SÓ MAIS UM POUQUINHO…

Harden e sua saga.

Aí estão os playoffs, os daqui e os lá da  matriz, com suas excentricidades e adaptações aos tempos modernos, como as absurdas mudanças nas regras centenárias,  beneficiando a chutação de três do agora decadente Harden, com seu anacrônico step back, oportuna encomenda beneficiando seu arremesso de três, que começava a ser contestado, e a passada zero, instituída para acelerar penetrações concluídas  com enterradas cinematográficas, que claro, com um tempo rítmico a mais dos dois antes permitidos (cada tempo rítmico compondo uma passada), poucas seriam as chances de um defensor bloquear a investida, mudanças estas que comprometem seriamente a essência do grande jogo, transformando-o num handebol de péssima qualidade. Tais mudanças não têm encontrado boa aceitação de muitas arbitragens, daqui e lá de fora, que mantém as infrações de andar com a bola, num movimento que poderá desencadear a revisão das mesmas, o que seria excelente para o grande jogo…

Assistimos, também, que nada, ou pouquíssima coisa mudou em nossa forma padronizada e formatada de jogar, com as poucas licenças táticas contabilizadas em nome dos novos gênios das pranchetas, como, segundo relato de alguns comentaristas, jogar com dois armadores de ofício, e três pivôs leves e rápidos próximos a cesta, fosse algo de revolucionário nascido da excepcionalidade de suas cabeças, e não algo de há muito existente, por aqui mesmo, neste carente, espoliado e judiado basquetebol tupiniquim, alçado a sistemas de ponta criado pelas mesmas, sob o aplauso e a admiração de seus contumazes torcedores midiáticos, puxa sacos profissionais que são em sua esmagadora maioria, onde as corretas e pouquíssimas exceções pouco contam, mais que galhardamente existem e, por que não, subsistem…

O derrotado mural…

O que dizer, entretanto, das tentativas, cada vez mais exitosas, de um mercado mais bilionário a cada temporada, de transformar o mais completo e exitoso jogo de equipe, numa modalidade individual, onde seus grandes expoentes batem recordes continuamente, sem, no entanto, levar suas equipes ao pódio vencedor por sua atuação coletivista, heróis estes que projetam suas imagens humanizadas ou virtuais por sobre cidades e nações, envoltos em suas egolatras personalidades, que nada somam ao princípio coletivista e solidário que deveria emanar de suas equipes, balizando os caminhos a serem percorridos por uma juventude necessitada do apoio comunitario, fator básico e transcendental para suas vidas no futuro, como atletas e cidadàos…

Só mais um pouquinho de tempo nos separa da hora da verdade para o nosso basquetebol, afinal, o ciclo abreviado para Paris 24 está em curso, e competições classificatórias ao mesmo ocorrerão muito em breve, quando aferiremos quão geniais são nossos comandantes na direção de jogadores nacionais, sem os fundamentais estrangeiros que compõem suas equipes, atuando ou exemplificando uma forma de jogar negada aos nossos, pelo desconhecimento dos mesmos do ferramental que justifica e exequibiliza o grande jogo, desde sua formação de base, os fundamentos individuais e coletivos, sem os quais cabeças e genialidades jamais funcionarão, sejam os sistemas que forem, ofensivos e defensivos, tendo ou não as estrelas fabricadas a sombra dos pseudos ícones que habitam e festejam a grande matriz do norte, principalmente em nossas seleções…

Só mais um pouquinho para aferirmos o que nos espera, e para reforçar tal argumento, republico a seguir o artigo Daqui a Pouco, publicado em 30 de janeiro deste ano, num relato que deveria ser debatido com ardor e conhecimento, por todos aqueles que amam e admiram o grande, grandissimo jogo, neste imenso, desigual e injusto pais.

Amém. 

Fotos – Reproduções da Internet. Clique duplamente nas mesmas para ampliá-las.  

DAQUI A POUCO…

quarta-feira, 26 de janeiro de 2022 por Paulo MuriloSem comentários

Cinco abertos, chega e chuta, e estamos conversados…

No artigo Reféns aqui publicado recentemente, uma tabela contabilizava os últimos sessenta jogos do NBB, e o que ele representava de negativo para o nosso basquetebol de elite –

Vejamos agora o resultado dos seguintes sessenta jogos do referido NBB:

Arremessos de 2 – 1903/3652  52.1%

Arremessos de 3 – 893/2836    31.4%

Lances livres       – 1203/1684  71.4%

Erros de fund      –  1306           21.7 pj

Concluindo, para os 2 pontos, na média, converteram 31.7 e perderam 60.8 tentativas; Nos 3 pontos, 14.8 e 42.8, nos LL, 20.5 e 28.0, mais os 21.7 erros de fundamentos.

Comparemos agora com a tabela final do torneio Super 8 (7 jogos), finalizado no sábado, com a vitória do Minas TC sobre o São Paulo FC-

Arremessos de 2 – 251/482  51,5%

Arremessos de 3 – 147/432  33,3%

Lances livres       – 161/234  68,8%

Erros de fund     –  142         20,2 pj

As médias finais foram de 35,8 tentativas convertidas e 68,8 perdidas por jogo nos 2 pontos, 21,0 e 61,7 nos 3 pontos, e 23,0 e 33,3 nos lances livres, números condizentes com os da temporada regular em seus 120 jogos realizados.

Chegamos então a triste conclusão de que, na divisão de elite do basquetebol tupiniquim, os parâmetros de 70, 60 e 90 da elite internacional, está a muitas léguas de distância da nossa realidade, que decresce ainda mais nas divisões de base, principalmente na constrangedora teimosia do chega e chuta solidamente estabelecido…

Se considerarmos serem participantes do torneio, as oito equipes de melhores números na liga, poderemos exercer um pequeno estudo sobre alguns fatores que nos aflige:

– Estamos, como desde muito estivemos, muito mal nos fundamentos básicos do jogo, e de tal forma que, fica determinada a ofensiva em leque, ou seja, os cinco jogadores abertos, fora do perímetro interno, inclusive os alas pivôs, para, de forma avassaladora partirem para a cesta em largas e velozes passadas, a fim de sobrepujar defensores falhos e equivocados, quanto a correta maneira de brecá-los pela boa e eficiente técnica defensiva. Só que, mesmo tomando a frente do defensor, fatalmente encontrará coberturas eventuais, e nesse momento, os princípios técnicos de trocas de mãos e de direção se chocam com a dura realidade de não dominá-los, perdendo o controle da bola, e até das passadas. Com muita sorte, conseguirá uma falta pessoal a favor, ou desfavoravelmente, uma contra si próprio. Muitas e muitas jogadas dessas tem acontecido dentro do errôneo princípio dos “cinco abertos”, a grande arma do atual arsenal dos estrategistas de plantão, plenamente convencidos do poderio da armada americana/argentina que floresce a cada temporada nas franquias, em contraponto a fraqueza de nossos jogadores nesse quesito, onde se torna cada vez mais corriqueira a presença em quadra de quatro estrangeiros e um único representante nacional do “jogo que você nunca viu, o NBB”…

Espaço para embalar…E consequente bloqueio

E os caras estão dando as cartas de verdade, tornando uma falsa realidade a glória de muitos dos estrategistas de comandar uma equipe em que o idioma pátrio seja o menos falado, mesmo balbuciando muito mal os idiomas dos caras, que não estão nem aí para taís e insignificantes detalhes, quando o que importa é botar a bola embaixo dos braços, combinarem-se com seus pares, e barbarizarem ao seu modo, vencendo ou perdendo, dentro de um nicho de mercado garantido pela pobreza colonizada daqueles que os pensam dirigir, mas se comportam e agem como meros torcedores de beira de quadra, num erro estratégico que nos cobrará, em breve, um altíssimo preço…

Por acaso, o técnico da nossa seleção poderá contar com esse exército de estrangeiros meia boca em sua maioria no tremendo esforço para a classificação a Paris 2024? Sua solidificada proposta do chega e chuta (nos três artigos anteriores disseco essa proposta, inclusive com  fartos números), agregada ao princípio (?) da abertura em leque acima citada, ambas somadas a dura realidade de nossa carência maior, a defensiva, fundamento absolutamente desprezado desde a formação de base, gerando uma realista e justa apreensão, pelo simples fato de não possuirmos o domínio das técnicas básicas nos fundamentos do jogo, fator que sobra abundantemente nas equipes europeias, americanas, e por que não, argentinas também…

Internacionalmente nos apresentaremos com jogadores nacionais, pensando atuar como se estrangeiros fossem, abrindo em leque para os 1 x 1 de praxe, chutando com ou sem contestações, correndo, saltando e trombando mais ou menos próximos a eles, porém sem os conhecimentos fundamentais da base do grande jogo, e o pior, sem o salutar conhecimento e prática do fundamento maior, a arte de defender, defender, defender, que é aquele responsável pelo desenvolvimento de todos os outros, os ofensivos em particular, praticados individualmente, e acima de tudo, coletivamente…

Pensa realmente nosso head coach que possuímos tal tecnicismo atuando taticamente, como todas as equipes que enfrentaremos atuam em seu sistema único, enriquecido pelo pleno domínio dos fundamentos, mesmo em dupla armação e três alas pivôs ágeis e rápidos, porém sem o domínio daqueles, pensa mesmo?…

Acredito e temo que sim, pois se “atuam daquela forma e vencem, por que não nós também”, por que não? Afinal, parece que temos os melhores arremessadores de três do mundo, ou não? Grande parte de nossos jogadores acreditam piamente que sim, açodados e incentivados por nossos estrategistas, dirigentes, agentes, narradores e comentaristas, verdade ou ilusão?…

Veremos mais adiante, e já os vejo tropeçando em suas próprias pernas ao se verem marcados de verdade, anuladas suas tentativas de três ao se sentirem contestados e serem obrigados a alterar suas trajetórias, perdendo eficiência, e o mais emblemático, terem seus armadores (se jogar com dois), forte anteposição, sem ajudas, pois atuam no sistema único, onde um deles faz o papel de um ala (o tal armador 2), numa composição fajuta para não fugir do tal sistema, quando deveriam atuar o mais próximos possível, propiciando entre ajudas e bloqueios realmente eficientes fora do perímetro, enquanto os três grandes se situam no interno em constante movimentação, prendendo seus marcadores junto a si, em qualquer direção que se locomovam, criando espaços e brechas indefensáveis, a não ser com faltas pessoais…

