O QUARTO MOMENTO…

Oito anos atrás publiquei o artigo TRÊS MOMENTOS (4/8/2013), que agora, num quarto momento, o complemento, dando ao mesmo a sua verdadeira e decisiva dimensão, pois nada mais enfático e realista, do que o testemunho emanado do mesmo sobre a nossa triste e pranteada realidade sobre a extrema fragilidade de uma nova geração prejudicada e perigosamente anulada, por sua mais frágil ainda preparação nos fundamentos do grande jogo, sem os quais, sob competente e indiscutível domínio, torna todo e qualquer sistema de jogo, tradicional ou avançado, simplesmente impraticável, e o mais relevante, torna-a escrava de pranchetas midiáticas eivadas de quiméricas projeções táticas, somente presentes e teoricamente efetivas na mente de estrategistas, dissociados da maior de todas as verdades sobre a arte de praticar o grande jogo, a de que sem o domínio total de seus fundamentos nada será alcançado como concepção de equipe, e sim uma frágil e errática competição de 1 x 1, onde falhas e erros ofensivos e defensivos, desvirtuam o espírito coletivista, substituindo-o por escaramuças individuais, onde o ego, em tudo e por tudo, tenta dar um novo sentido ao mais clássico dos desportos, aquele em que o sentir, dominar e aplicar seus princípios básicos e fundamentais, torna-o imbatível em sua proposta coletivista, principalmente no mais representativo de todos os fundamentos, os arremessos, aqueles que colimam a proposta competitiva de toda equipe séria e muito bem preparada e orientada…

Publicado três anos antes da Rio 16, hoje de triste memória, relembra assuntos que teimam em se repetir neste novo ciclo olímpico para Paris 24, e com um agravante, a formatação e padronização definitiva de algo assustador denominado “basquete moderno”, onde a autofagia insana dos arremessos de três pontos alcança patamares absurdos, na tentativa de desmonte de mais de 100 anos de evolução técnico tática do grande jogo, onde a cada evolução ofensiva, sucedeu uma defensiva, e vice- versa, originando um crescimento técnico equilibrado e coerente aos princípios que sempre o nortearam, muito ao contrário do que vem agora ocorrendo entre nós, onde a fragilidade e quase ausência, diria mesmo, permissividade consensual defensiva, permite e escancara essa ininterrupta hemorragia de longos arremessos, efetuados por todos os componentes de uma equipe, inclusive pivôs, quase sempre livres, para serem exaltados como “gênios”, esquecidos de que seus pares acima do equador, em sua bilionária liga, são pescados e filtrados dentre milhares de escolas, colégios e universidades, onde os fundamentos são levados a sério de verdade, com percentuais bem acima dos 40% considerados ideais aqui em terra tupiniquim. Sugiro que façam coro aos leitores dos artigos mais lidos neste humilde blog, da série ANATOMIA DE UM ARREMESSO, para, definitivamente entenderem que, convergência entre arremessos de 2 pontos e de 3, e perdas de esforço ofensivo na ordem de mais de 60% de tentativas falhas, torna e desfigura o jogo, de uma maneira tão absurda, que qualquer seleção internacional mediana jamais perdoará tanta fraqueza quando as enfrentarmos, fato indiscutível, que nem os “detalhes” podem servir de bode expiatório para justificar tanta cegueira…

Estamos a caminho, de forma célere, para mais um fracasso, apreciando de janela a jogadores estrangeiros, em sua maioria de técnica inaproveitada nas mais de quinze ligas profissionais do mundo, deitando cátedra e independência por sobre estrategistas equivocados e mergulhados em sua pretensa qualificação profissional, que se repetem e se copiam a mais de três décadas, incapazes, por força de um corporativismo atroz e profundamente injusto, de permitir novos e arejados tempos, a não ser toscas adaptações de algo que ouviram, ou mesmo viram de soslaio, sem sequer desconfiar de onde “o galo está cantando”, deixando, ou sendo forçados a assistir as filigranas, arroubos geniais e jogadas de equipe dentro de uma, por parte da maioria deles, perfeitamente alinhados e comprometidos com o “deixa ficar, para ver como é que fica”, pois afinal, foram contratados para vencer jogos, ao preço que for, noves fora a qualidade técnico tática do jogo entre nós, que para eles, nada significa, a não ser os dólares em jogo, ou não?…

