Olá, professor,
Consegui acompanhar os últimos dois jogos da final do NBB, perdendo os demais por incompatibilidade de horários. Mas segui seus comentários aqui, não sem alguma surpresa. De Franca eu até esperaria alguma cautela ofensiva, algum tutano. De Brasília, não mesmo.
Pois aí veio essa avalanche do jogo derradeiro, sem surpresa alguma, claro. E acho que chegou a hora de se botar os pingos nos ‘is’, como sua pergunta no artigo sugere.
Não estamos falando de garotos intempestivos. São veteranos incontroláveis, mesmo. Não tem jeito. Que espécie de disciplina é necessária para enquadrá-los? Já foram vários os técnicos que passaram no comando, e nada de conter esse ímpeto desenfreado de atirar toda e qualquer bola para a cesta, não importando o contexto da partida, a posição em quadra.
Do trio Nezinho-Alex-Giovannoni, o único que se segurou em quadra foi o Alex, alguém que dá bastante trabalho fora dela pelo jeito ‘brabo com muito orgulho’ de ser. No fim, porém, essa atitude ao menos o torna um marcador muito bom, por não temer o confronto com ninguém, não importando sua estatura, mas, sim, a agilidade, força e, especialmente, seu empenho e coragem.
Os outros dois? Vejo problemas sérios, incorrigíveis, embora de naturezas diferentes.
Especialmente no caso do ‘armador’. Quando os holofotes estão acesos, como no caso de uma final de NBB, ele não se controla. Adora o jogo mano-a-mano, massageando a bola sem parar, numa postura que lembra até mesmo os pretensos jogos And-1. Quer ser o cara, quer dar show e, no fim, o pior: não vai para a cesta, não vai desafiar os marcadores lá dentro, contentando-se com os arremessos completamente tortos (em sua forma) e desequilibrados a dois passos da linha de três pontos. Um (em uma dúzia) cai, e basta para ele se realizar. Espero que Magnano não caia nessa barca furada mais uma vez. Pois, sem a turma da NBA, o Huertas vai precisar pontuar mais e precisará de um segundo armador ao seu lado capaz de lhe dar um descanso e de facilitar sua vida também. Penso que o argentino valorize a velocidade do Nezinho, pensando na marcação pressionada de quadra inteira ou meia-quadra, mas, se ele resume o substituto de Huertas a esse papel, nosso Eric Tatu cumpre com essas funções com muito mais eficácia.
Quanto ao Guilherme, não é de hoje… Sua vocação é de cestinha, de pontuador. Não há dúvida de que tenha um arremesso de três invejável, regular, dificilmente ele muda os movimentos, o que mostra muito treino da sua parte. Porém, é um desperdício de seu jogo de pés e movimentos internos, que não encontraram resposta da defesa francana em muitas ocasiões. No fim, seu talento, tal como o do Marcelo Machado (não cabe mais o ‘inho’, né? soa estranho para alguém há tanto tempo na cena), sobra, o que cobre qualquer pecado. Em jogos mais equilibrados, contudo, ficamos deficitários. Por isso, pensando na composição de uma seleção brasileira, tenho minhas dúvidas quanto à sua compatibilidade com nossas ‘estrelas’. Penso que ele se torna um jogador que também para muito a bola. Que vai pensar sempre primeiro em arremessar do que no passe, impedindo qualquer fluência ofensiva. Não sei se precisamos de (mais um!) jogador desses no time. Se ele aceitasse jogar em doses homeopáticas, com poucos minutos e funções delimitadas, talvez pudesse funcionar. Mas não creio que sua personalidade (não estou falando de caráter) permitiria esse tipo de ajuste. Imagino que o Arthur, na função de um arremessador para quebrar defesas por zona, para situações delimitadas, serviria melhor ao time. Embora, viajando mais, o Márcio, de Franca, seja ainda melhor arremessador e, que idade que nada, segure mais as contas na defesa.
Gostaria de propor um exercício hipotético ao senhor: se não tivesse em mãos os jogadores da NBA – nem mesmo o Tiago, que já afirmou que seu destino está atado às negociações contratuais entre os donos e a associação dos jogadores -, qual seria hoje sua seleção brasileira? Imagino que nossos leitores se divertiriam, e aprenderiam também, como de praxe, com esse exercício.
Um abraço,
Giancarlo.
