3,4 e 5…

Recentemente em um Summer Camp do Portland Trail Blazer alguns jogadores latinos se submeteram a testes para uma possivel contratação por aquela equipe da NBA. Um dos testes era a ultrapassagem driblando por uma fileira de cadeiras, exercicio básico do drible. Eis que um dos jogadores derruba 3 cadeiras e tropeça em outras duas. É claro que foi mandado de volta imediatamente. Era um”3″, ou ala no jargão do basquetebol. Se enfrentando um lote de imóveis cadeiras trombava com varias, imagina-se o que ocorreria se fossem defensores ativos. Essa realidade não é tão rara assim nas equipes brasileiras, onde os”3″ se não tropeçam nos marcadores saem com frequência pela linha final por não exercerem um mínimo domínio da bola ao driblá-la. Alguma firmeza só sentem, quando destros, penetrando pela esquerda do garrafão, ou canhotos pela direita, pois nessas posições afastam a variável “linha final” das possibilidades de erro e se concentram em tirar uma reta da cesta, isso se não ocorrer uma flutuação defensiva que corte sua trajetória. Nessa situação recua ou eleva a bola acima da cabeça para um passe que o tire daquela situação. Mudança de direção com um passo atrás, ou reversão completa ou negaciada simplesmente são de total desconhecimento por parte da maioria dos”3″ e”4″ de equipes brasileiras. Se especializaram em correr feito doidos pela frente, por trás e pelo meio da defesa na procura de um pequeno espaço que o faça receber um passe para o arremesso salvador, preferencialmente de três pontos. Só observamos penetrações pela lateral da quadra quando, por motivos de desespero tático dois armadores são colocados em campo e um deles, por exigência do sistema do Passing Game, recebe a bola naquela posição lateral e com sua melhor habilidade que os “3” e”4″ em questão, evoluem para a cesta desbravando os caminhos desconhecidos por aqueles. Por que não preparar e treinar os alas (verdadeira denominação desses jogadores) em algumas das habilidades dos armadores? Por que se instituiu em nosso país a negação aos alas de habilidades próprias dos armadores?Isso foi implantado quase como uma exigência natural do sistema suicida do Passing Game. Muitos de nossos alas, altos e ágeis são privados dessas habilidades pela cretina “especialização” a que são submetidos por um sistema absurdo e anacrônico, mas de beleza coreográfica imposta por técnicos que no fundo odeiam a livre iniciativa, ou liberdade de ação de jogadores audaciosos e por isso mesmo perigosos em sua auto-suficiência.-Fulano, você passa a bola para beltrano, corre em direção do pivô, faz um bloqueio nele, abre e se coloca para um possível passe para o arremesso, e você sicrano, corre para receber o passe se beltrano não se colocar a contento e… e por ai vai a instrução, é claro, toda ilustrada com desenhos claros e objetivos na prancheta. Para que desenvolver habilidades em alas se a coreografia detalhada nas pranchetas tudo irá resolver sem os pequenos e dispensáveis detalhes de criatividade e improvisação técnica? E o que falar dos “5” que deveriam obrigatoriamente se situar sempre próximos à cesta, de preferência estando do lado oposto à bola, para que na possibilidade do passe o recebesse em movimento, não dando chance ao marcador para interceptá-lo, mas que no fatídico Passing Game é obrigado a sair até além da linha dos três pontos para servir de arriete a passes absurdos e totalmente ineficientes, e na maioria das vezes, quando de um arremesso veloz pegá-lo fora do rebote, fora da ação para a qual deveria ser preparado. Hoje vemos um novo tipo de jogador, o pivô-cestinha de três pontos, num desperdício que raia ao ridículo estratégico. E mesmo quando conseguem o rebote ofensivo chegam ao solo de frente para a cesta, quando a tentativa subsequente de ida para os pontos encontra oposição quase intransponível. Girar 180º no ato do rebote, aterrisando de frente para a quadra onde, com o domínio livre da bola poderá optar pelos três movimentos básicos do jogador, o drible, o passe ou novo arremesso, é atitude totalmente desconhecida pela maioria dos pivôs brasileiros, assim como a repetição cansativa de tentar finalizar uma cesta com a mão contraria ao lado em que se encontra, quando se o fizesse com a mesma mão não só obteria a cesta como possivelmente sofreria uma falta pessoal. Mas esses detalhes de fundamentos são perfeitamente dispensáveis quando uma sequência de bem ensaiados passes culmina com um glorioso arremesso de três pontos, belo e irretocável. Mas fica uma pergunta, e quando aqueles pictóricos arremessos teimam em não cair??Em minha pesquisa de doutorado em Lisboa”Estudo sobre um efetivo controle da direção do lançamento com uma das mãos no basquetebol”, da qual falarei em futuros artigos, demonstrei com bastante exatidão os índices de acerto em arremessos nas varias distâncias, fatores que definitivamente me deram a certeza de que podemos ser poderosos jogando para os dois pontos e lance-livres, dando aos mesmos toda precisão possível, destinando os três pontos para determinadas situações, e mesmo assim nas mãos daqueles que realmente sejam especialistas nesse difícil arremesso. Jogando pelos dois pontos ganhamos em precisão, aproveitamos mais ataques, forçamos as defesas para dentro do garrafão, e ai sim sobrará bom espaço para um arremesso de três pontos, ocasional e estratégico, e não usual e suicida. Mas isso é história para ser contada e discutida quando da adoção de alguma outra situação de jogo que não o indefectível, totalitário e antidemocrático Passing Game.