Peço aos deuses que algo de positivo possa vir a ocorrer, sem os “monstros”, “ridículos” e “fantásticos tocos e enterradas” que povoam e são incutidos em nossos jovens aspirantes a jogador, para que simplesmente voltem a praticar, amar e desenvolver o grande, grandíssimo jogo de suas vidas, o que não é pouco…

Amém

TRÊS MOMENTOS…

domingo, 4 de agosto de 2013 por Paulo MuriloSem comentários(infelizmente…)

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Num primeiro momento anexo os números das três primeiras rodadas da etapa da LDB em São José dos Campos com os das duas etapas iniciais do torneio, e o que temos?

– Arremessos de 2 pontos – 1152/2506 (45.9%)

– Arremessos de 3 pontos – 362/1269 (28.5%)

– Lances Livres             – 762/1204 (63.2%)

– Rebotes                       –  2376 (79.2 pj)

– Erros de Fundamentos – 785 (26.1 pj)

Ou seja, mantêm a turma dos 17 aos 22 anos índices de arremessos muito abaixo do desejável nessa altura de suas carreiras, assim como insistem na enxurrada de bolinhas, ocasionando uma média brutal de rebotes pelo acúmulo de desperdício nas mesmas, e com equipes apresentando convergências inacreditáveis, como no jogo São José (13/28 nos 2 pontos e 12/28 nos 3), contra o Grêmio União (12/32 e 10/31 respectivamente), numa partida que me despertou a curiosidade de tê-la assistido, exatamente para acreditar no que veria, assim como constatar in loco ser verídica a inacreditável marca de 26 erros de fundamentos em média, numa prova cabal de que a persistir tão gritante falha, não iremos a lugar algum no universo do grande jogo. Mas na etapa aqui do Rio pretendo assistir pelo menos uma rodada, para me cientificar se tais distorções realmente existem, ao vivo e à cores, ou se não passam de falhas estatísticas…

Claro que boas equipes disputam o torneio, mas infelizmente serem aquelas que contam com jogadores que disputam o NBB, numa clara menção de que o título e a vitrine midiática superam em muito o discurso de que essa competição visa dar cancha aos mais novos em sua ascendente transição, esquecendo de que tal experiência deveria ser ofertada para todos aqueles jogadores que pretendem e sonham ingressar na liga maior, e não para aqueles que lá já se encontram, treinando e jogando com os melhores e mais experientes, garantindo títulos midiáticos e indevidos numa liga de desenvolvimento.

Por outro lado, lamentamos a presença de equipes completamente despreparadas, mal formadas e treinadas, num flagrante desperdício de verbas públicas que alimentam suas participações, e que deveriam ser direcionadas ao desenvolvimento regional, de onde sairiam aquelas vencedoras, para aí sim, num encontro nacional medirem forças por um acréscimo qualitativo, objetivando seu desenvolvimento real, e não feérico como está ocorrendo.

Num segundo momento, consigo sintonizar a transmissão de um jogo via internet da seleção brasileira no sul americano adulto feminino, jogando contra a equipe venezuelana, onde consegue a façanha de perder o primeiro tempo de um jogo assustador pela fragilidade nos fundamentos, todos eles, frente a uma equipe de uma fraqueza absurda, o que me fez desistir do restante da partida, pois em se tratando de uma seleção principal, renovada e com vistas para 2016, deixou-me assustado e absolutamente convicto de que muito poucas chances teremos naquela magna competição, em nossa casa, pela precária e inadmissível situação técnico tática em que se encontra, noves fora os ausentes fundamentos do jogo. Realmente lamentável.

