O PRIMAL EQUÍVOCO…

Um joga, quatro abrem fora do perímetro, usual formação de ataque brasileiro.

O que dizer, comentar, ou mesmo descrever, o que? Bem, que tal divagar um pouco sobre algo mais do que previsto, pelo menos aqui neste humilde blog, haja vista as análises descritas no artigo anterior, quando foi anunciado e enunciado os fatores que desaguaram no jogo contra os mexicanos, onde os piores presságios se fizeram presentes…

Ataque frontal com bloqueio faltoso, anulando a tentativa de um armador enfrentando uma defesa compacta na linha da bola, inviabilizando a ação.

Começando pela inexistência de um sistema de jogo que pudesse se antepor a mesmice endêmica técnico tática, que se instalou sólida e graniticamente no basquetebol brasileiro, e o pior e mais trágico, desde as categorias de base, espelhando um comportamento formatado e padronizado que passamos a praticar nas competições internacionais , e que nos tem levado ladeira abaixo a cada ciclo olímpico de que tristemente participamos…

Tentativa isolada contra quatro defensores, com os demais fora do perimetro, demonstrando a ausência de um sistema coletivo basico.

 Crônicos vícios foram estabelecidos, como o desleixo sistêmico pelos fundamentos do grande jogo, a começar pelos de defesa individual e coletiva, cuja flacidez desencadeou a enxurrada de arremessos de longa distância, as famigeradas bolinhas de três, encorajando a todo jogador assumir o pseudo papel de especialista, permitindo os mais jovens a seguir um caminho desvirtuador da saudável prática dos mesmos, onde o drible inteligente, as fintas e cortes ofensivos, os passes objetivos, o posicionamento defensivo e os arremessos mais precisos de dois pontos, encontraram nas ações fora do perímetro um farto território para o implante, hoje definitivo, da “nova filosofia” e do “basquete moderno”, do terrível e mórbido “chega e chuta”, lastreado pelo princípio do – “se estiver livre, chuta”, não importando quando e como…

Arremesso de fora, não importando quando e como…

E o que se viu no jogo de ontem, contra uma equipe mediana, porém disciplinada e centrada no comando de um técnico inteligente e sagaz, tendo do lado brasileiro um oponente confuso, e profundamente equivocado. Sem dúvida alguma, a seleção tem se apresentado sem unidade tática, sem uma estratégia referencial e comportamental, investindo na chutação de fora (6/30 contra 12/28 dos mexicanos), investindo pouco dentro do perímetro (16/37 contra 18/35), num jogo cujo poderio interno pouco acionado por ambos os contendores, encontrou nos nada contestados longos arremessos mexicanos a eficiencia que nos faltou, além da perda de 10 lances livres contra 12 dos mexicanos, que nos venceram pela unidade tática que mantiveram durante a partida, confrontando uma equipe incapaz de utilizar com alguma eficiência o jogo interno, mesmo tendo poderosos pivôs, em número e força superiores aos mexicanos, com um deles, o delgado Amigo, marcando-os frontalmente e jogando com inteligência e velocidade no ataque, em sintonia permanente com seus bons armadores, ao contrário dos nossos, dissociados e procurando preferencialmente o jogo individual, prato feito para o astuto bloqueio intermo azteca…

Ataque interior bem coordenado de uma equipe bem treinada.

A seleção se comporta de maneira errática, pois não apresenta unidade técnico tática por parte dos armadores, que atuam em dupla, e as vezes trinca, raramente sintonizados com os homens altos que também muito pouco se situam dentro do perimetro, procurando bloqueios (muitas vezes faltosos) fora do mesmo, e até se situando nas laterais extremas para um arremesso de três. Em sintese, uma equipe sem personalidade coletiva, sem conceito ofensivo, e falhas gritantes nas coberturas defensivas, prato feito para os habilidosos arremessadores mexicanos, assim como seus comprometidos pivôs, na permanente luta pelos rebotes e arremessos de curta distância, que sem a menor dúvida será a arma utilizada pelos futuros adversários que enfrentaremos nas importantes competições que se seguirão…

Atacar de 2 em 2 estará sempre fora de cogitação, frente a dura realidade das bolinhas.

