Amigo Paulo, Olimpíadas à vista, Copa América no feminino, e você mocó?
Calma cara, não estou ausente, e sim em processo introspectivo, haja vista a mesmice endêmica que se instalou no basquetebol tupiniquim, aspecto este que torna indigesto acompanhá-lo, por mais boa vontade que se tenha para fazê-lo. Porém, por mais uma vez atendo o seu pedido, afinal, são muitos anos de respeitoso e profícuo contato, e que deve ser considerado…
Vamos lá, Copa America, equipe feminina brasileira, assisti os jogos, e francamente continuo não gostando, por um relevante motivo, poucas, muito poucas dominam os fundamentos básicos, porém afogadas pelo sistema único, com passes e muitos passes de contorno da área restritiva, tendo como prioritário objetivo alocar espaços para os arremessos de três pontos, avidamente cobrados pela comentarista Hortência, em detrimento de um eficiente jogo interior, já que possuímos jogadoras altas e razoavelmente aptas na função finalizadora e reboteira, que no confronto com equipes bastante fracas se impõe técnica e taticamente, mas quando frente a equipes mais bem preparadas nos fundamentos, sucumbe irremediavelmente, vide as partidas contra o Canadá e Estados Unidos, sendo esta representada por sua seleção universitária com média de idade de 22 anos. Realmente choca o abismo que separa canadenses e norte americanas das brasileiras no tocante aos fundamentos individuais e coletivos que as separam de nossas esforçadas e talentosas jogadoras, o que nos leva, seguida e insistentemente na cobrança de um preparo centrado no ensino e dura prática nos fundamentos, reservando menos tempo no enfoque sistêmico, pois é sabido desde a criação do grande jogo que uma equipe dominante dos fundamentos tende a superar uma outra que não os tem no mesmo nível, apesar de apresentar uma aparente conhecimento tático…
Que se esfuma no transcorrer da partida, por não apresentar soluções técnicas individuais e coletivas, somente possíveis e factíveis sob o domínio pleno dos fundamentos do grande jogo. Vale sempre lembrar que sem o domínio dos mesmos, nenhum sistema de jogo funcionará com um mínimo de eficiência, já que dependente de bons passes, drible e fintas bem executados, bloqueios e corta luzes eficientes, e acima de tudo, arremessos corretamente executados…
Assim como, pleno posicionamento defensivo, tanto no aspecto individual, como, e principalmente no coletivo, dependentes do pleno conhecimento e domínio do equilíbrio corporal, e gravitacional, elementos decisivos na arte de bem defender…
A quase completa ausência destes conhecimentos por parte de uma jogadora, a situará sempre inferiorizada a uma outra mais preparada, mesmo que esteja situada dentro de um sistema tático tido e havido como de alta eficiência teórica, porém praticamente falho ante a deficiência de jogadoras carentes dos fundamentos básicos na tentativa de exequibilizá-lo, fator que nenhuma prancheta ousa preencher…
Enfim, enquanto continuarmos a perder tempo com discursos táticos em torno de sistematizações de almanaque, modais, repetitivos e estéreis, espelhados em pranchetas impessoais mais estéreis ainda, não evoluiremos, não desenvolveremos melhores jogadoras, criativas e pensantes, e não arremedos de marionetes encordoados de fora para dentro das quadras, como extensões de estrategistas acorrentados a sistemas globalizados e clara e decisivamente corporativados…
Mudanças têm de acontecer, na busca de algo inovador, criativo, e proprietário, elevando o nível do nosso sofrido e decadente basquetebol, pois em caso contrário continuaremos trilhando o penoso e enganoso caminho do “engana que eu gosto” das últimas três décadas…
No masculino, quatro deserções (Didi, Raul, Marcos e Gui), deixam o técnico croata ainda com bons valores para a disputa do pré olímpico, porém com um fator altamente perigoso, uma só vaga em disputa. Croatas, russos, alemães devem ser sérios adversários à pretensão brasileira, ainda mais quando continuamos a professar o sistema único e a mal disfarçada queda pelo “chega e chuta”, tão em voga na liga nacional, sem dúvida alguma a pedra no sapato do Petrovic, além da contumaz fraqueza defensiva de jogadores pouco compromissados com esse básico fundamento na competição maior do país. Não à toa bradou na imprensa sua exigência no fator defensivo, como ponto fulcral para a campanha classificatória às Olimpíadas…
Bem, caro amigo, são essas as minhas opiniões, sinto que não sejam devidamente otimistas, mas coerente com todo um contexto que venho enfocando a muitos anos, incansável e repetidamente, dentro e fora das quadras, numa epopéia sem fim, mas plena em esperanças em dias melhores…
Num determinado momento do terceiro quarto da decisão do NBB, entre Flamengo e São Paulo, com a partida ainda indefinida, num ataque rubro-negro, a bola é lançada de dentro para fora do garrafão para as mãos do ala pivô Mineiro na linha dos três pontos, absolutamente livre de marcação, com livre arbítrio para mais uma das dezenas de bolinhas em que sua equipe vem se notabilizando, inclusive com pleno aval e flagrante incentivo de seu estrategista, preferiu partir para a cesta e concretizar uma “bola de segurança” (termo utilizado pelo comentarista) de dois pontos, numa bandeja um tanto decepcionante para o enfastiado narrador, que se preparava para mais um rugido narrativo de mais uma bola magica de grande distância, ou mesmo uma“ enterrada monstro”, aquela jogada que afirmam fascinar os torcedores, definidora do sentido sensacionalista do jogo em sua concepção midiática. Preferiu o jogador a opção mais segura, a simplória bandeja, garantidora de mais dois pontos para sua equipe, aspecto intrínseco aos arremessos de curta distância, no que fez e agiu muito bem, com simplicidade e alta eficiência…
Relembro aquele momento como algo realmente marcante daquela decisão, quando em três jogos a equipe carioca liquidou seu oponente estrelado, porém ineficiente defensivamente, nos quais, se a ação do Mineiro tivesse sido mais emulada e explorada pela totalidade de sua equipe, teria vencido com folgas, não passando pelos sérios apertos nas duas partidas iniciais, por conta dos 81 arremessos errados de três pontos…
Escrevo agora, depois de algum tempo, pressionado pelo amigo insistente e cobrador, que sem tréguas me exige textos e mais textos, e para quem não importa se me sinto à vontade para escrever ou não, cansado, e por que não, enfastiado com a mesmice endêmica que assaltou de vez o grande jogo em nosso país, e com uma absurda agravante, a implantação escancarada da convergência entre os arremessos de dois e três pontos, com a flagrante supremacia das infames bolinhas…
Números? Pois não, aí estâo (boa rima) nos três jogos:
Flamengo – 2 pontos – 52/92 (56,5%)
3 pontos – 45/126 (35,7%)
Lances livres – 32/39 (82%)
Erros – 20 (6,6 pj)
São Paulo- 2 pontos – 59/120 (49,1%)
3 pontos -28/80 (35%)
Lances livres- 43/51 (84,3%)
Erros – 20 (6,6 pj)
Numa simples aritmética, o Flamengo errou 40 bolas de dois pontos e o dobro de três pontos, num desperdício brutal de energia e ineficiência pontuadora, onde os índices razoaveis para equipes da elite se situam nos 70% para os arremessos de 2 pontos, 50% para os de 3, e 90% para os lances livres, testemunhamos quão abaixo nos encontramos no concerto internacional, pois bastaria que optasse para os dois pontos em pelo menos metade das tentativas frustradas de três, elevando substancialmente os índices de arremessos, para vencer no mínimo por vinte pontos cada uma das três partidas, ou não? Façam as continhas…
Inadmissível caro redator, sem o espetáculo das bolinhas do meio da quadra, as tais que elevam o espetáculo em conjunto com as enterradas e tocos estratosféricos, que atrativos ofereceriam os embates no NBB, pois afinal de contas são elas que ensandecem os narradores, que encantam os analistas, que estremecem as arquibancadas, mas que no frigir dos ovos nos destinam a sonhar com as olimpíadas vindouras, pois a dura realidade dos oponentes internacionais que defendem de verdade, que destinam seus longos arremessos aos verdadeiros especialistas dessa difícil e seletiva arte, e pensam o jogo, lendo-o com vastos conhecimentos de causa, nos relegam ao rol de perdedores contumazes e teimosamente aferrados ao lugar comum da sistematização única, onde jogadores, técnicos, dirigentes, agentes, empresários e mídia quase em geral, se misturam coloidalmente ao interesse comum, o de manterem seus empregos, posições e desconfiável prestígio, sombreados pela liga maior, milionária e inalcançável em seus desígnios mercantis, através um modelo que somente se torna factível embasado em milhões de dólares, talvez bilhões, deixando-nos as migalhas e sonhos etéreos e fugazes…
