UMA PERTINENTE (E TEIMOSA) RELEITURA…

o inesquecível abraço do Munoz

Num pequeno site estatístico que mantenho sobre o blog, um artigo de 2010 foi lembrado por um dos pouco leitores dessa humilde trincheira, que demonstra claramente a incessante luta que travo desde sempre contra a mesmice endêmica que se apoderou do grande jogo em nosso país, a qual, se mantém praticamente a mesma até os dias de hoje. O início do playoff dessa temporada do NBB, não poderia ser mais explícito do que diagnostico desde sempre, com sua vassalagem ao modelo NBA, acrescido maleficamente a uma outra e corrosiva novidade, a chutação hemorrágica dos arremessos de três pontos. Vale a pena compararmos um recentíssimo passado, com a triste realidade dos dias de hoje, para, pelo menos, refletirmos sobre a qualidade do trabalho que vem sendo feito nesses últimos doze anos, após três ciclos olímpicos enfrentados, e perdidos, para, quem sabe, nos confrontarmos com uma verdade a qual pertencemos, ou omitimos, sob quaisquer traços de responsabilidades, aceitas ou não…

Dois meses depois dessa publicação, fui contratado pelo Saldanha da Gama de Vitória (ES), para tentar minorar a terrível campanha que realizava no NBB2, o que foi conseguido em parte, com um trabalho de negação absoluta a existência de um sistema único de jogo em toda liga, apresentando uma cortante versão de um sistema polivalente (apto contra defesas individuais e zonais, indistintamente), vencedora em muitos jogos contra equipes superestimadas pela critica e público, inclusive contra a equipe que veio a se tornar campeã naquela competição,  num dos momentos mais marcantes para mim, encontrado no abraço do armador Munoz ao fim daquele inesquecível jogo, quando ao pé do meu ouvido me disse – Obrigado professor pela radical mudança que o Sr. aqui fez, algo que nunca esquecerei. Também não esquecerei Munoz, jamais…

Vamos ao artigo e seus formidáveis comentários, mais atuais do que nunca.

Amém.   

A CLAQUE IGNARA…

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009 por Paulo Murilo4 Comentários

“ Como vemos na escalação da equipe, fulano é o nº 1, o armador principal, o que faz a equipe jogar, beltrano, o nº 2, armador finalizador, aquele que arremessa mais desta posição, sicrano, o nº 3, o ala finalizador, beltraninho, o nº 4, é o ala pivô, ou ala de força, e o beltranão, nº 5, é o pivô, o dominador da área pintada” .

Com estas explicações, o narrador do jogo entroniza a claque ignara no mundo técnico da bola laranja, perfeitamente sintonizado com o “basquete internacional”, mais adiante explicitado na enxurrada de termos em inglês para jogadas básicas e ações individuais com terminologia tupiniquim conhecida desde o século passado, não fossemos nós campeões mundiais e medalhistas olímpicos.

Enterradas são exaltadas como o supra sumo das ações individuais, alvo de críticas desairosas quando não culminadas por um jogador mais cuidadoso e ciente de suas condições técnicas, em anteposição ao ato circense puro e muitas vezes gratuito.

E nos comentários nenhuma menção ao que realmente de importante e fundamental ocorre técnico taticamente no transcorrer do jogo, centrados que estão nas performances anotadoras de alguns jogadores, perfeitamente alinhados ao sistema único de jogo.

E é aí que entro, no vácuo analítico, na ausência informativa do que vem ocorrendo sutilmente no âmago de algumas equipes de ponta, e que bem foi representada neste jogo de líderes, Joinville e Brasília.

A dupla armação se impôs decisiva e definitivamente no nosso basquete, não mais timidamente, em poucas incursões, mas de forma ampla e coerente. A melhora na capacitação técnica das equipes é uma evidência indiscutível, assim como o aumento na diversidade criativa propiciada por dois armadores talentosos e atuando em sincronia, tornando o jogo mais fluido e muitíssimo menos previsível como  de antanho, daí a aparente fragilidade defensiva, já que exposta a algo de novo, de incomum, no contraponto da mesmice de alta previsibilidade com que vínhamos jogando o grande jogo.