Temos alguns bons jogadores, e outros sofríveis, mas de forma geral sub utilizados, cerceados que são por um projeto tático, de longa e triste trajetória, que anula qualquer tentativa de coletivismo, pois se baseia nos confrontos de 1 x 1, e nos longos arremessos, independendo de momento e lógica de jogo. Trata-se de uma tentativa explícita de transformar um jogo eminentemente coletivo em individual, e parece que estão conseguindo, sinalizando para as futuras gerações um caminho sem volta, tuteladas e encordoadas de fora para dentro das quadras, através  rocambolescos técnicos tentando aparecer mais do que os jogadores, gritando, saltitando ao lado das quadras, pressionando arbitros, como se fosse permitido fazê-lo perante as regras do grande jogo, noves fora as terríveis e comprometedoras pranchetas, verdadeiro biombo que os separam de aflitos e preocupados jogadores, muito mais necessitados de um olhar compreensivo, de uma orientação pontual, e não violentados por palavrões, e a apreciação de rabiscos desconexos em prosaicas e midiáticas pranchetas. Precisam ter sempre em mente que o universo de um verdadeiro técnico é o treino, intenso, exigente, implacável e, acima de tudo, discutido e desenvolvido por todos, pois o jogo, a competição, pertence aos jogadores, e nada mais do que eles, o que já é uma enorme responsabilidade, que deve ser vivenciada em completo, cabendo ao técnico complementá-lo com sabedoria, e o mínimo de interferência, na precisa medida de sua participação didático pedagógica na consciente e responsável preparação de uma verdadeira equipe de competição…

Essa “nova filosofia”tem de ser severamente avaliada, e consequentemente substituida por uma forma diferenciada de jogar.

Sexta feira agora começamos a participação na Copa América em Recife, que para além da última janela classificatória ao Mundial, contra Porto Rico e México que nos venceram, teremos pela frente outras equipes poderosas, que exigirão uma séria mexida em nossa forma de jogar, mas que duvido bastante que isso venha a ocorrer, pois torna-se bastante difícil demover, ou mesmo sugerir a gênios que o façam, pois afinal de contas, conhecem e sabem tudo sobre o grande , grandíssimo jogo, ou pensam conhecer e muito menos saber o que representa de verdade…

Que os deuses nos ajudem.

Amém.

Fotos – Reproduções da TV. Clique nas mesmas para ampliá-las.

O TRÁGICO ENGÔDO…

Um tardio e unusual olho no olho.

Na parte da tarde, me afastei um pouco dos afazeres inerentes às obras reparadoras na casa para descansar um pouco, e por vício irrecuperável lá fui para o Youtube tentar assistir um jogo da LNB, aquele torneio no qual reservas de equipes de ponta do NBB, com experiência de 3/4 anos na liga maior, atuam ao lado ou contra jovens entre 17 e 19 anos advindos das subcategorias de formação, numa mistura que, absolutamente em nada, os beneficia em termos de competição justa e equilibrada, cuja finalidade seria a de dotá-los de experiência competitiva, e não amargarem derrotas de até, ou mais, de 40 pontos de diferença…

Erros, muitos erros.

Circunstancialmente, os resultados se apresentam pífios, com a média de erros de fundamentos aumentarem a cada rodada, atingindo até o momento o colossal patamar de 37.7 erros em média por partida (façam as continhas se duvidarem), com uma, entre Pato x Flamengo atingindo a inacreditável marca de 51 (30/21), parecendo que a meta dos 60 erros logo, logo acontecerá, definindo e escancarando, de uma vez por todas, o que nos aguarda  logo ali na esquina das verdades irrespondíveis, pelo menos por essa turma que pulula saltitante em torno das quadras deste imenso desigual e injusto pais, claro, as poucas exceções muito pouco podem fazer para equilibrar o desastre…

Depois de algum tempo testemunhando mais uma pelada transcendental, além de ouvir incrédulo, comentários absolutamente irreais, ante o desfile absurdo das indesmentíveis imagens, desligo e volto aos meus afazeres, mais uma vez triste em atestar como o grande jogo vem sendo assassinado cruelmente, sem chances de recuperação frente ao prazo que for, a continuar a liderança que aí está de pranchetas nas axílas…

Um dos poucos ataques internos da seleção, pena que não insistiram.

