ANOS LAMENTAVELMENTE PERDIDOS…

TRISTE, MUITO TRISTE…

Em 2013 escrevi e postei o artigo O Prodígio, que sugiro fortemente que o leiam, antes de prosseguir a leitura do artigo que hoje posto. E o por que da sugestão, senão pelos fatos irrefutáveis de que nada, absolutamente nada mudou no cenário pobre e carente do basquetebol nacional, apesar dos “altos” investimentos em tecnologias midiáticas, televisivas, patrocínios e parceria com uma NBA voltada muito mais aos seus interesses econômicos e comerciais, do que realmente ajudar a mudar a mesmice técnica da parceira tupiniquim, decidida e servilmente submetida às migalhas da matriz, e sabedora incorrigível de que os parâmetros financeiros da mesma são e serão irremediavelmente inalcançáveis por uma modalidade desportiva que mal sobrevive em um país que não desenvolve e apoia sua cultura e educação, quanto mais desportos…

(Pausa para a leitura)

Bem, para os que leram ou não, pergunta-se – O que não mudou? Estamos em 2020 e o artigo é de 2013, depois de um Pan Americano, e três anos antes de uma Olimpíada, que para o basquetebol foi trágica, com a equipe feminina derrotada em todos os jogos, e a masculina eliminada pela rival argentina. De lá para cá, foram mais quatro anos da mesmice endêmica técnico tática de sempre, porém maquiada por feéricos espetáculos, transmissões com narrações apopléticas e ufanistas, comentários fora da realidade, e acima de tudo, uma pobreza técnica pungente, onde nem a presença de muitos estrangeiros aufere benefícios, frente a dura realidade de que vigora no âmbito da maioria esmagadora das equipes do NBB, a “filosofia” dos cinco abertos, da autofágica sanha dos três pontos, e da mais absoluta e absurda ausência defensiva, fator alimentador dessa terrível realidade…

Terrível? Sim, e mais ainda quando brotam desse terreno inóspito um caudal de “filosofias” personalistas, na maioria copiadas sem referências autorais e bibliográficas, “lives” com palestras atulhadas de termos em inglês e conclusões estéreis e vazias de conteúdo, numa embromação que incomoda pela desfaçatez, assim como depoimentos históricos e personalistas, e nas poucas matérias técnicas, o cientificismo rolando solto, como a panacéia de todos os nossos males. Mas o buraco negro que nos engole sequer é cogitado de ser enfrentado, o salto a ser dado em nossa evolução técnico tática, que é decorrente da falência de um consistente preparo de professores e técnicos nos cursos superiores de educação física, cujos currículos das disciplinas desportivas foram esvaziados e minimizados pelas disciplinas da área médica, fator preponderante para a falência nos alicerces da pirâmide da formação de base, nas escolas e nos clubes, sem a qual, absolutamente nada alcançaremos para o soerguimento do desporto, e do grande jogo em particular…

No bojo cruel dessa pandemia, algo voltado a técnica deveria ter sido patrocinado pelas entidades que lideram e organizam o basquetebol nacional, dos princípios aos conceitos, da organização aos projetos formativos, do estudo ao compartilhamento da informação técnica e didático pedagógica, alimentando de conhecimentos e experiência todos aqueles que lutam e perseveram no ensino do basquetebol, situados nos confins deste imenso, injusto e desigual país, que sempre amou e prestigiou o grande jogo, mas que foi encampado por uma corriola oportunista e político interesseira, que se corporativou e se estratificou muito além do bom senso, a ponto de expurgar todo aquele que se opuser a seus dogmas, onde a importância estratégica do contraditório é simplesmente omitida, ou mesmo, defenestrada…

Os problemas e as falhas apontadas no artigo em questão são, após sete anos, os mesmos de hoje, como uma ou outra raridade inovadora rapidamente afogada, expurgada de um meio totalmente voltado a um sistema de ensino, preparo e aplicação prática, solidamente padronizado e formatado, formando e moldando “filosofias” definidoras do basquetebol que nos tem arruinado de vinte cinco anos para os dias de hoje, e o pior, sem indícios minimamente aceitáveis de que irá evoluir para melhor, lamentavelmente…

Que os deuses em sua magnanimidade nos protejam…

Amém.

Foto – Reprodução da TV.