Infelizmente, as equipes ainda estão presas taticamente ao sistema tradicional, com sua numeração absurda e jogadas codificadas e pranchetadas, mas apresentando algo de promissor, a maior fluidez que discorri acima. Falta-nos uma grande dose de estudo e corajoso rompimento com o sistema que nos arrasou nos últimos vinte anos, para que novos conceitos emergentes da dupla armação nos redima e nos remeta ao nível das grandes equipes e competições internacionais. E para tanto temos de iniciar este ciclo pelas divisões de base, abjurando tudo do que até agora professamos em sua formação e desenvolvimento.

Mais infelizmente ainda, assistimos a criação da escola de treinadores lideradas por um grupo que se arvora como os redentores do basquete nacional, e que iniciaram seus trabalhos com um Simpósio de Preparação Física, Medicina Esportiva e Prevenção no Basquete, anotando que “ O evento teve 23 palestras e a participação de 154 pessoas entre dirigentes, ,médicos, fisioterapeutas, preparadores físicos, nutricionistas e técnicos”. Isso mesmo, lá no fim da relação, …os técnicos. Claro, que coordenado pelo mesmo profissional de educação física ( nomenclatura do CREF) que coordena a futura escola de treinadores.

E ao final dos trabalhos, apresentaram um estudo de 200 casos, quando concluíram serem as contusões mais comuns entre os jogadores de basquete, as de joelhos e tornozelos. Puxa vida, e eu que sempre pensei fossem os torcicolos… Parece brincadeira, mas não é, pois deveriam concluir dos porquês de tantas contusões nestas articulações desde o incremento avassalador da musculação patrocinada pelos “novos” conceitos de preparação física.

Concluindo, o jogo desta noite nos remeteu a um futuro razoavelmente promissor, pois pudemos constatar em estéreo e à cores vibrantes de 100 câmeras presentes o quanto de boa técnica se faz presente quando uma dupla armação de qualidade se encontra em quadra, e melhor ainda, quando as duas equipes a empregam todo o jogo. E quando vemos um pivô saltando nos rebotes e girando 180º no ar, para cair de frente para seu ataque em tripla ameaça, como o do Joinville nos brindando com sua nova e formidável conquista (fico curioso em saber como desenvolveu tal técnica…), podemos avaliar o quanto de progresso nos aguarda a partir do momento que os técnicos planejem e desenvolvam novos conceitos técnico táticos no rastro desta evolução, e na melhoria substancial dos fundamentos de seus jogadores, de todas as idades e divisões, começando pela formação.

Mas para que tudo isso realmente ocorra, um dos fatores básicos representado por uma escola de treinadores, com suas finalidades formativas e corretivas, divulgadora de novos e abrangentes conceitos, de amplos e vastos horizontes, universais e ilimitados, democrática e de livre pensar, terá de ser constituída, em contraponto ao que vemos germinar num presente temerário e comprometedor, aquele que se apropria de uma pseudo verdade eivada de interesses regionais, quando deveria ser fruto de uma realidade nacional, em todos os seus quadrantes, através seus lídimos representantes, esquecidos desde sempre, mas donos da verdade de suas vidas, seu trabalho profundo e mal remunerado, mas pleno de conhecimento e sacrifício, os técnicos, os verdadeiros técnicos deste país.

Que os deuses os protejam, sempre.

Amém.

Foto – Reprodução de um video pessoal. Clique duplamente na mesma para ampliá-la.

