ARTIGO 800 – ETAPAS CUMPRIDAS…

Tenho trabalhado muito nestas duas últimas semanas, quando por conta deste que será o artigo 800, pretendia colocar na rede o blog do CBEB, Centro Brasileiro de Estudos do Basquetebol (substituindo a ECB, Escola Carioca de Basquetebol, que não seria coerente a já existente ENTB/CBB…), com matérias já escolhidas e catalogadas, regulamentos e funcionamento do mesmo, mas a disponibilidade técnica, visando uma produção enxuta e agradável, esbarrou em uma indisponibilidade de tempo hábil, por parte do meu filho e web designer qualificado, André Luis, para concluir o trabalho. Por essa razão, fica adiado em mais alguns dias o lançamento do novo blog.

Criou-se então um grande impasse para mim, o de saudar tão surpreendente marca numa abordagem referencial e única, o que tento daqui para diante.

Desde setembro de 2004 venho discutindo e dialogando com os leitores, assuntos sobre os fundamentos do jogo, técnicas e táticas, treinamento, organização e administração da modalidade, política desportiva, com o basquete em particular, histórias do grande jogo, ética profissional, ética pessoal, ética e responsabilidade funcional, jamais admitindo manifestações apócrifas e anônimas, que tanto preenchem em número e inqualificável presença, blogs campeões em acessos e popularidade, servindo de veículos a opiniões, posições e ataques covardes, pusilânimes e espúrios, escondidos pelas sombras do anonimato e dos covardes heterônimos. Seria algo de grandioso que os blogs nacionais abolissem tais acessos, viabilizando discussões e debates responsáveis, pois assinados e assumidos com a transparência das ações realmente democráticas.

Nesse espaço profundamente democrático, muitas foram os comentários divergentes dos meus, mas discutidos às claras, de frente, e assinados responsavelmente. O direito de resposta sempre esteve aberto, escancarado, mas em nenhum momento da existência do blog, foi requisitado e utilizado, prova inconteste da lisura e honestidade dos posicionamentos aqui postos em todos os 799 artigos antecedentes a este. E ao nos reportarmos aos artigos centenários deste humilde blog, podemos traçar e mapear importantes etapas no seu amadurecimento e posicionamento confiável no âmago de seus leitores, simpatizantes ou não, mas nunca indiferentes aos instigantes assuntos desde sempre abordados e discutidos nestes seis anos de sadia e transparente convivência.

O artigo 100 (UM CEREBRO, PROCURA-SE…), publicado em 27/7/05, iniciava uma abordagem sobre as dificuldades de encontrarmos jogadores habilidosos na armação, assunto esse que serviu de base a uma prolongada campanha, no intuito de desenvolvermos a dupla armação em nossas equipes. Neste estágio do blog, poucos eram os comentários dos leitores, fator que me fez pensar, inclusive, em não dar continuidade ao mesmo, logo substituída pela esperança de vermos soerguido o grande jogo entre nós, bastando para tanto, dedicação e insistência na procura de nossos perdidos valores.

Mais adiante, nos 200 ARTIGOS DE LUTA…, publicado em 30/8/06, tivemos a primeira manifestação pública de um técnico engajado, discorrendo as grandes dificuldades encontradas no dia a dia de seu trabalho, demonstrando com o seu exemplo, ser possível reinvidicar através um órgão de mídia, melhores condições de trabalho, conclamando colegas a um posicionamento mais profissional, e menos omisso. Foi um marco irrepreensível, e inesquecível.

Artigo 300 – A LUTA CONTINUA…, publicado em 24/6/07, foi um começo auspicioso para algumas mudanças técnico táticas em algumas (poucas…) de nossas equipes de elite, principalmente na utilização eficaz da dupla armação, e da retomada do jogo de pivôs, privilegiando aqueles mais ágeis e rápidos, em contra ponto àqueles mais lentos, fortes e massudos. As equipes que assim agiam se tornavam mais competitivas, com um domínio dos fundamentos mais eficiente (fruto da escalação de dois armadores técnicos…), e com definições mais rápidas no perímetro interno, além, é claro, de se saírem melhor e mais eficientemente nos sistemas defensivos, com o aumento da velocidade, propiciando maior precisão nas antecipações.

A participação e insistência nesses princípios técnico táticos, aliada a divulgação mais insistente ainda, da importância dos treinamentos dos fundamentos para todos, da base à elite, tornaram o blog num ponto referencial de discussões, de acalorados debates, onde todos que participavam eram lidos, analisados, aceitos, ou não, mas sempre propugnando pela clareza, responsabilidade, e acima de tudo, transparência opinativa e livre.