Agora mesmo dois dos “futurosos” craques nacionais pedem desligamento da seleção que tentará uma vaga para as Olimpíadas de Tóquio, com dedo flagrante de agentes que visam somente lucros, por menores que sejam, em seus “investimentos” nos mesmos, sabedores que são da fragilidade técnica de seus agenciados para o nível daquela liga maior, mas que poderiam ajudar uma seleção mais fragilizada ainda, por serem representantes de uma escola mambembe onde o “chega e chuta” se tornou a moda a ser seguida e implantada, e está sendo, estando aí para quem quiser ver. Vencerão? Um desconfiado talvez é o meu prognóstico, que poderia ser mudado e confrontado se algo de absolutamente novo fosse apresentado por essa seleção, o que duvido, pois o aludido chega e chuta parece que veio para ficar, e não será um lúcido Mineiro, com sua simplória (porém convincente) opção pela mais simplória ainda bandeja, que modificará o vício avassalador da chutação midiática de fora, com ou sem marcação, sendo armador, ala ou pivô, afinal a “representatividade midiática” é para ser degustada, conquistada e, como todas as falseadas glórias, esquecidas, se não fruto de uma concepção genuína de equipe, que no momento que atravessamos não está vindo ao caso, trágica e infelizmente…
Assisto pela TV peladas inomináveis na NBA, onde cestinhas e recordistas não ganham jogos, mas auferem triples e blocks galáticos, assim como uma LBA, a liga africana patrocinada pela matriz, apresentando uma decisão de campeonato de fazer corar e chorar mesmo aqueles que desgostam do grande jogo, influencia que já se espraiou pelo Oriente e Ásia, mas tropeça na resistência europeia, que se mantida por mais algum tempo, abalará o monopólio americano, equilibrando as conquistas técnico táticas, porém jamais a supremacia econômica, riqueza esta que tem arrastado seus melhores jogadores para suas franquias, sem no entanto, conseguir desqualificá-los ou modificá-los como jogadores da mais alta técnica naquele pormenor básico, decisivo e inegável, os fundamentos do grande jogo…
A pandemia se estende, negacionada por um governo simplesmente criminoso, quando somente agora consegui a segunda dose de uma vacina ainda distante de meus três filhos, obrigando-os ao forçado enclausuramento, e home offices desgastantes e sacrificados, numa rotina onde a disciplina os tem moldado decisivamente para um amanhã pavimentado por dúvidas, advindas de uma liderança nacional absurda e imoral. Torço ardentemente por eles, por todos os jovens desse imenso, desigual e injusto país, que merecem todas as oportunidades possíveis se lhes forem destinadas as ferramentas necessárias, educação, saúde e segurança para usufruírem dias melhores, merecedores que são.
SIMPLESMENTE LAMENTÁVEL, DO ESTRATEGISTA AOS COMENTARISTAS, DA SILENTE MÍDIA, DOS AUSENTES E CÚMPLICES COMENTÁRIOS, TUDO MEDIADO PELO SORRISO FINAL DO AMERICANO…
Minha gente basqueteira, vejam esse artigo publicado em 9/3/13 aqui nesse humilde blog, lembrado por um leitor mais atento, e que reporta a um assunto “do momento” por que passa o grande jogo, nesse imenso, desigual e injusto país, e que nem a atual administração das nossas CBB e LNB ousaram modificar, ou simplesmente focar junto às cabeças pensantes ainda existentes (são poucas, mais aí estão ao relento…), que realmente conhecem e entendem o grande jogo, nos níveis municipais, estaduais e federal…
A continuar esse desmonte proposital e interesseiro, do que realmente embasou técnica, tática e estrategicamente o outrora, brilhante e vencedor basquetebol brasileiro, bem sabemos onde iremos mergulhar, bem mais fundo que o poço em que nos encontramos, frente a tanta ignorância institucionalizada…
Logo mais, pelas semifinais da NCAA, poderemos constatar os passos modificadores de tudo que aí se estabeleceu como “basquetebol moderno”, quando equipes raramente ultrapassam os 20 arremessos de três, atuam fortemente no perímetro interno, defendem vigorosamente nos dois perímetros (fruto das regras de 40″ nas high schools, e 30″nas universidades, fatores que ampliam sobremaneira a intensidade defensiva), e onde a predominância dos fundamentos básicos se faz presente em todas as equipes, em todas as posições de seus integrantes, indistintamente…
Então, frente a tantas evidências da mais absoluta falta de bom senso, ecoa num vazio inescrutável, a seguinte pergunta – Mudou algo, o que mudou? Ouso responder daqui dessa humilde trincheira – NADA!
Técnica, táticas, sistemas, estratégias, jogadas, todo um mar de (des) conhecimento que cercam atitudes, discursos, posicionamentos, omissões, vazios testemunhos, vazias conclusões…
A CBB tem um antigo/novo presidente, que não seria mais novo/antigo do que seu oponente perdedor, iguais, xifópagos da mesmice administrativa que nos vem esmagando nos últimos 20 anos, e com uma resultante técnica que dificilmente será ultrapassada, o continuísmo técnico tático que aí está, formatado e padronizado desde sempre, da formação de base às seleções, expurgando qualquer resquício de algo novo, instigante, ousado, corajoso, que o confronte e rivalize…
A LNB, com sua LDB recém finda, projeta um futuro mais amplo para os jovens abaixo dos 22 anos, porém um fator tem de ser encarado com rigor, ou seja, a proibição de todo aquele jogador, independendo de idade, que fazendo parte de equipes da LNB em seus NBB’s façam parte das equipes da LDB, quando aí sim, estaremos promovendo o desenvolvimento daqueles que aspiram lá chegar, e não utilizando os já graduados na liga superior, para auferirem títulos que perdem em valor se comparados com a verdadeira finalidade de uma liga de desenvolvimento, a de propiciar o amadurecimento de novos valores, que é o fator técnico que realmente importa para o soerguimento do grande jogo…
Mas algo tem de mudar, tem de ser redimensionado no cenário da técnica formativa da base, e das equipes ranqueadas, onde declarações equivocadas podem rapidamente desencadear o fator técnico agora exposto, senão avaliemos o testemunho do técnico do Flamengo após a fácil vitória de sua equipe contra a Liga Sorocabana, numa matéria de Fernando H.Lopes para o blog Bala na Cesta de 8/3/13, comentando o fato de sua equipe ter arremessado mais bolas de três pontos do que de dois, numa convergência de arremessos que grassa célere e perigosamente em algumas equipes da liga maior:
(…) O técnico José Neto, por sua vez, disse que não se preocupa muito com a quantidade excessiva de chutes de fora da equipe (para se ter uma ideia, só o ala Duda tentou 10 bolas longas, acertando três). “Tivemos uma quantidade grande de arremessos de três, mas todos foram bem trabalhados. Não me preocupo com a quantidade e sim com a qualidade. O dia que tivermos dois arremessos de três e 500 de dois forçados, aí sim, vou ficar incomodado. Temos ótimos arremessadores de fora e procuramos explorar bem isso”, afirmou o comandante rubro-negro (…).
Convenhamos ser um argumento completamente destituído da mais ínfima lógica, já que todo o trabalho para que os longos arremessos eclodissem se restringiram ao “chegar e chutar”, ou simplesmente trocar dois ou três passes circundantes e arremessarem, ante a mais completa ausência defensiva externa, em vez de aproveitarem a circunstância da maciça presença defensiva no perímetro interno, para desenvolverem um eficiente jogo de pivôs, mesmo como preparação para embates mais fortes no futuro, quando realmente precisarão desse tipo de ação, frente a defesas bem postadas (…) O dia que tivermos dois arremessos de três e 500 de dois forçados, aí sim, vou ficar incomodado (…)
Bem, nesse caso, incomodada e de forma grave deverá ficar sua equipe, que se privada dos longos arremessos ante defesas de verdade, tiver de atuar no âmago do perímetro interno sem o domínio e o conhecimento técnico e tático necessários, como ocorre, não só com a sua, mas na grande maioria das equipes da liga, que absolutamente pouco sabem como jogar “lá dentro”, e que pensam saber jogar “lá de fora”…
O fator técnico é o grande enigma que teremos de solucionar para que nosso basquetebol volte às grandes competições com boas margens de sucesso, tanto as nacionais, como, e principalmente, as internacionais. Até lá, seria prudente e de bom senso que certas declarações ficassem presas ao sábio e inteligente mutismo…
Amém.