Mais tarde, me aprumo para o jogo da seleção em Porto Rico, e agora que o descrevo, ou comento, ou mesmo procuro entender o que assisti incrédulo (sentimento que já vinha desde a tarde), com uma seleção, que para minha enorme tristeza, confirmava uma profunda predição, largamente exposta, num sem número de artigos publicados neste humilde blog, a cada ciclo olímpico reiniciado nos últimos 20 anos, de que a coercitiva imposição de um sistema único de jogo, formatado e padronizado desde as categorias de base, complementado pela quase obrigatória supremacia técnico tática dos arremessos de 3 pontos, nos levaria de roldão ladeira abaixo a nível internacional, fator que vem se confirmando a cada competição de que participamos recentemente, e que a continuar dificilmente nos recuperaremos a médio e longo prazos, se é que o faremos…

O insistente ataque interno dos costarriquenhos.

A “nova filosofia” do ” basquete moderno”, aclamada e deificada por essa geração de adoradores de pranchetas, assim determinou nossa forma de praticar o grande jogo, onde o lugar comum-  estando livre, chuta- se impôs por sobre inexistentes defesas, habito nacional desde sempre, quando o último a encestar fecha a porta e apaga a luz, pois somos o país detentor dos maiores arremessadores de três do mundo, bem, assim pensam, já que a realidade é bem outra como atestamos ontem, por mais uma vez, quando contestações de verdade a definiram duramente…

Com poderosos pivôs optamos pela artilharia de fora.

A seleção convocou cinco armadores, quatro alas e três pivôs (não menciono subposições), onde somente dois atuaram mais de 20 min (Huertas e Luz), dois menos de 10min (Yago e George), e um jogando míseros  47 segundos (Scott). Os quatro alas jogaram mais de 20min cada um (Didi, Meindl, Mineiro e Lucas Dias) assim como dois dos três pivôs o fizeram por menos de 20min (Augusto e Felicio), e o outro por 11:30min (Lucas Mariano), numa claríssima opção pela chutação de fora, com os alas arremessando 7/26, os armadores 4/8, e os pivôs 0/1, através o Mariano, auto elegido um especialista das famigeradas bolinhas…

Na hora mais decisiva, abrimos a quadra, lamentável.

Uma boa olhada nos números finais esclarece com sobras tão canhestras opções, frente uma equipe que vem se afastando do estilo amalucado como sempre atuou, que possui jogadores com melhores fundamentos que os nossos, e jogam perto da táboa com precisão e muita energia, assim como, ao contrário de nós, defendem muito melhor postados em quadra, ainda mais contando com o apoio de sua atuante torcida:

            Porto Rico 75 x 72  Brasil

                      (54,5%)24/44   2  14/31(45,2%)

                      (25,0%) 6/24    3   11/32(34,4%)

                      (60,0%) 9/15   LL   11/18(61,1%)

                                      39     R      41

                                        9     E      16

O que vemos de saída foi a terrível, porém habitual, convergência nos arremessos de fora com os de dentro na doentia teimosia de vencer partidas de fora do perímetro, fato corriqueiro aqui dentro de um país onde inexiste uma cultura defensiva, substituindo-a pela “maestria”de nossos arremessadores de longa distância, que quando confrontados com defesas e contestações de qualidade se perdem em erros e péssimas escolhas táticas, e que nessa partida se depararam com um adversário muito bem preparado para o jogo interno, intenso e repetitivo, onde os longos arremessos complementaram sua firme atuação, e não os tornaram prioritários, como nós…

Pontual e eficiente arremesso de fora, ante fragil contestação.

Como sempre lembro e recomendo (mas não aprendem…) uma simples e aritmética continha, a de que bastaria substituir a metade das tentativas falhadas de três, por arremessos internos para vencer com folga, além, é claro, de treinar com afinco os lances livres, pois perder 7 deles numa competição dura como essa se torna fatal. Aliás, foi essa a opção dos costarriquenhos, levando a melhor em tão importante partida, errando menos fundamentos, num 9/16 ingrato para nosotros…

Jogadas abertas para os três emanam da prancheta, num momento em que de 2 em 2 seria mais produtivo.