Mais adiante, um artigo 400 – UM PREITO AOS QUE MERECEM…, publicado em 19/3/08, onde a ininterrupta busca pelos valores que desde sempre, e de um passado brilhante, lutaram pelo engrandecimento do grande jogo entre nós, conclamando à união, ao associativismo profissional, fator básico ao progresso da modalidade, onde uma associação de técnicos teria importância vital na evolução do basquete, não fosse este o grande óbice ao nosso desenvolvimento. A inexistência de uma associação de técnicos é sem dúvida alguma a grande falha por onde drenam nossos valores, nossas tradições, nossos princípios e conceitos, nossa independência dos arrivistas e aventureiros que tanto empesteiam o grande jogo. E por tudo isto, a luta deveria continuar…

Chegamos então ao artigo 500 – FALEMOS DE TÁTICAS E SISTEMAS II…, publicado em 25/12/08, onde demos dois saltos ao mesmo tempo, um, na mudança gráfica do blog, agora mais profissional, mais amplo, mais amigável no trato diário com os leitores, confirmando e sedimentando sua proposta democrática, ampla e discursiva. Outra, inaugurando infográficos técnico táticos, facilitando a compreensão de sistemas e métodos voltados aos novos técnicos, sequiosos de materiais ilustrativos e de grande alcance, no que poderia ser adaptado pela futura ENTB, pulverizando informações, viabilizando o acesso das mesmas pelos mais recônditos recantos deste imenso país, e não reunindo técnicos e futuros candidatos a sê-los, em encontros formais e pontuais de 3-4 dias para provisioná-los como técnicos ligados a discutíveis e precários níveis de 1 a 3.

Seguindo em frente, o artigo 600 – PAPEANDO COM O WALTER 2…, publicado em 22/8/09 ( continuação do PAPEANDO COM O WALTER…, de 19/8/09), o blog, já em sua fase adulta e experiente, demonstra como deveriam ser os debates e discussões pela grande rede, envolvendo técnicos, leitores, dirigentes, e por que não, jornalistas, todos de cara limpa, de frente para os debates, e não como a maioria comentadora, camuflada covardemente, por não ser dotada de seriedade e responsabilidade, egoísta incorrigível que é, no seio de sua permanente e catilinária função.

Finalmente, uma série de artigos, onde o de número 700 – O QUADRAGÉSIMO DIA – A VIAGEM…, publicado em 31/3/2010, nos situa numa posição inesperada, mas repleta de simbolismos e grandes perspectivas, pois afinal de contas, o blogueiro Paulo Murilo, despe-se de sua túnica midiática e vai para o centro do proscênio da elite do basquete tupiniquin, reduto de pouquíssimos e referenciais técnicos de basquetebol, numa liga de âmbito nacional, a LNB, tentando demonstrar que a teoria (como muitos, ou a maioria nos definia, um teórico do grande jogo…) é a alma mater da prática, indissoluvelmente ligadas, principalmente na competição de alto nível, onde o despreparo genérico e cumulativo de saberes e competências cede lugar a um exército de especialistas pontuais, pois estudar de tudo um pouco, ou muito, torna-se inviável (?) pela “velocidade” dos novos tempos, ao se anteporem aos mais antigos, aos velhos mestres, aqueles que detém os profundos saberes, e aos quais devoto imensa gratidão e reconhecimento pelo pouco que sei e amealhei em mais de meio século de trabalho, e a cujas memórias, ensinamentos e inolvidáveis lembranças por todos eles deixadas, prometi transmitir e legar às novas gerações através meu trabalho e esse humilde blog.

E enfim, chegamos hoje, 30 de março de 2011, ao artigo 800, esperando que todos eles tenham sido úteis aos novos e atuais técnicos e professores, aos leitores que sempre nos prestigiaram, aos jornalistas que nos divulgaram, comentaram, divergindo ou não, aos jogadores, iniciantes ou veteranos, que tanto nos argüiram, sempre respondidos, sem uma omissão sequer, aos dirigentes clubísticos, federativos e confederativos, de ligas regionais e nacionais, que quando do alto de suas identidades aqui formularam opiniões, mesmo divergentes, foram recebidas e divulgadas com o devido respeito e consideração, todas visando os mais altos interesses do grande jogo no país.

Terminando, um pedido aos eternos e polipresentes anônimos que tanto amam ver seus comentários e opiniões divulgados pela mídia blogueira, muitos dos quais poderiam, de verdade e sem subterfúgios, colaborarem eficiente e decisivamente no soerguimento do basquetebol pátrio, tão cioso e carente de presenças, de ações, de determinações, de luta, a verdadeira, a do bom combate, de frente, com coragem e desprendimento. A política de baixo nível tem de ceder espaço ao trabalho e ao estudo, fatores determinantes ao progresso de um país, do qual o desporto, o basquetebol, o grande jogo, fazem parte.

