque, com penetrações constantes num jogo em que os arremessos de medias e curtas distâncias imperaram. A defesa também se beneficiou da velocidade dos armadores, que jogando na interceptação criaram inúmeras situações de dobra, induzindo a equipe australiana a erros sucessivos, quebrando sua disciplina tática responsável pelo seu sucesso até aquele momento dentro da competição. Mérito do técnico responsável pela equipe? Em parte, talvez pela manutenção dos armadores em jogo, confrontando decisões técnico-táticas emanadas da comissão técnica cebebiana da qual é membro integrante, mas sub-judice ao supervisor técnico da mesma, o número um da seleção principal, apesar de ter tentado no transcorrer da partida , em seus pedidos de tempo, disciplinar os jogadores com jogadas mirabolantes rabiscadas em sua trepidante prancheta. Parecia não entender que aquela movimentação desenfreada, sujeita a erros e equívocos repetidos, até certo ponto anárquica é que levou a equipe australiana a tal ponto de desorganização que a feriu de morte, ao não encontrar em seu sistema altamente disciplinado o antídoto necessário para anular tal quantidade de improvisos audaciosos e corajosos, jamais imaginado que fossem possíveis. E um sinal de tal subversão foi dado pelo pivô Paulão, que no segundo quarto, ao cometer sua segunda falta pessoal, sinalizou ao técnico para que não o substituísse, no que foi, erroneamente àquela altura do jogo, atendido. E a manutenção dos armadores foi mantida, quebrando de vez os chifres disso e os punhos daquilo, jogadas coreografadas, que deram lugar ao ato primário de como se deve jogar o grande jogo, principalmente naquelas circunstâncias de confronto ante uma escola superior no requisito tático e nos conceitos de conjunto.

Imaginemos então como seria se fossemos melhor preparados nos fundamentos, base de qualquer sistema de jogo que se preze, ajudando eficazmente a equipe em suas manobras ofensivas e defensivas, enriquecendo nossos talentosos jovens com técnicas individuais que o tornassem tão ou mais eficientes que os jovens dos países lideres do basquete mundial? A resposta? Manteríamos essa disposição improvisadora, que nos levou aos píncaros da gloria no passado, somando-a um espirito de equipe modelado por sistemas ofensivos e defensivos que a qualificasse, sem perder a unidade grupal, desenvolvendo-a com responsabilidade e criatividade.

Fico pensando como estarão as cabeças da comissão “unida e uníssona” perante a realidade inequívoca apresentada por essa jovem seleção, muito mais agora que foi “sugestionada” a convocar um terceiro armador de grande categoria, perante seu persistente posicionamento de atuar com somente um armador. Aceitarão tal evidência, ou se manterão dentro do principio do “sabe quem manda e decide por aqui?”

Temo que manterão, até que…o Super N intervenha, mais uma e talvez derradeira vez, o que seria profundamente constrangedor e lastimável.

Torçamos pelos moleques lá na lonjura sérvia, isso se não forem freados por coreografias de segunda categoria e pranchetas restritoras. Que os deuses os ajudem. Amém.

FUNDAMENTANDO O FUTURO.

Vi os dois jogos, contra os Estados Unidos e contra a China. E o que dizer sobre nossa seleção sub-19? O de sempre, repetitivo, monocórdio, desolador. Valores potencialmente interessantes, mas destituídos de fundamentos do jogo. Valentia, audácia, coragem, inesgotável energia, velocidade irrefreável, todo um repertório juvenil anarquizado pela ausência dos princípios fundamentais do jogo. Dribles inobjetivos e frágeis nas mudanças de direção, passes fora do tempo, fintas inadequadas, posicionamentos defensivos equivocados, colocação errônea nos rebotes, ausência de movimentação sem a bola, atitude antecipativa insuficiente. E além desse corolário de deficiências, a obrigatoriedade de agirem dentro de um sistema de jogo cujo controle decisório está fora da quadra, inserido nas delimitações de uma prancheta, acionada por uma comissão técnica, como se todos os jogadores fossem marionetes presos a cordéis. Do outro lado, no caso dos americanos, uma escola que tem nos fundamentos a essência de sua maneira de jogar, onde as ações individuais e coletivas se complementam técnica e táticamente, em quaisquer situações sistêmicas que venham a utilizar, tendo como elementos facilitadores os conhecimentos e domínio das técnicas do jogo por todos os integrantes da equipe, altos e baixos, armadores e pivôs, efetivos e reservas.