Mas que nada, pois na concepção atual desses “gênios estratégicos”, sempre existirá um corner player para matar de fora, como acontece frequentemente com nossas fraquíssimas defesas, ao dobrarem sobre os que penetram, pois não dominam as técnicas de defesa 1 x 1, prato feito para as equipes estrangeiras de elite, que a executam com maestria…

E a pergunta que não quer calar inquire: Temos esses jogadores a nível dos que enfrentaremos?  Talvez uns dois, no máximo, porém irremediavelmente atrelados ao indefectível e profundamente burro sistema único, manipulado de fora para dentro das quadras, tendo pranchetas midiáticas e analfabetas na função de mensageiras de hieróglifos ininteligiveis que só funcionam na cabeça de uma turma absolutamente crente de que dominam o grande jogo, minúsculo para a imensa maioria deles todos, aos quais tentei alertar desde sempre em um artigo de a muito publicado, porém pouco levado a serio, infelizmente…

No entanto, uma conclusão pede passagem, a de que atuando em conformidade com as equipes do alto nível que utilizam o sistema único, porém dominadoras dos fundamentos básicos do jogo, jamais teremos chances de grande sucesso, já que altamente carentes no domínio dos mesmos, que é a base exequibilizadora deste ou de qualquer sistema de jogo, por mais simples que sejam, e que são resultantes de uma séria e poderosa formação de base e contínua aprendizagem e aperfeiçoamento nos mesmos, por toda a vida de um jogador…

Enquanto não atingirmos este patamar, urge que joguemos de forma diferenciada, profundamente coletivista, em ajuda constante, com conclusões mais próximas a cesta, logo, mais precisas, condicionando os longos arremessos a condição de complementos, e não básicos de uma equipe, como hoje ousam praticar, com resultados assustadores de tão ruins e perdulários, com acentuadas perdas de tempo, esforços físico e mental…

Quanto ao sistema defensivo, é preciso investir pesado na formação de base, assunto que defendi e aconselhei num recente artigo, e que mesmo carentes individualmente, passemos a defender na Linha da Bola, onde uma flutuação lateralizada compensa bastante falhas individuais, facilitando o posicionamento nos rebotes, pois seus princípios de cobertura se fazem bem mais coerentes e lógicos do que em flutuações longitudinais a cesta…

Atuando com dois armadores, jogando próximos, ajudando e interagindo juntos, alimentando continuamente os jogadores altos em deslocamento constante dentro do perímetro, mantendo seus defensores permanentemente no ! x1, garantindo dessa forma espaços cruciais, mesmo que pequenos, no âmago defensivo, propiciando conclusões perto da cesta, mais precisas e objetivas, com possibilidades reboteiras sempre presentes e atuantes, até mesmo para dificultar contra ataques adversários, possibilitando, inclusive, ótimos passes de dentro para fora, dirigidos aos especialistas de verdade nos longos arremessos, encontrando-os relativamente livres para conseguir bons resultados, colimando um princípio renegado por muitos, de que de 2 em 2 e 1 em 1, podemos atingir grandes placares, onde os tiranbaços de fora estariam restritos, por  sua baixa produtividade, como recurso complementar, e não prioritário, como estamos vendo a cada dia que passa…

Neste Super 8, venceu a equipe do Minas TC, título que, sem dúvida, deve ser comemorado, mas, que no entanto, sacramentou o novo ideário do basquetebol nacional, praticado por todos os integrantes da Liga, conceituando claramente o caminho técnico tático a ser trilhado daqui para frente, cujos reflexos, sem a menor das dúvidas, pautarão o comportamento dos jovens que se iniciam no jogo, e o mais impactante, definirá o comportamento de nossas seleções nos embates internacionais que nos aguardam…

Daqui a pouco estaremos frente a frente com a realidade classificatória, no masculino e feminino também, quando aferiremos, por mais uma vez, a quanto andamos na busca de um processo evolutivo que se esvai década após década, motivado por uma cegueira inconcebível, já se fazendo tarde, bastante tarde, um reencontro com nossas raízes, esquecidas raízes, que nos tornaram, no século passado, a terceira força do basquetebol mundial, o grande, grandíssimo jogo que teimamos em esquecer, nesse imenso, desigual e injusto país…

Que os deuses nos ajudem.

Amém.

`Foto – Reproduções da TV. Clique duplamente nas mesmas para ampliá-las.

ABSOLUTAMENTE NADA…

O Prof. Sergio Machado, o grande Sergio Macarrão, medalhista olímpico em Tóquio, autor e editor do blog Kick da Bola, veiculou esse artigo em 21/5/2012, quando divulgou uma troca de mensagens entre mim e o Heleno Lima, onde comentamos as contundentes derrotas de nossos jovens sub 15 para argentinos e uruguaios, num final de ciclo olímpico para Londres, e o início de outro para a Rio 2016. 

De lá para os dias de hoje, após o ciclo Toquio 2021 resta uma pergunta – O que mudou em nossa formação de base ? Resposta? NADA…

* Colando do Professor Paulo Murilo

       Ressonância Magnética do Basquete Brasileiro

       Já citei aqui no blog, mais de uma vez, o Paulo Murilo, um dos ‘craques’ que formou a geração mais vitoriosa da história do basquete do Rio de Janeiro. Foi um tempo, onde a formação era espaço para professores. Quem ensinava sabia o que estava fazendo, onde queria chegar e como. Éramos todos meninos, Paulinho um pouco mais velho, mas já era técnico. Já era um dos ‘craques’. Epaminondas, Gleck, Barone, Paulo Murilo, Geraldo Conceição, Tude Sobrinho, Afro, Olímpio, Passarinho, entre outros, cada um em seu clube, formaram a geração que em 6 anos venceu 5 brasileiros de juvenis. (Assim como hoje, São Paulo dominava, e para surpresa do Brasil, o Rio acumulou essa série de títulos.) Heleno, também foi técnico de ponta no Rio, um pouco depois desses dias. Meu colega na faculdade, e profundo conhecedor de basquete.

      Recebi uma troca de e-mails entre os dois onde se comentava a recente derrota do Brasil para a Argentina no Sul-americano Sub-15 por mais de 40 pontos. Paulo Murilo fez um “triple double”, e por ele autorizado, publico aqui. Todas as loucuras que acredito, ditas dessa forma, nem parecem ser tão loucas assim. Parabéns Paulinho, obrigado. Como te disse, me senti muito melhor quando te li.

———- Mensagem encaminhada ———-

De: heleno lima <helenolima@hotmail.com>

Data: 19 de maio de 2012 13:57

Assunto: RE: BASQUETE ARGENTINO DA UM SACODE NA SELEÇÃO BRASILEIRA SUB-15 MASCULINA

Para: clippingdobasquete02@gmail.com

       Trabalhei muito nestas categorias. A diferença de um ou dois anos é muito grande. Diferenças desaparecem com o tempo à medida que ficam mais velhos. Nós levamos uma equipe com quatro jogadores de 15 anos, sete jogadores de 14 anos e um de 13 anos.

    Podem ter certeza isto explica tudo. Se foi estratégia foi errada. Não é possível que tenhamos somente quatro jogadores de 15 anos em condições de defender nossa seleção da categoria. Tem que haver uma explicação coerente a respeito disto. Levar uma diferença dos portenhos (Uruguai e Argentina) de 64 pontos não tem cabimento. Existe algo errado nisso. Gostaria de ouvir o Prof. Paulo Murilo que entende disso mais do que eu.  

       Prof. Heleno Lima

      O Clipping do Basquete do Alcir Magalhães veiculou a matéria acima, que culmina com o pedido do técnico Heleno Lima para ouvir minha opinião a respeito. Trabalhamos juntos no vencedor projeto do Olaria AC nos anos oitenta, com praticamente todas as categorias, do infantil à primeira divisão, com muita seriedade e competência, num tempo em que a formação de base, não só no Rio, como em muitos estados brasileiros, fluía e se desenvolvia, abastecendo as divisões superiores com jogadores bem treinados nos fundamentos e nos sistemas de jogo, com ótimos técnicos e professores, até o momento em que a modalidade se viu afastada dos clubes pela falta de incentivos e investimentos, até alcançar o estado de penúria em que se encontra.

    Some-se a esta realidade, outra mais perversa ainda, a decadência do ensino do basquete nas escolas superiores de educação física, que deixaram de oferecer três semestres da modalidade, assim como em outras, como o vôlei, o handebol, o futebol, a natação, o atletismo, passando-as a um mínimo insignificante, substituído-as por disciplinas voltadas às áreas médicas, como as fisiológicas, biomecânicas, psicológicas, etc., que passaram a ocupar as grades horárias prioritariamente, numa formação voltada à saúde, como resultado das anexações das escolas aos centros de ciências da saúde, em vez dos centros de formação de professores, onde estavam historicamente situadas. A realidade é que hoje a maioria destas escolas formam paramédicos de terceira categoria, fornecendo pessoal a academias e consultórios, como força de trabalho explorada pelas holdings do culto ao corpo que se espalham velozmente por todo o país, e com uma agravante a mais, com uma formação mais voltada aos cursos de bacharelato do que os de licenciatura, numa inversão absoluta de valores voltados ao processo educacional do país, com o abandono das escolas para a educação física e os desportos.

    Claro que a formação de base se ressente profundamente dessa formação nas universidades, refletindo tal despreparo didático pedagógico nas formações de base de todas as modalidades, que não encontram na maioria dos clubes os subsídios mínimos para suprirem tão vasta deficiência de ensino.

    Por conta de tal situação, ex-jogadores e até leigos são transformados em técnicos formadores, deficientes em tudo o que se refere ao processo educacional de jovens, mas sempre prontos ao sucesso rápido que os catapultem às divisões superiores e melhores salários, situações estas que os poucos convenientemente bem formados não conseguem equiparar, não só por serem minoria, como, e principalmente, por se tornarem onerosos por suas qualificações legais. Por conta dessa distorção, a maior parte dos jovens iniciantes ficam pelo caminho, e aqueles poucos que conseguem prosseguir o fazem eivados de defeitos e limitações, basicamente no instrumental mais precioso para a prática e o domínio do grande jogo, seus fundamentos.