O QUE TODO ARMADOR DEVERIA SABER

Desde o nosso último armador autêntico, Maury,desenvolveu-se em nosso país a figura do armador-finalizador,perfeitamente alinhado ao sistema do Passing Game,onde sua função primordial é a de iniciar uma sucessão de passes, correr por trás da defesa e ressurgir triunfante para a finalização,preferencialmente da linha dos três pontos ou, num lampêjo de gênio penetrar por dentro do garrafão buscando o”assistance” que reforçará sua estatística ao final do jogo.Nesse sistema o armador,ao correr por trás da defesa se ausenta do fóco da ação, atitude que deveria ser repensada pelos técnicos, pois a função de coordenação do ataque ao recair nas mãos dos pivôs que saem para fora do garrafão perde em qualidade e fragiliza o rebote ofensivo, além de
limitá-los ao passe ou um arremesso de três pontos,que convenhamos não deveria ser o
carro chefe de um jogador reboteador.Em alguns casos tentam a progressão com o drible
errando na maioria das vezes.Por outro lado,os armadores passaram a correr o dobro da
distância que corriam no passado,num desgaste brutal e perfeitamente dispensável.Essa
mudança técnico-comportamental propiciou um quase definitivo abandono na arte do drible, pela adoção do passe como fundamento básico na estruturação tática de nossas
equipes de uma maneira geral,esteriotipada e pouco criativa.Chamados de jogador”1″
têm sido responsáveis por inumeras derrotas internacionais ao final de jogos, onde deveriam agir taticamente, mas sob pressão mais acentuada perdem o controle da bola
em tentativas individualisadas,caindo em armadilhas pela baixa qualidade técnica de seu drible.Evoluir como”1″ durante uma partida sob defesa pouco agressiva é bem diferente das exigências técnicas sob pressão contundente.Muitos de nossos armadores
enfrentam um defensor mais combativo dando as costas para o mesmo, pois são incapazes de o enfrentarem de frente pela pouca ou quase nenhuma técnica na arte da finta e do drible.Quando de uma reversão o fazem sem a troca de mãos, assim como adoram a mudança de direção utilizando o drible pelas costas estando no centro da quadra, quando esse tipo de drible só deveria ser utilizado em um ângulo entre 30 e
35 graus em função da cesta.Como o angulo maximo da visão periférica se situa em torno dos 120 graus,torna-se óbvia a dificuldade que um armador enfrenta quando de costas para a cesta.Ambidestralidade então nem pensar,pois para um finalizador a mesma torna-se dispensavel.E o mais impressionante,com a cumplicidade de muitos árbitros desenvolveram uma maneira de facilitar o dominio da rotação da bola durante o drible, simplesmente interrompendo a trajetória do mesmo colocando a mão impulsionadora por baixo da bola anulando sua rotação, provocando um hiato suficiente para movimentar o corpo numa finta dissociada da ação da mesma, numa autêntica infração de sobre-passo, pois o binômio drible-passada é quebrado tornando o movimento ilegal.Com a bola imobilizada, mesmo numa fração de segundo torna-se fácil a mudança de direção e a reversão, numa flagrante demonstração de desconhecimento das técnicas do drible.Como é uma atitude que já vem sendo adotada a
alguns anos dedúz-se que são ensinadas por técnicos pouco afeitos ao exaustivo mister
de ensinar corretamente os fundamentos. Se o armador”1″ age desta maneira o que dizer do “2”? Simplesmente podemos atestar que sob pressão intensa não temos armadores suficientemente preparados para enfrentá-la.Não é coincidência termos importado nos últimos anos não mais pivôs,e sim armadores.Nossas equipes melhoram muito suas performances, quando em raras oportunidades, ou pressionadas pela necessidade de velocidade utilizam dois armadores, retirando dos “3”,”4″ e”5″ a responsabilidade do drible, pelo fato de serem incapazes de realizá-lo com um minimo
de eficiência.A adoção absurda do Passing Game levou a essa situação de penúria técnica,pois já que todos o adotaram para que desenvolver dribladores de verdade tomando um tempo que poderia ser utilizado na pratica das enterradas e do arremesso de três pontos? Esqueceram nossos grandes técnicos, ou não observaram que na NBA o
Passing Game é todo voltado para o embate um contra um, onde o drible é fundamental,
pois as flutuações e coberturas são praticamente proibidas,tanto na marcação individual como na marcação por zona,ao contrário do resto do mundo.Como aqui no Brasil todos jogam sob um mesmo sistema, as defesas se encaixam com mais facilidade
são mais previsiveis,e mesmo com flutuações são pouco agressivas, dando aos armadores
a falsa sensação de dominio, tanto na progressão ,como na finalização.Ao voltarmos,se
isso fosse possível,aos esquemas com dois armadores,dois alas e um pivô, talvez estivessemos resgatando a arte dos fundamentos, arte esta que nos deu grandes vitorias e titulos no passado.Mas para que isso fosse possivel teriam os técnicos de
se reprogramarem, que estudassem a arte do ensino dos fundadmentos, pois uma equipe
com bons fundamentos é mais eficaz do que aquela que utilize um sistema baseado em
pura coreografia,e o fundamento a ser especialmente estudado e ensinado é o drible.
Interessante notar que em qualquer escalação que aparece nas transmissões da televisão americana,tanto da NBA, como da NCAA os jogadores são discriminados como
Guard,Guard,Forward,Forward,Center.Nunca como 1,2,3,4 e 5!
No dia em que nossos armadores forem capazes de sob intensa pressão,voltados para a cesta, com total dominio visual da quadra, criarem espaços ondem não existem, estabelecerem superioridade numérica ao ultrapassarem o adversário, e aremessarem
como alternativa eficaz e não como prioridade da equipe,teremos de volta nossa maneira de jogar,que nos fez respeitados no mundo inteiro.Em outro capitulo falarei dos alas e pivôs,desculpem,dos 3,4 e 5…