Fotos – O Presidente reeleito da CBB e a reunião da Comissão Técnica da LDB discutindo a nova forma de competição .
Lá para o fim do terceiro quarto, o comentarista me sai com esta – “ Muito inteligente essa estratégia do técnico do Flamengo utilizando 2 armadores e 3 pivôs rápidos, depois da enorme perda de arremessos de 3 na noite de hoje, virando um placar contrário e vencendo a partida jogando dentro do garrafão”. Até aquele momento os cariocas haviam arremessado 47 bolas de 3, com 10 acertos. Ao final, contabilizou 14/55 nas bolinhas e 13/18 nas de 2 pontos. Seu adversário argentino, o ITT, perdeu de 1 ponto (78 x 77) arremessando 21/39 de 2 pontos e 7/24 de 3, numa claríssima constatação de que o incensado e deificado modelo de basquetebol moderno brasileiro, que fatal e inexoravelmente será institucionalizado nas seleções nacionais, passará por essa insana e absurda “correção de rumos”, a seguir da saída do croata, que, possivelmente não conseguirá moldar a seleção adulta para as futuras competições internacionais, a jogar de outra forma que não esse pastiche que ora nos deparamos (e se fritará se tentar), onde o “chega e chuta” já conta, inclusive, com a exultante adesão dos estrangeiros que aqui atuam (são quatro por equipe), que juntamente com aqueles poucos nacionais que os acompanham, encasquetaram em suas cabeças que personificam a fina flor dos especialistas mundiais nos longos arremessos, e da forma mais contundente e avassaladora de que temos conhecimento. Só esquecem de um simples “detalhe”, de que por aqui em terra tupiniquim ninguém marca e contesta ninguém, e onde falta pessoal passou a ser “inteligente” no afã de travar o adversário, e não se impor pela técnica defensiva, talvez um dos fundamentos mais importantes do grande jogo…
Este jogo foi lapidar, pois a equipe do Flamengo, que de há muito convergiu definitivamente seu modo de complementar a cesta, onde os arremessos de 3 em muito superam os de 2, até aquele momento da guinada “genial e criativa” de seu mais genial ainda mentor, fazendo seus obedientes e teleguiados jogadores a atuar em dupla armação (Balbi e Yago), e três hábeis e ligeiros pivôs (Demétrio, Mineiro e Marcos), transitando declaradamente pelo perímetro interno, e não abertos como de praxe, abdicando do jogo mais pesado com o Olívinha e o Hettshemeir, equilibrando a partida, definindo com mais precisão com as bolas de curta e média distâncias, tirando uma larga diferença e virando um jogo por pouco perdido…
Ao final, foram 13/18 arremessos de 2 e 14/55 de 3, onde por 41 vezes no ataque as bolinhas sagradas não caíram, por outro lado somente 5 bolas de 2 foram perdidas num total de 21 arremessadas, numa brutal evidência de pouca inteligência quando confrontada com uma equipe qualificada defensiva e ofensivamente bem treinada e conscientemente coletiva. Venceram a partida exatamente por mudar sua forma de atuar a partir do terceiro quarto, quando atuou no 2-3 ofensivo…
Ora ouvis estrelas, mudar um jogo quase perdido utilizando um sistema (sistema, sim senhor…), com dois armadores de ofício e três alas pivôs leves, rápidos e determinados aos rebotes, jogando na cozinha adversária, concluindo com mais precisão pelas curtas e médias distâncias, arremessando as bolas de três realmente necessárias pelo trabalho interior, defendendo com a velocidade e técnica de seus dois armadores, arrastando os hábeis pivôs para o jogo antecipativo, foram armas preciosas para a virada e consequente vitória, com um significativo e revelador pormenor, a rendição tardia (mas que não falha nunca…) a uma forma de jogar que um longínquo e esquecido Saldanha da Gama ousou tentar quebrar a mesmice técnico tática que imperava no NBB2 (2009/10), vencendo grandes equipes, porém lanterna num campeonato no qual por 49 dias de insano trabalho, realmente provou que podiam jogar um basquetebol diferenciado, brilhante e vencedor, podendo ter chegado um pouco mais longe com um mês a mais de treinamento, ou uma completa temporada no ano seguinte, infelizmente brecada politicamente…
De lá para cá pouca coisa mudou, cristalizando a mesmice técnico tática vigente, exceto pelo enxerto absurdo e autofágico da hemorragia dos três pontos, desvirtuando e jogando para baixo do tapete da história a essência de nossa forma de jogar, e que será contestada no enfrentamento internacional, inexoravelmente. Porém, como milagres as vezes acontecem, tirados ou não de cartolas mágicas, pudemos ver neste jogo, ressuscitar o velho (?) sistema que implantei naquela bela equipe (e nunca repetido, sequer esboçado), vencendo, inclusive, o Paulistano em SP, onde no banco do mesmo se encontrava um auxiliar técnico que hoje dirige o rubro negro carioca, que ante o perigo de ser derrotado pelas 41 bolas perdidas de três de sua equipe, lançou mão de conveniente 2-3 ofensivo, tão negado, combatido e vetado em seu continuismo. Lembrou bem, se deu melhor ainda, afinal, não a toa o comentarista considerou a ação inteligente e interessante, que claro, aplicada por quem se trata ganha um contorno, podemos dizer, genial. Mas sei, que inteligente como é, o jovem aspirante a selecionador nacional entenda de uma vez por todas que, sistematicamente convergindo não chegará a lugar algum, pois as escolas mais desenvolvidas que a nossa não permitirão…
Não esquecer, também, que naquele jogo debaixo de uma pancadaria consentida pela arbitragem, o Saldanha fez 91 pontos arremessando de 2 em 2 e 1 em 1, com somente 5/9 bolas de 3, mostrando a possibilidade de tal produtividade com um sistema proprietário e eficiente, de tal forma que nem a dispensa de três de seus melhores jogadores tirou da equipe vitórias importantes , como a sobre o campeão daquele NBB, o Brasília…
Enfim, espero que a bem lembrada opção do jovem treinador se repita com a frequência que se faz necessária nesse inodoro e insosso NBB, onde a prevalência do “chega e chuta” enxovalha e assusta o grande, grandíssimo jogo.
A respeito do artigo HOJE… publicado em 18/2, recebi esse comentário do leitor Fred Euler:
fred euler
23/02/2021 22:20
Para Basquete Brasil
Por que você não contribui com todo esse conhecimento, só critica?