Finalmente, de que adianta levar cinco armadores se somente dois deles atuaram por longo tempo, que apesar de serem bons tecnicamente erraram seis vezes nos fundamentos, ao passo que os outros três erraram 2 vezes, tendo contra si a prioritária pontuação dos elegidos com seus 3/6 nas bolinhas, e um ou outro DPJ, assim como o fracasso dos alas com uma chutação de fora (7/26), severamente contestada, além do Mariano, que enquanto em quadra (7:22 min) procurava o perímetro para, ele também, tentar ao menos uma bolinha (0/1)…

Arremessos sem possibilidade de rebotes ofensivos foram a tônica do jogo brasileiro.

Os últimos cico minutos do jogo foram lapidares, pois os donos da casa foram para dentro do garrafão com gana de vencer, atuando coletivamente, principalmente nos rebotes, defensivos e ofensivos, e nas eficientes penetrações de seus habilidosos armadores. Do nosso lado, insistimos no jogo exterior, por todo o tempo, quando em muitas oportunidades não tinhamos um único jogador dentro do garrafão, num momento em que a luta pelos rebotes se impunha como estratégica. Mas, ora estratégia, o que importa, se a magia de uma prancheta se impõe solene, afinal de contas ela espelha as genialidades de um comando tripartide, jovem e com a experiência que nenhum técnico mais idoso e experiente sequer imagina ostentar. São fatores que precisam ser repensados, seiamente repensados…

Último suspiro, e mesmo assim fortemente contestado.

Começamos a colher o que plantamos a 20 anos, abdicando do jogo  interno, num momento em que abundam bons pivôs no país, fortes, rápidos e elásticos, priorizando o externo com sua fajuta certeza de que dominamos os longos arremessos, e por conta disso, abdicando lamentavelmente os fundamentos do jogo, seu ensino, especialização e divulgação maciça entre os jovens, e por que não, os marmanjos também, pois afinal de contas é o ferramental de trabalho de todos, tornando-os aptos na execução de todo e qualquer sistema de jogo, ofensivo e defensivo, fórmula esta desacreditada por essa turma que, empunhando suas mágicas pranchetas (imaginem quando descobrirem que a do técnico costarriquenho é eletrônica, meus deuses, vai ser o caos…), discorrem sapiência que avaliam transcender o espírito do grande, grandíssimo jogo, enaltecidos e glorificados por uma mídia que, como ontem, passou o tempo todo comentando aspectos e curiosidades sobre a NBA, jantares e passeios, emolduradas com hienasticas gargalhadas de um deles enquanto o jogo transcorria, numa partida importante para a classificação ao Mundial, até que, num repente o som da TV se foi, se mantendo mudo até o final da partida, e que, pasmem, não fez absolutamente falta, muito ao contrário, pois fiquei livre de tanta bobagem, podendo apreciar a partida sem desvios de atenção. No próximo desligo de saída…

Depois de tudo, fazendo jús da minha eterna esperança em dias melhores, sugiro humildemente que mudem a forma de jogar de nossa seleção, que tem bons e talentosos jogadores, apesar de fraquejarem nos fundamentos, bastando treiná-los com mais afinco, intensidade, tanto nos arremessos e nos princípios defensivos, como, e principalmente, utilizando sistemas ofensivos que privilegiem o jogo interno, coletivo e solidário, pois temos bons jogadores altos e rápidos, talentosos armadores, podendo produzir com mais eficiência para o coletivismo tão acalentado, porém anulado se mantida essa absurda “nova filosofia”, implantada por quem, em absoluto, entende um jogo maior, uma modalidade para quem realmente o entende e o ama, de verdade…

Amém.

Fotos – Reproduções da TV. Clique nas mesmas para ampliá-las.

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PARABÉNS CAMPEÃS, MAS…

-Que tal elogiar a seleção feminina vencedora do sulamericano, em vez das críticas contundentes que emanam de seus artigos, hein Paulo?