     Outro e incisivo fator define tal situação com grande precisão, a padronização formatada de cima para baixo no preparo daqueles poucos egressos de uma formação altamente deficiente, por parte de federações alinhadas com uma confederação mentora de um único sistema de jogo, cuja maciça divulgação se faz através de clínicas e de cursos patrocinados por uma ENTB totalmente voltada ao mesmo, onde o planejamento, a aprendizagem e fixação do sistema suplanta em muito o ensino, que deveria ser maciço, dos fundamentos,  no que deveria ser o objetivo central a ser alcançado, pois nivelaria todos os jovens jogadores, independendo de funções, estaturas e posições, no pleno conhecimento das técnicas individuais e coletivas que os tornariam aptos aos sistemas de jogo que mais adiante conheceriam e treinariam, sempre respeitando suas individualidades e amadurecimento físico e emocional, variantes que oscilam de individuo para individuo.

     Por tudo isso caro Heleno, é que sempre me insurgi contra esta situação altamente irresponsável, e muitas vezes criminosa, por parte daqueles que ousam querer implantar formatações e padronizações em crianças e adolescentes, da forma mais absurda e, torno a afirmar, irresponsável possível.

    Os 64 pontos acumulados por nuestros hermanos, refletem essa catástrofe, com a mais séria das consequências, por se tratar do futuro do grande jogo, da categoria competitiva inicial, e que não merece ser tratada de forma tão abjeta. Se mudanças têm de ser feitas, é por aí que deverão começar, pela entrega da formação a pessoas qualificadas, altamente qualificadas, as mais qualificadas que possamos recrutar, de uma comunidade que pertencemos, eu e você num passado não tão distante assim, a comunidade daqueles que real e responsavelmente conhecem, estudam, pesquisam, divulgam e ensinam o basquete como deve ser ensinado. E você, como eu, sabemos que existem esses profissionais, só que nunca lembrados, sequer consultados, por quem deveria fazê-lo.

    Heleno, frente a esta realidade, o que mais dizer?

    Amém.

Foto – Reprodução da TV. Clique duplamente na mesma para ampliá-la.

*

Postado há 21st May 2012 por Sérgio Macarrão

QUANDO O NADA REPRESENTA TUDO…

Brilhantes, históricos jogadores e a camisa símbolo desterrada.

Minha gente basqueteira, vejam esse artigo publicado em 9/3/13 aqui nesse humilde blog, lembrado por um leitor mais atento, e que reporta a um assunto “do momento” por que passa o grande jogo, nesse imenso, desigual e injusto país, e que nem a atual administração das nossas CBB e LNB ousaram modificar, ou simplesmente focar junto às cabeças pensantes ainda existentes (são poucas, mais aí estão ao relento…), que realmente conhecem e entendem o grande jogo, nos níveis municipais, estaduais e federal…

A continuar esse desmonte proposital e interesseiro, do que realmente embasou técnica, tática e estrategicamente o outrora, brilhante e vencedor basquetebol brasileiro, bem sabemos onde iremos mergulhar, bem mais fundo que o poço em que nos encontramos, frente a tanta ignorância institucionalizada…

Logo mais, pelas semifinais da NCAA, poderemos constatar os passos modificadores de tudo que aí se estabeleceu como “basquetebol moderno”, quando equipes raramente ultrapassam os 20 arremessos de três, atuam fortemente no perímetro interno, defendem vigorosamente nos dois perímetros (fruto das regras de 40″ nas high schools, e 30″nas universidades, fatores que ampliam sobremaneira a intensidade defensiva), e onde a predominância dos fundamentos básicos se faz presente em todas as equipes, em todas as posições de seus integrantes, indistintamente…

Então, frente a tantas evidências da mais absoluta falta de bom senso, ecoa num vazio inescrutável, a seguinte pergunta – Mudou algo, o que mudou? Ouso responder daqui dessa humilde trincheira – NADA!

Amém.

Foto – Divulgação CBB.

O FATOR TÉCNICO…

sábado, 9 de março de 2013 por Paulo MuriloSem comentários

Técnica, táticas, sistemas, estratégias, jogadas, todo um mar de (des) conhecimento que cercam atitudes, discursos, posicionamentos, omissões, vazios testemunhos, vazias conclusões…

A CBB tem um antigo/novo presidente, que não seria mais novo/antigo do que seu oponente perdedor, iguais, xifópagos da mesmice administrativa que nos vem esmagando nos últimos 20 anos, e com uma resultante técnica que dificilmente será ultrapassada, o continuísmo técnico tático que aí está,  formatado e padronizado desde sempre, da formação de base às seleções, expurgando qualquer resquício de algo novo, instigante, ousado, corajoso, que o confronte e rivalize…

A LNB, com sua LDB recém finda, projeta um futuro mais amplo para os jovens abaixo dos 22 anos, porém um fator tem de ser encarado com rigor, ou seja, a proibição de todo aquele jogador, independendo de idade, que fazendo parte de equipes da LNB em seus NBB’s façam parte das equipes da LDB, quando aí sim, estaremos promovendo o desenvolvimento daqueles que aspiram lá chegar, e não utilizando os já graduados na liga superior, para auferirem títulos que perdem em valor se comparados com a verdadeira finalidade de uma liga de desenvolvimento, a de propiciar o amadurecimento de novos valores, que é o fator técnico que realmente importa para o soerguimento do grande jogo…

Mas algo tem de mudar, tem de ser redimensionado no cenário da técnica formativa da base, e das equipes ranqueadas, onde declarações equivocadas podem rapidamente desencadear o fator técnico agora exposto, senão avaliemos o testemunho do técnico do Flamengo após a fácil vitória de sua equipe contra a Liga Sorocabana, numa matéria de Fernando H.Lopes para o blog Bala na Cesta de 8/3/13, comentando o fato de sua equipe ter arremessado mais bolas de três pontos do que de dois, numa convergência de arremessos que grassa célere e perigosamente em algumas equipes da liga maior:

(…) O técnico José Neto, por sua vez, disse que não se preocupa muito com a quantidade excessiva de chutes de fora da equipe (para se ter uma ideia, só o ala Duda tentou 10 bolas longas, acertando três). “Tivemos uma quantidade grande de arremessos de três, mas todos foram bem trabalhados. Não me preocupo com a quantidade e sim com a qualidade. O dia que tivermos dois arremessos de três e 500 de dois forçados, aí sim, vou ficar incomodado. Temos ótimos arremessadores de fora e procuramos explorar bem isso”, afirmou o comandante rubro-negro (…).

Convenhamos ser um argumento completamente destituído da mais ínfima lógica, já que todo o trabalho para que os longos arremessos eclodissem se restringiram ao “chegar e chutar”, ou simplesmente trocar dois ou três passes circundantes e arremessarem, ante a mais completa ausência defensiva externa, em vez de aproveitarem a circunstância da maciça presença defensiva no perímetro interno, para desenvolverem um eficiente jogo de pivôs, mesmo como preparação para embates mais fortes no futuro, quando realmente precisarão desse tipo de ação, frente a defesas bem postadas (…) O dia que tivermos dois arremessos de três e 500 de dois forçados, aí sim, vou ficar incomodado (…)

Bem, nesse caso, incomodada e de forma grave deverá ficar sua equipe, que se privada dos longos arremessos ante defesas de verdade, tiver de atuar no âmago do perímetro interno sem o domínio e o conhecimento técnico e tático necessários, como ocorre, não só com a sua, mas na grande maioria das equipes da liga, que absolutamente pouco sabem como jogar “lá dentro”, e que pensam saber jogar “lá de fora”…

O fator técnico é o grande enigma que teremos de solucionar para que nosso basquetebol volte às grandes competições com boas margens de sucesso, tanto as nacionais, como, e principalmente, as internacionais. Até lá, seria prudente e de bom senso que certas declarações ficassem presas ao sábio e inteligente mutismo…

Amém.

Fotos – O Presidente reeleito da CBB e a reunião da Comissão Técnica da LDB discutindo a nova forma de competição .

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ANOS LAMENTAVELMENTE PERDIDOS…

TRISTE, MUITO TRISTE…

Em 2013 escrevi e postei o artigo O Prodígio, que sugiro fortemente que o leiam, antes de prosseguir a leitura do artigo que hoje posto. E o por que da sugestão, senão pelos fatos irrefutáveis de que nada, absolutamente nada mudou no cenário pobre e carente do basquetebol nacional, apesar dos “altos” investimentos em tecnologias midiáticas, televisivas, patrocínios e parceria com uma NBA voltada muito mais aos seus interesses econômicos e comerciais, do que realmente ajudar a mudar a mesmice técnica da parceira tupiniquim, decidida e servilmente submetida às migalhas da matriz, e sabedora incorrigível de que os parâmetros financeiros da mesma são e serão irremediavelmente inalcançáveis por uma modalidade desportiva que mal sobrevive em um país que não desenvolve e apoia sua cultura e educação, quanto mais desportos…

(Pausa para a leitura)

Bem, para os que leram ou não, pergunta-se – O que não mudou? Estamos em 2020 e o artigo é de 2013, depois de um Pan Americano, e três anos antes de uma Olimpíada, que para o basquetebol foi trágica, com a equipe feminina derrotada em todos os jogos, e a masculina eliminada pela rival argentina. De lá para cá, foram mais quatro anos da mesmice endêmica técnico tática de sempre, porém maquiada por feéricos espetáculos, transmissões com narrações apopléticas e ufanistas, comentários fora da realidade, e acima de tudo, uma pobreza técnica pungente, onde nem a presença de muitos estrangeiros aufere benefícios, frente a dura realidade de que vigora no âmbito da maioria esmagadora das equipes do NBB, a “filosofia” dos cinco abertos, da autofágica sanha dos três pontos, e da mais absoluta e absurda ausência defensiva, fator alimentador dessa terrível realidade…