Gostei do comentário, simples e objetivo, num questionamento merecedor de uma ampla e esclarecedora resposta, norma sempre respeitada nesse humilde blog, desde que formulada e assinada, onde jamais um anônimo mereceu sequer ser mencionado, e que foram algumas centenas. O respeito ao assumido, responsável e democrático contraditório sempre terá voz nesse espaço, ao preço que for…
Então, vamos lá:
Uma convincente resposta já foi aqui publicada em 2015, porém com uma ressalva atualizada, a de que crítica pode ser contra ou a favor de uma situação discursiva, de uma dúvida, um sério problema, ou mesmo um simples ponto de vista técnico, político ou pessoal, desde que atenda o direito de resposta sempre que solicitado, fato esse que nunca foi acionado nesses 16 anos de Basquete Brasil, assim como nunca fui questionado nos mais de 50 anos como professor e técnico, no plano pessoal, jurídico e técnico, numa cabal demonstração de coerência e ética profissional desde sempre…
Fiz direito as contas do tempo que lido com o grande jogo, quando tudo começou em 1948 no Grajaú TC, onde o conheci pela primeira vez, e como estou com 75 anos, lá se vão, hum, façam as contas…
Até os 13 anos o assistia fascinado, torcendo e aprendendo a amá-lo, dia após dia, até que tentei praticá-lo na escolinha do grande Geraldo da Conceição, lá mesmo no GTC (Geraldo ainda ensina em Brasília aos 90 anos, fantástico…), e depois no CRVG com o célebre Fu Manchú, que reencontrei em Belo Horizonte no Brasileiro Juvenil de Seleções em 68, quando dirigi a equipe de Brasília, vencedora da chave dos perdedores (5o lugar), levando a Taça com o nome dele, que muito doente ainda pode comparecer para entregá-la, num reencontro emocionante…
Mas pouco produzi como jogador, principalmente pela baixa estatura, e o interesse mais voltado para as técnicas e táticas do jogo (isso aos 14/15 anos…), aspecto esse que me abria um amplo leque de possibilidades de estudo e descobertas. Mais adiante, cursando a ENEFD, pude sedimentar o sonho de abraçar a técnica, que já praticava na Escola Carioca de Basquetebol, criada por mim e pelo Luis Peixoto, pai do Peixotinho, nossa primeira cria, e onde floresceu o Paulo Cesar Motta, ambos chegando a seleções brasileiras…
Dai para diante foi um torvelinho de emoções, fortes emoções, trabalhando na base e na elite, em clubes de renome, como Vila Izabel, Flamengo, Vasco da Gama, Fluminense, Olaria, Barra da Tijuca, seleções cariocas, brasilienses, estagiando, por concurso, em universidades americanas, dando clinicas pelo DED MEC em estados brasileiros, lecionando em escolas de ensino primário e secundário, universidades, aqui e na Europa, onde me doutorei, para finalmente ter uma breve e instigante experiência na LNB (NBB2), também me graduando na ECO/UFRJ em Jornalismo, e finalmente, a criação deste humilde blog em 2004, um dos motivos que provocou minha interdição na direção de equipes, entre outros mais recônditos, na Liga Nacional…
Pois bem, porque todo esse preâmbulo a um simples artigo, por que?…
Primeiro, para lembrar a muitos que 56 anos antes do meu despertar para o grande jogo, ele já era cultuado, admirado, amado, e praticado com fervor pelo mundo, o tornando o desporto coletivo mais divulgado dentre todos,desde sempre, logo, com toda uma história técnica e tática a ser observada, aprendida e apreendida por todos aqueles que, realmente, o quisessem compreender e entender toda a sua dimensão de esporte maior, ainda mais se desejasse ensinar e divulgá-lo às gerações sucedâneas através seu/meu parco conhecimento, numa humilde constatação de sua riqueza técnica e cultural…
Segundo, para lembrar a outros muitos também, que julgam e agem como se o grande jogo tenha sido criado quando de suas vindas ao mundo, numa atitude arrogante e presunçosa, passando a ideia de que o dominam total e enfaticamente, num posicionamento falseado e muito distante da realidade do que pensam e julgam conhecer, pois copidescar e “interpretar” articulistas estrangeiros não vale na maioria das vezes, absolutamente não vale, mas…
Terceiro, para relembrar algo de muito serio que teimo em publicar sequencialmente nessa humilde trincheira, o fato inconteste de que sempre existiram bons, alguns ótimos, e péssimos dirigentes , e fui testemunha da ação de muitos na direção da modalidade no país, porém com uma fulcral diferença relacionada aos dias atuais, a existência a época de grandes e verdadeiros técnicos e professores de basquetebol, na base e na elite, garantidores de gerações com eficiente formação nos fundamentos, e brilhantes na direção das equipes da elite, onde apresentavam sistemas de jogo proprietários, evoluídos, inéditos, e acima de tudo, corajosos e criativos,,,
…Muito diferentes da mesmice endêmica que vem nos assombrando a duas obscuras décadas de mediocridade e compulsivo corporativismo, estendido ao comportamento formatado e padronizado entre os jogadores de todas as faixas etárias, e por que não, consubstanciados pelo apoio da maioria da mídia especializada, a que sabe como ninguém discernir sobre as técnicas do grande jogo, sem, no entanto, jamais explicá-las à luz de seus significados táticos e estratégicos, num en passant cansativo de 5 x 5, 1 x 1, exaustivamente treinadas jogadas, box one, punhos, chifres, picks, zona 2-3, e outros mais chavões repetitivos que nada esclarecem, e nem são cobrados, já que o padrão é o mesmo para todos, desde os posicionamentos de 1 a 5, até a utilização do sistema único por todos, indistintamente, da base a elite, e por que não, nas seleções também, alcançando como resultado o nível em que se encontra o grande jogo entre nós…
Com as escolas de educação física diminuindo a cada dia a carga horária da aprendizagem e prática dos desportos (substituindo-as pelas da área biomédica…), incapacitando seus licenciados e bacharéis ao competente ensino dos mesmos, com cada vez mais ex jogadores sem o mínimo e adequado conhecimento didático e pedagógico assumindo a formação de base, e crefs provisionando leigos para a mesma função, com uma ENTB esquematizada ao continuísmo do que aí está, pouco ou nada avançaremos no soerguimento do basquetebol nacional…
Então, não se trata somente de más administrações, que como afirmei antes, às tivemos boas, ótimas e péssimas desde sempre, mas nunca, em tempo algum tivemos por tanto e seguido tempo um conceito técnico tático de tão baixa qualidade como agora, fruto da coisificação proposital e corporativista de uma geração de técnicos compromissada com o que de pior puderam e quiseram imitar da matriz do norte, sem sequer tentar adequá-la a uma realidade econômica, social e cultural diametralmente oposta a nossa, sob qualquer critério que se possa avaliar e comparar, levando ao desastre em que nos deparamos inermes e fragilizados…
Por tudo acima exposto, façam o favor de racionalizar tentativas de querer unir má administração com técnica de jogo, como ação e reação de um mesmo princípio, de um mesmo conceito de fato, um conjunto indissolúvel de ações geradoras do produto vigente, ao não esquecerem que dirigentes não formam, treinam e desenvolvem jogadores, seja na base, seja na elite, ou mesmo num processo de massificação da modalidade, que por conta e risco da formatação e padronização implantadas coercivamente pelo corporativismo técnico vigente, e que oblitera toda e qualquer tentativa de evolução que fuja do existente, explica com sobras o descalabro técnico do grande jogo aqui implantado , e onde a mesmice endêmica vigora e reina absoluta, no âmago da nossa cruel realidade…
Iniciei, desenvolvi, estudei e pesquisei o grande jogo convivendo com essa imutável realidade, que somente transmudou o jogo quando da implantação abusiva e deletéria do Q.I., desalojando o mérito como a forma correta e justa visando o progresso, com seus resultados muitas vezes vencedores, e não contumazes perdedores como agora, onde uma péssima administração se torna justificativa de fracassos técnicos, numa inversão de valores assustadora, pois não responsabiliza direta e contundentemente aqueles que fazem também o grande jogo acontecer, os jogadores, os técnicos, e uma mídia enaltecedora da mediocridade tupiniquim, contrastando com sua feérica bajulação e endeusamento de uma cultura antítese da nossa, sob qualquer critério analítico que se queira mencionar, formando a coluna mestra de tudo aquilo que pulsa e acontece de injustificável nas quadras desse enorme e injusto país…
Concluindo, o momento trágico por que passamos, apesar da enorme falha administrativa existente, se origina basicamente na falência do aspecto técnico, tático e estratégico do jogo, que nem uma maravilhosa administração anularia, já que dominada por uma clã compromissada e comprometida com um triste e desalentador corporativismo, e com a manutenção da mesmice endêmica em que afundaram, todos, inclusive os gringos, que se fecham a qualquer iniciativa de mudança, do surgimento de algo que ponha em risco seu retrógrado posicionamento, ferindo de morte o grande jogo, grandíssimo jogo, sendo esse o maior dos obstáculos que trava seu soerguimento e desenvolvimento, que se continuado nos levará por um caminho sem volta, não mais para 2016, já perdido, mas sim, para os subsequentes ciclos olímpicos dessa infeliz “pátria educadora”…
Amém.
Foto – Veiculada para internet.