Nossos jovens jogadores, alguns realmente promissores, estão abandonados quanto ao treinamento que deveriam ter para atingirem um padrão aceitável, transmitido aos mesmos por professores e técnicos que realmente conheçam e dominem a arte de ensinar basquetebol, efetiva, responsável e cientificamente falando, padrões estes bastante distantes de um ensino calcado em um sistema castrador, que privilegia posições e especializações de jogadores, como se cada um deles pertencesse a um setor da quadra, dividida por capitanias hereditárias, territórios a serem preenchidos pelos devaneios exteriorizados em rabiscos desconexos nas pranchetas de técnicos completamente dissociados da realidade complexa de um jogo formidável, mas exigente na busca da síntese de todos os valores que o compõe. Alcançá-la e dominá-la é a tarefa, aparentemente utópica, de todos os envolvidos no processo, técnicos e jogadores, pesquisadores e dirigentes, e por que não, jornalistas. Mas para tanto há de se observar o preceito básico, desafiador e culminador do mesmo, o conhecimento, execução e domínio dos fundamentos do jogo, sem os quais nenhum sistema, por melhor que seja exposto e desenhado em uma lastimável prancheta, atingirá um patamar além de medíocre e fadado ao fracasso, como vem ocorrendo entre nós por mais de duas décadas.

No entanto, reconheço que a atual situação do basquetebol brasileiro, com seu implantado sistema único de jogo, baseado no decrépito passing game, e na pouca atenção a sistemas defensivos, fruto do pouco, ou nenhum interesse em maiores e profundos estudos, tem beneficiado um grupo de profissionais itinerantes e donos de fatias de um mercado pseudamente profissional, em conluio com muitos jogadores, fator que espelha uma realidade indigente e destituída de uma verdadeira política que pudesse vir a beneficiar o esporte como um todo, e pela importância do mesmo junto ao processo educativo dos diversos segmentos da juventude do país.

E é justamente nesse ponto que se faz urgente e necessária a atuação conjunta dos técnicos e professores, em prol de uma unidade de pensamento evolutivo que venha a privilegiar o estudo, a pesquisa, a troca permanente de experiências e opiniões, informações e literatura pertinente, e também o congraçamento tão necessário a consecução de todos estes objetivos. Impossível? Irreal? Inexeqüível? Creio honestamente que não, como também acredito ser uma tarefa extremamente difícil, demorada e sofrida, mas nunca impossível, irreal, e tampouco inexeqüível.

O que falta? Vontade, determinação e um profundo amor ao grande jogo, ao jogo de nossas muitas vidas. Amém.

MONÓLOGO DA PRANCHETA.

Quarto final do jogo, o técnico pede um tempo, se coloca no meio do circulo de jogadores, ajoelha-se, empunha a caneta hidrográfica, e com a prancheta sobre uma das coxas inicia o que podemos denominar como

