ENGENHARIA REVERSA.
Quando nos anos 80 a Apple apresentou ao mundo seu computador Macintosh, com a primeira interface gráfica, depois copiada pelo IBM PC, uma pequena indústria no Brasil recriou o computador da Apple com tal perfeição, que foi processada pela mega companhia americana, tendo de encerrar o seu produto que tinha o nome de PC UNITRON. Para alcançar tal feito, já que o produto americano apresentava uma tecnologia fechada, os técnicos da Unitron se utilizaram de um recurso inovador, o que recriava a maquina à partir de seus efeitos finais, no que ficou conhecido por engenharia reversa. Foi um trabalho fantástico de inteligência desconstrutiva, mas que não pode prosperar ante os rigores da lei internacional de patentes.
Mas o que tem a ver Apple’s com o nosso basquete? Uma razoável tendência, bendita tendência, que já se vem manifestando no plano defensivo de umas poucas equipes, ante a completa dominância ofensiva que se efetivou em nosso país, através a utilização maciça de um sistema de jogo fundamentado no passing game, e que tanto nos empobreceu taticamente nos últimos 20 anos.
Como em todas as categorias e faixas etárias o mencionado sistema único ofensivo é integralmente aceito, desenvolvido e cristalizado, a dedução óbvia é a de que em tudo, e por tudo, todas as equipes se emulem nas movimentações, nas atitudes, nas posições estratificadas, nas exigências padronizadas e coreografadas, nos sinais de comando, e clímax dos climaxes, no comportamento consensual de jogadores e de seus mentores, os técnicos.
Num cenário tão assustador de aceitação explicita perante uma única escolha técnico-tática, torna-se também óbvia a possibilidade do surgimento de uma tendência antagônica, como em tudo que ocorre na natureza e em nossas vidas. Só que no caso do basquete, o emburrecimento se tornou tão ciclópicamente concretado, já que para a grande maioria funcionava dentro de seus limitados, porém pseudo lucrativos horizontes, que uma retomada antagônica somente agora, vinte e tantos anos depois, começa a se tornar, bem timidamente, numa possível e ansiada realidade. Em outras palavras, se todo mundo joga igual, percorrendo os mesmos caminhos ofensivos pela similitude coreográfica, que tal antepor ações defensivas a estes mesmos caminhos? Uma solução de simplicidade franciscana é a de treinar as equipes com 70% de enfoque defensivo se antepondo às movimentações que esta mesma equipe se utiliza em seus ataques, de uma forma sistêmica e repetitiva. Se todos os técnicos ao interromperem uma movimentação ofensiva em seus treinamentos, para instruir a defesa a um comportamento antecipativo, estará realizando, tal qual os técnicos computacionais acima mencionados, a mesma engenharia reversa empregue pelos mesmos ao reconstruírem de trás para frente o Macintosh da Apple. Essa atitude técnica, se torna de fundamental importância para que surjam, por uma questão de sobrevivência também técnica, novos sistemas e novas concepções táticas, pois a cada evolução técnico-tática ofensiva, deverá se suceder outra de caráter defensivo, e vice-versa, num caudal evolutivo, responsável pelo desenvolvimento progressivo da modalidade.
No entanto, trata-se de um trabalho complexo pelo aspecto decisório, corajoso, evolutivo e coerente para consigo próprio, para com a modalidade, e principalmente, para com o futuro. O que foi aparentemente ótimo ontem, e que se mantém temerariamente bom hoje, pode, com certeza ser péssimo amanhã, se não nos cercarmos de lastros fundamentados no saber, na autocrítica , e no bom senso. O basquetebol agradecerá penhorado todo e qualquer esforço que façamos pelo seu desenvolvimento, pelo seu bem fundamentado amanhã.
Amém.