O PULO DO GATO…

O macro detalhamento de um bem direcionado arremesso

Dois meses sem nada publicar. Falta de assunto, ou efeito de uma quarentena claustrofóbica? Quem sabe um excesso de informação, lives (?) mil, Zoom’s (?) de todas as formas e enfoques, algumas boas, a maioria dispensável, mas que ocupam mentes ociosas e ávidas de algo que as inspirem. Tem tido um pouco de cada assunto, do histórico da LNB aos avanços da neurociência voltada ao treinamento e preparo de jogadores, de candidatura política às premiações virtuais do NBB, mas raríssimas sobre técnicas de jogo, nada sobre formação de base, e absoluta ausência sobre formação de professores e técnicos do grande jogo, e o silêncio sepulcral sobre uma ENTB/CBB fundamental, hoje cremada, e associações de técnicos cobrindo esse imenso, desigual e injusto país, duas ou três, ineficazes pela ausência de uma coordenação nacional…

Esse Basquete Brasil, humilde blog que persiste a 15 anos, que nada publicou nestes dois meses, em momento algum deixou de ser consultado, prioritariamente em seus enfoques técnicos, fundamentos básicos do jogo, comentários, críticas técnicas, análises fundamentadas e respaldadas na prática dentro das quadras, alcançando 500 mil comentários assinados, jamais sob o manto do anonimato, responsável por números astronômicos de muitos blogs, a maioria hoje desaparecidos, e mesmo assim sequer é convidado a participar de uma recente live (?) entre promotores do grande jogo no país, promovido pela LNB…

Mas algo sempre aparece, apesar de pandemias e quarentenas, algo que merece ser discutido, como uma matéria veiculada pela televisão no Esporte Espetacular, aqui mencionada, e que vale a pena dar uma olhada, pois tem muito a ver com o tipo, a forma atual de jogar um basquetebol midiático e “científico”, onde a chutação de três se torna endêmica, com a mais discutível desculpa de que “embelezou” o jogo, mas que não resiste ao lúcido argumento de um mítico Dominique Wilkins, quando afirma que o jogo sempre será decidido pelo coração e a inteligência dos jogadores, que são dados imensuráveis pelas estatísticas, e mesmo contestado pelas duas variáveis apontadas pelos especialistas, a trajetória de 45 graus, e a profundidade de entrada de 26cm, como responsáveis pelos altos ganhos em eficiência nos longos arremessos, omitindo o mais importante dos fatores, ou variáveis, como queiram, o controle de direção dado a bola por uma pega específica, responsável pela manutenção do paralelismo ao nível do aro da cesta, e concomitante equidistância do eixo diametral da bola dos bordos externos do mesmo, no exato momento de sua soltura, que são ações críticas e de alto desempenho daqueles poucos jogadores mais habilidosos, e com uma fortíssima aderência na superfície da bola, o que explica em parte, a iniciativa dos grandes e fortes pivôs, vítimas das rarefeitas jogadas a eles dirigidas, de abrirem para fora do perímetro a fim de tentarem a sorte. Por possuírem braços e mãos muito fortes, conseguem arremessar dos três pontos com facilidade, mas nem sempre com precisão, desfalcando seriamente o poderio reboteiro de suas equipes…

Então o que vemos em matérias como essa publicada, senão uma forma bastante inteligente de pontuar tecnicismos científicos e estatísticos, omitindo o pulo do gato, que são aqueles macro detalhes de empunhadura que definem o controle mais perfeito e preciso do direcionamento da bola, que de tão crítico e progressivo a cada centímetro afastado da cesta, com tolerância nos desvios na casa dos 0,5 / 1,5 graus, torna-o proprietário de uma elite de pouquíssimos jogadores…

Ironicamente, coube a mim uma tese de doutorado defendida na FMH/UTL de Lisboa em 1990 (*), até hoje única na abordagem temática do controle direcional do arremesso com uma das mãos, que define os macro detalhes acima mencionados nas cinco empunhaduras possíveis de ser encontradas entre os mais diversos tipos de jogadores, e que explica detalhadamente como as mesmas incidem e definem o direcionamento da bola a cada arremesso efetuado. A série Anatomia de um Arremesso, aqui publicada, e largamente consultada neste humilde blog, e claro, também e intensamente acessada pela turma lá de fora, assim como a tese original, que apesar de doada por mim à CBB, jamais foi divulgada, mas isso é outra história…

Pretendo postar mais alguns artigos sobre essa temática, pois necessitamos urgentemente de honestas e profundas discussões a respeito, por sua transcendental importância para o grande jogo entre nós, principal e estrategicamente na formação de base, tão abandonada e moribunda…

Amém.

( * ) –  

Fotos – Arquivo pessoal.