Amém.

OBS – Clicar na imagem e nos títulos em vermelho para acessar conteúdos.

LAMENTÁVEIS IMPRECISÕES…

No artigo anterior, A Temível Convergência, mencionei a grande preocupação que venho sentindo com a galopante tendência de nossas equipes de elite arremessarem de três, quase no patamar nos de dois pontos, que em se tratando de equipes referenciais, fatalmente servirão de exemplo para as divisões de base, numa escalada em que sistemas de jogo e arremessos de curta e media distâncias, mais precisos e confiáveis, cederão cada vez mais espaço ao descompromisso técnico tático, representado pelos longos, imprecisos e irresponsáveis arremessos de três, incensados pela mídia, como um apanágio de técnica superior, mas que na realidade é habilidade reservada a muito poucos, inclusive em âmbito universal, vide a tão propalada e divulgada NBA, com seus especialistas contados nos dedos de uma das mãos.

Ato contínuo à publicação do artigo, o jogo de terça feira entre o Flamengo e Franca, confirmou essa tendência de forma exemplar, vide os números estatísticos apresentados ao término da partida, com as duas cestas finais em arremessos de três pontos, dando a vitoria à equipe do Flamengo.

Foram 22/34 arremessos de dois pontos, e 10/29 de três pelo Flamengo (cinco a menos), contra 17/35 e 9/25 pelo Franca (dez a menos), onde os percentuais de acerto das tentativas da equipe rubro negra atingiram 64% nos dois pontos, e 34% nos de três, numa espantosa desproporção de 44 pontos em tentativas de dois, contra 30 obtidos com os de três, perdendo 19 arremessos que poderiam ter sido mais eficazes se realizados de curta distância( jogo quase inexistente de pivôs ou penetrações em velocidade), ou com a utilização do esquecido e desprezado DPJ (drible, parada e jump) por parte da esmagadora maioria de nossos armadores…

Os números de Franca são correlatos, com 34 pontos de acertos nos arremessos de dois (em 35 tentativas, ou 45.9%), e 27 pontos de três em 25, com 36% de aproveitamento, provando o quanto de desperdício foi cometido (e vem sendo cometido por todas as equipes da Liga) através, no caso deste jogo, de 54 tentativas de três pontos, com somente 19 acertos por ambas as equipes, ou seja, 35 ataques de imprevidência, imprecisão e enganosa auto suficiência, numa arte restrita a muito poucos, vilipendiada inclusive (e na moda…) por pivôs, que insatisfeitos em participar somente como reboteiros em suas equipes, vem para fora do perímetro duelar com seus próprios companheiros pelos pontos a eles negados, o que é profundamente lamentável e preocupante.

Mas outra, e também preocupante imprecisão leva a sutil e fluida  denominação de arbitragem caseira, artifício que alguns juízes aplicam em situações melindrosas, vide o exemplo de terça feira, num ginásio sufocante pelo calor emanado por uma torcida vibrante, numa noite de chuva intensa, deixando pairar no recinto uma névoa de humidade que cobrou dos jogadores escorregões perigosos, mas não tão perigosos como uma situação que já vai se tornando corriqueira em jogos do Flamengo no ginásio tijucano, que sempre ataca no segundo tempo no sentido da cesta contrário à sede do clube, propiciando uma descida em massa de torcedores mais exaltados para trás da mesma, numa pressão bem conhecida nos campos de futebol, ante o ataque adversário, acrescida pela impunidade flagrante com a ausência de um policiamento ostensivo no local. Neste jogo, não observei um único policial fardado dentro do ginásio, numa falta flagrante de organização (lugares e setores marcados, nem pensar..).