4 comentários

  • ALEXANDRE MIRANDA
  • 18.12.2009
  • ·
  • POIS ENTÃO VEJO QUE O SENHOR RESTITUIU AS FORÇAS E JÁ NOS BRINDA COM COMENTÁRIOS BEM PERTINENTES SOBRE O NOSSO JOGO! FICO FELIZ COM ISTO.
    PROFESSOR, O SENHOR ACOMPANHOU A ENTREVISTA INTERESSANTE DO PRESIDENTE DA CBB – REALIZADA POR RODRIGO ALVES? TÓPICOS IMPORTANTES SOBRE A ESCOLA DE TÉCNICOS PODEM SER PINÇADAS ALI!
    HÁ ALI A MENÇÃO DE QUE ELA PODERIA SER EFETIVAMENTE TRABALHADA COM O CAPITAL HUMANO DE TÉCNICOS E APENAS COORDENADA PELO SR.JELEILATE.
    O SENHOR NÃO ACHA QUE É UMA DECISÃO ACERTADA – O DE COLOCAR ALGUÉM GENERALISTA, PORÉM INSERIDO NO MEIO DO BASQUETEBOL, PARA COORDENAR UM COLEGIADO, ESTE SIM ESPECIALISTA?
    PENSO QUE ALGUÉM ESPECIALISTA ESTÁ FORMADO NUMA VISÃO POLÍTICA/SOCIAL/CULTURAL DO JOGO QUE PODERÁ GERAR MAIS CONJECTURAS DO QUE SOLUÇÕES POSITIVAS NA ESFERA DE COORDENAÇÃO! CLARO QUE ESTE ESPECIALISTA SERÁ O CORPO DA ESCOLA DE TÉCNICOS E DARÁ RESPALDO PARA A FORMA DE PRATICAR E ENSINAR O BASQUETE NO BRASIL. MAS SERÁ ÚTIL TAMBÉM COMO DEBATEDOR E CONSTRUTOR-ADJUNTO DE SOLUÇÕES.
    JÁ UM GENERALISTA DO JOGO PODERÁ ANALISAR POSIÇÕES, INCREMENTAR DISCUSSÕES E ENCERRAR SITUAÇÕES DE DEBATE COM A SOLUÇÃO MAIS RACIONAL E DISTANTE DE PESSOALIDADES!
    CLARO, PARA QUE ESTE GENERALISTA SEJA LÚCIDO EM SUA COORDENAÇÃO ELE NÃO PODERÁ TER VÍNCULO COM POSIÇÃO/POLÍTICA ALGUMA, APENAS DEVERÁ ESTAR ABERTO A OPINIÕES QUE LEVEM A DECISÃO MAIS ACERTADA!
    O QUE PENSA SOBRE ISSO PROFESSOR? O SENHOR IRÁ NA REUNIÃO CONFIRMADA PARA SÁBADO (19/12) A FIM DE DISCUTIR A ESCOLA DE TÉCNICOS? E PARA FINALIZAR, TIRE UMA DÚVIDA, O SENHOR IRÁ SE APRESENTAR COMO CANDIDATO AO CARGO DE TÉCNICO DA SELEÇÃO CASO O SR. MONSALVE NÃO POSSA ASSUMIR?
    ABRAÇOS E DESCULPE PELA LONGA MENSAGEM!
  • Diego Felipe
  • 18.12.2009
  • ·
  • Na minha humilde opinião, a mídia deveria colocar como comentarista, no mínimo, um técnico realmente gabaritado no basquetebol, e não simples ‘figurões’ da mídia, que pouco vêem (e por isso pouco falam) do aspecto tático de qualquer jogo.
    E isso se repete, não somente no basquete, mas no futebol, handebol, e quaisquer esportes que envolvam coletividades com táticas.
    E caro professor, muito me assusta que a CBB ainda não tenha visto o seu blog e comentários (acho mais provável não quererem reconhecê-los, pertinentes que são) e, pelo menos, refletido um pouco sobre os tópicos aqui abordados. (muitos deles exaustivamente ;D)
  • Basquete Brasil
  • 19.12.2009
  • ·
  • Prezado Alexandre, sim, depois de uma fase conturbada refaço minhas expectativas de vida produtiva, onde o trabalho é fator altamente benéfico nesta retomada. Obrigado pelos seus votos, e espero corresponder a você e a todos os leitores que me prestigiam aqui neste humilde blog.
    Li a entrevista do presidente da CBB dada ao Rodrigo Alves do Rebote, excelentemente produzida. Mas as respostas, ah as respostas, todas dentro da formatação(a CBB adora este termo…)da gestão anterior, da qual exerce um competente continuísmo, inegável a essa altura de sua gestão. Até os devaneios e projetos superlativos são os mesmos, inclusive o staff, todo “profissional” da melhor estirpe. Quero ver no que vai dar. Aliás, já bem sei no que vai dar, ou seja, absolutamente nada do que seu antecessor alcançou. Minto, alcançou a presidência da ABASU, que destinará ao seu sucessor na CBB quando atingir sua grande meta, a FIBA America. Irmãos se ajudam, mesmo posando de conflitantes. Não acredito em nenhum dos dois e nos que os seguem, pois mudar o que deve ser mudado jamais o farão. “Time que vence não deve ser mudado”, ou deve, já que beneficiam a eles e não o grande jogo?
