O PURISTA AINDA SE COÇANDO…

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E a crise Paulo, como você vê a crise, passa ou ainda permanece por quanto tempo? Pergunta marota essa do amigo cutucador profissional, gerando somente uma dúvida, qual crise?…

A do nosso imenso e injusto país, vai demorar bastante, pelo menos umas duas gerações, que se bem e convenientemente educadas, terão alguma chance de contornar a fera, claro, se o forem, numa única e derradeira chance para vislumbrar um futuro menos brutal e humilhante que vivenciamos agora…

A internacional, que teve manipulada a crise combustível  com invasões e guerras, jogando os preços dos carburantes para baixo, até o propício momento em que crises e empobrecimento dos países produtores os tornassem suscetíveis a venda ou apropriação de suas reservas a preço de liquidação (para subirem depois, como já acontece), como nosso pré sal, agora fazendo companhia ao manganês, ao nióbio, ao urânio e em breve ao controle de nossas águas, todo um pacote monitorado por uma reativada quarta frota atlântica (desativada desde 1954), e amaciado com penduricalhos, missangas e balangandãs, enformados em  maciças doses de filmes, música, cultura e desportos, NFL e NBA inclusas, em uma mídia de braços euforicamente abertos e muito bem paga, divulgando e sedimentando um colonialismo disfarçado e bem maquiado em pomposa globalização…

E por conta de uma realidade que não desgruda do nosso pedregoso cotidiano, vemos um NBB coalhado de americanos de  quarta ou quinta linha (lembrando sempre ser a nossa liga uma opção de décima sexta, ou mais, escolhas no mercado internacional), fazendo jogos onde muitas vezes tem seis deles em quadra ao mesmo tempo, numa grave e preocupante distorção no âmago de uma modalidade que pretende se soerguer no cenário desportivo tupiniquim…

Fala-se em crises, aqui e acolá, mais acolá do que aqui, como se o basquetebol válido é o refletido pela matriz, sobrando cavacos de crises caseiras, pouco ou nada relevantes em comparação com as de lá, onde a lonjura pouco ou nada representa pela “importância transcendental” do “melhor basquetebol do mundo”…

E a crise do momento, por lá, responde por dois nomes, Warriors e Cavs, que segundo os mais abalizados experts, os daqui simplesmente transcrevendo os de lá, não poderia acontecer, já que revolucionaram o jogo, o mudaram a tal ponto que todos os países praticantes o adotarão, mais cedo ou mais tarde, inexoravelmente, numa grotesca falácia originada pela doentia necessidade de impor conceitos, dogmas até, numa atividade que se mantém intocada a mais de um século, exatamente por privilegiar o princípio do contraditório, fator básico a toda e qualquer tentativa de evolução. Desde sempre e coerentemente sempre afirmei que – “sucedendo a um avanço técnico tático ofensivo, eclodirá um defensivo, originando o equilíbrio tão necessário a evolução do jogo”, numa frequência sucessiva, sendo esta a chave de sua permanente renovação. Esgares dramáticos de que uma revolução tática deu início a um novo tempo do grande jogo, soa vazio, fútil, e ignorante, pois reflete tão somente a necessidade vital de que algo de realmente novo aconteça, de preferência sob o manto de quem o anuncia, como um arauto salvador de exclusiva genialidade…

E nada acontece, a não ser o ajustamento defensivo fora do perímetro, contestando (não bloqueando ou travando) os longos arremessos, alterando suas trajetórias, tornando-os imprecisos e fugazes, obrigando a consecução dos de dois pontos, equilibrando os jogos…

Mas, na realidade o que acontece é o surgimento ocasional de uns poucos e realmente talentosos jogadores, empírica, científica ou aleatoriamente treinados na arte dos longos arremessos, uma técnica muito difícil e exclusiva de muito poucos, originando decisões fora dos perímetros pouco contestados, e cujos exemplos foram se espraiando rapidamente, principalmente através jogadores medíocres nos fundamentos do drible e das fintas, dentro e fora do garrafão, tornando alguns deles estrelas (?) de um primeiro plano discutível e equivocado, até o momento em que serão forçados a jogar de verdade por força de defesas eficientes e lúcidas o suficiente para provocarem as trocas das tentativas ofensivas de três por dois pontos, atitude esta que já vem se fazendo presente até mesmo na matriz, a NBA, definindo com veracidade o quem é quem na arte de jogar o grande jogo, e não o “corre e chuta” absurdo em que o pretendem transformar, tanto jogadores como técnicos adeptos das modas e das facilidades, pois afinal de contas, “pra que queimar pestanas, tempo e esforço” para vencer campeonatos onde todos aceitam as regras formatadas e padronizados que os regem desde sempre?…