“o monólogo da prancheta”. Nesse momento de absorção total, sem elevar o olhar aos circunstantes, desanda a elaborar através de rabiscos desconexos, uma miríade de jogadas perfeitas, com dribles exatos, passes milimétricos, deslocamentos e bloqueios primorosos, lançamentos precisos, onde letras e números enunciam seus comandados, em perfeitas harmonias coreografadas, sem erros, e…como pode omitir? Sem uma menção, um rabisco, um pontinho sequer, que representasse os defensores, inexistentes dentro dos devaneios na busca da jogada perfeita. E seu olhar enternecido pela obra prima que acaba de criar se mantêm fixo na prancheta, magnetizado ante tanta beleza conceptiva, tanta genialidade que somente ele protagoniza, pois os circunstantes, seus comandados, seus jogadores, ávidos por uma palavra objetiva não estão à altura compreensiva ante e presente a uma obra de arte pura, e também sequer ante um simples olhar, compreensivo ou não, um simples olhar, amigo, profundo, esclarecedor. Os jogadores se vão à luta, e um movimento pausado de lado de mão apaga a obra de arte, preparando a superfície brilhante para um próximo e ansiado monólogo. Essa imagem não só ocorreu naquele quarto final, como se repetiu durante todos os tempos pedidos, nos quais, uma só observação sobre determinados movimentos executados pelos jogadores adversários, na defesa ou no ataque, poderiam ter mudado os rumos da partida, como, e por exemplo, as ações do jogador Macvan, um ala-pivô forte e muito rápido, que se lançava de fora para dentro do garrafão para encontrar-se com passes antecipativos, colocando-o em ação progressiva e imparável, já que seus marcadores temiam, ou não sabiam marcá-lo pela frente e à frente de seu caminho. Com tal ação fez 38 pontos dos 80 de sua equipe, levando-a à vitória merecida. Onde estava a prancheta em seu monólogo com o técnico na orientação de seus jogadores objetivando freá-lo? Como é possível um jogador de 16 anos atuando em pivô móvel ter à sua disposição trajetos à cesta tão livres?

Por outro lado, nosso futuroso e forte pivô, Paulão, era acionado permanentemente em posição estática, na expectativa de uma progressão calcada em sua pujança física, o que levou o técnico adversário a uma flutuação dupla e até tripla sobre o mesmo, anulando-o em muitos e importantes momentos da partida. Duas situações antagônicas, protagonizadas por pivôs fortes e habilidosos, mas orientados por concepções técnicas muito e decisivamente diferentes.

As duas equipes atuavam com dois armadores de boa técnica, porém, os sérvios agiam ofensivamente sempre tendo seus pivôs em constante movimento, em conjunto com os demais jogadores. Nossa equipe era ativa e dinâmica através os armadores, mas mantinha os pivôs estáticos e voltados para os corta-luzes fora do perímetro, ação que os sérvios somente executavam entre os armadores e poucas vezes com os alas, mantendo o pivô sempre próximo à cesta.

Enfim, foi um jogo em que o coletivismo sérvio superou o brilhantismo individual de alguns de nossos jogadores, que poderiam ter sido beneficiados com informações e orientações mais precisas, ao serem prejudicados pelo comovente monólogo entre uma prancheta e seu deslumbrado interlocutor, o que foi uma pena, realmente uma pena.

Mas ao progredirmos na utilização efetiva de dois armadores, já demos um salto qualitativo, que cedo ou tarde, nos beneficiará, a não ser que o

“monólogo da prancheta” deite de lado tão promissora conquista. Torço ardorosamente pela volta do olho no olho entre técnicos e ávidos jogadores, estabelecendo o “diálogo das verdades”, aquelas que devem e podem ser ditas sem rabiscos e quimeras. Amém.