    Quanto à escola de técnicos, brincadeira prezado Alexandre, e com conotações futuras preocupantes, senão trágicas. Tenho apontado incansavelmente os óbices deste projeto, que jamais poderia ser coordenado da forma imposta politicamente, e o pior, eticamente comprometida por quem aceitou a incumbência sem as qualificações para o cargo, de que é bem sabedor. Logo, cúmplice da jogada crefiana. Isto mesmo, jogada do Sistema CONFEF/CREF que inicia sua conquista na formação de técnicos de nível superior. Quero ver como vão digerir a malha de “provisionados” que diplomou até hoje, inclusive para as seleções nacionais de várias modalidades, futebol em particular. Ambição e arrogância é isso ai, numa terra onde as leis são estabelecidas em favor dos poderosos.
    Desculpe prezado Alexandre, mas a formação, atualização ou especialização de técnicos os qualificam como especialistas pelo conhecimento aprofundado de uma modalidade, sem no entanto retirar dos mesmos o caráter generalista por se tratarem de professores acima de tudo. Os exemplos de nossos irmãos do hemisfério norte, que de acordo com as estações do ano lecionam modalidades diferentes, é a prova contundente de sua formação generalista. Este tem sido o grande erro nas pretensas formulações de políticas desportivas e educacionais voltadas aos nossos jovens, pois no âmago escolar especialistas tem de ceder à realidade generalista de uma educação de qualidade, ampla e democrática. Infelizmente muitos se escondem sob o manto das especialidades para fugirem aos compromissos com a maioria, se fixando numa elite que forma o topo de uma pirâmide injusta e inconstitucional. Realmente, a base da mesma é muito trabalhosa e oferece escassas oportunidades ao brilho de suas personalidades.
    Finalmente, somente iria a tal reunião se fosse convidado, fato inconcebível pela patota mandante, já que independência e absoluto livre pensar me tornou, torna, e sempre me tornará alijado deste sistema. Mas, aqui deste cantinho sigo minha tarefa educativa, imune à subserviência moral, cultural e ética, de quem nada deve e teme. Por analogia, depreende-se que seleções nacionais é meta a mim negada desde sempre, desde que fui preterido na primeira indicação por ser baixo e feio, mas que me fez forte e lúcido para me manter culto e atualizado, sempre e permanentemente pronto a servir se designado, já que função e direito de todo cidadão, professor e técnico que se preza.
    Terminando, não se desculpe por sua elogiável curiosidade, a qual tive o imenso prazer em atender. Um abraço, desejando um feliz natal e formidável 2010 para você e sua família.
    Paulo Murilo.
  • Basquete Brasil
  • 19.12.2009
  • ·Prezado Diego, é fato mais do que conhecido que este pequeno blog é lido por muita gente, aqui e no exterior, inclusive pela turma mandante do esporte nacional. Convencimento meu? Não, pois são fatos indesmentíveis.
    Mas o que realmente conta e me interessa profundamente é o eco refletido nos comentários e nos apoios sinceros, nos pequenos reflexos técnico táticos que vem mudando alguns comportamentos, tanto de praticantes, como de professores e técnicos, pois afinal de contas aqui todos eles encontram, sem censuras e limites todo um conhecimento que amealhei por toda uma vida, e que continuarei a amealhar enquanto por aqui estiver.
    Essa é a minha convicção de vida, transmitir e ensinar tudo o que sei, como testemunho de que continuarei sempre aberto a novos caminhos, conceitos e experiências de vida. Somente assim ela se torna digna de ser vivida.
    Um abraço, e feliz Natal para você e sua família, e um 2010 pleno de sucesso e realizações.
    Paulo Murilo.