Terrível? Sim, e mais ainda quando brotam desse terreno inóspito um caudal de “filosofias” personalistas, na maioria copiadas sem referências autorais e bibliográficas, “lives” com palestras atulhadas de termos em inglês e conclusões estéreis e vazias de conteúdo, numa embromação que incomoda pela desfaçatez, assim como depoimentos históricos e personalistas, e nas poucas matérias técnicas, o cientificismo rolando solto, como a panacéia de todos os nossos males. Mas o buraco negro que nos engole sequer é cogitado de ser enfrentado, o salto a ser dado em nossa evolução técnico tática, que é decorrente da falência de um consistente preparo de professores e técnicos nos cursos superiores de educação física, cujos currículos das disciplinas desportivas foram esvaziados e minimizados pelas disciplinas da área médica, fator preponderante para a falência nos alicerces da pirâmide da formação de base, nas escolas e nos clubes, sem a qual, absolutamente nada alcançaremos para o soerguimento do desporto, e do grande jogo em particular…

No bojo cruel dessa pandemia, algo voltado a técnica deveria ter sido patrocinado pelas entidades que lideram e organizam o basquetebol nacional, dos princípios aos conceitos, da organização aos projetos formativos, do estudo ao compartilhamento da informação técnica e didático pedagógica, alimentando de conhecimentos e experiência todos aqueles que lutam e perseveram no ensino do basquetebol, situados nos confins deste imenso, injusto e desigual país, que sempre amou e prestigiou o grande jogo, mas que foi encampado por uma corriola oportunista e político interesseira, que se corporativou e se estratificou muito além do bom senso, a ponto de expurgar todo aquele que se opuser a seus dogmas, onde a importância estratégica do contraditório é simplesmente omitida, ou mesmo, defenestrada…

Os problemas e as falhas apontadas no artigo em questão são, após sete anos, os mesmos de hoje, como uma ou outra raridade inovadora rapidamente afogada, expurgada de um meio totalmente voltado a um sistema de ensino, preparo e aplicação prática, solidamente padronizado e formatado, formando e moldando “filosofias” definidoras do basquetebol que nos tem arruinado de vinte cinco anos para os dias de hoje, e o pior, sem indícios minimamente aceitáveis de que irá evoluir para melhor, lamentavelmente…

Que os deuses em sua magnanimidade nos protejam…

Amém.

Foto – Reprodução da TV.

O GRANDE GERSON…

Em junho de 2012 postei um artigo sobre o grande pivô Gerson Victalino, que fora vítima de uma enorme e injustificável injustiça, que calou fundo no ambiente desportivo brasileiro, republicando-o, pois também se reporta à sua espetacular presença no Mundial de 1986 na Espanha…

Ontem perdemos o formidável jogador aos 60 anos, deixando seus admiradores órfãos de uma personalidade impar, humilde e acima de tudo guerreira, muito pouco reconhecido e prestigiado pelo alto comando diretivo do desporto brasileiro, como quase sempre acontece…

Vai deixar grandes lembranças o grande Gerson Victalino.

Amém.

GERSON…

sábado, 16 de junho de 2012 por Paulo Murilo13 Comentários

Estava em Portugal fazendo meu doutoramento em 1986, e ali do lado, na Espanha, transcorria o Campeonato Mundial de Basquetebol, com a grande presença da equipe brasileira. Meus estudos não permitiam que lá fosse assistir a competição, mas a acompanhava através os jornais e a TV.

E foi uma caminhada brilhante a da nossa seleção, com atuações coletivas inesquecíveis, e algumas contundentes presenças em quadra por parte de jogadores que defendiam uma tradição de qualidade histórica em nosso país, e que acima de tudo amavam defender sua gloriosa camisa, sem protelações, recusas, esquivas e interesses que não fossem os da seleção.

Um destes jogadores se elevou ao máximo de sua posição, o grande pivô Gerson. Reboteiro inigualável sucedeu o inesquecível Ubiratan, pelo poder defensivo, pela dedicação, pelo amor ao grande jogo. Rivalizou e superou jogadores como Sabonis, David Robinson, Wiltger, tendo ao seu lado outro mito nos rebotes, o Israel.

Terminou o Mundial como o maior e mais eficiente jogador na difícil e altamente especializada arte dos rebotes, com brilho e poder.

Na quarta feira passada, o grande jogador foi retirado do recinto onde a seleção olímpica treinava por ordem de um técnico estrangeiro. Lamentável, vergonhoso, constrangedor.

Mas quem sabe, talvez mereçamos, por nossa omissão e subserviência.

Amém.

Fotos – Reproduções. Clique nas mesmas duplamente para ampliá-las.

Link do artigo original com fotos mais definidas-http://blog.paulomurilo.com/2012/06/16/gerson/

13 comentários

  • Douglas – SP
  • 18.06.2012
  • E nessa época, infelizmente pivô brasileiro só conseguia se destacar na defesa e pegando rebotes resultantes dos quatrocentos mil arremessos do mala do Oscar em cada partida. Aliás, hoje em dia as coisas não são muito diferentes.
    Quanto a situação pela qual o Gérson passou, é realmente triste e lamentável.
    Esse é um dos problemas em se ter um técnico estrangeiro. Para ele não importa quem construiu a história do basquete aqui, creio que ele nem sabe quem é o Gérson.
    Não importa a situação das categorias de base no país, naturalizando estrangeiros sem um pingo de identificação tudo se resolve (uma tremenda de uma trapaça que dificilmente ele aceitaria na seleção Argentina).
    Não importa se os jogadores atuais são comprometidos com a seleção. O negócio do Magnano é receber o salário, convocar os medalhões e com isso se eximir de qualquer responsabilidade por qualquer fracasso que possa vir a acontecer.
    Considero o Magnano um baita treinador, mas não goste desse jeito sargentão dele.
  • Rodolpho
  • 18.06.2012
  • Menos, pessoal. Bem menos.
  • Douglas Gaiga
  • 18.06.2012
  • Olá, professor.
    Nesse caso, houveram erros dos dois lados.
    Lado da CBB, e, sem sombra de dúvidas, o mais grave: Sequer alguém conhecer a imagem de um atleta de mérito, que muito fez à seleção e que representou a entidade em um passado bem pouco remoto. Sinceramente, eu mesmo não o conhecia, possuia apenas 1 ano de idade quando ele fez tudo que foi descrito pelo nosso professor Paulo Murilo. As referências do passado são poucas. E, se a CBB não lembra sequer dos títulos mundiais do passado, não dá para esperar nada diferente disso com os ex-atletas.
    Lado do ex-atleta: Poderia ter se comunicado previamente com a esquecida entidade, refrescando a memória de sua participação na seleção, e que, humildemente, gostaria de conversar com os atletas atuais, dando data e horário de sua visita. Infelizmente, teria que ser assim. Não deveria, mas é a triste realidade.
    Abraços, professor.
  • Basquete Brasil
  • 19.06.2012·
  • Prezado Douglas, muito além da dureza que podemos externar sobre um assunto tão delicado como este, devemos nos ater prioritariamente às origens do mesmo, a grande omissão dos técnicos quanto ao associativismo relegado desde sempre entre os mesmos, e por conseguinte o nascedouro de tantos desencontros e equívocos. Somos, talvez, o único país com um passado tão brilhante no grande jogo, que não tem em sua organização a presença de uma associação de técnicos atuante, técnica, forte e progressista. Esse indesculpável hiato, origina todo um processo corporativista de uma minoria atuante e retrógrada, que impõe a triste realidade que nos esmaga e humilha, nas duas últimas décadas de um basquete mais retrógrado ainda.
    Um abraço, Paulo Murilo.
  • Basquete Brasil
  • 19.06.2012
  • Mas o suficiente, prezado Rodolpho, infelizmente.
    Paulo Murilo.
  • Basquete Brasil
  • 19.06.2012
  • Nada justifica esse desconhecimento, principalmente por parte da gestora maior do basquete no país, prezado Douglas Gaiga, nada, absolutamente nada.Essa é a verdade.
    Um abraço, Paulo Murilo.
  • Ricardo
  • 19.06.2012
  • Sobre as figuras –> realmente sensacional a tabela dos rebotes!
    E também o comentário ao lado da figura de baixo “El juego brasileno se basa en gran parte en la capacidad reboteadora de sus jugadores….”!
    Tomara voltemos a ter algo similar com essa safra de pivôs que temos atualmente (incluindo os diversos jovens).
  • Basquete Brasil
  • 19.06.2012
  • Foram grandes tempos aqueles, prezado Ricardo, que ainda custarão um bocado para serem resgatados, pois havia um sólido trabalho de base nos clubes e colégios também. Hoje, buscam-se “nomes”, como artigos prontos a usar, assim como prontos para serem descartados se não atenderem aos rogos e padrões dos estrategistas. Formar, corrigir, ensinar, desenvolver, pouco e insuficiente é feito, a não ser esperarem que nossos jovens partam e voltem do exterior com a “experiência internacional” tão valorizada pelos mesmos, a fim de garantirem suas capitanias hereditárias, seu corporativismo mafioso, seus nichos salariais impenetráveis. Enquanto perdurar essa barreira, dificilmente cruzaremos as fronteiras do progresso do grande jogo entre nós.
    Um abraço, Paulo Murilo.
  • Giancarlo
  • 20.06.2012
  • Olá, professor,
    Não sei se o senhor teve a oportunidade de ver os jogos da Seleção Sub-18 no site da FIBA Americas.
    Foi um bom resultado contra o Canadá, vaga na final garantida.
    Só me preocupa um pouco o oba-oba generalizado e instantâneo. Até compreendo: para quem sofre diante do Paraguai, eliminar um badalado time canadense talvez pareça, realmente, histórico. Já estamos agora elevando um garoto de 16 anos, franzino que só, ao patamar de A Próxima Esperança.
    Mas não custa lembrar dois ou três resultados recentes (quarto lugar no Mundial de Paulão, aquele vice do continente com Lucas Bebê) que em absolutamente nada condizem com nossa realidade aqui.
    Publiquei agora há pouco um texto sobre nosso armador, Deryk, de Limeira. Estamos vencendo sob sua liderança. Já virou “herói” por ter feito uma bola de três contra os canadenses no fim, sendo que tinha 2/9 em aproveitamento até então, ignorando a própria Grande Aposta brasileira.
    “Em quatro jogos da Seleçãozinha na Copa América, há um claro divisor nos números do armador. Contra México e Ilhas Virgens, ele acertou 11 de 24 arremessos no geral (45,8%), oito de 15 na linha de três (53,3%). Contra EUA e Canadá, aproveitamento despencou para 7 de 27 (25,9%) e 4 de 16 (25%), respectivamente. Em média, Deryk arremessa 12,5 vezes por partida para um total de 15,0 pontos e 3,25 assistências. ”
    Seguimos formando reizinhos, mas tenho notado cada vez mais na rede uma empolgação suprema com o estado das coisas. Por não compartilhar dela, acabo enxotado para o time dos pessimistas por natureza, dos que torcem contra, dos que sabe-se-lá-o-que-se-pode-definir-pela-lógica-deles.
    Amém, professor, amém.
    Um abraço,
    Giancarlo
  • Basquete Brasil
  • 21.06.2012
  • Giancarlo, esbocei um artigo sobre o jogo do Brasil com o Uruguai pelo Sul Americano, assim como consegui ver o jogo final do Sub 18 pelo computador, apesar das interrupções, e para ser franco, deletei o que havia escrito, e sabe porque? Nada teria a acrescentar do que já venho a anos escrevendo, publicando, me indignando…
    Afinal, o que poderia escrever a mais do que você publicou exemplarmente, o que mais?
    Restou somente o silencio sobre o curso nivel III da ENTB, cuja finalidade era a de provisionar a turma que dirigirá a LDB, quando cursos nivel I é que deveriam ser prioritários (Cursos de verdade, e não reuniões comentadas). Aliás, um curso nivel III de 4 dias está de bom tamanho para formar estrategistas… Técnicos? Jamais.
    Mas, depois da pequena catarse, e olha que já são 3hs da madrugada, me deu vontade de publicar algo a respeito, mas como Scarlett O’Hara na última fala de O Vento Levou- “Amanhã, pensarei algo a respeito…”
    Um abraço, Giancarlo. Paulo.
  • Lucy Silva
  • 21.06.2012
  • Professor eu estou tão revoltado como o nosso mão santa Oscar,
    o que é tão grave que além da CBB não tentar se retratar pedir desculpas pelo mau que fez ao nosso grande Gérson, e com isso a todos nossos ex grandes jogadores que passaram pela seleção, porque poderia acontecer com qualquer um deles, qualquer um ex técnico, e até com o senhor, é que muitos mais muitos mandaram mensagens no facebook para a CBB, twitters, e-mails, reclamando disso,
    e a CBB, não digitou nem um ‘a’, fingindo de surda, ela está desprezando, menosprezando, não tá dando a mínima, fazendo pouco caso , indiferença, sabe quando você fala com uma pessoa e essa não olha para você, não te responde, olha no vazio e finge que a pessoa não existe,
    isso que a CBB está fazendo nas reclamações de todos no caso Gérson,
    vergonhosa Gestão,
    burra Gestão,
    nem o Grego era Burro assim,
    agora tem um campeonato nacional 3X3 da CBB no Rio em um ginásio e um campeonato 1×1 patrocinado por uma empresa americana que será no Aterro do Flamengo e leva o vencedor a São Paulo e de lá para Alcatraz-USA, não é que a CBB mudou do dia 01/08 para justamente dia 08/08 o campeonato adulto, justamente no dia do campeonato da empresa americana,
    e agente reclama com ela, como é que pode fazer uma coisa dessas, e a CBB tá fingindo que nós não existimos no nosso questionamento tipo caso Gérson,
    deixa ela que ela vai ver,
    fizemos uma enquete num grupo de facebook de basquete no Rio de Janeiro,
    qual campeonato você prefere ver, assistir dia 08/08, o 3X3 da CBB ou o 1×1 King of the rock basketball no aterro,
    é uma grande surra que a CBB tá levando na enquete,
    a CBB despreza o torcedor do basquete,
    despreza bem,
    porque dia 08/08 torcida lá no campeonato dela vai praticamente ser só dos familiares dos envolvidos no evento,
    infelizmente essa Gestão terá apoio quando começar as olimpíadas das Tvs, muito grande da Globo, e aí o que se passa na mídia não é a realidade que está dentro dessa instituição, a maioria do população que se mobiliza nas olimpíadas para torcer pelo Brasil não saberá o que lá dentro está ocorrendo.
  • Lucy Silva
  • 21.06.2012
  • corrigindo o campeonato é dia 08/07(julho) e não 08/08
  • Basquete Brasil
  • 22.06.2012
  • Respeito sua indignação, prezada Lucy, mas se mantenha sempre num razoável grau de frieza na observação e constatação dos fatos, a fim de poder contribuir com sugestões que possam vir a contribuir para a redenção e soerguimento do grande jogo no país. Acredito que dias melhores hão de vir, com certeza.
    Um abraço, Paulo Murilo.