DE MANSINHO…

Tenho acompanhado pela TV o Campeonato Mundial sub-19 masculino que acontece na Servia, no qual a equipe brasileira é dirigida por um dos integrantes da famigerada comissão diretiva da equipe principal. E o que tenho testemunhado é uma guinada radical no conceito ofensivo da equipe, que vem utilizando sistematicamente dois armadores, dois alas velozes e um pivô de força. Trata-se de uma autêntica subversão técnico-tática se levarmos em consideração o fato de que esse mesmo técnico, quando na direção de seu clube, e mesmo como assistente da seleção, jamais abriu mão de uma formação com somente um armador, conforme ficou estabelecido desde sempre entre os componentes da”coesa e uníssona” comissão. Engraçado, bastou assumir uma seleção nacional de importância, já que representa o que de melhor temos em termos de renovação, para, “descumprindo” normas pré-estabelecidas pelo supervisor de seleções nacionais, o técnico numero um, estabelecer como norma técnico-tática, o sistema que foi largamente utilizado pelas quatro equipes finalistas do campeonato nacional, quando a utilização sistemática de dois armadores foi aceita e estabelecida por todos. Digo descumprindo, pelo fato da seleção nacional nos últimos amistosos contra o Uruguai ter se mantido na formação de um armador, dois alas e dois pivôs de choque.e mais estranho ainda, é que os dois outros assistentes também se utilizaram de dois armadores em seus clubes nos jogos do nacional. Cisão? Acho e tomara que sim, pois a convocação neneziana do ótimo armador Valtinho, fez com que a seleção para o Pan passasse a contar com três armadores puros em seu plantel, e não existirá maior contra-senso se somente um deles jogar de cada vez. Como agirá o técnico numero um? Se manterá arraigado ao sistema que vem utilizando e divulgando pelo país através cursos de reciclagem (melhor seria lavagem cerebral) , numa atitude solitária? Ou se obrigará a assumir o comando efetivo, ao invés de diluí-lo em uma fachada “coesa e uníssona”, que nunca espelhou a realidade dos egos envolvidos no processo? Eis um fator que, apesar do sistema falho e absurdo escolhido, o faria verdadeiramente responsável direto, de comando assumido, primado que endossa qualquer liderança que se preze. Ou mesmo, simplesmente lançará mais uma cortina de fumaça para encobrir tantos desencontros, não só técnico-táticos, como comportamentais?

São indagações que se convenientemente respondidas, ou melhor, solucionadas, em muito ajudaria o basquetebol brasileiro a se livrar do penoso ônus de se perpetuar através o sistema de jogo que o tem penalizado por mais de vinte anos. A recém oitava colocação da equipe feminina no mundial sub-17, quando venceu um único jogo, é mais uma contundente prova de que a presença de somente duas armadoras na equipe a torna fragilizada e insuficiente ante as exigências cada vez maiores de jogadoras altamente especializadas nos fundamentos do jogo.

Nossos cadetes e juvenis, cada vez mais se ressentem desta grotesca falha de planejamento, que privilegia jogadas coreografadas, no lugar de um domínio efetivo dos fundamentos, dando margem para que o técnico da equipe feminina para o Pan venha a público se queixar de que não temos mais armadoras no país. E o que fez na função por mais de vinte anos para minorar tal deficiência? Por que não as preparou em quantidade? Afinal é um dos palestrantes oficiais da CBB na implantação das tais “filosofias” de jogo. Por onde ficaram as simplórias didáticas de ensino dos fundamentos, que americanas, australianas, tchecas e outras, mantêm presentes em seus programas de ensino do grande jogo, relevadas entre nós em nome das táticas maravilhosas estabelecidas no bojo de pranchetas mágicas?

A seleção sub-19, em sua ainda hesitante subversão, poderá, quem sabe, mesmo na ausência de um resultado consagrador, mudar um pouco a realidade em que vive o nosso basquete, sob um primado autoritário e completamente fora de nossas mais preciosas características, onde o outrora criativo, técnico e audacioso jogador brasileiro, viu seu espaço vitorioso ser substituído por uma geração colonizada de técnicos, muito mais voltados ao serviço de suas vaidades e pseudos capacidades de liderança. Suas posições individualizadas e obliteradas ao conhecimento comum e democrático nos levou ao abismo em que nos encontramos, e queiram os deuses que a jovem seleção na lonjura européia dê um primeiro passo para sua libertação.Afinal, trata-se de uma seleção brasileira, e aquela mais importante para nossa realidade. Serão aqueles que renovarão os caóticos princípios longamente implantados entre nós, ou não. Torço para que sim. Amém.

MÃOS AO ALTO !