BASQUETEBOL FEMININO-O ERRO ESTRATÉGICO

No dia seguinte à chegada da seleção brasileira feminina que havia conquistado o Campeonato Mundial na Austrália, estávamos, eu,o Diretor Técnico e Chefe daquela delegação, Prof.Raimundo Nonato e o Prof.Ary Vidal no auditório do Instituto de Educação Física da UERJ, participando como conferencistas nas solenidades de aniversário daquela instituição. Durante a primeira palestra, do Prof.Raimundo passei um rápido olhar pelo caderno esportivo do Jornal do Brasil,onde tomei conhecimento de uma entrevista dos integrantes da comissão técnica sôbre as futuras intervenções que seriam estabelecidas nas preparações subsequentes daquela seleção campeã mundial. Chamou-me a atenção uma declaração estarrecedora, a de que à partir daquele momento seriam desenvolvidos treinamentos de pêso para aumento substantivo de massa muscular, e consequente aumento de pêso das jogadoras altas da equipe.Custei a acreditar no que havia lido, mas estava lá com todas as letras,as jogadoras esguias e velozes, que por sua constituição física conseguiram anular as gigantescas pivôs dos Estados Unidos e da China marcando-as pela frente,evitando que as mesmas recebecem bolas em condições de arremêsso, seriam submetidas a treinamentos com pêsos para rivalizarem “em iguais condições” com as oponentes que haviam vencido exatamente por não serem pesadas e pouco ágeis!
Na minha intervenção como palestrante, comuniquei aos presentes que mudaria o assunto antes estabelecido, para expôr minha posição opinativa sôbre o que havia lido. Dirigí-me especialmente ao Diretor Técnico da CBB alí presente,e passei a analisar todo um percurso que aquelas atletas,algumas já veteranas, trilharam por longos anos desprovidas de luta nos rebotes ofensivos e defensivos,perdendo campeonatos internacionais exatamente por não contarem com a altura comum às suas oponentes. A qualidade técnica extraordinária daquelas atletas sempre encontraram limites às vitórias pela ausência de rebotes. Mais eis que surgem novos valores,altos, esguios,habilidosos, básica e estratégicamente velozes, a ponto de anularem suas enormes oponentes,de vencê-las onde se consideravam invencíveis,nas disputas dos rebotes.Paula, Hortência e Janeth enfim poderiam fazer e manter a diferença pontual que exerciam sem vencer.
Reagí àquela catilinária com o vigor que sempre possuí através minha vida desportiva, indiguinei-me com a atitude tôla e irresponsável, por destituida de sabedoria técnica e objetividade estratégica.Um pouco de lógica sociológica se fazia necessário na análise da hecatombe que se armava. Terminei a palestra pedindo aos deuses do imponderável que lançassem luz ao mal que estava por vir.
Tempos depois, em nova competição internacional, eis que emerge do lado norte-americano uma jogadora alta, esguia e rápida, Lisa Leslie, que veio substituir a pesada centro, destituida da velocidade exibida pelas brasileiras,numa resposta contundente perante nossas jogadoras,agora magistralmente energisadas, com massa muscular desenvolvida,menos velozes,com as articulações comprometidas pelos excessos cometidos em um treinamento despropositado estratégicamente e falho culturalmente.Resultado? Passamos a perder o que ganhavamos, demos o mapa da mina para os adversários, mas ninguém se ergueu contra o retrocesso, continuamos a investir no aumento da massa muscular para gáudio de”especialistas”em preparação de montanhas de músculos,agora desprovidas de nossas maiores armas, a velocidade,a agilidade e a destreza para marcarmos pela frente, ou mesmo para nos antepor às agora ágeis,esguias e velozes adversárias.Ao inverterem os papéis, demos aos adversários todos os anos de lutas,todo um investimento técnico, toda uma geração de jóvens ágeis e rápidas.Transformamo-as em jogadoras lentas e inabilitadas pela pouca velocidade. Ao contrário, nossos adversários exibem hoje o que tivemos ontem,
mas o pior é que mantemos o modêlo sem perspectivas de mudança.Pior para nós.