Ola Professor, Mais uma vez achei brilhante a sua analogia e aplicacao da Engenharia Reversa ao Basquetebol. Curiosamente eu noto este tipo de comportamento e mesmice em muitos tecnicos estrangerios (Croatas, Americanos, Nigerianos, Franceses e Italianos, e outros) que utilizam os mesmos sistemas de ataque. Pude entao observar que a Duke University, Selecao do Qatar, Macab de Israel, Champville do Libano, Selecao da China e Argentina entre outras utilizam os mesmos sistemas de ataque. Ainda recordo que durante o meu periodo de ferias no Brasil, tive a oportunidade mas nao a satisfacao de assistir os jogos da selecao Brasileira no Japao. Pude observar que duas das movimentacoes de ataque do Brasil era exatamente igual a da Australia e a da China. Incrivel nao? Falar em previsibilidade e em marcacao planejada! Numa competicao como esta, nao pdoemos oferecer este tipo de vantagem e previsibilidade ao adversario, nao e a toa que nossa performance foi a pior de todas em competicoes Internacionais. Acabo de ler que o Sr. Lula, esta observando e analisando os videos dos jogos do Brasil como tambem os dos nossos adversarios diretos para um classificacao para a Olimpiada. Acredito que este deveria utilizar a engenharia reversa para nao cometer os erros que cometeu e impor uma filosofia de jogo que nao seja previsivel e que venha adotar um sistema defensivo que seja agressivo mas de acordo com as caracteristicas de sua equipe e as do adversario. Enfim, o ataque tem que ser imprevisivel e que permita nossos jogadores utilizar velocidade e criatividade de Brasileiro! acompanhado de um sistema defensivo que venha minimizar a porcentagem de aproveitamento por posse de bola do adversario. Se o Lula estiver propenso a tal, talvez possamos sonhar com uma possibilidade de classificacao. Ainda recordo que um dos magos do basquetebol Brasileiro so colocava o Leandrinho pra jogar de 5-8 minutos por jogo e que o titular era o Helinho – mas isto e papo para outro comentario. Um abracao e saudacoes. Walter
Caro Walter,fiquei feliz em ter alcançado sua compreensão sobre a engenharia reversa, recurso que empreguei e desenvolvi nos últimos 10 anos,principalmente quando dirigi a equipe juvenil do Barra da Tijuca, que era recheada de talentos,mas com aspirações acadêmicas prioritárias.Hoje,todos são formados e bons profissionais, mas que infelizmente não puderam aliar estudo com esporte.Pretendo para o mês que vem transformar esse blog em um site, e uma de minhas primeiras incursões no novo formato será a inclusão de filmes e videos que possuo sobre as equipes que dirigi.Dessa forma, poderei exemplificar práticamente muito do que tenho escrito nesses mais de 200 artigos, pois,inegavelmente, a experiência válida é a experiência vivida, como tudo na vida.Tenho dois livros prontos,sobre fundamentos e sistemas que desenvolvi através os anos,mas não tenho condições econômicas para publicá-los, já que as grandes editoras não se interessam muito sobre esporte à serio.Recentemente o unico filme sobre basquete, em 16mm,feito,montado,narrado e editado por mim sobre o mundial feminino de 63,foi incinerado no laboratório onde deixei os negativos para recuperá-lo.A CBB e o Sr Grego se negaram a salvá-lo,e so custava 6 mil reais.O prazo se extinguiu e perdeu-se a memoria daquele grande campeonato.Como são estes os dirigentes do nosso basquete,o que se esperar de uma comissão técnica que os representam na quadra?Não acredito em nenhum deles,e bem antes de usarem,se forem capazes,uma engenharia reversa sobre os sistemas ofensivos que enfrentarão,teriam de adotar a outra engenharia,a da construção de uma equipe,no que são absolutamente incapazes,por princípios e soluções.Recordo a você um principio que sempre propugnei-Sistema de jogo são movimentos que devem ser treinados a exaustão, para não darem certo.Devem,isto sim,desencadear no adversário,comportamentos, que quanto mais previsiveis forem,maiores serão os efeitos a favor do mesmo.O dificil é que essa gente entenda esse principio.
É como o Jazz, pois só improvisa quem domina o instrumento,pois em caso contrário se trata de empulhação.Só improvisa quem sabe.Caro Walter,aceite um abraço do amigo,Paulo Murilo.
Professor Paulo, e incrivel que um pais como o nosso a cada dia regride mais e nao acompanha a evolucao do Basquetebol. Nossos tecnicos ainda nao estao preparados academicamente, intelectualmente e cientificamente para construcao de qualquer plano de trabalho quanto mais formacao de equipes. Estou comentando em relacao aos que estao no CT do Brasil. A CBB continua indicando tecnicos que nao estao no mesmo nivel de evolucao tecnico e tatica dos jogadores convocados, especialmente os que estao no exterior. Infelizmente no Brasil, especialmente no esporte que amamos, ainda impera as “panelas” e o “QI” (quem indica). Uma vez me foi dito – face-to-face no Rio de janeiro em reuniao informal de que a razao por nao ser indicado para nenhum cargo de tecnico na CBB era porque eu militava no exterior. Ora, porque acham que eu estou no exterior? Sera que e por causa do salario (onde estes sao pagos em dia)? Do respeito e reputacao que construi em torno do meu trabalho? ou devido as melhores condicoes de trabalho? Imagina um pais com 750 mil habitantes possui 10 equipes profissionais de basquete e o Brasil c com quase 200 milhoes de habitantes nao possui 10 equipes competitivas e de qualidade.