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PADRÕES, PATRÕES E…REFÉNS…

Os padrões – 

Os cincos abertos, e chutacão explícita

Estamos sob a égide de novos, novíssimos padrões, como se o grande jogo fosse redescoberto, e que todos os conceitos, técnicas e estratégias criadas e forjadas desde 1892 em Springfield, tivessem sido varridas para baixo do tapete da história, substituída por uma outra, modernosa, oportunista e enganosa, condizente a uma novo tempo, um novo jogo, um pastiche do verdadeiro e eterno grande jogo, submetido e pretensamente sucumbido a uma corriola de oportunistas e aproveitadores, aqui e lá de fora também, abençoados e sacramentados por uma mídia cada vez mais vendida aos interesses nada desportivos, e sim aos de cunho financeiro, econômico, globalizado, onde ate o nicho das apostas vem sendo admitido, vindo de uma matriz que, absolutamente, é a antítese de nossa cultura material, cultural e, por que nao, política também…

Nossa forma de atuar, jogar um jogo que sempre foi querido e amado por nosso povo, sua verdadeira e mítica segunda opção, somente atrás do futebol, sua paixão visceral, foi violentada coercivamente, relegada e coisificada à mesmice formativa, técnica e tática, agora endêmica, onde os padrões clássicos do coletivismo estrutural, consubstanciado pelo conhecimento teórico e prático dos fundamentos básicos, ensinados e repassados por professores e técnicos verdadeiramente preparados na arte de levá-los a muitas gerações, que nos alçaram ao ápice das conquistas e do reconhecimento internacional, agora transformados num novo padrão, colonizado, copiado, e muito mal copiado, de uma liga que a cada dia vai transformando o mais evoluído dos jogos coletivos, em uma vitrine de egos, super egos, voltados ao individualismo extremado, no qual as estatísticas individuais e seus recordes, se tornam a cada temporada mais midiaticamente importantes do que os resultados das próprias equipes a que pertence esta nova casta de super estrelas, mais centradas em si próprias, do que as franquias que pagam seus salários…

A egocêntrica estrela

Estamos vivenciando essa forjada e forçada mudança de trinta anos para cá, gerando coincidentemente uma debacle na formação de base, nos conceitos técnicos e táticos, e principalmente, nas estratégias equivocadas e politiqueiras que assaltaram o grande jogo em nosso infeliz país, tão grande e rico, porém mal educado e propositalmente deixado nessa situação de interesse das castas políticas, todas elas, com raríssimas exceções, que de tão raras pouco influenciaram e influenciam neste triste cenário. Na universidade onde lecionei para futuros professores, nunca deixava de lembrá-los que  nosso país, talvez seja um dos únicos no qual, nem a direita e nem a esquerda querem o povo educado. A direita o quer analfabeto para se manter no poder, e a esquerda o quer mais analfabeto ainda para usá-lo como massa de manobra para ascender ao poder, e ao conseguir o intento,  mantê-lo analfabeto a exemplo da direita. Esta cadeia de interesses se estende a toda a sociedade e suas ramificações  comerciais, industriais e econômicas, atingindo a todos, escolas em particular, e desportos também…

Temos e agora presenciamos um novo padrão de como jogar basquetebol, o moderno e copiado modelo NBA/NBB (a CBB ainda não conta…), sem no entanto contarmos com a formação massificada da matriz em suas escolas e universidades, sem a dinheirama de seus abastados patrocinadores, porém repleto de equivocados formadores de base, e técnicos (?) que se convenceram que o grande jogo nasceu no dia que vieram ao mundo, logo dispensados de conhecê-lo de antanho, sequer estudá-lo, e acima de tudo compreendê-lo como uma verdadeira escola de vida, de hábitos, de costumes centenários, de sistemas vencedores, de técnicas e táticas individuais e coletivas, amalgamadas por décadas e décadas de estudos e sérias pesquisas. Estudar e pesquisar para que, se tudo vem sendo apresentado e mastigado pela matriz? Afinal, jogando dessa forma ganham tudo, então vamos jogar da mesma maneira, ou não , afirmou o novo patrão de nossa seleção, que orientará também o mesmo credo nas seleções de base…