Recebo do amigo de longa data, crítico bem vindo e contumaz desse humilde blog, um email (ele jamais se expõe na rede, fato que não concordo, mas respeito), considerando o questionamento pertinente digno de resposta, o que farei a seguir.

Olha cara, precisei ir ao You Tube, para assistir a partida em sua totalidade, já que de posse das estatísticas todo um quadro realista deixa de ser devidamente analisado. E o que pude constatar após uma paciente visão de um jogo absolutamente medíocre, espelho fiel dos números apresentados pela estatística, que ambas as visões se encaixavam perfeitamente. Vamos aos fatos, gráficos e visuais:

Primeiro vamos aos números do jogo final contra a Argentina, pois frente aos resultados nas demais partidas, ficou mais do que claro, ter se tratado de um campeonato de um jogo só, pela mais do que evidente fraqueza das demais equipes participantes, com placares acima dos 100 pontos em algumas partidas. 

        Brasil   69 x 68   Argentina

              (40,0%) 20/50  2  19/43 (44.2%)

              (23,8%)  5/21   3    6/25 (24,0%)

              (58,3%)  14/24 LL 12,21 (57,1%)

                             48       R       46

                              12      E        15

Foi um jogo final eivado de erros, técnicos, táticos, estratégicos e acima de tudo, nos fundamentos, principalmente nos arremessos, curtos e médios, longos e lances livres, deixando no ar uma questão emblemática, a de que o fundamento do arremesso a cesta é caótico para essa geração mercosulista, pois, ante os referenciais números para competições do mais alto nível, como seleções nacionais adultas, de 90% para os lances livres, 70% para os arremessos de media e curta distâncias, e 50% para os de longa distância, basta um olhar primário nas estatísticas acima para se constatar a precariedade técnica no ato conclusivo de um ataque a cesta, com uma dedução óbvia, não sabem e nem dominam os arremessos, inclusive as prosaicas bandejas, perdidas em profusão, que no nosso caso se torna lamentável, pois uma vasta comissão técnica lá está, exatamente para corrigi-las ou mesmo, ensiná-las, no que fracassam redundantemente, como sempre o fazem, pois vem de longe essa ausência, e por que não desconhecimento, omissão no dever de empenho máximo no ensino dos fundamentos do jogo, e não se aferrando a sistemas de jogo que claudicam, exatamente pelo fraquissimo desempenho das jogadoras nos funadamentos básicos, onde os arremessos (que não são contabilizados nas relações estatísticas que medem o desempenho) recebem valores afastados dos demais fundamentos, sendo ironicamente, o mais importante de todos, pois exequibilizam e concluem os demais, sendo, enfim, a finalidade do grande jogo.

Arremessos de fora e de dentro descalibrados e inseguros, foi a rotina do jogo.

Estes fatores, expõem e determinam a falência dos sistemas “”exaustivamente” treinados, manipulados extra quadra através discursos ilustrados em pranchetas midiáticas, tela mágica (?) que explica e justifica atitudes estratégicas absolutamente furadas, frágeis perante qualquer análise primária de quem realmente conhece o caminho pedregoso de como, didática e pedagogicamente, se prepara uma equipe, fundamentando-a e  estruturando-a através sistemas proprietários,  desenvolvidos e compreendidos por todos os componentes de uma equipe, nos quais seus valores pessoais e técnicos sejam valorizados, desenvolvidos e aperfeiçoados, e não secundando pesquisas em preparação física, empenho prioritário em táticas e jogadas de passo marcado, fatores antítese ao desempenho lastreado na criatividade, na improvisação consciente, base estrutural de qualquer equipe fortemente balizada nos fundamentos e no empenho ao bem comum, o coletivismo egresso do conhecimento e aceitação de todos os envolvidos numa seleção de verdade…

Quatro abertas e uma pivô batalhando sozinha.
Continuidade na luta solitária da pivô.
Dando continuidade ao “sistema”.
A outra solitaria opção, o individualismo da Tainá, premiada com a cesta da vitória.