“Quero ver todos com as mãos para o alto, saltando, pulando, dançando, vamo lá”. É assim que se apresentam os astros do rock em seus shows populares, e é assim que retorna a seleção brasileira, com seus cardeais armando (?) as jogadas coreografadas com a bola acima da cabeça, como que atendendo aos rogos dos astros do rock. Até o excelente Valtinho aderiu à moda, esquecendo por momentos que um armador a tem sempre rente ao solo, o máximo possível, obrigando o defensor a perder o controle de seu centro de gravidade. Mas não, com a formação base de um só armador puro, o Valter, o que se viu no primeiro quarto foi um show de bolas acima da cabeça, facilitando e telegrafando os passes, nos mais do que conhecidos”movimentos” de chifre, punho, coc disso e coc daquilo, sem contar que no primeiro ataque, repito, primeiro ataque o arremesso de três pontos foi assassinado, digo, assinado, pelo pivô Murilo. O segundo ataque flagrou o ala-armador Alex dando um passe nos pés do pivô que penetrava de frente para a cesta. No terceiro ataque, o ala-armador Marcelinho dá um passe para fora da quadra desenquadrando o outro ala que penetrava. “A equipe está se preparando para o Pré-Olímpico,“passando” pelo Pan, mas levando-o à serio, já que a prioridade é o Pré”. Foram declarações repetidas em três entrevistas antes do jogo,definindo o Pan do Rio de Janeiro como um torneio de “passagem”, com medalha garantida, a de ouro. Muito bem, ou muito mal? Pelo que vimos nos três primeiros ataques deste segundo jogo, repetindo o que ocorreu no primeiro três dias atrás, se não tomarem cuidado a”passagem”pode custar muito caro, vide o voleibol no último Pan em S.Domingos.

Tão caótica e risível era a disposição tática da equipe, atendendo as exigências cardinalícias impostas por uma absurda e questionável liderança baseada em antiguidade e em enriquecimento curricular, que a“comissão coesa e uníssona”, acredito que no mais profundo contragosto fez entrar um segundo armador , o Huertas, que mesmo pouco inspirado, acertou a marcação e ordenou os ataques, fazendo com que a equipe se distanciasse no placar, fator ocorrido também no primeiro jogo. E enquanto a equipe pode contar com dois armadores verdadeiros na quadra, mesmo manietada e engessada num sistema de jogo que já transcendeu a qualificação de crime, ajuizando para a mesma e para o basquete brasileiro, o qual representa, o rótulo de suicida, demonstrou quão equivocada é a manutenção em quadra de jogadores que pouco entendem de posicionamento defensivo, domínio dos dribles e dos passes, variáveis indissociáveis na efetivação das mais rudimentares táticas ofensivas e defensivas, aquelas que fazem uma equipe jogar em conjunto, e não no sistema que dominam como ninguém, aquele do”armem que eu chuto!”.

“Estamos renovando a equipe, lançando novos valores, mas para o Pré-Olímpico os veteranos é que estarão na linha de frente”. Mudando uma ou outra palavra, foi esta a afirmação do técnico coligado antes do jogo. Será que tal posicionamento já foi avalizado pelo selo neneziano? O Valter já está posicionado, o que considero positivo dada a grande qualidade do mesmo, somente discordando veementemente da forma em que foi convocado. O Leandro, outro excelente armador, deverá estar na linha de frente, finalizando, como quer o delfin. Ele próprio, Varejão e Spliter fatalmente constituirão a base da seleção, com dois armadores, ou não? E como ficam as convicções da douta comissão, toda ela fundamentada em um só armador e dois cardeais, e mais um terceiro que se agregará ao torneio que interessa como vitrine internacional? Se serão dois os armadores pela injunção e vontades incluídas no check list do delfin, como ficarão os cardeais? E o Papa de Ribeirão? O que terá a dizer, a exigir e a se impor como um verdadeiro técnico?

Dou uma pequena dica, humilde, pois nunca me candidatei à raposa felpuda, aquelas que habitam o mundo cebebiano, mas que ante a impossibilidade política e napoleônica de mudanças nos comandos das seleções, que a atual reveja seus conceitos coreográficos e pranchetários, e com urgência urgentíssima, desenvolva sistemas baseados em dois efetivos armadores, e em três homens altos em permanente movimentação dentro do garrafão, e que estes armadores também arremessem bem na média distância, e razoavelmente na longa distância, mas que acima de tudo e de todos dominem com razoável perfeição os fundamentos básicos do jogo, destinando aos homens altos as grandes lutas nas duas tabelas, e que também sejam capazes de após os rebotes irem complementar as jogadas de contra-ataques, e que lutem, mesmo que saibamos dos interesses profissionais envolvidos, com um mínimo de patriotismo e grande coragem, aquela que reverencia e perdoa deslizes materiais. Será uma grande oportunidade de mesmo sob o espectro de um check list neneziano tentar liderar uma equipe cuja influência de comando exógeno se situa em contrafação ao comando endógeno, aquele que qualifica o verdadeiro líder. Ainda está em tempo, ainda.