2 comentários
Gil Guadron
13.09.2015
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— John Wooden — Ex – entrenador de UCLA …Campeón por 10 ocasiones de la NCAA … Un verdadero pedagogo…filósofo.. ” Siempre prefiero considerarme como un profesor , por sobre ser coach…pues cada uno de nosotros somos profesores de alguien ; posiblemente de nuestros hijos , de nuestros amigos , quizás alguien bajo su supervisión…de tal manera que de una forma u otra , usted está enseñando por sus acciones”.John Wooden . Coach Wooden en sus campamentos en los veranos de muchísimos años , …enseñó basquetbol a miles de jóvenes.. Coach insistió en la ejecución correcta de los fundamentos . Coach Wooden muy gentilmente aceptó la solicitud de psicólogos instruccionales de tener la oportunidad de observar y estudiar sus métodos, permitiéndole la oportunidad de estar presentes por toda una temporada . Las conclusiones obtenidas de dicho estudio son…actualmente…puntos de referencia en la metodología de nuestro deporte. En 1977 leí su libro. ” THE WOODEN – SHARMAN METHOD..A Guide to Winning Basketball “…y mi vida como entrenador … .como persona … .como profesor…se vio enriquecida enormemente. ” El entrenador exitoso esta interesado en encontrar la manera correcta de hacer las cosas…y no hacerlas , simplemente porque él dice , muchas veces se debe escuchar a los jugadores “. Sus libros..” PRACTICAL MODERN BASKETBALL “. ,” THEY CALL ME COACH ” , ” UCLA OFFENSE “….” COAH WOODEN ‘S PYRAMID OF SUCCESS…y el clásico pedagógico escrito por uno de sus ex – jugadores ” YOU HAVEN’T THOUGHT UNTIL THEY HAVE LEARNED . John Wooden ‘s Teaching Principles and Practices “…enriquecerán su perspectiva como persona…como profesor y como entrenador. ” Mis jugadores llegan a UCLA con un único propósito — de obtener su grado académico –..si ellos no están interesados en la educación…no deberían estar en la Universidad.. estoy orgulloso que probablemente somos la universidad que gradúan el mayor número de jugadores en el país “. Desde mi punto de vista Coach Wooden , con quien tuve la oportunidad de cruzar unas palabras..fue tan gentil … sereno , amable.. Entonces tratando de conocer un poco más del coach Wooden, y aprovechando que Larry Farmer , ex – jugador de UCLA.. quien a principios de los 90?se entrenaba en la Universidad de Loyola en Chicago , asistí a estudiar sus métodos tanto en los entrenos del equipo como en los campamentos de verano , y conversamos sobre Coach Wooden !! . Finalizo con la definición de éxito del coach Wooden : ” Es la paz interna , la que es el resultado directo de la interiorización que usted hace , al saber que usted hizo el mejor de sus esfuerzos..llegando a ser lo mejor de lo que usted es capaz de llegar a ser “… Coach Wooden…fue mucho mas que un ..simple tecnico. Con respectos Gil Ovidio Guadron Herrera.
Perfeito Gil, Wooden foi o mais impactante professor e técnico do grande jogo desde sempre, e seu imperecível legado ainda, e por longo tempo, inspirará muitas gerações de jogadores e técnicos, pelo exemplo, dedicação e absoluta entrega. Um abração Gil, Paulo.
Nos mais de 1500 artigos publicados, creio ter contribuído com minha experiência e trabalho aos mais jovens, e os mais experientes também, pesquisando, estudando, lecionando e treinando equipes e futuros professores, dando a mim a sagrada prerrogativa da crítica, construtiva e fundamentada em todo esse labor. AGORA, SE MUITOS SE NEGAM, POR SE JULGAREM SUPERIORES E INATINGÍVEIS A ACEITAR A MESMA, QUE SE MANIFESTEM, OU CONTINUEM CALADOS, COMO O FIZERAM ATÉ A DATA DE HOJE.
No mais, obrigado por seu questionamento. Um abraço. Paulo Murilo.
Hoje seria o dia, esperado desde março do ano passado, trancado em casa, saindo uma vez por semana para ir ao mercado com a filha que sequer me permite sair do carro, porém ativo em casa, consertando falhas, lendo e escrevendo muito, assistindo pela web e TV apresentações artísticas e desportivas, documentários e bons filmes, e acima de tudo, tentando acompanhar e entender uma pandemia criminosamente administrada por um governo inepto e assumidamente negacionista. Esperei muito, paciente e esperançosamente convicto de que aguardando minha vez seria imunizado hoje, enfim, hoje…
Mas a vacina zerou seus estoques, hoje, quando os idosos de 81 anos teriam a sua vez, lançando minhas esperanças para os idos de março, sei lá. Sei que um dia chegará, mas não tão rápido quanto à turma dos profissionais de educação física, vacinados de início com a apresentação da carteira dos Cref’s estaduais, mesmo não estando na linha de frente no combate ao Covid, numa atitude injusta e incompreensível ante os mais comezinhos critérios de prioridade que pudessem ser observados, a não ser o fato do mito se arvorar como um profissional da área, com seu curso de instrutor realizado na EEFEx…
Choca assistir na web e nas TV’s postagens desses pseudos profissionais, posando seus braços às seringas imunizadoras, lançando para trás muitos e muitos idosos pertencentes às áreas de maior risco nesta pandemia inominável, como se merecedores fossem de direito, o que não o são com a certeza dos justos. Nunca a lei de Gerson foi tão acessada, nunca…
Furação de fila sei que acontece aos magotes por esse imenso, desigual e injusto país, mas assim como a grande maioria desse sofrido povo, aguardamos a nossa vez, contritos e esperançosos em dias um pouco melhores dos que até agora vivemos, com as graças e proteção dos deuses e da ciência. Enfim, aguardarei a minha vez, como sempre me comportei nestes 81 anos de vida de professor, técnico e jornalista…
Como disse anteriormente, entre livros, escritos e ferramentas, também assisto a filmes, musicais e desporto, basquetebol eventualmente, pois em tempo algum de que me lembre, o grande jogo nunca foi tão maltratado, pelo menos aqui em terra tupiniquim. Como me sobra algum tempo diário para pensar depois dos extenuantes afazeres, relembro alguns fatos passados, como a noite em que fui com meu filho basqueteiro André ao velho e fantástico maracanãzinho (hoje disforme e minimizado), numa final entre Flamengo e a equipe transplantada de Franca para o Vasco da Gama, quando o André me viu de olhos fechados no meio daquele ambiente efervescente, e antes que me cutucasse mais, narrei o que estava acontecendo taticamente na quadra, integralmente, nos deslocamentos, passes, dribles e claro, nos óbvios erros e equívocos que lá aconteciam, sequencial e ciclicamente, dentro do sistema único que ambas as equipes utilizavam, e lá se vão mais de trinta anos…
O que assistimos nas redes e na TV diariamente, senão a repetição escrachada daquela época, o que? Exatamente o mesmo com o acréscimo da desenfreada e absurda chutação de três, levando aquela realidade de décadas atrás ao paradoxismo que vemos nos dias de hoje. Duvidam? Vejam esses recentes números do NBB:
– Flamengo 79 x 71 São Paulo – 30/52 arremessos de 2 (15/26 e 15/26), contra 24/73 de 3 (15/44 e 9/29) e mais 21 erros de fundamentos.
– Campo Mourão 74 x 93 Flamengo – 39/71 arremessos de 2 (24/47 e 15/24), contra 27/68 de 3 (8/24 e 19/44), mais 24 erros de fundamentos.
– Paulistano 63 x 71 São Paulo – 26/77 arremessos de 2 (11/32 e 15/35), contra 22/85 (isso mesmo, 85!!!) de 3 (12/45 e 10/40), mais 21 erros.
Em suma, conseguiram ultrapassar a barreira dos 80 arremessos de 3 numa partida, e celeremente vamos de encontro aos 90, e quiçá, a cereja desse mal cheiroso bolo, a marca centenária. Junto também vão os erros de fundamentos, com partidas do NBB alcançando médias de 30 erros por jogo, e jogos com 35 e até 43 erros, numa crescente absurda e inominável. Ninguém merece tal castigo, ninguém…
Aliás, cabe aqui um pequeno comentário às vésperas de uma olimpíada, e nossa tentativa de classificação no torneio pré olímpico na Croácia, onde teremos como adversários os donos da casa, russos, alemães, mexicanos e tunisianos, classificando somente o vencedor de uma chave difícil e problemática. Exatamente na grande reta para o torneio, equipes de ponta do NBB desencadeiam um tsunami irracional, fundamentando suas atuações em um sistema de cinco abertos, mais o tradicional de três décadas, regados e alimentados por um caudal absurdo de arremessos de três pontos, em qualquer situação, distância, equilíbrio, ou mesmo, raciocínio. O chega e chuta formatou e padronizou uma forma de jogar que raia o inacreditável, num claro, claríssimo recado ao técnico croata da seleção, como que determinando – Viu cara, é assim que temos de atuar, pois esse é o basquetebol brasileiro, o verdadeiro…- Ponto.