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SERÁ A VEZ DO BOM SENSO?…

Aqui vai um subsídio para todos aqueles que discutem, sugerem e divulgam panacéias a respeito do futuro do grande jogo neste imenso, injusto e desigual país, atrelados em sua maioria aos exemplos advindos da matriz nortenha, com seu poderio hegemônico fundamentado numa estrutura sócio, cultural e educacional secular, antítese de nossa realidade de país pobre e carente, exatamente naqueles três aspectos, sem os quais nos afogaremos abraçados pela ignorância e pusilanimidade de uma casta criminosa, que jamais se permitirá abrir mão de suas insidiosas e interesseiras conquistas, ao preço que for. Diálogo, estudo, pesquisa e bom senso, definitivamente não fazem parte de sua realidade…

Se interesse houver, aí vai o artigo proposto:

O ONTEM, O HOJE, E O AMANHÃ…

terça-feira, 7 de agosto de 2018 por Paulo Murilo

Me dei um tempo, até pensei prolongá-lo definitivamente, pois sinto cansaço extremo frente a tanta mediocridade, consubstanciada pela massacrante mesmice endêmica que nos agrilhoou, creio que por mais um ciclo olímpico, espelhada nessa vitória da seleção sub 21 no sul americano concluído no domingo passado, não que eu não a parabenize, já que conquistada na casa dos hermanos, vencendo-os por duas vezes de forma inconteste, onde bons e promissores jogadores se destacaram, lutando com denodo e entrega, mesmo que amarrados e sucumbidos por um sistema único globalizado, irmanado agora à moda dos longos arremessos, numa cópia canhestra do que pior se faz lá fora, ou fazia, já que severamente contestada pelo progressivo desenvolvimento e aplicação de defesas potentes no perímetro externo, premissa essa solenemente negada por nós em campeonatos onde as estrelas mais cobiçadas são as estratosféricas bolinhas e as enterradas monstros, produtos de ausências defensivas em ambos os perímetros, desde a formação de base, cujo resultado mais recente aconteceu em terra hermana…

Definitivamente adotamos a convergência como estratégia de jogo, seja ele qual for, independendo de faixa etária, sexo, ou qualquer que seja as classificações possíveis, mesmo que contundentemente criticada pelo selecionador master, Petrovic, em sua primeira entrevista dada em terra tupiniquim, quando afirmou não compreender a enxurrada de arremessos de três adotada e praticada no nosso basquetebol, com a mais plena anuência de treinadores e estrategistas, responsáveis e coniventes, coroada agora no sub 21 campeão, dirigida pelos seus dois assistentes técnicos, que passaram um recado mais do que claro do que pensam a respeito, já que aplicado em quadra, vencendo a competição, sugerindo um determinismo contrário ao posicionamento técnico tático do croata, numa contundente repetição do que ocorreu com seus dois antecessores, estrangeiros como ele, ficando em suspenso uma solene indagação – Perante a importante conquista, mudará seu posicionamento de décadas no basquetebol europeu, ou aderirá saltitante a moda imposta, ou sugerida por seus mais diretos colaboradores?…

No jogo final de domingo, enquanto a equipe argentina se desdobrou nas coberturas externas contestando os longos arremessos de nossos brazucas, conseguiu se manter à frente do placar, no entanto, acumulou muitas faltas pessoais nas tentativas de barrar o forte jogo interno dos bons e fortíssimos alas pivôs brasileiros, fator este determinante para sua derrota, já que no quarto final perdeu sua força reboteira, deixando-se vencer por 8 pontos, e sem nunca ter tentado marcar os pivôs pela frente, que é a certeza mais absoluta do que acontecerá nas competições mais duras daqui para diante, já que aos poucos a realidade de que trocar possibilidades de penetrações que valem 2 pontos, ao longo de uma dura partida, se torna mais rentável do que abrir a porteira dos 3 pontos, pela quantidade que forem as tentativas…

E os números não mentem, ao contrário, escancaram a dura realidade de uma forma midiática de jogar, onde a evolução natural de técnicas defensivas, sem a menor dúvida, estancarão essa hemorragia autofágica promovida por quem ouviu o galo cantar e se encontra perdido sem saber de onde ele vem, afinal de contas copiar o que aparente e rapidamente dá certo, cai melhor do que ir fundo no grande jogo, algo desconhecido e tabu para a maioria daqueles que se intitulam estrategistas, já que técnicos e professores não o são, de forma alguma, ao omitirem seus saberes, principalmente no ensino dos fundamentos do grande jogo…

E os números? Aí vão:

– Nos 6 jogos classificatórios (tentativas certas e erradas das equipes):

– 2 pontos – 156/324   48,1%

– 3 pontos – 102/297  34,3%

– L Livres  – 97/133 72,9%

– Erros      – 136 22,6 pj

– Nos 4 jogos mais significativos – Argentina-(2),Uruguai e Chile (Idem):

– 2 pontos –   83/224 37,5%

– 3 pontos –   59/171 34,5%

– L Livres  – 66 / 86 76,7%

– Erros      – 75 18,7 pj

– Jogo final:

– 2 pontos –    36 / 73 49,3%

– 3 pontos –    21 / 60 35,0%

– L Livres  – 25 / 33 75,8%

– Erros      – 25

O que eles dizem? Que na classificação, a presença das fracas equipes do Paraguai e Peru, fizeram aparecer mais arremessos de 2 pontos (48,1%), suplantando os de 3 (34,3%), mas mesmo assim, no jogo contra o Uruguai, vencido por 3 pontos, a seleção nacional arremessou 15/34 de 2 e inacreditáveis 17/43 de 3, continuando sua saga artilheira perpetrando 38 bolinhas contra o Chile (vencido por 4 pontos), e 30 contra a Argentina, vencendo por 12 pontos. No jogo final, a seleção arremessou 29 bolas de 3, e a Argentina 31, sendo este o único jogo em que a equipe arremessou abaixo de 30 nas indefectíveis bolinhas. Vejam que nas três tabelas o percentual de bolas de 3 se mantêm praticamente igual, ou seja, para cada 10 bolas arremessadas de fora do perímetro, somente 3,5 caem, num desperdício de energia ofensiva que, se bem administrada por defesas bem treinadas e postadas, anularão a tão decantada supremacia das bolas de 3, ação que a Argentina conseguiu nos três quartos iniciais da partida, cedendo no quarto final pela perda de seus homens altos na defesa interna, já que na externa vinham se saindo além da expectativa. E nesse ponto vale lembrar as continhas que tanto divulgo nos artigos antes publicados, ou seja – se a seleção substituísse a metade das bolas perdidas de 3 pontos por tentativas trabalhadas para os 2 pontos, venceria as mesmas partidas com diferenças que beirariam os 20 pontos, economizando esforço físico com eficiência pontuadora de 2 em 2, e se somarmos a estes números os graves erros nos fundamentos do jogo (com números acima de 16 na maioria dos jogos), onde as falhas nas contestações defensivas não são computadas (se fossem apontariam uma catástrofe a cada jogo), concluiremos que continuamos a trilhar o mesmo caminho obscuro e nem um pouco inteligente que nos lançou no limbo técnico tático que tanto nos prejudicou no concerto internacional, culminando na autopromoção burra e incompreensível de uma liderança revolucionária na concepção de um modernoso basquetebol, escravo vicioso da cópia canhestra de uma forma de atuar tecnicamente restrita a muito poucos jogadores, detentores de uma técnica superior e quase exclusiva no manejo direcional de uma bola de basquetebol, lançada de longas distâncias, fator este que ilustra com precisão alguns trabalhos e pesquisas acadêmicas muito sérias, nas quais incluo a tese doutoral “Estudo sobre um efetivo controle da direção do lançamento com uma das mãos no basquetebol”, defendida em 1990 na FMH/UTL de Lisboa, de minha autoria, com alguns tópicos aqui publicados, e ainda sem estudos que a contradigam na esfera internacional até a data de hoje…

Por que a menciono? Pelo simples, simplíssimo fato de que, frente ao desastre estratégico. a curto, médio e longo prazos, nada fazemos na preparação de base e nas quadras da elite, para evitarmos um equívoco tão descomunal, aquele de nos acharmos imbatíveis no jogo exterior, com seus “afastamentos e aberturas” e imprecisa artilharia se convenientemente contestada, caminho que começa a ser trilhado pelas melhores escolas de fundamentos mundiais, e que nos relegará a praticantes arrivistas de tiro aos pombos, sem a contrapartida de sólidos fundamentos e de preciso e forte jogo interior como opção primeira, postergando a bolinha infalível ao seu lugar de direito, como um recurso complementar, e não principal de uma equipe que preza o coletivismo agregador e uníssono, antítese do que praticamos…

Poderíamos começar pela salvação dessa geração de bons jogadores, reunindo-os numa equipe espelho, fonte de estudos práticos de uma séria ENTB, mantida pela CBB, participando do NBB, dando a seus jovens integrantes um treinamento sólido e evolutivo nos fundamentos básicos, destinando horas do dia para seus estudos em boas instituições de ensino médio e superior (oportunidade de uma relação da CBB com instituição privada de ensino, dividindo despesas), fator básico para seu futuro após os anos de competições, abrindo oportunidades, inclusive, para concluir sua formação em escolas do exterior. Seria uma conjugação de interesses esportivos, educacionais e culturais, inédito em nosso país, servindo de exemplo para o desporto escolar e universitário, clubístico também, pois após a cessão de um ou dois de seus jovens por no máximo duas temporadas, os teriam de volta mais maduros, e tecnicamente embasados, com tempo precioso de ação prática, e não esquecidos nos bancos de equipes recheadas de nomões escorados contratualmente em minutos a ser jogados, manipulados por interesses de agentes e franquias agregadas ao status quo vigente…

No vértice desta retomada, uma ENTB realmente representativa, e não avidamente buscada pela mesma coligação que domina o grande jogo desde sempre, ativando e desativando na mesma velocidade, associações de técnicos majoritariamente de um mesmo estado, alijando os demais de seus projetos hegemônicos e monetariamente atrativos, onde o comando baila pelas mesmas mãos, trocando somente as siglas que as denominam, esquecendo que o espírito de qualquer escola que se preze passa pelos conhecimentos de ontem, que sedimentam o hoje, e projetam o progresso para o amanhã, não importando de onde venham, onde o trabalho alicerçado pelo mérito, em tudo e por tudo, deveria ultrapassar os interesses, as trocas, e os favores requeridos por quem quer que fosse, prestigiando a qualquer custo o processo democrático e o direito ao contraditório, cernes do progresso equânime e constitucional de todos os envolvidos no processo de ensinar a ensinar. aprender fazendo, estudar e pesquisar todas as questões inerentes ao grande jogo, obrigatoriamente presencial, com apoio suplementar virtual. Assim deveria se constituir uma verdadeira Escola Nacional de Técnicos de Basquetebol.

Amém.

Fotos – Divulgação CBB, CABB, reprodução da TV. Clique duplamente nas mesmas para ampliá-las.

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SEU GERALDO…

Ele se foi no sábado, aos 99 anos, o grande Geraldo da Conceição…

O vi pela primeira vez aos 10 anos, 1949, treinando lances livres na quadra descoberta do Grajaú Tênis Clube, e de “lavadeira”, quando o arremesso partia abaixo da cintura com as duas mãos, como o Chamberlain, o Cousy, o Alfredo da Motta, o Ruy de Freitas, o Max, certeiros, eficientes, sem respiros, poses, caras e bocas, simplesmente, eficientes, e dentro dos 5 segundos regulamentares…

Foi minha apresentação ao grande jogo, num sol a pino, vendo bola após bola sendo lançadas sem erros, suaves, fascinantes para um pirralho em seu início de vida. E lá se vão 70 anos, que me deram a grande oportunidade de conhecer e privar da amizade daquele atlético e elegante jogador, um pouco mais tarde técnico, meu primeiro técnico, e que técnico…

Nunca o vi alterar sua voz, apreciava seu constante sorriso a cada boa jogada de seus alunos, e palmas, muitas palmas também, no incentivo constante, apesar das cansativas repetições dos movimentos básicos…

Um dia me dei conta de que além de ser o de menor estatura da turma, me interessavam muito mais as técnicas e as táticas daquele jogo formidável, encontrando no Geraldo as respostas para concretizar o sonho de um dia ser técnico também, como ele, não melhor, bastaria ser como ele, e assim foi…

Me ensinou como organizar uma rouparia, como cuidar do material, as bolas em particular, enceradas com sebo de carneiro, tornando-as macias e de pegas seguras. Mostrou-me a importância ambiental de um vestiário, jamais aceitando discussões acaloradas, sempre propugnando pelo diálogo, pela educação, pelo zelo com toda a equipe. Retribui com alguns estudos que fazia numa época sem internet, celulares e vídeos, somente livros, artigos, palestras com um ou outro professor estrangeiro que por aqui aportasse, e um ou outro filme que conseguia na filmoteca da embaixada americana, como o inesquecível Final Game (está no You Tube) que assistimos inúmeras vezes no projetor de 16mm do clube…

Quando entrei na EEFD/UFRJ em 1960, o Geraldo foi para Brasília na primeira leva de funcionários públicos enviados para aquele planalto inóspito onde uma nova capital dava seus primeiros passos. Durante um largo período perdi seu contato, mas sabia que seu amor pelo basquetebol estava tendo continuidade na nova capital…

Nos reencontramos quando me transferi para Brasília em 1967, logo após ter sido o técnico da seleção carioca feminina, vencedora do brasileiro em Recife, na final contra São Paulo. Na capital, após o concurso público para a rede educacional, tive a ajuda decisiva do Geraldo para me manter nos três meses iniciais da nova realidade que se iniciava para mim, ajuda aquela decisiva para minha continuidade no planalto central. O basquetebol fervilhava na cidade, e o Geraldo fazia parte de sua primeira linha, da formação de base ao adulto, trabalhando duro como ele sempre fez em toda a sua vida. Fomos adversários nos torneios e campeonatos adultos até 1969, ele pelo seu querido Dêfele, eu no Iate Clube, depois nas seleções juvenis, quando retornei para o Rio de Janeiro…

Em 1971, durante o Mundial Feminino em São Paulo, o Geraldo fez parte da comissão que elaborou o primeiro estatuto de uma associação de técnicos no país, a ANATEBA, da qual também fiz parte, numa iniciativa exitosa, mas que foi pulverizada três anos depois por parte de uma CBB temerosa em perder o absoluto monopólio do grande jogo no país, numa atitude absurda e retrógrada, sentida até os dias de hoje…

Algumas décadas se passaram, e poucas vezes nos reencontramos, no entanto, continuavamos o trabalho de nossas vidas com empenho e dedicação, intransigentes desportistas que sempre fomos. Recentemente, idealizei uma página a ser publicada aqui neste humilde blog, onde divulgaria depoimentos gravados em vídeo das grandes figuras do basquetebol brasileiro, a maioria esquecida e desconhecida pela mídia modernosa de hoje, e o Geraldo liderava a lista, e inclusive já me preparava para ir a Brasília, onde duas outras importantes figuras seriam entrevistadas, o Pedro Rodrigues e o Heleno Fonseca Lima. Mas o Geraldo se foi, deixando-me com a câmera e o microfone nas mãos, infelizmente…

Do Geraldo guardo uma grande lembrança, uma ensolarada visão de um  treino de lances livres, de “lavadeira”, quando meus olhos de menino de dez anos se apaixonaram perdida e definitivamente pelo grande, grandíssimo jogo de nossas vidas. Até um dia Seu Geraldo, e muito obrigado por tudo aquilo que me foi ensinado e passado por você, inesquecível professor…

Amém.

Fotos – Divulgação LNB e arquivo pessoal.