Esse foi o comentário do Giancarlo Giampietro, jornalista dos bons, sobre o artigo aqui publicado em 25/5/11, A Vencedora Incoerência…, onde argumenta com propriedade sobre realidades do nosso basquete, e ao final me propõe um exercício hipotético sobre como formaria uma seleção brasileira que não contasse com os jogadores da NBA, visando o pré olímpico que se avizinha na Argentina, e como técnico que sempre fui, só poderia responder como tal, como um técnico. Então, vamos lá…
Iniciando o exercício, proponho de imediato uma releitura dos artigos O que nos falta treinar I, e O que nos falta treinar II, publicados em 2005, nos quais reitero convicções e princípios de jogo, que apliquei cinco anos mais tarde no Saldanha da Gama, sem tirar nem por, rígida e pragmaticamente, obtendo alguns resultados relevantes, como esse jogo exemplar veiculado no blog em 23/3/2011, Pensando o Futuro…o Grande Jogo, assim como dois artigos que elucidam o sistema defensivo – Sistemas I- Defesa Linha da Bola e o ofensivo- Artigo 500-Falemos um pouco de táticas e Sistemas III.
Pronto, eis um retrato teórico prático do que faria numa seleção brasileira, quando algo de muito novo apresentaríamos a um universo engessado pelo sistema único que será desenvolvido por “todas” as seleções envolvidas no pré olímpico, onde adoraria ver como reagiriam a algo antagônico ao que fazem e aplicam desde sempre, com seus modelos pautados em posições de 1 a 5, e jogadas sinalizadas de forma idêntica, trocando somente os idiomas usados, num exercício explícito de previsibilidade técnico tática. Seria formidável e instigante testemunhar tal confronto ante uma equipe cuja imprevisibilidade de ações seria sua tônica.
Ah, os jogadores que convocaria para os treinamentos? Pois não, ai está a lista inicial de 18 convocados, prezado Giancarlo:
Armadores : Valter, Benite, Helio(Franca), Rafael(CETAF), Andre (Joinville) e Fúlvio. Para 4 vagas.
Por qualquer impedimento inicial: Eric e Raul, nessa ordem.
Alas : Teichmann, Guilherme, Alex, Douglas, Alexandre, Marcos para 4 ou 5 vagas.
Por qualquer impedimento inicial: Arthur e Alex(Bauru), nessa ordem.
Pivôs: Fiorotto, Morro, Murilo, Rafael Mineiro, Tischer, Cipolini para 4 ou 3 vagas.
Por qualquer impedimento inicial: Estevan e Probst, nessa ordem.
A equipe seria reduzida a 14 jogadores após o treinamento intensivo nos fundamentos do jogo( sem os quais nenhum sistema de jogo ofensivo ou defensivo prosperaria), até os jogos preparatórios, quando então seria definida para a competição oficial.
E estaria delineado o sistema de 2 armadores e 3 alas/ pivôs, com jogadores que aqui jogam, sem interferências, desculpas ou exigências de caráter administrativo, de saúde, ou mesmo de marketing, desenhando um momento do basquete brasileiro na busca de seu soerguimento, e servindo de referencia pontual para as gerações que os sucederiam, claro, se bem trabalhadas por quem realmente entende do grande jogo, e não a confraria que ai está.
Uma única exceção deveriamos considerar, o inegável acréscimo de qualidade que um Huertas daria ao grupo em treinamento, se o mesmo pudesse atender as datas e prazos como os demais, pois sempre demonstrou interesse e real participação nas seleções a que foi chamado, sem estrelismo e exigências descabidas. E só.
Bem, como um exercício absoluto e irreversivelmente hipotético até que estaria de bom tamanho para os sistemas propostos, prezado Giancarlo, já para o indefectível, presente e imutável sistema único, o famigerado basquete internacional, quaisquer outras alterações, ou mesmo total reformulação serviriam, pois se adequariam ao prèt a porter que servil e colonizadamente nos acostumamos a praticar, para o júbilo e alegria daqueles que o utilizam muito melhor do que nós, graças a uma base de alta qualidade, nossos adversários no Pré.
Será que nuestro hermano Magnano compraria, pelo menos, a idéia da imprevisibilidade técnico tática? Bom seria, não? Torço para que sim, pois aumentaria, em muito, as nossas chances.
Amém.