Esquecem os espertos estrategistas que a seleção vai enfrentar equipes de verdade, que marcam, contestam e erram muito pouco nos fundamentos, quando não poderemos contar com o exercito de armadores argentinos, uruguaios e até um mexicano, assim como outro exercito de americanos que tomaram o comando efetivo das equipes tupiniquins, estrutural e tecnicamente falando, num espantoso determinismo adaptativo sem paralelo na história do grande jogo no país, sobrando para nosostros a artilharia de fora dos alas e pivôs ansiosos em também participar do frenetico butim das bolinhas, ou uma ou outra enterrada bestial, que junto aos estratosféricos tocos fazem a festa histrionica e gutural de ensandecidos narradores e comentaristas de ocasião…
Sim senhores, lá na Croácia, teremos de jogar com a sobra pessoal e coletiva de alguns encanecidos veteranos, ao lado de jovens mal orientados e preparados, onde nomes como Caboclo, Didi, Felício, Bebê, e outros mais, se perdem no labirinto desenhado por agentes e aconselhadores, que em nenhum momento se deram conta de que a NBA amaciava seu caminho financeiro promovendo jovens craques brasileiros, destinando-os às ligas de desenvolvimento ou franquias de segunda classe, ou esclarecendo melhor, sabiam e sempre se deram conta do que acontecia, num mercado duro e cruel, mas que rende uma boa grana…
O croata que se cuide, pois o recado tem endereço certo, seu lugar, pois estará fragilizado ante uma realidade traduzida em títulos e vitórias “geniais”, de equipes bases para a seleção, alicerçadas em espaçamentos convidativos às penetrações, chutação frenética e generalizada de três ( -se está ou se sente solto fora do perímetro, chuta o quanto puder- instruem os estrategistas), sejam os jogadores nativos ou estrangeiros, todos beneficiários de uma letal combinação, a de ninguém “realmente” marcar ninguém, numa “mentirinha” cínica e provida de uma realidade, a de que todos se deem bem, que o público (?) vibre, e que a mídia faça valer seus “vastos conhecimentos”…
E lá irá o croata com seus princípios coletivistas, defesa irmanada, ataque seletivo, leitura consistente de jogo, arremessos conscientes e pontuais, enfrentando defesas realmente sólidas e perseverantes, ataques cirúrgicos e sem salamaleques, jogadores fortes mental e fisicamente, liderando uma geração acostumada a tudo que acima postei, e com um adendo, vacinada contra todos aqueles que não os consideram “gênios dos longos, especiais, críticos e especializados arremessos de três pontos”, acalentados pela fugaz “síndrome das mãos quentes”, do ” hoje elas caem”, do “perdemos nos detalhes”, discursos técnico táticos de quem em absoluto conhece o grande jogo, mas que a cada partida do NBB deita sapiência que absoluto não possuem, exceto poucas, muito poucas exceções…
Sérios problemas se anunciam na Croácia, mas teremos a seguir alguns anos para modificarmos nossa forma de ensinar, estudar e atuar o grande jogo, visando o próximo ciclo olímpico, claro, se mudarmos radicalmente a forma de encará-lo…
Hoje não me vacinei naquele deserto e gigantesco Centro Olímpico, mas quem sabe, meus deuses, amanhã?…
Amém.
Nota – Esse texto era para ter sido publicado no dia 18/2, porém uma falha de programação fez com que o mesmo fosse publicado no facebook. PM.
Eis-me de volta a dois dias do fechamento desse tenebroso 2020, que se os deuses ajudarem, será substituído por um 2021 pleno de esperanças e recuperação da saúde física, mental e econômica de um povo sofrido e maltratado por um governo ignóbil e criminoso, porém democraticamente eleito pelo mesmo, que espero tenha aprendido a diferenciar o joio do trigo de uma vez por todas…
Tenho tentado acompanhar o NBB, mas o sacrifício é enorme pelo descalabro em que tornaram o grande jogo praticamente irreconhecível, pois dói, e muito, assistir um descerebrado corre corre, com arremessos insanos de fora, trombadas por dentro e uma média de erros de fundamentos de 28 por partida, complementados pela mais comezinha ausência defensiva, hoje trocada por “faltas estratégicas e inteligentes”, emoldurando um quadro aterrador, onde três, e até quatro estrangeiros (americanos meia boca em sua maioria), ouvem com ar blasé as perorações “altamente técnicas e estratégicas”, esboçadas em pranchetas de araque, para logo após se reunirem combinando ações próprias deflagradas pelo “extraordinário” sistema de 5 abertos, matreiramente escolhido pelos estrategistas de plantão, por se basear sequencialmente no 1 x 1, fator “mamão com açúcar” para os gringos se esbaldarem, lembrando suas históricas peladas em parques espalhados em suas maiores cidades, e no meio dessa espantosa empulhação, um punhado de bons armadores argentinos, que aos poucos vão aderindo a loucura geral, principalmente pela ausência de uma liderança técnica que estabeleça sistemas e comportamentos coletivistas, que é o mínimo que se espera de uma equipe bem treinada e orientada, e mais, devidamente ensinada no trato com os fundamentos, e exemplarmente, no trato com o instrumental básico do jogo, a até agora massacrada bola…
Toda essa parafernália enaltecida aos berros histéricos de narradores absolutamente ignorantes do que se passa nas quadras, confundindo e enganando espectadores que ainda amam o grande jogo, não esse ai, onde comentaristas falam e falam sem explicar uma linha sequer do que venha a ser um jogo bem jogado, mas pródigos em beijos, abraços e lembranças de ouvintes que não estão nem aí para o que veem, na medida que se sintam reportados e lembrados na telinha…
Por tudo isso rareia em mim a vontade de assistir a uma pelada profissional apresentada como o “NBB como nunca se viu”, e não vi mesmo, pois sou de um tempo em que jogavamos, e venciamos praticando basquetebol, e não esse pastiche de terceira categoria que aí está…
Oito anos atrás publiquei o artigo Um tiro no pé, que reproduzo a seguir, e onde podemos constatar que nada, absolutamente nada mudou de lá para cá, numa antevisão do horror que conseguiram, os estrategistas de plantão, implantar no que há de pior e retrógrado no grande jogo em nosso país, carente e empobrecido de criatividade, espontaneidade e improviso consciente, e não essa coisa pasteurizada, formatada e padronizada, por quem, na triste realidade, odeia o grande, grandíssimo jogo, por não o entender em sua essência e genialidade. Eis o artigo, com o qual desejo aos poucos que aqui ainda se preocupam de verdade, um próximo ano repleto de esperanças em dias melhores, com muita saúde e paz no coração.
Meus amigos, do que adianta defender uma tese provada no campo de jogo por anos e anos, de que de dois em dois pontos podemos vencer jogos, atingir contagens elevadas, defender com mais precisão, agilizar tanto o jogo interior, como o exterior, dotar os jogadores do poder decisório em quadra, item tão temido por tantos técnicos, por aprenderem e apreenderem a arte da leitura de jogo, por sedimentarem no dia a dia dos treinos os fundamentos do jogo, ferramenta visceral para a execução dos sistemas ofensivos e defensivos, pela aprendizagem ao diálogo sobre o que treinam e jogam, entre si, e com seus técnicos, numa mútua relação de confiança, respeito e consideração, professando uma autêntica dupla armação, e uma corajosa e diferenciada ação interior através uma tripla utilização de alas pivôs, rápidos, ágeis, flexíveis, e acima de tudo plenamente participantes do jogo, e não coadjuvantes de uma interminável hemorragia de arremessos de três pontos, que tanto empobrece nossa autofágica maneira de jogar o grande jogo.
Foi o que ocorreu, pela milionésima vez no jogo com a Venezuela, quando de dois em dois pontos endurecemos um jogo perfeitamente ao nosso alcance, para numa falha sucessão de bolinhas de três, propiciarmos contra ataques venezuelanos que esticaram o placar além dos 20 pontos.
E o que dizer do jogo da Sub 18 contra os americanos, que jogaram dentro de nós, enquanto treinávamos a pontaria de fora, sem falar na brutal diferença na postura fundamental de seus jogadores, frutos de uma escola que nos negamos a praticar, trocando um tempo precioso de formação por formatações e padronizações de sistemas de jogo, numa opção equivocada e absurda.
Senhores, utilizar uma dupla armação adaptada ao sistema único é praticamente um tiro no pé, pois retira do foco da ação exterior um dos armadores, que ridiculamente vai executar bloqueios dentro do garrafão, e de encontro aos grandes pivôs, enquanto seu companheiro de armação se vira sozinho e sem balanço defensivo presente, além de somente poder contar para uma jogada incisiva com um dos alas, claramente inferiores nos fundamentos básicos de drible e passes, pela ausência do outro armador. O resultado se reporta aos passes de contorno, num crescendo inócuo e destituído de penetração aos pivôs, que por conta de uma movimentação sagital se postam de costas para a cesta, quando deveriam atacá-la de frente e em veloz movimentação, situando-se dessa forma um tempo adiante dos defensores, que é a arma mais letal para superá-los.