Os patrões-

De dezessete anos para cá (idade deste humilde blog), venho travando um incessante luta contra o negligenciamento na formação de base, com seus modernos conceitos de correria desenfreada (alguns chamam de transição), defesas inexistentes, compensadas, segundo os modernos técnicos, pela avalanche de arremessos de três pontos, disposição dos cinco atacantes fora do perímetro, musculação visando força e saltos estratosféricos, enterradas midiáticas e tocos infernais, para gáudio dos tronitruantes narradores que mostram um jogo que não se coaduna com a realidade, analisados por comentaristas mais preocupados com a rede de amigos, encontros, jantares e abraços em profusão, claro, as poucas exceções existem, mas muito poucas, mesmo…

Neste árido cenário, três pontos tem de ser enfatizados, e o primeiro deles se refere ao número absurdo de erros de fundamentos praticados em todas as categorias e faixas etárias, chegando na categoria adulta a média de 26 por partida no NBB, algo impensável no nível internacional, provocados pela insânia do jogo com cinco abertos, o segundo ponto, exatamente para provocar o tão desejado 1 x 1, festejado e aplicado com fervor na matriz do norte (origem das festejadas performances e recordes individuais) com uma diferença porém, a de que por lá, graças a uma formação de base competente, andadas, conduções de bola e perdas na troca de mãos nas fintas muito pouco acontecem, ao contrário daqui, em que até tropeções na bola ocorrem com frequência, pois a mesma ainda é uma ferramenta desconhecida em seu manejo e controle pela maioria de nossos craques, onde as exceções são mais raras ainda. O terceiro fator, é resultante da extrema fragilidade na preparação defensiva de nossos jovens, e mesmo adultos, originando fracassos nas defesas coletivas individuais e zonais, no fundamento para lá de básico do grande jogo, permitindo pela sua ausência e ineficiência enormes espaços fora do perímetro, encorajando os arremessos de três pontos, hoje tentados até por pivôs, incentivados por técnicos, agentes, narradores, comentaristas, dirigentes, e cada vez mais torcedores de ocasião, todos, sem exceções, que desconhecem as técnicas, mecanismos e, acima de tudo, direcionamento consciente de uma bola de mais de 300 gramas lançada a mais de 6 metros da cesta, onde desvios de 2 graus a tira para fora do aro…

Criou-se então o novo padrão, aquele em que as convergências entre os arremessos de dois e os de três, são um lugar comum em praticamente todas as partidas da liga nacional, que abandonam a maior eficiência estatística das bolas de curta e media distâncias, pelo apelo descabido, porém midiático, das famigeradas bolinhas, num espetáculo muitas e muitas vezes grotesco e constrangedor, como um recente jogo que assisti onde três ataques de uma equipe, contra quatro de outra, sequencialmente foram finalizados com arremessos de três, nenhum convertido, numa ciranda de incompetência dentro, e por que não, fora da quadra também, numa pelada digna de encontros em praça pública, claro, aquela em que as tabelas não foram destruídas pelos adeptos do futsal, sempre prontos a terem primazia de uso num equipamento popular…

Convergência institucionalizada

Aqui, nessa tabela estatística temos o padrão estampado, hoje cada vez mais padronizado, levando o patrão e seu assistente a preconizar com bastante antecedência como irá jogar a seleção adulta, e por que não, as de formação, masculinas e femininas, pois afinal de contas, pelas convicções abalizadas e vencedoras (?) deles, que supervisionam as comissões técnicas da CBB, terão de treinar e preparar as equipes pelo novo padrão, aquele que temo por experiência e um bom conhecimento da história teórica e prática do grande jogo, que frente a escolas sérias, e que dedicam muito tempo ao preparo fundamental, defensivo e ofensivo, ruirá como um castelo de areia, pois criado e movido por mal imitadores, por gente de curriculo inchado em um basquetebol de frágil estrutura, muito ao contrário daquele que alcançou o quarto posto de maior escola do grande jogo no século vinte, segundo classificação da FIBA…