Pois bem (ou mal…), nos minutos finais a equipe de Franca exerceu uma reação bem típica em sua equipe, através a mobilidade de seu armador Benite, encostando, e até ultrapassando o Flamengo no marcador por um ponto. Nesse momento, a torcida desce da arquibancada lateral para trás da cesta defensiva do Flamengo, pressionando claramente os adversários e os árbitros pela não marcação de faltas pessoais, naquele momento, decisivas para a definição do jogo. E não deu outra, quando estando um ponto atrás a equipe francana exercendo uma pressão enorme vê seu jogador Spillers ser violentamente obstado pela defesa rubro negra, numa flagrante falta pessoal, e nada ser marcado, a não ser um simples ataque bola ( No blog do Prof. Byra Bello, Lance-Livre, um pequeno vídeo mostra esses minutos finais com razoável precisão), numa omissão que poderia ter mudado o resultado do jogo, logo a seguir definido com duas cestas de…3 pontos, dando números finais a uma vitoria justa da equipe da Gávea, que poderia ser bem mais lapidar se ainda preservássemos a tradição de lisura e comportamento de torcidas do grande jogo, que desde sempre se comportaram no contra ponto das do futebol, agora deslocadas em sua fúria nas quadras sem alambrados e barreiras dos ginásios, estando a um passo de sérias invasões se contrariadas. Sinceramente, temo que isso venha a ocorrer se providências não forem tomadas, o mais rápido que puderem ser cosumadas. A LNB deve se preocupar com isso, e o exemplo das ocorrências do Nilson Nelson no NBB2 devem servir de exemplo.

Com o campeonato se dirigindo ao seu final, e com o equilíbrio competitivo das equipes, urge que cerquemos de cuidados uma competição que poderá se tornar, junto com um trabalho aprimorado de base, num verdadeiro e esperançoso soerguimento do grande jogo entre nós. Assim torço e espero.

Amém.

OBS-Cique na foto para ampliá-la.

A TEMÍVEL CONVERGÊNCIA…

Nestas duas últimas rodadas do NBB3, pudemos constatar um aumento na convergência entre os arremessos de 2 e os de 3 pontos, que vem se acentuando a cada rodada do campeonato, numa tendência nem um pouco desejável ao nosso desenvolvimento técnico tático, visando um futuro menos constrangedor nas competições internas, assim como, e principalmente, nas internacionais.

Em seis dos últimos vinte e oito jogos, aconteceram convergências que variaram de um arremesso de diferença ( 28/29 -Pinheiros contra Brasília) a cinco nos demais cinco jogos, com uma equipe, o Vila Velha, se repetindo em duas ocasiões, isso quando mencionamos a convergência crítica de até cinco arremessos, cuja tendência de freqüência cresce a olhos vistos, bastando darmos uma simples revisão nas estatísticas das últimas cinco rodadas.

Casos extremos, como o de pivôs pesados voltarem aos arremessos de três estão se avolumando, como o Tiagão em suas 0/7 tentativas na rodada passada, numa prova inconteste de que sistemas de jogo estão sendo  abandonados em função dos fáceis (assim pensam ser…) arremessos do meio da rua, abandonando seus posicionamentos fundamentais próximos à cesta, indo rivalizar e competir com os lançadores de ofício (que também pensam ser…) de suas equipes, e com o aparente (já que não obstado…) beneplácito de seus técnicos.

E como toda sangria indesejada, o estancamento exige pressões acentuadas por sobre uma ferida que nos está levando a uma gangrena irreversível, cada vez mais nos afastando do bom senso ao jogar o grande jogo. Claro que temos de arremessar, mas não dessa forma irresponsável e suicida.

Como a utilização prolongada (mais de 20 anos…) e globalizada do sistema único já se tornou num concreto ciclópico, e na mais completa ausência de um sistema (ou sistemas…) que o pudessem contrapor, tornou altamente previsível TODAS as movimentações de ataque, facilitando sua contenção primaria de defesa, daí o artifício ( bem vindo pelos medíocres de fora e de dentro das quadras…), dos arremessos de três, com a desculpa singela, mas desprovida de qualquer fundamentação aceitável, de ser a arma letal para abri-la e contestá-la.

Imaginem e se conscientizem neste ponto ( encruzilhada?…) em que nos encontramos, quando desde as divisões de base tal exemplo se estabelece como um vírus indetectável, porém poderoso e maligno, na formação de nossos futuros jogadores, onde arremessos de longa distância cristalizam uma conquista sem os traumas de cansativos treinamentos de dribles, fintas, passes e corta-luzes, assim como os de defesa, já que, a exemplo das divisões de elite, não se antepõem aos mesmos, e sequer tentam fazê-lo?

Assistam, se puderem, o March Madness da NCAA que se inicia amanhã, e verão que dentre as 68 equipes classificadas muitas aderiram à moda dos arremessos de três, algumas de forma irresponsável (creio que já não se produzem técnicos da qualidade dos mais antigos e tradicionais da grande liga universitária americana…), frutos do marketing e da projeção midiática, mas ainda sendo mantido o fenomenal poder defensivo, e jogo interno poderoso e bem formulado, das melhores equipes da competição, aquelas que definirão as finalistas.