O que poderia dizer ou acrescentar a mais, frente a resultados tão medíocres por repetitivos, e tão solidificados por padronizações e formatações?
Nada, se frente a uma realidade imutável, sólida e corporativista.
Tudo, se uma fresta, por tênue que fosse, de repente, se abrisse para algo de novo, iluminando caminhos abertos pelo diálogo, pelo trabalho conjunto daqueles que realmente conhecem e amam o grande jogo, e que comungassem princípios e conhecimentos entre jovens e veteranos técnicos e professores, no reencontro de um destino rompido e violentado pela mesmice endêmica que tem ferido de morte nossa maior riqueza, a criatividade inata de nossos jovens, enclausurada que se encontra nos limites de uma lamentável prancheta.
Mantenho uma contida esperança, de que nossa seleção olímpica possa vir a romper alguns desses grilhões, apresentando um jogo voltado ao perímetro interno, através um pleno domínio no externo, equilibrando ações voltadas ao coletivismo defensivo e ofensivo, onde arremessos de media e curta distância, mais precisos e eficientes, se sobreponham definitivamente às aventureiras bolinhas, lastreado por um sistema defensivo ousado e corajoso, base verdadeira de uma equipe de alta competição. Que assim seja, torço e espero.
Amém.
Foto-Divulgação CBB. Clique na mesma para ampliá-la.
EM TEMPO- Agora, oficialmente na America do Sul, estamos em quarto…
Professor, apesar de ser um pessimista (ou realista) com relação à Seleção Brasileira, duvido muito que o Magnano repita os erros da seleção no sul americano. Mesmo desfalcada, a seleção marcou muito bem e foi contida nas bolinhas durante o pré-olímpico. A tendência é melhorar o que deu certo, principalmente com a chegada dos reforços da NBA, que entram em vagas de jogadores sem condições técnicas ou táticas de disputar uma posição decente em Londres. Obviamente o nível dos adversários será muito superior, mas nossa seleção tem bons nomes (quantas seleções tem um garrafão do nível de Nenê/Varejão/Splitter?), o que me leva a crer que podemos chegar nas quartas de final sem sermos taxados de azarões. Pra um país com um campeonato nacional novo (4 anos) e de nível tão baixo, com a maior parte dos seus participantes ainda em nível amador, além, é claro, da vergonhosa situação das categorias de base, ficar entre os 8 primeiros do mundo é um prêmio a cada atleta e membro da comissão técnica, que, mesmo sem apoio da CBB (muitas vezes com a confederação atrapalhando) conseguirão chegar a Londres numa condição privilegiada. E quando o Brasil chegou entre os 8 melhores de um Mundial ou Olimpíadas? E quando o Brasil chegou entre os 8 melhores de um Mundial ou Olimpíadas sem depender de milagres do Oscar (as vezes com Marcel)? Faz muito, muito tempo. Espero que o sucesso nas Olimpíadas (acredito nisso plenamente) não seja usado como mérito da CBB, pois não será. Será tão e somente mérito de cada jogador (e sua família) que sabe o que é conseguir chegar no nível mais alto do esporte sem apoio algum de sua pátria. E ainda sim criticado quando (realmente) não pode participar de alguma competição. Professor, poderemos vê-lo comandando algum clube num campeonato estadual adulto esse ano???
Basquete Brasil
25.06.2012
Não esquecer as três medalhas olímpicas de bronze (Londres, Melbourne e Toquio), e os dois mundiais no Chile e Rio de Janeiro, todos conquistados pela geração que antecedeu a do Oscar, prezado Rodolpho. Não esquecer também que a FIBA relacionou o Brasil como a quarta potência no Basquetebol do século 20, somente atrás dos Estados Unidos, União Soviética e Iugoslávia. Sim, já fomos referência mundial no grande jogo, condição perdida pelas absurdas e criminosas gestões na CBB dos últimos 25 anos. Muito será o trabalho para o soerguimento do basquete no país, e quem sabe um bom papel em Londres ajude nesse esforço. Um abraço, Paulo Murilo.
Basquete Brasil
25.06.2012
EM TEMPO – Rodolpho, não respondi a sua pergunta feita ao final do comentário – “Professor, poderemos vê-lo comandando algum clube num campeonato estadual adulto esse ano???” Mas o faço agora. Somente me verão dirigindo uma equipe em qualquer campeonato, municipal, estadual ou nacional, se for convidado, o que duvido muito que aconteça. Relatar treinamentos e jogos visando um maior conhecimento por parte dos jovens técnicos brasileiros, como fiz ao dirigir o Saldanha da Gama no NBB2, através relatos diários no blog, mantê-lo atuante e combativo ano após ano; propor na teoria e na prática intensa, novos caminhos técnico táticos para o nosso basquete; lutar com denodo pela urgência de um associativismo por parte dos técnicos de forma ampla e irrestrita; contrariar interesses de Cref’s e entidades que monopolizaram e lotearam o desporto nacional, minimizando e quase extinguindo o esporte como parte integrante do processo educativo nas escolas, canalizando toda uma juventude para os corredores e salas de mega academias; se negar a deixar de escrever e publicar nessa humilde trincheira em troca de possíveis colocações no mercado de trabalho; tudo isso são os reais fatores impeditivos ao meu exercicio profissional de técnico de basquetebol, apesar de muito necessitar economicamente do mesmo, face ao grande dispêndio financeiro que passei a enfrentar quando da quase perda de minha casa num processo espúrio e criminoso, além da conceituação de velho e ultrapassado, que é o estigma por que passam os profissionais acima dos setenta anos, independendo de sua formação e qualificação, neste nosso injusto e cego país. Mas sigo em frente, atuante e atento ao mundo que me cerca, pleno de esperanças e fé em dias melhores para todos nós que amamos o grande jogo. Não, prezado Rodolpho, me verem em quadra de novo é assunto proibido, pois dependeria de quem, assim como eu, propugnasse por algo antagônico ao que ai está. Logo… Um abraço, Paulo Murilo.
Professor, o basquete há de pregar uma peça na gente (como a vida sempre faz) e muitos que querem o bem do jogo não esperam a hora de te ver no seu lugar, que é no comando de alguma equipe com estrutura decente.