O padrão ético e comportamental

Mas o novo padrão apresenta novas nuances por parte dos patrões, os da seleção e os das franquias, em sua maioria tristemente verdadeiras, a de participantes ativos, combativos, provocadores, coercitivos, agressivos, patéticos, rasgadores de camisa e arremessadores olímpicos de pranchetas (sequer deveriam usá-las), aplaudidos e incentivados por uma mídia que considera tais comportamentos como normais da função, naturais para o brilho do espetáculo, porém e contudo, deseducador e desagregador para uma massa de jovens que está sendo influenciada com tanta falta do mais elementar principio didático-pedagógico, um exemplo tácito de como nao se praticar e respeitar a educação, o desporto…

Mais alguns meses e vamos constatar se o novíssimo padrão funcionará contra equipes que irão marcá-lo como se deve fazê-lo num jogo de ponta, que atacarão fustigando as fraquezas defensivas de jogadores fragilizados em sua formação e preparação de base, ou algum que se comportará com seriedade vestindo a camisa do país, sem ser constantemente desqualificado de jogos por indisciplina como acontece na liga, e mesmo na seleção, quando se negou a defendê-la dentro de uma competição pré olímpica…

Comportamento inaceitável

Um rasgo de esperança se fez notar com as duas recentes vitórias nos sul americanos masculino e feminino sub 18, quando, depois de duas décadas voltamos a vencer os argentinos nessas categorias, fator positivo. e que deveria ser desenvolvido não com o padrão acima descrito, e sim, e corajosamente, aderindo a formas diferenciadas de jogar, como a manutenção e desenvolvimento da dupla armação ofensiva, junto a adoção de três alas pivôs incidindo e jogando dentro do perímetro, de frente para a cesta e arremessando de curta e média distâncias com percentuais muito mais elevados que os de longa distância, reservado aos especialistas dentro de critérios pontuais, e jamais referenciais e preferenciais na forma de atuar da equipe, e principalmente, adotando a defesa na linha da bola com flutuação lateralizada, jamais longitudinal, pois aquela permite com alta eficiência a marcação dos pivôs frontalmente, assim como enfrenta os corta luzes e bloqueios frontais com um mínimo de trocas, todas por mim defendidas nos últimos cinqueta anos, nas quadras, seleções, no NBB, e neste humilde blog, mas é claro, dando um enorme e sacrificado trabalho para desenvolvê-las, na proposta de procurar jogar de forma diferenciada, jamais formatada e padronizada, o que solenemente duvido que venha a ocorrer por parte da turma que ai está, sufragando o glorioso padrão, e que não contará com os estrangeiros que sustentam suas enraizadas “convicções”…

Os reféns-

Seremos todos nós, professores, técnicos, dirigentes, agentes, narradores, comentaristas, torcedores, mas, principalmente os jogadores, os atuais nas mais diversas categorias, e os milhares que virão a praticar o grande, grandíssimo jogo, motivados por uma preparação conscienciosa e responsável nos fundamentos, competindo sob a égide da criatividade, da improvisação consciente, fatores alcançáveis se bem orientados, educados e informados nas melhore técnicas individuais e coletivas, por professores e técnicos bem formados, e nao osmoticamente influenciados por formas fora da nossa realidade de país ainda carente e pobre, que antes de mais nada precisa aprender a administrar essa pobreza, que poderá ser vencida num futuro de enormes sacrifícios e renúncias, sem jamais perder a esperança de dias melhores..

Padrões e patrões nada somam, a não ser para eles próprios, voltados e centrados em metas inclusivas e excludentes para todos aqueles que não seguirem suas convicções lastreadas no Q.I. institucionalizado neste imenso, desigual e injusto país.

Amem.

Fotos – Reproduções da TV, Internet. Clique duplamente nas mesmas para ampliá-las.