DEFESA-MITOS E VERDADES

DEFESA-MITOS E VERDADES

Desde longa data se afirma no Brasil que nossos jogadores somente direcionam seus esforços para as ações ofensivas,,dentro da acertiva de que a melhor defesa é o ataque. Tudo bem, senão por um único e decisivo detalhe,o de que sendo uma modalidade esportiva na qual os movimentos básicos, por complexos e sofisticados, devem ser ensinados por profissionais qualificados, e dentre os fundamentos ensinados a movimentação defensiva deveria ser prioritária.Mas, é esta a realidade entre nos? Mais uma vez a figura dos técnicos responsáveis pelo ensino dos fundamentos ascendem ao fóco das discussões. Os principios básicos, de dificil execução e mais dificil aceitação por parte dos jóvens são convenientemente ensinados? No nosso caso,afirmo que, com raríssimas exceções o ensino da defesa é ensinado com presteza.A falha se torna mais gritante nas divisões de base, que com a adoção maciça da defesa por zona torna mais fácil alcançar resultados vitoriosos e de imediato sucesso. Resultados que garatem empregos e alimentam vaidades familiares, justificam investimentos e alimentam futuras e incontornáveis deficiências. Desde muitos anos defendo a proibição da defesa por zona em categorias
de base, assim como defendo desde o advento dos 24 segundos que aquelas categorias tivessem como tempo de posse de bola 35 segundos. No caso da defesa torna-se óbvio o quanto de fundamentação técnica defensiva os jóvens adquiririam durante sua formação, para mais tarde poderem marcar por zona com total domínio da mesma. Os 35 segundos respeitariam a realidade psicosomática dos jóvens, permitindo a absorção gradual dos ensinamentos adquiridos pelo treinamento e sua aplicabilidade prática, em sua evolução natural.É como aprender a andar de bicicleta de aro 20. A criança cairá com frequência, se equilibrará e finalmente dominará o veículo. Ao crescer, numa bicicleta aro 28 ele simplesmente se adaptará a um veículo que já domina em escala inferior. O mini-basquete segue esta norma, inclusive quanto ao tamanho e
pêso da bola. O fato de nesta modalidade ser aceito o empate ao final das partidas, acrescenta mais um importante fator no desenvolvimento da criança, o de afastar naquela etapa do desenvolvimento mental o principio da vitória a qualquer prêço. Mas, é o que acontece em nossa realidade? Federações, clubes, parentes seguem essas básicas e fundamentais normas?
No aspecto individual cremos que não pairam dúvidas do porque desconhecemos os ca-
minhos da arte defensiva. E quanto aos aspectos táticos nas divisões juvenis e adultas, o que sabemos e empregamos em nosso pais?
Em 1971 publiquei na Revista Arquivos da EEFD da UFRJ um artigo que abordava um
sistema defensivo designado como”Defesa Linha da Bola”.Naquela época despontava um sistema de defesa individual que utilizava flutuações longitudinais à cêsta, ou seja, o atacante de posse da bola era marcado classicamente, com o defensor entre ele e a cêsta, pressionando-o com intensidade.Os demais defensores flutuavam em direção à cêsta congestionando a área restritiva, mas permitindo o livre trânsito dos passes, o que originava frequentes arremêssos sem defêsa possível. Uma adaptação posterior recolocava os defensores nas linhas de possiveis passes, mas esta atitude expunha o miolo da área restritiva aos cortes e penetrações.
Desenvolví então um sistema que substituia a flutuação longitudinal em direção à cêsta por uma flutuação lateralizada em função de uma linha imaginária partindo da bola, onde ela estivesse, em direção à cêsta. O atacante de posse da bola continuaria a ser marcado classicamente e com o máximo vigor, e os outros defensores se aproximariam o mais que pudessem da linha imaginária e não mais da cêsta. Esta ação conjunta permitia quase que de uma maneira natural a marcação dos centros pela frente, pois as coberturas se fariam automàticamente e sem espaços fragilizados. No entanto, tratava-se de um sistema que exigia grande carga de treinamento, o que propiciava efetivo aprendizado na complexa arte de defender. Empreguei este sistema como base do treinamento, e quando da mudança para uma defêsa por zona os efeitos
eram formidáveis. Um de meus alunos na UFRJ, e que era um técnico laureado nas divisões de base no Futebol de Salão, pediu-me que o orientasse na possibilidade de empregar o sistema da linha da bola em sua modalidade, substituindo a cêsta por um ponto central da baliza. Depois de alguns mêses fui procurado por ele com a notícia de que havia vencido seus campeonatos,e que o sistema estava se popularizando por todo o estado. Hoje, quando vejo a seleção brasileira de Futebol de Salão, muitas vêzes campeã mundial utilizando integralmente os principios da flutuação lateralizada em função da linha da bola, sinto o gosto amargo de constatar a não utilização do mesmo em minha modalidade, o qual não é utilizado por ser difícil e de lenta progressão no aprendizado.Ser campeão com as defêsas por zona é muito mais fácil e compensador,não importando se amanhã o jovem saberá se defender. Não ensinar energicamente as ações defensivas aos jóvens é o maior ato de covardia e pusilânimidade que um técnico possa cometer.Somente eles são os culpados por esta nossa crônica deficiência.
Teremos chances no futuro? Se pensarmos basquetebol unicamente pelo ângulo das divi-
sões adultas e seleções nacionais afirmo com absoluta precisão,NÃO!
Se nos envolvermos com a formação de base, começando ontem, eu diria com razoável
certeza,TALVEZ!
Mas se houver uma discussão desapaixonada e profundamente ética por parte daqueles
que realmente entendem,estudam,divulgam e amam o jôgo,poderemos vislumbrar dias melhores,COM CERTEZA!

MODIFICANDO ATITUDES

Quando dirigi o Laboratório de Tecnologia do Ensino da Escola de Educação Física da UFRJ ainda na Praia Vermelha, treinava e preparava os funcionários no manejo dos diversos equipamentos audiovisuais utilizados nas aulas teóricas por diversos professores, que já naquela época, início dos anos setenta, se interessavam por aquelas máquinas de difícil manejo. As aulas com diapositivos e filmes realmente ficavam mais interessantes, mas exigia-se um manejo apurado e manutenção permanente. Numa das sessões de filmes os dois funcionários responsáveis inverteram uma rotina ocasionando uma grave quebra no projetor. Ficaram muito abalados e se dispuseram a pagar pelo reparo. No campus ainda funcionava a oficina do núcleo de pesquisas físicas, e um dos técnicos forjou uma nova peça cobrando somente o material empregado, que mesmo assim alcançou uma cifra considerável. Pronto o reparo os dois funcionários já se cotizavam para o pagamento quando intervi dizendo que a conta seria dividida por nós três. Surpresos perguntaram o porquê daquela minha atitude. Mostrei a eles que se os tivesse preparado e treinado com mais precisão, com mais empenho, a quebra não teria ocorrido, e por conta de minha falha a despesa seria rateada pelos três. Não preciso dizer que nunca mais se repetiu a quebra, e que a confiança entre nós todos se solidificou, e o LTE só fez crescer dali para diante.