Precisamos com urgência estancar essa hemorragia que nos enfraquece aos olhos do mundo, estudando e pesquisando novos sistemas de jogo, que potencializem nossas melhores qualidades, que nos obriguem à volta dos treinamentos dos fundamentos, mostrando e demonstrando aos mais jovens os caminhos pedregosos e difíceis do controle do corpo, da mente e da bola, do sentido de equipe, do valor incomensurável dos arremessos curtos e médios, mais seguros e confiáveis, deixando os de longa distância nas mãos daqueles muito poucos especialistas de verdade, e mesmo assim em condições de liberdade e equilíbrio totais.

Não vejo outra forma de encararmos de frente essa nossa já histórica deficiência, a começar pelos novos técnicos, que deveriam ser instados a novas concepções técnico táticas, a novas formas de ensinar o grande jogo, com eficiência didática e metodológica (jamais alcançadas em cursos de 4 dias de duração…), onde o mérito de cada conquista, de cada etapa, deveria ser a meta a ser atingida, e não a cópia canhestra e o brilho enganoso do ouro dos tolos.

Que essa progressiva convergência seja combatida com vigor e inteligência, pois em caso contrário iremos às quadras para assistirmos constrangidos, desde as divisões de base, até as principais, torneios de arremessos absurdos e mentirosos, e para gáudio de uma certa imprensa, complementados com enterradas fulgurantes e circenses, pois segundo sua distorcida e bem orientada ótica, é disso que o povo gosta…

Honestamente não acredito nisso.

Amém.

OBS-Na foto(clique na mesma para ampliá-la) um  exemplo de arremesso de media distância como resultante de um trabalho no perimetro interno.

O ESPORTE NÚMERO UM…

Quando dos meus 70 anos, publiquei uma série de artigos retratando algumas das muitas equipes que dirigi ao longo de 50 anos de quadra, e nesta semana quando diversas mídias reproduziram uma entrevista do locutor Galvão Bueno, cedida ao O Globo.com, quando o mesmo, para surpresa de muitos relatou: (…)“Minha cena inesquecível na TV foi a incrível vitória do nosso basquete masculino com Oscar e Marcel, no Pan de Indianápolis. Por questões de direitos televisivos, a (final) foi transmitida só nas TVs educativas e eu vi num quarto de hotel, sozinho e chorando. Basquete sempre foi meu esporte número um”(…). Afianço sua preferência pelo grande jogo, no qual, inclusive, foi um talentoso praticante. Neste artigo, duas fotos são publicadas, onde no grupo masculino, que é a seleção brasiliense no Campeonato Brasileiro Juvenil de Belo Horizonte em 1968, da qual fui o técnico, o Galvão(que era jogador da equipe do Minas-Brasilia, dirigida pelo Prof. Pedro Rodrigues) é o segundo, da esquerda para a direita, na fila da frente, e na foto do grupo feminino, que é a equipe do CPP de Brasília, campeã  dos Jogos da Primavera do Jornal dos Sports em 1969 no Rio de Janeiro,  primeiro titulo de uma equipe feminina de esportes coletivos da nova capital, o Galvão é o primeiro em pé a esquerda, quando me auxiliou naquela conquista. Sem duvida alguma, o basquete sempre foi seu esporte número um.

ÚLTIMO DIA EM CABO FRIO…

Creio que nada seja mais gratificante do que treinar uma equipe que luta para sobreviver à uma má fase, às derrotas seqüenciais, à baixa continua e inexorável da perda da auto-estima, do respeito a si mesma.

Não sinto qualquer atrativo pela direção de “nomes” e de fachadas, de cardeais e delfins, mas sim aqueles bons e até ótimos jogadores, depreciados e subutilizados no dia a dia de uma equipe de alta competição.

Maravilha, apresentar um projeto onde constam estrelas e candidatos às seleções nacionais, minorias que em muitos casos (as exceções não contam…) não refletem com alguma precisão o quem é quem da realidade técnica de uma modalidade tão complexa como o basquetebol, mas que locupletam uma pseudo elite bem promovida e magnificamente assessorada por marqueteiros profissionais. Por conta de tal distorção, menos técnica, e muito mais política, muitos reais valores se perdem pelos caminhos do ostracismo e da mais absoluta ausência de uma simples vitrine onde pudessem mostrar e demonstrar o que valem (daí o valor incomensurável da postagem de vídeos de jogos pelas LNB e pela CBB na grande rede…), como indivíduos, como jogadores, assim como, muitos e autênticos técnicos e professores, formados ao longo de reais experiências, estudos e pesquisas práticas, e não  provisionados   em cursos de 3 a 4 dias sentados às centenas num auditório da vida.