E aí fulano, 42% nos 3 é bom? Claro, beltrano, é um número muito bom para bolas de 3 pontos, que aliás, é uma marca registrada dessa grande equipe…
Legal. formidável, encorajador para os mais jovens se iniciarem nesta autofagia desenfreada e tosca de um basquetebol absurdo e capenga. São comentários deste quilate nas transmissões de um “NBB que você nunca viu”, os também responsáveis pela “pelada descomunal” em que estão selando o infausto destino deste infeliz e mal jogado ex grande jogo entre nós, e sem contar os outros números que já ultrapassam os 40 erros em uma só partida, como Minas 105 x 100 Brasília, onde ambos os contendores perpetraram 20 erros cada, ou 40 atentados contra os fundamentos num único jogo. Mais algumas rodadas e outras mais equipes deixarão essas marcas para trás, com certeza, pois a insânia não tem freios, ainda mais com as incendiárias pranchetas os comandando (ou tentando comandar)…
Vamos aos números “ideais” dos comentaristas, 40% para bolas de 3, ou seja, se a equipe acertar 4 em 10 tentativas, estará OK, e aí me pergunto, e as outras 6 tentativas, ficam no vazio? Mas como nunca arremessam menos do que 20 (algumas equipes vão além dos 30), o número de ataques falhos cresce matematicamente, e se for emulada pelo adversário (os famosos duelos), aí a coisa ( ou o simulacro de jogo) fica absurdamente ridículo. Somemos ao despautério os imperdoáveis números de erros de fundamentos, e teremos o que em forma de jogo, o que? Isso mesmo, uma enorme e condenável palhaçada, aplaudida e incensada como obra da mais alta emoção, vibração, e por que não ENGANAÇÃO, o termo correto, sem dúvida…
Dos 40 anos muitos jogadores já se aproximam, ou mesmo superam, fazendo a mesma coisa, ano após ano, sem que ninguém os corrijam, ou pelo menos tentem corrigir, já que prontos e polidos, amestrados posicionalmente de 1 a 5, bitolados, formatados e padronizados pelo figurino corporativista de seus estrategistas, voltados aos títulos e currículos, todos remando um barco de timão rompido, volteando num moto contínuo que não leva a lugar nenhum, numa mesmice endêmica e letal…
Mas que chutam e chutam como ninguém, de longe, muito longe, onde a mecânica não importa se as bolinhas caem (comentário feminino de ontem), pegas corretas então nem falar, são detalhes supérfluos, pois com a profusão crescente de tentativas uns 40% de vez em quando premia vitórias retumbantes, porém com um detalhezinho “esquecido”ou não mencionado por ignorância mesmo, o de não serem contestadas, não em 40%, mas sim em 90/100%, vamos falar a verdade, o óbvio ululante!!!…
Ninguém vem marcando ninguém de a muito tempo, tapeiam, enganam, fazem faltas estratégicas, usam os braços, quando as pernas são a base de qualquer defensor bem treinado, logo escolado na função defensiva, que é o fundamento mais importante do grande jogo. Porém lá na frente metem pra valer, ou pensam que metem, até se defrontarem com equipes argentinas e europeias (já nem menciono as americanas para não parecer covardia), e aí nem os 40% atingem, com as desculpas de que não era o dia ou simplesmente “hoje não caíram”…
E os 60% de bolas perdidas (só as de arremessos de 3, noves fora os erros de fundamentos), por que não trocadas pelas de 2 pontos, muito mais precisas, porém exigentes na aproximação, impossíveis sem o domínio dos fundamentos básicos, nosso criminoso tendão de Aquiles, olvidando gerações passadas que o dominavam, hoje enviados ao limbo das impossibilidades por não ensinados como deveriam sê-los? Tenho publicado e comentado os incríveis números de cada LDB realizada, com as médias de erros de fundamentos na faixa dos 28 por partida realizada, para mais adiante se ufanarem de uma seleção nacional disputar uma America Cup com a maioria dos jogadores egressos e “formados” na mesma, mas omitindo a liderança de um Caio formado na escola argentina, errando um mínimo aceitável pela idade e experiência. Se o técnico croata, substituir muitos %’s de puxação de ferro por uma extensa e dura preparação nos fundamentos do jogo, passarei a acreditar em melhora substancial do grande jogo entre nós, espelhando para os mais jovens como se deve encarar uma modalidade com princípio, meio e fim, e não se escudando e escondendo deles os princípios básicos do jogo. fazendo-os optar pela artilharia de fora, a correria descerebrada, o faz de conta defensivo, e o mais básico de tudo, a leitura inteligente e de custoso e sacrificado aprendizado, seus fundamentos, sem os quais, jamais jogarão o basquetebol de verdade, e sim um assemelhado desprovido de criatividade e improvisação consciente, pois só improvisa quem sabe, quem conhece e domina o grande, grandíssimo jogo, aquele que marcará indelevelmente suas vidas, claro, claríssimo, se bem ensinado e treinado, como sempre deveria ser, para um percentual mínimo de 70%, pelo fundamento que for, e não os 40% trombeteados e deificados por aqueles que não tem a menor noção do que ele representa na cultura desportiva mundial…
Esperei por 15 anos, desde que edito e publico este humilde blog, ter a oportunidade de assistir uma seleção brasileira atuar com uma dupla armação de verdade por toda uma partida, num rodízio entre quatro armadores, como nesse jogo contra o Panamá, compondo duplas que variassem conforme as necessidades e exigências táticas dentro do campo de jogo, e me vi compensado ao testemunhar quatro jovens armadores exercitarem a quase esquecida arte do improviso, da criatividade, onde o surpreendente Caio encontrou no Yago o companheiro ideal para produzir um basquetebol ágil, ousado e magnificamente autoral. George e Alexey necessitam ainda exercitar essas novas funções, díspares e antagônicas do que produzem desde suas formações de base, o que será possível se corretamente ensinados e dirigidos, não sendo absolutamente surpresa o Caio ter se adaptado mais fielmente ao sistema adotado pelo croata, por sua formação no basquetebol argentino, onde os fundamentos e a boa leitura de jogo são exercitadas desde a formação de base, em clara anteposição ao que é feito, e muito mal feito em terra tupiniquim…
Logo, nenhuma surpresa pela desenfreada busca pelos armadores platinos, com nossas franquias valorizando-os bem acima da média, depreciando bastante nossos jovens aspirantes da função, mesmo que bitolados pelo indefectível sistema único padronizado e formatado desde sempre. Fossem os mesmos ensinados e orientados na criação e improvisação fundamentadas numa correta e objetiva leitura de jogo, e os teríamos tão bons ou melhores que os hermanos, como os tínhamos num passado não tão distante assim, varridos nessas qualidades pela plêiade de estrategistas que resolveram tutelar o grande jogo de fora para dentro da quadra, com suas absurdas jogadas semaforizadas e de passo marcado, registradas nos ininteligíveis hieróglifos postados em suas mais absurdas ainda midiáticas pranchetas…
Porém, um hiato ainda persiste, intocado e de distante compreensão por parte da maioria dos estrategistas nacionais, e porque não, pelo croata também, o fato da não correta e perseguida conexão entre as ações efetuadas pelos armadores no perímetro externo, com os alas pivôs em permanente deslocamento pelo interno, simbiose que quanto mais presente e perfeita, maiores serão os resultados alcançados, fator básico e irrefutável na busca do coletivismo criativo e altamente eficiente, onde a progressão pontual de 2 em 2 e 1 em 1, destinando as conclusões de 3 como detalhe complementar, e não prioritário de um eficiente e vencedor sistema ofensivo de jogo, diminuiria bastante a incidência de erros nos arremessos, pelas menores distâncias em que se concretizariam, otimizando cada ataque realizado, em anteposição aos muitos e muitos perdidos sem pontuação, face a desenfreada artilharia de fora que tantos prejuízos vem causando ao basquetebol nacional…
Quando no artigo anterior propus a visualização de dois jogos lá postados, como uma prova inconteste da utilização do sistema com dois armadores e três alas pivôs, comprovando na quadra e nos resultados ali alcançados, o fiz como uma proposta da exequibilidade do mesmo, ontem ensaiado em Buenos Aires, porém ainda muito distante “do como” conectá-lo à prática, pois o ensino e o treinamento do mesmo exige uma larguíssima experiência detalhista, somente alcançada por uma específica didática fundamentada em muitos anos de estudo, pesquisa, e decidida vontade e competência em torná-lo realidade prática de jogo, na qual a criatividade constante e o improviso responsável e muito bem pensado e elaborado, alcance uma leitura imediata de jogo quando no enfrentamento de situações que jamais se repetem, antítese do que a enorme maioria dos nossos estrategistas buscam alcançar sem a mais absoluta chance de conseguí-lo, sabem porque? Porque atuam num mundo onde tudo se copia, e muito mal, onde contam com a cumplicidade da maioria dos jogadores, concordes com a mesmice técnico tática em que convivem ano após ano, mudando de franquias para exercerem os mesmos papéis, até a chegada de alguns nas seleções, para fazerem e exercerem o mesmo desde sempre, o de executores contritos do sistema único e da hemorragia dos três, fatores que nos tem lançado ao fundo de um poço, na contramão do vôlei, com sua sempre inovadora forma de ensinar, treinar e preparar jogadores nas técnicas mais evoluídas, sendo referência para outros países, que aqui vem se atualizar, pois não pararam no tempo, fornidos por um vultoso patrocínio de um banco que se iniciou no marketing esportivo no basquetebol, modalidade que o perdeu por injunções políticas, e que não soube buscar outro que pudesse vir alimentar seu progresso técnico tático administrativo, sendo lançado aos braços de um corporativismo interesseiro e retrógrado, porém garantidor do pequeno e seleto nicho empregatício que restou daquela debacle…
Enfim, nos tempos atuais observamos com curiosidade algumas proposições como essa na jovem seleção que nos representa na Cup America, mas ainda destituída de uma verdadeira, autêntica e provada forma diferenciada de jogar o grande jogo, no que vejo de pronto seu ponto fora da curva, o desconhecimento de como exequibilizar tão árduo e necessário projeto de preparo de equipes, da formação a elite, numa mudança radical do que se faz e pratica atualmente, conhecimento de muito poucos neste imenso, desigual e injusto país, e um deles, desculpem a imodéstia, sou eu, Prof. Paulo Murilo, 81 anos e com muita saúde ainda para demonstrar com sobras as proposições acima descritas, provadas teórica e praticamente em mais de 55 anos de quadra, e jamais sobraçando pranchetas, nenhuma, somente referendando e respeitando o mágico mundo do treino, onde as verdades verdadeiras acontecem, longe, bem longe dos midiáticos holofotes, que tanto atraem todos aqueles que julgam conhecer o grande, grandíssimo jogo, mas que sequer o entendem em sua grandeza, tornando-o pequeno por sua mesquinhez e curta, e talvez inexistente visão…