Por que recordei este fato administrativo ocorrido há tanto tempo atrás? Na minha carreira de técnico de basquetebol aquele fato determinou um comportamento primordial: deu-me a certeza de que o sucesso de uma atividade coletiva só se estabelece com intenso e participativo treinamento, com trocas permanentes de experiências, vivencias, convivências, erros e acertos, e, acima de tudo, com a humildade de encarar o erro de frente, de assumi-lo, discuti-lo e ultrapassá-lo. O jogo em si é o resultado do treino, do entendimento das partes envolvidas na luta, da doação em prol da equipe, das cobranças baseadas em fatos conhecidos e discutidos por todos. Daí, quando de um pedido de tempo, nada do que não foi treinado deverá ser exigido, pois não se deve confundir improvisação com aventura fugaz, pois só improvisa quem domina uma ação, um comportamento, uma técnica, em todos os seus pormenores. Um autêntico músico de Jazz desenvolve suas habilidades de improviso tocando desde as músicas clássicas ao mais puro gênero popular. Enfim, só improvisa quem sabe. Por isso me preocupa sobremaneira o reinado absurdo das pranchetas, pois o que se observa é a improvável fixação, por parte dos jogadores, de movimentos que quase sempre estão sendo pedidos pela primeira vez, fora dos padrões de treinamento, se é que aconteceram. Seria como ao iniciar um combate em um areal em campo aberto se exigisse dos soldados uma performance vencedora quando foram treinados para combates na selva. Recentemente assisti pela televisão um pedido de tempo que me assombrou, pois o técnico de tão centrado em sua prancheta elaborando ações mirabolantes, teve a surpresa de, ao levantar os olhos da mesma, se deparar com o banco praticamente vazio. Os jogadores simplesmente tinham saído sem que o técnico notasse. Lamentável.

Quando da final inesquecível do Campeonato Brasileiro Feminino em Recife, no longínquo 1966, passei todo o primeiro tempo praticamente tentando encontrar uma falha na equipe paulista que me desse subsídios para orientar minha equipe para a vitória. Não encontrava uma falha sequer, e então percebi, por conhecer profundamente as reações das jogadoras, e por tê-las treinado intensamente, que os erros estavam do nosso lado, imperceptíveis mas existentes, e pelo fato de termos aprendido no dia-a-dia a nos conhecer pude com uma simples e compreendida ação mudar nosso comportamento tático. Equilibramos as ações e vencemos na prorrogação, aquele que pode ter sido o último grande jogo entre seleções estaduais. Anos antes do ocorrido no LTE já se cristalizava em mim a grande certeza, aquela que deveria ser a certeza de todo técnico desportivo, a certeza de que cada ser humano tudo pode alcançar, na medida em que trabalhe duramente para consegui-lo, mas dentro de uma outra certeza, a de saber rigorosamente o que está sendo inicialmente pedido, e posteriormente exigido no âmbito de seu horizonte conhecido. Alcançado isto o improviso se torna possível e perfeitamente alcançável. Daí em diante, ao solicitar-se um tempo basta pedir para ser atendido por ser compreendido. Simples, não?

VÍCIOS DO NOSSO COTIDIANO

Quando treinava a grande equipe juvenil do Flamengo de 1965, com Peixotinho, Gabriel, Pedrinho, Robertinho, todos com passagem posterior pela Seleção Brasileira, o grande Togo Renan Soares, Kanela, fazia questão que após o treino de sua categoria participassem também do treino da primeira divisão, preparando-os para assumirem a equipe no futuro. Nesta equipe havia dois norte-americanos, que pouco ou nada entendiam do português. Num destes treinos comandado pelo assistente do velho Togo, me deparei, vindo do vestiário, com a seguinte cena: pedia-se ao Pedrinho ou ao Peixotinho que comandasse as jogadas com ordens em inglês para o entendimento dos norte-americanos. Intervi de imediato, já que eram jogadores da minha equipe, e fiz ver a todos que o correto era que eles, os norte-americanos, procurassem entender o nosso idioma pois estavam participando de uma equipe brasileira. Após um breve mal-entendido com o assistente, eis que um dos norte-americanos se aproximou e disse arrastando nossa lingua: “Coach, o senhor ter razão!”, e nada mais foi discutido.
Quando vejo hoje pela televisão nossos esforçados técnicos dando instruções paralelas, fazendo absoluta questão de demonstrar o quanto falam mal o idioma de nossos irmãos do norte para num espaço de 60 segundos criarem uma confusão digna de Babel, volto no tempo para recordar aquele gigante negro que na maior doçura afirmava “Coach, o senhor ter razão!”.

“E o pivô penetra na área pintada para mais uma enterrada!” E se a área não estiver pintada? O que dizer? Convenhamos, transmissões esportivas são, em qualquer parte do mundo, formadoras de opiniões. Criam hábitos, formam e divulgam atitudes, são extremamente importantes como veículo de conhecimentos para públicos diversos, jovens em particular. Por que não manter a designação “garrafão”? E o pior é que traduzem errado, inventam o que não existe, senão vejamos. Os norte-americanos designam a área restritiva (por ser a zona dos 3 segundos) por Paint, não como se a mesma fosse pintada, e sim com o significado de”moldura”, por envolver a área restritiva. Mas, por que o termo garrafão? A primeira imagem que o Brasil teve das marcações de uma quadra de basquetebol na primeira década do século passado, tinha na área restritiva a conformação idêntica aos garrafões de vinho da época. Essa forma só foi mudada com a adoção, em 1952, da área restritiva que até hoje vigora nos campeonatos universitários dos EEUU. A tradição em português deveria ser mantida como uma conquista da vontade popular, mas o certo, o elegante, o”fashion”, são novas designações, “novos tempos”.

E o que dizer dos palavrões em linha aberta, para todo o território nacional, não em inglês e sim no idioma castiço!? Será que o simples fato de passar instruções técnicas se coaduna com verdadeiros massacres da língua-pátria? Professores, todos vocês estão sendo vistos e ouvidos por muitos jovens, em todos os recantos do Brasil. Eles merecem mais consideração, mais respeito, mais cultura. Incentivo psicológico passa a quilômetros de distância de palavrões e xingamentos. Decisivamente este não é um comportamento educativo. Mas nesse ponto muitos advogam a premissa de que técnico é uma coisa, professor outra. Nem aí copiam bem nossos irmãos norte-americanos, pois todos os técnicos da área estudantil (primária, secundária e universitária) lecionam disciplinas outras que não o basquetebol quando fora da temporada, daí seu prestigio junto às comunidades a que pertencem. Por toda a minha vida profissional sempre dei aulas e sempre treinei equipes, onde as experiências de uma área enriqueciam as da outra, sistematicamente. E este acúmulo de funções e responsabilidades nortearam minhas ações, meu comportamento, minha educação. Prezados colegas, ensinar, pela seriedade da função, não se coaduna com palavrões e xingamentos, tomem cuidado!