Gracas a Deus – durante o meu periodo de atleta curioso e esforcado que era – tive a oportunidade e a felicidade de ser dirigido por tecnicos como voce, Barone, Waldir Boccardo, Kanela, Tude Sobrinho, Gleck, Marcelo, Chocolate, Guilherme do Mackenzie, Emanuel, que estavam e continuam anos luz a frente dos que atualmente militam no nosso basquete. Talvez, devido ao periodo que estou no exterior, eu esteja sendo injusto com algum dos tecnicos da nova geracao por ter generalizado meu comentario – mas paciencia! Paulo, todos que entendem um pouco de basquete e que em alguma visao, estao indignados com o atual estagio do Brasil. Falta tudo! Mas felizmente nao falta material humano (jogadores). Um abracao. Ate breve!
Prezado Walter,quando a sala de aulas e conferências da CBB leva o nome de James Nashmith,em vez de um tecnico ou grande jogador brasileiro,o Kanela por exemplo; quando um competente tecnico deixa de dirigir uma seleção feminina por ser baixo e feio(essa história ainda será contada por mim);quando técnicos se utilizam desavergonhadamente do tapetebol para tomar o lugar de outros;quando alguns técnicos empunham microfones para julgar colegas e se autopromoverem visando o lugar dos mesmos;quando a maioria esmagadora dos técnicos adotam um único sistema de jogo,copiando uns aos outros sem o menor pudor, negando o estudo,a pesquisa,a inventiva, por tudo isso,afirmo com a mais absoluta certeza
que algo tem de ser mudado,e com urgência,para não afundarmos de vez no buraco que eles cavaram.Isso tem de ter um fim Walter, e quero estar vivo para atestar.Seus técnicos como o Barone,o Chocolate,o Tude,o Gleck e o Kanela,já não estão mais entre nós, mas os outros sim,e como você bem o disse,todos muitos anos luz à frente dessa turma que ai está.Um abração,Paulo Murilo.
PRofessor, seu site e muito show. Uma aula de tatica e tecnica
Gostaria imenso que o comentário fosse autenticado,pois me daria a oportunidade de agradecer pessoalmente.Não costumo responder comentários apócrifos,que na maioria das vezes são insultuosos.Nesse caso não, mas solicito que se identifique em um próximo,claro,se o fizer.Obrigado,
Paulo Murilo.
ótimo texto,meus parabens Paulo. Algo tão simples como a engenhenaria reversa mudaria totalmente nosso basquete, se aplica-la acaba gerando uma reação em cadeia, você cria um ataque, cria uma defesa para seu ataque, mas dai vc tem q aperfeiçoar seu ataque para passar pela defesa, depois vc vai aperfeiçoar sua defesa para segurar o novo ataque e assim vai indo. Não eh preciso muito para aplicar essa ideia, basta boa vontade, o que certamente falta em boa parte dos tecnicos brasileiros.
Leandro,que bom que você captou a simplicidade do emprego da engenharia reversa na formulação de melhores táticas e sistemas no Basquetebol.Nada mais complexo do que o poder da síntese,que prima pela simplicidade.Mas o que dá Ibope é o complicadês,o prolixo,o hermético.E por causa dessa doença cronica é que o nosso basquete se encontra no estágio terminal.Simplificar não é pra qualquer um,pode ter certeza.Um abraço,Paulo Murilo.
[…] tremenda encruzilhada em que nos encontramos, sugiro veementemente uma ação baseada numa engenharia reversa, onde possamos empregar alguns estratagemas desenvolvidos e empregados durante muitas décadas nas […]
[…] igual a nossa no sentido tático, simplesmente decodificou nossas ações ( acessem o artigo Engenharia Reversa aqui publicado em 15/01/07) ofensivas, antecipando seu sistema defensivo às nossas jogadas, […]