Voltando a partida, podemos visualizar através as fotos acima que, um detalhe tático ainda se mantém presente, quatro jogadoras abertas e uma pivô enfrentando sozinha a defesa argentina, porém com uma enorme vantagem, a estatura na casa dos 2 metros, estratagema largamente utilizado nas divisões iniciais de base quando muitos técnicos auferem títulos em seus currículos utilizando-o permanente e politicamente. Muitas carreiras de sucesso se estabeleceram dessa forma, sem os desagradáveis percalços do longo e penoso ensino dos fundamentos, assim como a perda de algumas gerações de jovens promissores, alguns dos quais chegam nas divisões superiores desprovidos dos fundamentos básicos, expondo a vitrine deficitária que os limitam tristemente, inclusive nas seleções. Recentemente um comentarista propunha a ida do Georginho para o exterior, a fim de poder adquirir melhores técnicas, que bem poderia usufruir aqui mesmo, como muitos outros, se ensinados e treinados por quem realmente entende do riscado…

Ofensiva argentina bem mais estruturada que a brasileira. Alguns centimetros a mais definiram a partida e o título.

Enfim, venceu a seleção brasileira uma seleção argentina melhor dotada de bons fundamentos e um sentido coletivo bem mais apurado que a nossa, porém claramente inferiorizada na estatura, perdendo de um ponto por essa decisiva razão. Tivessem as hermanas só mais uma pivô equivalente e venceria a partida, sem dúvida alguma, mas o que vale para o enriquecimento curricular da turma do banco, é a taça, testemunha eloquente de seu sucesso junto a midia, seus agentes, e dirigentes cúmplices da colossal vitoria.

Que se acautelem, pois frente a seleções estruturadas nem sempre somente a estatura é suficiente para outras taças, e sim a conquista e domínio de sistemas defensivos e ofensivos de qualidade e, acima de tudo, proprietários, mas isso é outra história, aquela que venho contando a décadas, sem que aprendam absolutamente nada, mas o que importa, as oportunas  taças a tudo redime e justifica…

Porém sejamos justos com uma bem vinda vitória, parabéns campeãs, mas…

Amém.

Fotos- Reproduções da TV/You Tube. Clique duplamente nas mesmas para ampliá-las.

O GRANDE RUSSELL…

Lá se vão 66 anos, desde aquela noite no ginásio do Tijuca, ainda com o telhado azul de alumínio, quando aos 16 anos lá estive para assistir a melhor equipe amadora dos Estados Unidos, campeã da NCAA, a Universidade de São Francisco, os Dons, onde despontavam dois dos maiores jogadores da época, o armador K.C.Jones, e o grande pivô, Bill Russell. A equipe do Clube Sirio e Libanes, hoje inexistente, que junto ao Flamengo liderava o Campeonato Carioca seria seu adversário, num ginásio lotado e excitado com a rara oportunidade de assistir duas escolas tão diferentes atuarem. Russell estava com 22 anos, seu último ano universitário, assim como K.C.Jones, ambos draftados para a NBA, e eu, muito jovem, espremido numa arquibancada repleta, curtindo a oportunidade de testemunhar e aprender de um jogo que começava a se entranhar na minha mente, no meu coração…

Foi uma bela partida, bem jogada e aplaudida por todos, impressionando sobremaneira a figura esguia, elástica e muito veloz do Russell, assim como a maestria coletivista do armador Jones, deixando em mim uma embrionária certeza de que, mesmo sendo fisicamente inferior aos pivôs da época, Russell se imporia na NBA pelos atributos atléticos, técnicos e veloz raciocínio, num ambiente onde a massa muscular sobressaia nas franquias da liga. E não deu outra, seguindo numa carreira mítica na grande liga, cujo documentário aqui postado mostra um pouco de sua arte de jogar o grande jogo, conquistando 11 títulos como jogador e técnico…

Como eminente cidadão , lutou pelos direitos humanos em seu racialmente conflagrado pais, recebendo sua maior condecoração civil pelas mãos de um presidente afro americano como ele, e a maior medalha do esporte mundial, a olímpica em 1956 em Melburne..

Bill Russell faleceu no domingo passado aos 88 anos, deixando um incomensurável legado de uma vida brilhante e, acima de tudo, inspiradora para as gerações que partilharam de sua exemplar vida, assim com as futuras o reverenciarão para sempre.

Amém.