Coerentemente ligado a estas constatações, é que me comprometi treinar a equipe do Cabo Frio, não encontrando, lamentavelmente, um mínimo suporte econômico administrativo para um trabalho a médio prazo, como fora o combinado e estabelecido, tornando praticamente impossível qualquer resultado positivo contra as equipes que ponteiam a competição.

Mesmo assim, nos preparamos da melhor forma que nos foi possível para o jogo contra o Tijuca, definidor para a continuidade competitiva da equipe, visando sua classificação ao playoff semifinal.

Ao contrário das opiniões de técnicos de arquibancada, em sua total maioria compostos de pusilânimes anônimos (jamais aceitos e postados aqui nesse blog…), foi um jogo onde a predominância técnica e  tática foi centrada na maior das deficiências da esmagadora maioria das equipes brasileiras, de todos os níveis e faixas etárias, a sempre omitida e depreciada, defesa.

Foi uma titânica batalha de defesas, quando imperou, no quarto final, aquela que possuía a melhor reserva de energias, combustível estratégico para seu sucesso final, a equipe tijucana.

Do lado da equipe de Cabo Frio, um posicionamento na linha da bola, e de marcação dos pivôs à frente por todo o tempo, enfrentando o sistema único de jogo utilizado por um adversário superior em estatura e velocidade.

Por outro, uma equipe pressionando forte e energicamente os dois armadores, na tentativa de evitar que os mesmos contatassem os três pivôs móveis que se deslocavam permanentemente em seu perímetro interno, originando arremessos curtos, mais precisos, e sendo beneficiados por lances livres em quantidade, e ambas, enfrentando uma quadra emborrachada e escorregadia com um aumento drástico da umidade ambiental, que levava os jogadores à estafa pelo esforço extra para se manterem em equilíbrio razoavelmente estável.

E com este cenário de luta permanente e estafante, dois ou três arremessos de longa distância determinaram o resultado da partida, demonstrativa da capacidade que temos, sim senhores, que temos de defender, na medida que treinemos a arte de fazê-lo, preferencial e estrategicamente desde as divisões de base, com técnicas específicas e evolutivas, e não explicitadas em ações de cunho físico, onde a força em muito tenta superar as técnicas defensivas, conotando desgaste e exaustão desnecessárias.

Terminado o jogo, me despedi dos coesos jogadores, contrariado pela situação originada pela não definição contratual, mas pleno de certeza do cumprimento da parte a mim reservada, leal e corretamente.

Quem sabe em um outro momento tornemos a nos encontrar?

Amém.

OBS-Clique na foto para ampliá-la.

O SÉTIMO DIA EM CABO FRIO…

Hoje, sétimo dia em Cabo Frio, treinamos para o jogo contra o Tijuca amanhã, quinta feira.

Conversamos muito sobre o jogo de terça com Macaé, quando previsíveis erros foram cometidos, pela premência de tempo, locais e estrutura para evitá-los. Antes, pela tarde, assistimos ao vídeo do jogo, realizado por um de nossos jogadores que não atuou, e editado pela esposa de outro, numa ação entre amigos elogiável, mas que deveria fazer parte de uma pequena equipe de apoio a sustentar um setor técnico indispensável a uma equipe de alta competição.

Dirimimos dúvidas técnicas e posicionamentos táticos, mesmo sabedores que alguns ainda deverão ser repetidos pela ausência de trabalho prático, impossível de serem corrigidos em um único treino antecedente ao jogo de amanhã. Mas todo esforço que pudéssemos despender seria valido em função da diminuição, e mesmo administração dos mesmos.

E assim foi, numa ação intensa, detalhada e disputada com atenção e cuidado. Aproveitamos para reintegrar um jogador ausente dos treinos iniciais, assim como colocar em jogo outro que não participara do jogo de ontem por problemas em sua inscrição na CBB.

Logo, teremos para o jogo cinco opções de banco, que poderá representar uma grande diferença, se comparada com as três do jogo anterior.

Estarei, como ontem, sozinho no banco, o que continuarei a lamentar, mas como o prometido e compromissado junto aos jogadores, me despedirei da equipe cumprindo o estabelecido, mesmo que a recíproca administrativa e econômica jamais pensou em ser verdadeira.

Como bom professor, e melhor aluno que sou, aprendi, e o mais importante, apreendi de forma presente, todo um processo rasteiro que levou o grande jogo de roldão nos últimos 20 anos, compreendendo-o agora, pelo lado de  dentro,  sua pseudo-estrutura,  confirmando em toda sua plenitude o lema constante do MSN do presidente da Liga Cabofriense de Basquete, que solenemente afirma – VENCER NA POLÍTICA NÃO É TUDO. É A ÚNICA COISA.