Quanto à gesticulação ao lado da quadra, a que denomino da “síndrome da luz vermelha” (pequena, porém brilhante lâmpada piloto que indica uma câmera de televisão em função), vício “importado” de alguns treinadores de futebol que, ao verem a luzinha acesa, desandam a gesticular e falar como se àquela distância algum jogador pudesse ouvir o que dizem. Mas impressiona e dá a entender grande participação no jogo, e também ajuda a manter empregos. Equipes bem treinadas e bem coordenadas dispensam tais coreografias.

Enfim, muitas modificações teremos que adotar para melhorarmos no âmbito desportivo e sugiro, como um razoável começo, que os técnicos saiam de suas auto-suficiências, desçam ao nível do solo, e tentem discutir, trocar idéias, simplesmente se reunir, como fiz no passado ao idealizar, propôr e organizar as primeiras associações de técnicos de basquetebol no Brasil, a ANATEBA, a BRASTEBA e a ATBRJ, e quando após o fracasso em Los Angeles reunia os técnicos cariocas na FE da UFRJ na Praia Vermelha somente para discutir, dialogar, trocar experiências. Tude Sobrinho, Heleno Lima, Ary Vidal, Chocolate, Waldir Bocardo foram alguns que não faltavam aos encontros das quartas-feiras à noite. Como aprendemos, como evoluímos. O basquetebol brasileiro precisa discutir seu futuro, e não serão dirigentes, políticos e afins que resolverão o problema, pois estes só encontrarão resolução com a participação de quem entende, vive e desenvolve o jogo: os técnicos.

Triângulos, Passing game, Pick and Roll e outras bobagens afins…

Peguemos um pedaço de giz e desenhemos na lousa as figuras geométricas de um círculo, de um quadrado, de um pentágono, de um triângulo e uma reta. Em cada uma das figuras tentemos distribuir os cinco jogadores de uma equipe. Em duas delas é possível distribuir igualmente os cinco jogadores, o circulo e o pentágono. No quadrado somente quatro jogadores, na reta, dois, e no triângulo, três. Tanto ofensiva quanto defensivamente, a distribuição no círculo e no pentágono mantém os jogadores distantes entre si, propiciando grandes espaços ao domínio dos jogadores oponentes. No quadrado também se formam esses distanciamentos com menos um jogador. Na reta só é possível a participação de dois jogadores, tornando a ação dos oponentes majoritária. Somente na forma do triângulo podemos exercer superioridade numérica, tanto pela proximidade física quanto pela abrangência visual. Por essa singularidade as formações triangulares sempre foram objeto de estudo pelos grandes técnicos, a partir de Clair Bee, no longínquo ano de 1932, quando da publicação de sua coleção clássica de livros voltados para o estudo do basquetebol. Recentemente alguns técnicos norte-americanos redescobriram a roda, tentando convencer o mundo da criação do sistema mágico dos triângulos. Aqui no Brasil, nos anos sessenta quando as marcações por zona reinavam absolutas, sugeri ao técnico Paulo Cesar do Grajaú T.C., que decidia com o Botafogo o campeonato carioca juvenil, que utilizasse uma movimentação fundamentada em triângulos móveis dentro da defesa por zona, o que resultou em total domínio ofensivo.Um pouco mais adiante utilizei a mesma movimentação no Campeonato Brasileiro Feminino em Recife, quando vencemos a grande equipe paulista, magnificamente treinada pelo mítico Campineiro. A movimentação dos triângulos móveis é utilizada até os dias atuais por alguns técnicos que não se deixaram enfeitiçar pelo modelo NBA de passes quilométricos em contorno do perímetro da cesta. Há de se convir que para um limite de 24 segundos, o excesso de passes torna os arremessos precipitados e, por conseguinte, desequilibrados. A figura da reta somente propicia uma ação ofensiva, que é o “Dá e Segue” (Pick and Roll?), que muitos narradores teimam em rotular como uma ação triangular, pelo fato de um dos jogadores se deslocar de um ponto para outro para conseguir a posse da bola.Toda ação ofensiva visando a supremacia numérica em uma determinada área da quadra é fundamentalmente triangular, fator descrito desde os anos trinta pelos autores clássicos do jogo como Nat Holman, Clair Bee, John Bunn e Forrest Allen, nenhum deles mencionados pelos descobridores do Sistema dos Triângulos. Oportunistas também existem pela terra de Tio Sam, ainda mais pelo peso dos dólares do profissionalismo desenfreado.