O ESPECIALISTA (From Dublin)…

         Neste último dia de Europa, aqui do aeroporto de Dublin, aguardando o voo de volta para casa, me veio a ideia de tornar a discutir o que venha a ser um especialista nos longos arremessos de basquetebol, assunto este que suscita tantos debates, num momento em que estamos jogando fora do perímetro praticamente em mais da metade do tempo de jogo, numa temerária aventura que nos tem levado ladeira abaixo no concerto mundial, e que na continuidade, nos manterá fora de um futuro vencedor, como a turma adepta do “chega e chuta” nos ilude em alcançar…

No artigo passado, algumas colocações foram comentadas por pessoas ligadas profundamente ao basquetebol, mas uma em particular, um real especialista nos longos arremessos (em sua época ainda não existiam os arremessos de três pontos), o grande Sérgio Macarrão, medalhista olímpico, tio de outro especialista, o Marcelo, grande campeão do NBB, jogando pelo Flamengo…

Vale a pena ler seu comentário no artigo em questão, pois define com precisão a real importância dos arremessos de três pontos, sob a ótica precisa do bom senso, pela priorização que obrigatoriamente deve ser dada ao especialista, e somente a ele…

Bem, sou agora chamado ao embarque, e se possível continuarei durante o voo, até já…

Estando de volta, a 11km de altura, continuemos o raciocínio, definindo uns poucos conceitos, começando pela precisão nos lançamentos, ou como define o Sérgio, “só arremessa de três quem mete bola”, sugerindo de saída uma questão – “o que torna um jogador num metedor de bola?” Será o mesmo espontâneo ou treinado? Em meus mais de 50 anos de quadra, conheci poucos reais e autênticos “metedores de bolas”, e o Sérgio foi um deles, outros mais como o Dutrinha, o Pecente, Waldir Bocardo, Wlamir, Rosa Branca, Vitor, Chuí, Oscar, Marcel, e mais uns poucos que me falham na lembrança, fizeram com que me orientassem à pesquisa dos porquês eram tão eficientes, originando minha tese doutoral, da qual pincei detalhes publicados nesse humilde blog, na série Anatomia de um Arremesso de I a VI, facilmente encontrada digitando no espaço Buscar Conteúdo…

Claro que não testei nenhum dos acima mencionados, mas outros pertencentes às equipes nacionais de Portugal, quando desenvolvi a pesquisa na Faculdade de Motricidade Humana da Universidade de Lisboa, onde pude relacionar a precisão na direcionalidade dos arremessos com os diversos tipos de pegas sobre a bola, num trabalho que, com a mais absoluta fidedignidade, define quem realmente domina a arte dos longos arremessos, garantindo serem muito poucos, derrubando fragorosamente a tese modal de que qualquer jogador pode ser eficiente nas grandes distâncias, bastando se sentir livre e autorizado a fazê-lo…

Vale a pena ler os artigos, para entender de forma definitiva o quanto de desperdício e eficiência temos alcançado, nessa estúpida e selvagem hemorragia em que estamos transformando o grande jogo, onde técnica e tática se prostituem substituídas por arrivismos, aventuras e irresponsabilidade proposital, em nome de um pretenso e falacioso “conceito moderno de basquetebol”, que nada mais é e representa do que uma mesmice endêmica institucionalizada, aceita por técnicos, jogadores, dirigentes e muito da dita mídia especializada, alheios a verdadeira essência do grande jogo, onde em nome do espetáculo (e que rapidamente vem se transformando em autêntica palhaçada), tudo deve ser permitido, inclusive quanto às regras (que é uma realidade bem conhecida na NBA), e que vem sendo adotado por aqui também…

Longos arremessos à parte, outros fatores merecem atenção de todos aqueles que amam o basquetebol de verdade, como a falibilidade nos fundamentos básicos, a forma semelhante e pasteurizada de jogar das equipes da liga, espelhando negativamente na formação de base, em exemplos que nunca e em hipótese alguma deveriam ser continuados, assim como descontinuado deveria ser esse caudal autofágico em que vem sendo transformado o grande jogo, através a artilharia absurda e descerebrada dos três pontos, das narrações e comentários que não refletem a realidade da competição, sem que, em nenhum momento algo de inovador possa ser admitido por um corporativismo inamovível e terminal…

O Sérgio tem razão, pois só mete bola quem sabe fazê-lo, assim como só planeja, pesquisa, estuda, ensina, treina e compete, quem conhece o grande jogo no seu cerne, sem esgares e dancinhas, sem coerções e agressividade gratuita, despidos de marketing e poderosos Q.I.s, sem midiáticas pranchetas, e sem rezas para que as bolinhas caiam, nacionais ou estrangeiras…

Daqui a pouco chego ao Rio, com muitas saudades de casa, porém temeroso do que se avizinha do nosso tão amado e judiado basquetebol…

Amém.

Foto – Arquivo pessoal.

IMPROVAVEL OU IMPOSSIVEL? (From Dublin)…

“ Que grande jogo teremos aqui na Arena 1, completamente lotada, demonstrando a força do NBB”…

Assim começou a transmissão do jogo Flamengo e Corinthians pelo Super 8 pelas vibrantes palavras da jovem repórter televisiva, numa discutível afirmativa frente a uma arena olímpica desfigurada e com um público ridículo frente à sua desnudada grandeza…

Foi este o assunto do blog Bala na Cesta nesta semana, pertinente aliás , perante o vendaval midiático por sobre um”NBB como nunca se viu” , porém esvaziado de um público bairrista, regionalista, outrora fiel, agora substituído por um outro, errático e inconstante das agremiações de camisa, quase que totalmente composto por torcedores de futebol, com conhecimento próximo de zero em se tratando do grande jogo, carregando para as arenas, olímpicas ou não, toda sua tradição de violência, irascibilidade a oponentes, e acima de tudo, insegurança para todos aqueles que compareciam as mesmas com suas famílias , no firme propósito de torcerem limpa e vibrantemente por equipes e jogadores que conheciam integralmente, próximos que eram, e não esse enxame de estrangeiros (agora podem somar quatro por cada franquia), que qual “peças ” automotivas, equipam num carnavalesco rodízio equipes tão ou mais desfiguradas a cada temporada, como as arenas em que atuam…

Nosso glorioso basquetebol sempre pertenceu aos clubes regionais, com seus acanhados ginásios , com um ou outro de dimensões generosas, porém integrados a seus admiradores, pais, mães , filhos, tios, avós, e simpatizantes, pertencentes àquelas comunidades regionais, bairristas, agremiações estas em declínio acentuado, muitas agonizantes, outras terminais. Eram nossas high schools na formação de base, sem a grandeza esmagadora do exemplo ao norte do hemisfério, na matriz, e que mesmo sem a continuidade formativa universitária daqueles, galgou os píncaros entre os grandes do basquetebol mundial, num passado não tão distante assim…

Eis que de repente (somente quatro décadas ), no caso carioca, numa criminosa e imposta fusão interestadual (nos roubaram inclusive o democrático e constitucional direito ao plebiscito popular), quando deixamos de ser o segundo estado mais rico, para ostentar hoje a condição de miserável, corrompido e favelado, causando o empobrecimento municipal e populacional, onde os clubes deixaram de ter a importância agregadora e familiar de seu gentio, que somado ao declínio proposital e politico de suas excelentes escolas, hospitais referências no pais, transportes simples porém eficientes, e níveis controláveis de violência, praticamente selaram o destino destrutivo do esporte básico e de elite, deixando o reinado absoluto com Sao Paulo e suas formidáveis cidades (as quais os bairros  cariocas se assemelhavam), com quem dividíamos a liderança do esporte nacional, o grande jogo inclusive…

Tijuca TC, Grajau TC, Grajau CC, Riachuelo TC, Sampaio SC, EC Mackenzie, AA Florenca, Botafogo FR, Fluminense FC, CR Vasco da Gama, AA Vila Isabel, EC Aliados, Jacarepagua TC, Olaria AC, America FC, Sao Cristovao FR, Clube Sirio e Libanes, Clube Municipal, AABB. Clube Professorado, todos no Estado da Guanabara, que somados ao Canto do Rio FC, Gragoata , Icarai, Petropolitano, Grumari, Liga Angrense, São Gonçalo , todos do Estado do Rio de Janeiro original, nos abasteciam de jogadores bem formados, competitivos pela diversidade clubistica e regional, pela qualidade de seus professores e técnicos, que juntos a pujança paulista e outros estados desenvolvedores esportivos, como Minas Gerais, Goiás , Rio Grande do Sul, Paraná , Pernambuco, Bahia, Ceara , Para , no caso do basquetebol, davam ao nosso pais uma pequena, porém qualificada imagem do que de melhor faziam as escolas e universidades americanas, alimentando a elite em suas seleções e as iniciantes ABA e NBA…

O Maracanãzinho, a verdadeira capital do basquetebol brasileiro, onde foram conquistados um vice e um campeonato mundial, congregava as finais daqueles saudosos e grandiosos tempos, comungando inclusive, com as seleções nacionais em torneios internacionais, com assistências de 25 mil pagantes, hoje transformadas numa arena elitista para 12 mil, onde grandes jogos aconteciam em paz e muita vibração, entre equipes realmente qualificadas, onde jogadores estrangeiros tinham vagas se realmente fossem muito, muito bons, e não essa leva de terceira categoria, sobras das mais de quinze ligas de alguma qualidade existentes no mundo, fazendo o que querem em quadra, sob a permissividade de muitos estrategistas descomprometidos com a essência do grande jogo, restrito e enclausurado em pranchetas absurdas rabiscadas hieroglificamente…

Hoje, postam nas redes midiáticas e televisivas que a grandeza será retomada através o marketing profissionalizado, com patrocínios de grandes empresas, CEOs e administradores grifados, publicidade focada nas franquias com seus trabalhos comunitários, suas merchandaizes, modelo NBA, espetáculos pífios nos intervalos, beijos televisivos, brioches lançados a plebe, digo, povo, cadeiras de quadra para famosos, geralmente vazias, inclusive de famosos, e cada vez mais, intensos, horripilantes, ridículos , risíveis urros após enterradas, tocos e bolinhas de três , entonados por narradores sem  amígdalas , comentaristas compromissados com o belo, perfeito, inenarrável e mágico trabalho de jogadores formidáveis e da mais alta qualidade, impar e absoluta, mas que mantêm a média das equipes de 24,25 erros de fundamentos por partida, 48,6% nos arremessos de 2 pontos, 32,6% nos de 3, e razoáveis 75,3% nos lances livres, somente nos ate agora agora quatro jogos disputados pelo Super 8 do NBB…