Bem intencionado, caí e me embaracei numa rede de falsas promessas contratuais,  fato indesculpável,  não tendo nada mais a dizer. Perdoem-me.

Amém.

NO MAN IS A ISLAND (O JOGO)…

Em inúmeros artigos aqui postados, discorri sobre a solidão do comando, de sua imutável e irrecorrível realidade, a da tomada responsável de decisões fundamentadas no conhecimento, na experiência e na irrestrita certeza de ter tomado o caminho mais correto possível, tanto no aspecto técnico, como no aspecto fundamentalmente humano.

Mas nunca a tinha experimentado na acepção do termo, quando na direção de uma equipe adulta, sozinho num banco de reservas acompanhado de três jogadores qualificados, e um impossibilitado de participar do jogo por problemas de inscrição, além de um outro fora da quadra com problemas de visto de trabalho a ser resolvido.

Um assistente técnico, nem pensar, assim como um fisioterapeuta, um estatístico, ou mesmo um mordomo. Do outro lado, uma equipe bem estruturada que ainda reclama melhores condições de trabalho, num flagrante descompasso perante a dura realidade de nosso basquete de elite(?).

Mesmo assim houve um jogo, que poderíamos ter ganho se pudéssemos ter contado com um dos dois armadores impossibilitados administrativamente de participar, fator que já previra quando do treino que antecedeu a partida.

Desculpas?  Falsas explicações? Não, somente uma constatação técnica e tática, pois os cinco pivôs móveis que se revezaram em trincas durante todo o transcorrer do jogo, o fizeram eficiente e consistentemente, ao contrário dos dois armadores de ofício, e do ala adaptado na função, que não puderam manter o equilíbrio linear, já que suas intensas funções ofensivas e defensivas, sem as devidas e fundamentais rotações, os levaram a um grau de exaustão limite, responsável por alguns erros pontuais, importantes no resultado final, além de um fator arbitral de monta, principalmente no quarto final da partida.

Naquele quarto, a imprecisão defensiva por parte da equipe de Macaé sobre os três pivôs  que concluiam dentro do perímetro interno, forçaram seus defensores a um jogo extremamente físico, e em muitos casos faltoso, sem que os juízes interviessem pela marcação das faltas que se fartaram de existir. Compreende-se que perante um sistema compressivo dentro da zona restritiva, onde seis homens se defrontavam, o grau de dificuldade, motivado pela velocidade das ações, confundissem um juiz, ou outro quanto ao descumprimento das regras em vigor, mas nunca os três juntos, que assistiram defensores puxarem, se dependurarem e bloquearem faltosamente os atacantes impunemente, conseguindo com estas ações reverterem o placar em seu favor, somando-se ainda o cansaço dos armadores sem as rotações necessárias.

E mais, naquele quarto final, face aos fatores acima apontados, uma situação conflituosa ia sendo deflagrada, como resultante da ausência das marcações de faltas, ostensivamente expostas, e negligenciadas pela equipe arbitral. O não costume de arbitrar jogos com seis homens lutando na zona restritiva, pode ser até reconhecido, face a total similitude ofensiva da grande maioria das equipes brasileiras, sugerindo com isso uma padronização de critérios de arbitragem. Mas daí, deixarem de aplicar o rigor das regras, quanto a faltas pessoais realmente ocorridas, mesmo fora dos padrões e critérios existentes pela mesmice técnico tática, é outra bem diferente história, e que precisa ser discutida e referenciada, pois, caso contrário, será quase impossível a adoção de novos sistemas onde a participação massiva de jogadores nas zonas restritivas se façam presentes.  Se me for possível, veicularei o vídeo deste jogo, para que todos nós possamos analisá-lo e discuti-lo, inclusive os árbitros.

Enfim, jogamos um bom jogo, parabenizamos os vencedores, e não gesticulei nem me indispus, mesmo revoltado, com qualquer dos juízes, como sempre ajo nos jogos. Finalmente, não me conformo, em hipótese alguma, com a situação de indefinição material e técnica por que passa toda uma equipe composta de bons e dedicados jogadores, e torço, sincera e honestamente, para que encontrem um porto seguro, a fim de darem prosseguimento a sua pungente saga, assim como seguirei meu destino, na initerrupta busca de condições dignas e justas, onde compromissos de trabalho sejam devidamente honrados.

Amém.

OBS- Clique nas imagens para ampliá-las.