Gostaria de tentar explicar o que vem a ser e o porquê da existência do Sistema de Passing Game, tão apaixonadamente adotado pela maioria dos técnicos brasileiros, e de tão funesta influência sobre o nosso modo de jogar. Como é do conhecimento de todos, até os anos sessenta vigorava no basquetebol universitário americano o tempo ilimitado de posse de bola após a ultrapassagem do meio da quadra. Essa característica dava aos técnicos o tempo que quisessem para fazer com que suas equipes utilizassem não uma, mas quantas movimentações fossem necessárias para suplantar a defesa. Com o advento dos 45 segundos tornou-se necessária a adoção de uma movimentação que mantivesse os jogadores presos ao comando tático exercido pelos técnicos de fora das quadras. A troca seqüencial de passes propiciava esse comando, e mesmo quando da diminuição de 45 para 35 segundos de posse de bola ele foi mantido.O jogo baseado no drible determinava ações que fugiam do rigor tático e, por conseguinte, do controle das ações pelos técnicos. O Passing Game preenchia essa necessidade de controle das ações ofensivas por parte dos técnicos, dando aos mesmos todo e qualquer poder decisório.Transformaram as ações ofensivas em coreografias, onde quase todos os movimentos eram determinados pela vontade deles, mesmo não participando das ações diretas. Nascia também a influência das pranchetas, até hoje presente na maioria esmagadora dos jogos. O jogo com a limitação de posse de bola nos 24 segundos só é utilizado nos Estados Unidos entre os profissionais, mas a utilização do Passing Game ainda é mantida, graças a um estratagema inteligente, a obrigatoriedade das defesas individuais ou por zona não se beneficiarem das flutuações, fator que inviabiliza o confronto de um contra um. No caso do basquetebol jogado pelas regras internacionais, com a permissão de flutuações laterais ou longitudinais à cesta, o Passing Game como o empregado pelos profissionais americanos transformou-se em um festival de erros e precipitações nos arremessos ocasionados pela premência de tempo, pois 24 segundos sob as ações permitidas às defesas pelas regras internacionais limitam criticamente as liberdades que as mesmas detêm sob as regras da NBA. Esses fatores só se tornam visíveis quando os profissionais jogam sob as regras internacionais, e mesmo seus fracassos recentes não fazem com que nossos técnicos reconheçam o quanto estão enganados ao adotarem tal sistema. O poder da propaganda, com uma mídia bem direcionada e mundialmente divulgada obliterou em muito a capacidade de pensar e de analisar de técnicos, críticos e jornalistas envolvidos com os fundamentos do jogo, quando para a maioria as “enterradas”, os “double-doubles” e os “triples-triples” passaram a ser a essência do jogo. Alguns países já tentam superar essa globalização do “basquete internacional” e o resultado das últimas olimpíadas atesta bem isto. Só espero que os técnicos brasileiros acordem de seus berços esplêndidos e voltem a estudar e a soerguer nossa verdadeira maneira de jogar, pois não foi jogando como jogamos hoje que conquistamos dois campeonatos mundiais e três medalhas olímpicas entre os homens, e um campeonato do mundo e duas medalhas olímpicas entre as mulheres. Muito trabalho temos pela frente, e podemos começar pelas atitudes mais básicas em qualquer manifestação humana, humildade e muito estudo.

Basquetebol brasileiro-Fracasso ou omissão?