Olha minha gente que ama o grande jogo de verdade, muito antes de grandes arenas, estrangeiros ostentando qualidades para lá de duvidosas, onde as poucas exceções não devem ser esquecidas, como todos os armadores da região platina que aqui estão, e dois ou três bons americanos, deveriam com a máxima e inadiável urgência, CBB, LNB e LFB, centrarem seus esforços e parcos recursos, numa forte e bem planejada retomada da formação de base, sugerindo e orientando aqueles ainda existentes e resistentes clubes regionais e municipais, para cederem em convênio suas instalações a escolas públicas onde inexistem quadras, num esforço conjunto de dotar um lugar seguro e educativo para os jovens praticarem o desporto, com as grandes empresas ajudando na manutenção dos professores e técnicos nesses locais, organizando competições bem formuladas e voltadas a qualidade, movimentando e integrando as famílias de volta as quadras de seus pequenos e históricos ginásios , onde nascem, se criam e se desenvolvem futuros campeões , e melhores cidadãos, como outrora, otimizando os grandes pátios de estacionamento de grandes mercados nos horários vagos, alguns cobertos, para quinzenal ou mensalmente promover torneios de mini basquetebol (a Europa abusa dessa ideia , e por isso vence…), verdadeira escola para o grande basquetebol, e não um 3×3, refúgio daqueles que não tiveram oportunidades nas equipes de quadra inteira, numa modalidade plenamente voltada ao confronto individual…

Na verdade, nossas arenas continuarão semi desertas, enquanto o espírito desportivo e agregador dos antigos admiradores do grande jogo se mantiverem ausentes, principalmente na qualidade do jogo em si, bem e tecnicamente praticado, coletivo, envolvente e solidário , através a arte de bons e solidamente bem formados jogadores em seus fundamentos básicos, somente adquiridos numa responsável e qualificada formação, orientada por bons e muito bem formados professores e técnicos , não a imagem das escolas e ricas universidades americanas, antítese de nossa pobre e precária realidade, que teima em transladar para cá uma inalcançável realidade, a deles, com seus dólares duelando em desigualdade brutal com nossos minguados reais…

Enquanto isso, vendo aqui de longe os jogos do Super 8. constatamos sem surpresa absolutamente nenhuma, que tudo está no mesmo patamar de ontem, anteontem, a perder de vista, técnica e taticamente, porém sabedores todos nós de quantas cidades os narradores e comentaristas conhecem nesse imenso, injusto e desigual país , que estremece pelos seus urros e ufanismos de  viajados jornalistas midiáticos, turísticos e televisivos, numa prova inconteste de que o grande, grandíssimo jogo, se torna liliputiano para a maioria deles, exceto uns poucos que se encolhem ante tantos likes, compartilhamentos e verborragia insana, que nada ajuda no soerguimento do basquetebol tupiniquim, entupindo-o de informações chulas e vazias …

Peço aos deuses todos os dias, a cada artigo aqui publicado neste humilde blog, que concedam uma réstia , minúscula que seja, de bom senso a todos que um dia prometeram cuidar do grande jogo, mas que resolveram atrela-lo a interesses que não nos dizem respeito, esquecendo os bons exemplos de formação e técnicas diferenciadas e inovadoras, que renegavam ações medíocres e mesmices institucionalizadas, num recente passado, que não era perfeito, mas sim conduzido por quem entedia com precisão e sabedoria o que vinha a ser basquetebol de verdade, mesmo sob administrações equivocadas e algumas vezes reprováveis, acertando, errando, porém estudando, trabalhando e formando jogadores, muitos e bons jogadores, quase sempre em solitárias lideranças, onde ter assistente responsável para carregar e entregar servilmente uma prancheta seria algo absolutamente improvável , melhor ainda, impossível …

Amém .

Em tempo – Acabo de assistir o quinto jogo do Super 8, definindo o primeiro finalista, entre Franca e Minas, numa partida com 26 erros de fundamentos (16/10), na qual a vencedora Franca (83 x 79) arremessou 20/37 bolas de 2 pontos e 10/25 de 3, convertendo 13/17 lances livres, enquanto Minas arremessou 15/31 e 11/35 respectivamente, convertendo 16/20 lances livres, deixando no ar uma questão – Como uma equipe pretende chegar a uma final convergindo de forma tão irresponsável, chutando mais de 3 pontos do que de 2, tendo bons alas pivôs, e armadores competentes, como? Quem sabe os americanos não estavam numa boa noite no chega e chuta de praxe…

JUSTO E OBJETIVO (From Dublin)…

No artigo de ontem, veiculei um video de um jogo de dez anos atrás, no NBB2, Joinville x Saldanha da Gama, tendo como resposta imediata um email do amigo fiel e inquisidor perguntando – Qual é Paulo, saudosista de algo que ninguém se lembra mais? Que tal virar o disco?…

Uau, essa foi na veia cara, mas, se você não percebeu bem, tinha endereço direto, justo e objetivo, num lembrete que, refutando sua pergunta, faço a mais absoluta questão de responder aos porques da vetusta partida de um jogo singular. Vamos a eles:

– Porque daquela data aos dias de hoje, repleta de “jogos emocionantes”, como nunca se viu, com transmissões em 100% das partidas, narradores ensandecidos pelos maravilhosos espetáculos que tronitruam em seus microfones, comentados por experts tão ou mais empolgados com a “redenção do basquetebol nacional”, através confrontos da mais alta qualidade, onde enterradas, tocos e  bolas de três reinam absolutas, emocionando plateias (um tanto ausentes das quadras, mero detalhe…), bem vindas e ansiadas prorrogações prolongando o prana generalizado, num NBB apoteótico…

– Porque durante todos estes anos nada de inovador e criativo foi visto por quem entende, por pouco que seja, do grande jogo, inclusive em seleções de todas as categorias, a não ser enxertos copiados daquela esquecida equipe capixaba, como a dupla armação e os alas pivôs em constante movimentação dentro do perímetro (pelo menos cinco anos antes da era Warriors e Curry), cópias canhestras adaptadas ao monocórdio e estratificado sistema único de jogo, promovendo suas estrelas doble triple a cada rodada, não importando se vencedoras ou não suas equipes, afinal seguem o modelo NBA, onde a cada temporada o coletivo cede espaco vital ao individualismo rapinador, na querência máxima de transformar um jogo coletivo em individual, ao preço que for, desde que as cifras cheguem a estratosfera…

– Porque a reboque dessa tragédia, flui a esmagadora maioria das franquias a partir de interesses mercadológicos, em contra ponto as nossas reais e emergentes necessidades, a fim de nos reentroduzirmos no cenário internacional de verdade…

– Porque, se realmente quizermos avaliar o peso dos porques anteriores, e dispendermos um tempinho revendo este vetusto video, poderemos ter uma grata, apesar de perdida no tempo, surpresa ao vermos e constatarmos o quão  injustos fomos com aquela surpreendente equipe, atuando sem os rompantes vocais de narradores que veem e imaginam um outro jogo, avalizados por comentaristas que o imaginam surreais, porém atuando como equipe, una e indivisível, atacando em bloco, lá dentro, bem dentro da cozinha adversária, e defendendo numa irrepreensível linha da bola, flutuando lateralmente, jamais longitudinalmente, a ponto de raramente ter um jogador excluido pelo limite de faltas, dominando os rebotes com maestria e se antepondo aos longos arremessou com decisão e competência. Uma equipe que não deveria ter sido aniquilada como foi, em duas etapas, uma logo ao início do trabalho no segundo turno, quando teve afastados três de seus melhores jogadores, depois ao não ser mantida para o NBB3, trocada pela mediocridade, séria e perigosamente  ameaçada pela mesma se continuada, voltando a ser o saco de pancadas de quando a encontrei, treinei e competi no mais alto nível, Realmente lamentável e inglório o seu fim…

Revendo-a jogar, última classificada na competição, mas vinda de duas vitórias exuberantes, contra a líder do campeonato, Brasilia, e Vila Velha, enfrentando a quinta colocada, Joinville, num grande e repleto ginásio, que a aplaudiu no final, com uma comissão técnica aquietada e tranquila em seu banco, em oposição a uma frenética e agressiva do outro lado, pedindo somente um tempo num jogo difícil, delegando iniciativas previamente treinadas com seus experientes jogadores, sérios e dedicados uns para com os outros, ajudando-se permanentemente, errando minimamente nos fundamentos, e principalmente, jogando em harmonia, como deve ser jogado o grande jogo, coletivamente…

Atuar coletivamente, objetivo inalcançável por nossas equipes, da base a elite, por uma única razão, não são ensinadas, treinadas e orientadas para alcança-lo, porque primeiro não existe interesse, segundo porque não sabem, os estrategistas, como faze-lo, sendo mais fácil e palatável trocar “peças” a cada temporada, dá menos trabalho, e como todos os corporativados seguem a mesma cartilha, que vença o mais equipado com pecas importadas e uma ou outra nacional, chutando de três, dando tocos monumentais, e monstruosas enterradas, para o encantamento de todos…

Que bom teria sido ver aquela humilde equipe jogar uma temporada completa, mas vale a pena assistir seu basquete enxuto, técnico, correto, equilibrado, e acima de tudo, proprietária, por pouco tempo, bem sei, do coletivismo até hoje inalcançável pelas demais franquias e mesmo seleções, passados dez anos de estrada…

Assistam, deleitem-se com o grande jogo bem jogado, sem histerias vocais e comentários ufanistas, claro, se houver interesse no que venha a ser basquetebol coletivo. Um abração a todos, feliz Natal e um 2020 repletos de esperanças, principalmente para o grande, grandíssimo jogo.

Amém.

Foto – Arquivo pessoal.
Um oportuno adendo clicando aquihttp://www.coracaoemquadra.blog.br/2010/04/02/joinville-63-x-71-saldanha-da-gama/.