Infelizmente, e após lutar para conseguir alguns ingressos na torrinha (tenho um bom binóculo), irei assistir a seleção brasileira “passar” pela arena de milhões de reais, para junto aos 15 000 de incautos torcedores relembrar, no meu caso de velho combatente, a gloriosa “participação” da seleção campeã mundial no também glorioso Maracanãnzinho, com25 000 mil felizes torcedores.

Espero, de coração, que um dia essa liderança administrativa e técnica (?) encerre sua”passagem” retrógrada e nefasta, pois não há mal que sempre dure, e que delfins, cardeais e papas se percam na poeira de suas insignificâncias, de suas arrogantes e caipiras posições, lapitopi incluso. Amém.

SERÁ?

Numa recente declaração ao jornal O Globo, o técnico da seleção brasileira masculina “crê que, apesar dos desfalques, o elenco tem uma base experiente: Valtinho, Nezinho, Marcelinho, Marcelo Huertas e Alex, com a qual é possível lutar pelo ouro”. Caramba, que virada sô!! Para quem tinha convocado somente dois armadores, Nezinho e Huertas, o que caracterizaria jogar com somente um armador puro, já que Marcelinho e Alex sempre foram considerados por ele como alas-armadores, a “sugestão” neneziana sobre o Valtinho mudou o conceito de armação da equipe radicalmente, pois os cinco mencionados jogadores passaram a ser a “base experiente da equipe”. Base, se bem entendo, é aquela que joga e lidera uma equipe dentro de quadra, e pelo que constatamos pela relação final para o Pan, três são armadores e dois alas-armadores, dos quais, três estarão certamente no quinteto base, situação tática que caracterizou as quatro equipes finalistas no recém findo campeonato nacional. As duas outras posições serão escolhidas dentre o batalhão de cinco pesos pesados convocados e já efetivados na equipe. Dois alas puros completam o plantel, os dois Marcos.

Como vemos, tratava-se de uma seleção convocada e possivelmente escalada para dar continuidade ao sistema tradicional de um só armador, dois homens altos trombadores e intimidadores, e dois alas arremessadores. A entrada de mais um armador de peso na relação final, alterou o projeto de continuísmo da “filosofia” implantada, ou pelo menos, arrefeceu sua integral utilização, dando a todos aqueles que ansiavam algo de novo um tênue alento de que a entrada de mais um armador, propicie maior qualidade nos fundamentos, e conseqüente otimização técnico-tática. Afinal de contas, e segundo afirmação do próprio técnico, trata-se de jogadores que constituem “a base experiente da equipe”. Estou realmente curioso para saber em que vai dar tal convocação, que fere frontalmente certos princípios arraigados dentro da comissão técnica, e que encontraram em dois deles algumas reavaliações quando dirigiram suas equipes de clubes no recém findo nacional, onde se utilizaram de dois armadores.

Como mais este fator do check list apresentado pelo Nenê foi atendido, resta-nos a expectativa de presenciar e testemunhar mais um remake de técnico à serviço de craque, que desde já organiza e relaciona a lista daqueles que estarão no Pré-Olimpico, no qual os restantes itens serão devidamente preenchidos.

Os dois jogos contra o Uruguai ganham enorme importância, não pelo jogo em si, mas pela averiguação do que pretende estabelecer a comissão quando divulga a agora existente “base experiente da equipe”, leve por sinal, em contraste com o batalhão de lutadores de sumo no banco. E aja banco para resistir a tanto peso…

PS- Check List publicado em 24/06/2007.