O QUARTO E QUINTO DIAS…

Quarto dia- Fizemos um treino matutino de fundamentos específicos para armadores e pivôs, numa tentativa de anteciparmos as etapas de ajustes entre as ações de fora e de dentro do perímetro, ações estas que necessitam de um bom espaço de tempo para serem dominadas, pois a coordenação entre os dois segmentos é difícil e exige que muito tempo seja despendido. Mas, o primeiro jogo sendo no dia seguinte, algo deveria ser tentado, mesmo com uma perda de precisão, acentuada pela quase certeza de que o armador chileno recém chegado teria poucas chances de participação, dado a pequenos detalhes burocráticos necessários a sua inscrição junto à CBB.

Três armadores é o mínimo necessário à rotação obrigatória no sistema que empregamos, e a ausência do bom jogador chileno teria de ser coberta por uma improvisação, no preparo de um ala, objetivando sua nova e difícil missão. Logo, nossa maior carência tática já se delineava para o jogo.

Os exercícios específicos constavam de dois pequenos circuitos delineados por cadeiras, onde as movimentações de armadores e alas pivôs tentavam recriar situações de jogo e suas peculiaridades.

Finalizamos a pratica com exercícios de arremessos, principalmente os DPJ (drible, parada e jump), e os lances livres.

No treino vespertino, a impossibilidade de utilizarmos uma quadra de jogo, emborrachada, e limpa com detergente de base oleosa, tornando-a perigosamente escorregadia, fez ruir nossa pretensão de aplicarmos e desenvolvermos as ações de coordenação entre os armadores, atuando fora do perímetro, com os alas pivôs dentro do mesmo, agregando mais um atraso na preparação técnico tática da equipe.

Quinto dia- Conseguimos o ginásio da Associação Atlética Cabofriense para o treino da manhã, cuja quadra de jogo apresentava somente uma das cestas em condições, permitindo sua utilização para exercícios em meia quadra. Enfatizamos ao máximo que podíamos o entrosamento entre armadores e pivôs móveis, repetido e detalhadamente, sabedores, no entanto, que muito e muito mais teríamos de praticar o novo sistema, diferenciado em tudo do que era realizado por todos os integrantes da equipe, mas num ritmo mais contido a fim de não nos desgastarmos para o jogo da noite.

Foi um treino de boa qualidade, no qual já começava a se desenhar as soluções ofensivas criadas pelos próprios jogadores, ao desenvolverem com mais precisão a leitura da defesa que enfrentavam, meta prioritária do sistema proposto.

Terminamos com uma longa exposição sobre os problemas técnico táticos que a equipe estava enfrentando, e os muitos obstáculos que ainda teria de enfrentar, para alcançar um patamar de boa qualidade nos jogos, assim como tornei claro a todo o grupo minha insatisfação sobre os graves problemas técnico administrativos que estava a enfrentar até aquele momento, quando não descortinava muitas e razoáveis probabilidades de vê-los equacionados pela direção administrativa da equipe. Afiancei meu compromisso de prepará-los da melhor forma possível dentro do escasso tempo disponível, visando os dois jogos da semana, difíceis e decisivos para a classificação ao playoff semi final, e também estabelecendo um prazo final na cobrança da promessa contratual estabelecida para a minha vinda e estada a Cabo Frio, que até o momento se exequibilizava pelo empenho deles próprios, os jogadores, nas reservas hoteleiras, na alimentação, para que o básico conforto de minha estadia fosse preservado, numa experiência inédita e tocante que experimentava na minha longa carreira de técnico e professor.

Perante tal realidade de descompromisso unilateral financeiro, anunciei constrangido e muito triste que manteria minha palavra e trabalho até o final do segundo jogo da semana, pois, ao iniciar uma reforma técnico tática de tal monta e importância no comportamento técnico de todos, tornava-se prioritário que os mesmos experimentassem, pelo prazo que fosse, as realizações e conseqüências de tão profundas atitudes e ações no sentido prático, aceitas e exaustivamente trabalhadas por eles até aquele momento. E ao preferir e optar por aquele desabafo algumas horas antes do primeiro jogo, bem sei, e avaliei, o impacto que poderia implodir o trabalho até ali realizado, mas, também, quis dividir com todos, o sentimento maior que amalgama os integrantes das grandes e verdadeiras equipes, o sagrado compromisso do comprometimento, compromisso este que me acompanhou por toda uma vida, e que seria preservado até o momento em que ela terminasse.

Acredito firmemente que todos compreenderam, e mesmo sem aceitarem o futuro desfecho, partiram para Macaé com a plena disposição de que todo o esforço despendido não teria sido em vão. E parti com eles.

Amém.

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