Daí o perigo que algo diferenciado, ousado e corajoso aconteça e deva ser defenestrado, em qualquer nível, em qualquer situação, mesmo em se tratando de seleções nacionais, e os pormenores ai estão se escancarando aos poucos num NBB que vem fornecendo a matéria prima da seleção para as classificatórias ao Mundial, com as equipes que ponteiam a competição convergindo acintosamente nos arremessos de dois e três pontos, numa contraposição pouco ou nada sutil as declarações do técnico croata que, numa bem divulgada entrevista, se mostrava surpreso e temeroso com a hemorragia desvairada dos arremessos de três pontos, em nada conferindo com seus princípios técnico táticos, onde a chutação irresponsável não encontraria aprovação de sua parte, a não ser como uma alternativa complementar de jogo, e não sua maior prerrogativa, como vem acontecendo no NBB…

Ontem mesmo Paulistano e Mogi deram um recado mais do que direto, numa partida com 34/65 arremessos de dois e 18/68 de três pontos, onde vencedor e perdedor arremessaram mais de três do que de dois (18/35 de 2 e 11/37 de 3 para o Paulistano, e 16/30 e 7/31 respectivamente para o Mogi), com ambas as equipes convergindo, num claro posicionamento em defesa desta maneira de jogar, endossada ferozmente pela maioria da mídia dita especializada, e claro, incentivada por seus estrategistas, ambos pretendentes diretos ao cargo maior na seleção. Interessante que o Flamengo, que voltou a jogar com mais eficiência desde o momento em que adotou definitivamente a dupla armação, e a utilização inteligente dos três alas pivôs em movimentação dentro do perímetro, atitude essa que deverá sofrer alguma adaptação com a entrada do pivozão Varejão, vem progressivamente diminuindo os arremessos de três, optando mais pelo jogo interno e pelo sólido contra ataque, numa figuração mais próxima do croata, afinando com seu discurso tático, mesmo tendo sido seu estrategista preterido na direção da seleção que tinha a certeza que herdaria do hermano argentino…

Como vemos, chutação desenfreada passa pelo crivo da moda (“se o Warriors e seus especialistas podem, mesmo com contestações mais presentes, por que não nós que não temos nenhuma?”), por interesses pontuais, deixando de lado exigências trabalhosas demais, como os fundamentos, porém esquecem que a cada temporada sem o apuro dos mesmos, mais acintosa se torna nossa queda na qualidade dos jogadores, e o mais crítico, na formação, onde as bolinhas ganham cada vez mais adeptos, incentivados pela turma que odeia o grande jogo, e só tem olhos às enterradas “monstro”, aos torpedos de três, e aos “tocos fenomenais”…

Este é o quadro com que se deparou o croata Petrovic, que o assustou, e que dará um enorme, senão quase impossível trabalho para reverter, a não ser que fisgue o recado que vem sendo dado por nossos gênios pranchetados, e adira ao processo hemorrágico que nos desgasta e humilha, como fez o Magnano, ou…

…Ou mude de verdade nossa forma de jogar, de ver e sentir o jogo, mas para tanto precisará de pessoas que o auxiliem de verdade na reformulação do basquetebol tupiniquim, basicamente na formação, nas seleções de base, onde se forjam os verdadeiros e sólidos jogadores, e não aprendizes de chutadores de fora, e onde deveriam aprender a defender, a saltar com reversão nos rebotes,  aprimorando o drible, os passes, os bloqueios, readquirindo o gosto pelo arremesso curto e médio, o DPJ, e a eficiente e inteligente leitura de jogo, solidário, comprometido e coletivo. Mas para tanto deverá contar com professores e técnicos experientes e muito bem preparados, e não candidatos a estrategistas ancorados em midiáticas pranchetas que nada dizem ou transmitem, a não ser exercícios da mais pura enganação demagógica, disfarçada em eficiência e conhecimentos táticos para uma embevecida platéia, noves fora o palavreado chulo, grosseiro e ofensivo que as cercam nos dolorosos e constrangedores pedidos de tempo…

Enfim, não sei mais por quanto tempo nos manteremos reféns dessa mesmice endêmica, asfixiante e deletéria, fantasiada de “basquete de alto nível”, mas que na realidade se encontra a algumas décadas deste patamar, pela continuidade da imitação chinfrim dos irmãos do norte no que eles tem de pior, e não partindo para o salto qualitativo que tanto necessitamos, em oposição ao que aí está, formatado e padronizado desde muito, muito tempo.

Que os deuses com sua imensa paciência se apiede de nós, de nossos jovens, do grande, grandíssimo jogo…

Amém.

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