Por 44 anos venho lutando pelo basquetebol no Brasil, e gostaria de fazer desta página um fórum de discussão acerca dos diversos motivos que levaram essa modalidade ao retrocesso que constatamos, infelizmente, em nosso país. Para dar partida peço licença para, na forma de um pequeno artigo, expôr algumas constatações que ao longo dos anos testemunhei como técnico e professor de futuros técnicos. Em 1963, no Ginásio Gilberto Cardoso no Rio de Janeiro, a equipe masculina do Brasil sagrou-se bi-campeã mundial em uma final com os Estados Unidos, resultado que muitos e atuais jogadores, técnicos, jornalistas e dirigentes teimam em minimizar a qualidade do basquete praticado na época.Na equipe americana seis dos jogadores se profissionalizaram na NBA, onde atuaram por mais de 6 anos, sendo que um deles, Willis Reed, faz parte do Hall da Fama como um dos cinco maiores centros de todos os tempos com suas atuações no New York Knicks. Na equipe brasileira atuavam maravilhosos jogadores com Amauri, Wlamir, Rosa Branca, Ubiratan, Menon, Jatir e muitos outros que fizeram do jogo um espetáculo inesquecível. Quatro deles arremessavam de distâncias equivalentes à linha dos três pontos atuais, Jatir, Vitor, Rosa Branca e Amauri, o fazendo com uma bola de 18 gomos costurados à mão, com uma esfericidade que nem de longe se comparavam às verdadeiras jóias tecnológicas das bolas atuais, corrugadas e com sulcos profundos onde os dedos encontram base e aderência para exercerem total domínio direcional nos arremessos. Tivessem na época tais bolas e uma linha de três pontos todas, afirmo, todas as vitórias da equipe brasileira teria ultrapassado os 100 pontos. Jogávamos com dois armadores, dois alas e um centro, num rodízio permanente de posições, compensando com velocidade e astúcia a inferioridade na altura, principalmente os centros.Jogava-se com a bola nas mãos, em pleno domínio da arte do drible, onde os passes faziam a ligação que antecedia o arremesso, e sempre com um mínimo de três jogadores participando dos rebotes. Por anos dominamos a arte do drible e dos rápidos corta-luzes, onde os armadores dominavam a maior das habilidades, criar espaços onde não existiam, progredir em direção à cesta, estabelecer a superioridade numérica sempre que possível, arremessar como opção, e não como prioridade. Os alas e o centro em permanente rodízio iam sempre de encontro ao passe e não esperando por ele estaticamente. Antecipando o movimento sempre conseguiam o melhor posicionamento ofensivo, obrigando os defensores a se movimentarem e por conseguinte desestabilizarem suas ações. Enfim, jogava-se com a bola sob domínio físico e não, como hoje, sob o domínio do absurdo passing game. No final dos anos setenta e inicio dos anos oitenta a NBA se encontrava numa fase de afirmação econômica. Era necessário levar público aos ginásios, era fundamental encontrar-se um sistema de jogo que privilegiasse o um contra um, em duelos dentro do jogo, se possivel entre gigantes, e melhor ainda se entre brancos e negros.Nascia o passing game, formula perfeita para gerar duelos individuais, e melhor ainda se respaldado pela proibição da defesa por zona e pela flutuação na defesa individual. Não se ia aos ginásios para ver Lakers versus New York, e sim Jabar versus Willis Reed. O gosto do torcedor americano pelo embate de gigantes no Boxe, no Football teria de ter sucedâneo no Basketball para que despertasse seu altamente lucrativo interesse. O passing game era a solução técnica, como os embates um contra um seria a solução financeira. A divulgação maciça pela mídia, principalmente a televisiva lançou ao mundo o modelo NBA, que com o sucesso alcançado motivou o governo americano a utilizá-lo como sutil propaganda de sua superioridade esportiva, cultural e política perante o mundo. Cometeram um erro porém, ao subestimar a importância das regras internacionais, ao subestimar a FIBA, estando hoje colhendo alguns fracassos pela inabilidade de seus jogadores quando submetidos às mesmas em mundiais e recentemente nas olimpíadas. Mas no caso do Brasil o estrago já tinha sido letal. Nos últimos 20 anos mudamos nossa forma de jogar e adotamos o modelo NBA, o modelo baseado no passing game. Nossos armadores empolgados pelo um contra um passaram de organizadores para finalizadores, esqueceram a arte do drible, assim como os alas simplesmente a aboliram. Da posição básica no ataque, com a bola de encontro ao peito, prontos para o drible, o passe ou o arremesso, retrocederam para a posição da bola acima da cabeça, simplesmente para a execução do passe, dando continuidade a verdadeira coreografia em que se transformou o jogo, ao passing game. O”basquetebol Internacional”, como muitos apregoam, realmente se estabeleceu pela maioria dos países, pois subserviência cultural não é prerrogativa do Brasil, no entanto, alguns deles não descuidaram do ensino dos movimentos básicos, e cito a Argentina, a antiga Iugoslávia, a Lituânia e a Russia como exemplos. Conseguiram os mesmos manter um excelente nível no domínio dos fundamentos, principalmente o drible, e hoje colhem os resultados desta saudável atitude. Ao esquecermos nossa herança de duas vezes campeões do mundo e três vezes medalhistas olímpicos, mergulhando numa mediocridade técnica na tentativa de imitarmos um sistema planejado, estudado e executado para a manutenção do domínio do modelo NBA, esquecemos também que fundamentando o modelo americano sempre existiu a massificação de jogadores nas escolas e nas universidades, ao contrario da pobreza franciscana de nossa realidade. Transpor modelos estrangeiros fora de nossa realidade é a atitude mais estúpida que se possa tomar, mais é sem dúvida nenhuma a mais fácil de ser utilizada por um grupamento de pseudo técnicos que determinaram omitir nossa passada grandeza em nome de uma realidade absurda e irresponsável. Em 1971 sugeri e ajudei a fundar a primeira associação de técnicos de basquetebol do Brasil, a ANATEBA, onde exerci o cargo de secretário. Mais tarde, em 1976 também ajudei a fundar a BRASTEBA da qual fui o vice-presidente, e no Rio de Janeiro a ATBRJ que como as anteriores logo se desintegraram. Mais recentemente fundou-se em São Paulo a APROBAS, que encontra sérias dificuldades para expandir-se. O fator restritivo é, como foi no passado, o total desinteresse pela discussão dos problemas técnicos, culturais e até sociológicos que submetem nosso desporto aos interesses de um grupo que se apossou do comando do mesmo, um feudo, onde alguns empunham microfones para em transmissões esportivas criticarem e oferecerem soluções táticas e técnicas, visando empregos futuros nas equipes de ponta, numa flagrante falta de ética profissional, já que do outro lado não existem microfones para a defesa. Sofremos de um unilateralismo crônico, ontem no aspecto de sistema de jogo, hoje de divulgação de um modelo em que somente um dos lados exerce o domínio da informação. Sempre tivemos bons e maus dirigentes, grandes e pequenos técnicos, perene falta de incentivos, pouca divulgação da modalidade, intercâmbio pouco desejável, mas alcançávamos resultados, discutíamos mais, e às vezes até brigávamos , procurando adaptar novas tecnologias e novos sistemas à nossa realidade, enfim, sabíamos administrar nossa pobreza. Hoje reina a omissão e prevalece a mesmice, a copia a falta de imaginação e a ausência de criatividade. E a classe que no fim das contas é a que dita as normas de conduta técnica, de sistemas de jogo, de estratégias a serem seguidas, dentro e fora das quadras, é a classe que peca pela omissão, por que de todas as envolvidas no processo decisório é a que tem por obrigação deter o domínio e o conhecimento do jogo. Por isso considero serem os técnicos, que por seus conhecimentos, estudos e pesquisas deveriam comandar e estruturar as políticas referentes ao desenvolvimento do jogo, os grandes responsáveis pelo seu declínio, por negarem as tradições, os conceitos e a verdadeira índole de nossos jovens, ao trocarem esses valores por soluções estrangeiras sem as devidas adaptações por ser uma solução fácil e desprovida de responsabilidades. Podemos fugir deste modelo? Difícil, porém possível. daí a sugestão para o debate. Até o fim do ano publicarei meu livro, onde estenderei ao máximo esses pontos de vista, e aí sim poderei expôr com todas as letras o que vivi, senti e experimentei nos últimos 40 anos de basquetebol.

Amém.

Basquetebol brasileiro: fracasso ou omissão?

Por 44 anos venho lutando pelo basquetebol no Brasil, e gostaria de fazer desta página um forum de discussão acerca dos diversos motivos que levaram essa modalidade ao retrocesso que constatamos, infelizmente, em nosso país. Para dar partida peço licença para, na forma de um pequeno artigo, expor algumas constatações que ao longo dos anos testemunhei como técnico e professor de futuros técnicos.

Leia mais »

Iniciando meu Blog

Prezados amigos, estou iniciando a publicação de alguns artigos sobre basquetebol fundamentados em minha experiência de mais de 40 anos nas funções de técnico e professor, na formação de jovens e na direção de atletas de alto nível, tanto masculinos, como femininos.

Leia mais »