O terceiro momento me foi dado pela estréia da seleção masculina no torneio quadrangular em Salta na Argentina, onde uma equipe bem renovada expôs o quanto de penoso caminho ainda terá de trilhar para alcançar um patamar qualificativo a maiores vôos, principalmente na urgente substituição de alguns super veteranos, que simplesmente não mais alcançam as exigentes valências necessárias ao embate internacional, tanto física como tecnicamente.

No entanto, novos e promissores valores ascendem a equipe, que claramente vai incorporando a dupla armação, às vezes tripla, pelos bons e jovens valores que se apresentam nesses novos tempos, e que se bem orientados, principalmente na interação com os também jovens e promissores alas pivôs, de uma geração que fatalmente sepultará uma tendência aos “cincões”, gerada por uma plêiade de técnicos, analistas, agentes e dirigentes, estreitamente comprometida com o sistema único, ou por desconhecimento real com o conceito NBA, que nos levaram ladeira abaixo no contexto internacional, poderemos evoluir de encontro a novas formas de jogar o grande jogo, com ritmo e cadência pensante na armação de situações táticas, e muita velocidade na conclusão das mesmas, atitude somente possível através jogadores ágeis, flexíveis, rápidos e argutos leitores de jogo, que é uma qualidade adquirida pelo intenso e duro trabalho, capacitando a todos, de que posição forem, inclusive, na real possibilidade de enfrentamento a equipes pesadas, atlética e artificialmente super dimensionadas.

E nesse ponto cabe um esclarecimento, sério e preocupado, dirigido àqueles responsáveis pelo aprimoramento físico, técnico e tático desses futurosos jovens, basicamente aqueles que se destacam na firmeza e precisão nos arremessos médios e longos, focando no aspecto da sintonia fina na execução dos fundamentos, dos arremessos em particular, que será prejudicada, e muitas vezes anulada, quando frente a um preparo físico inadequado e dirigido a aquisição de massa muscular, na maioria das vezes de fundo puramente estético e antinatural. É um crime confundir força com inchaço puro e simples, ocasionando travamentos e perda de sensibilidade dos finos e apurados gestuais técnicos, assim como comprometendo articulações e tendões despropositada e irresponsavelmente.

Fato é que o técnico Magnano se encontra à frente de uma concepção de jogo que nunca foi de sua predileção, mas frente à realidade que se apresenta tende a uma mudança conceitual, que poderá desencadear uma verdadeira revolução em nossa maneira de ver, sentir e jogar o grande jogo, ao ultrapassar a fronteira da dupla armação e os alas pivôs, interagindo entre si dentro do perímetro interno, zona conflagrada das grandes defesas de grandes equipes, que vêem naquele setor o solo sagrado a ser defendido ao preço que for, e que poderão ser derrotadas se falharem e caírem ali mesmo, na ante sala de suas cestas.

Mas para tanto, precisamos aprender e dominar a arte de jogar “lá dentro”, arte esta somente possível priorizando a velocidade, a flexibilidade, a ousadia de fazê-lo, assim como canalizando essa novel energia exercendo uma outra arte, a de defender, com as mesmas valências, velocidade, flexibilidade, ousadia, acrescentando mais uma e fundamental, a percepção antecipativa.

Enfim, acredito firmemente que ousaremos mais, evoluindo a partir daí para um novo tempo, uma nova concepção de jogar.

Assim espero, e humildemente sugiro ao competente Magnano que ouse sempre, pois esses jovens merecem ser proprietários de uma nova forma de jogar o grande jogo, e que poderá inspirar outros jovens como eles, e por que não, os técnicos também…

Amém

Fotos – Divulgação FIBA, LNB e reproduções da TV. Clique nas mesmas para ampliá-las.

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