DEVAGAR, QUASE PARANDO…

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Tirei mais um tempo, afinal o que poderia escrever, expor, discutir, argumentar, contrargumentar, exemplificar, talvez, quem sabe, ensinar o pouco que sei, o muito pouco que amealhei em tantas décadas de dedicação ao magistério, à técnica, à competição, ao entendimento do grande jogo, onde aprendi mais do que ensinei desde sempre…

Devagar, muito devagar foi se desvanecendo a ardorosa áurea que me deslumbrou por tanto tempo, me levando a caminhos ásperos, tortuosos e imensamente sacrificados ao encontro de um saber que muito poucos aceitam, admitem, sequer se interessam, numa realidade onde o consumo imediatista, midiático e superficial, se impõe acima de valores  tão esquecidos, como o mérito, a competência, o talento, a entrega, o comprometimento indissolúvel com o processo educacional, base estrutural da cultura de um povo, na vida, no estudo, nas artes, no esporte…

Como aos 76 anos de laboriosa vida, mas ainda saudável, lúcido e coerente com meus valores, poderia ir de encontro a essa realidade artificial e  lúdica que paira sobre o grande jogo, iludido com as benesses comerciais, circenses, exibicionistas, porém afastada do cerne fundamental para sua exequibilidade como desporto de alta competição, somente plausível com um projeto de base estruturado e factível dentro de nossa parca realidade, assim como a propriedade de novos sistemas de jogo, audazes, corajosos, inovadores, única oportunidade que temos de reconquistar e soerguer a modalidade em nosso país? …

Dias atrás, o comentarista do sportv mencionou o meu nome como o introdutor de um sistema de dupla armação e três pivôs, aplicado no NBB2 pela equipe do Vitória (na realidade foi no Saldanha da Gama), e que não me foi dada a oportunidade de sedimentá-lo, no que talvez acelerasse o seu entendimento, que hoje, no NBB8 é aplicado de forma superficial, com algum sucesso, por equipes do mesmo, seis anos após sua corajosa introdução na maior liga do grande jogo no país. O comentarista Renato do sportv e o jornalista Giancarlo Gianpietro do blog Vinte Um, foram os únicos até hoje a comentarem sobre minhas tentativas de atualizar taticamente o basquete nacional, uma luta que somente me obsequiou dirigir onze partidas no NBB2…

Mesmo defenestrado, continuei a peroração neste blog, inatingível pelo corporativismo existente, para sua aplicabilidade, como algo que poderia sacar a modalidade do limbo que a impuseram com o sistema único, com seus chifres e punhos canhestros, de uma pobreza técnico tática autofágica profundamente lamentável e retrógrada, originando em seu bojo a inefável sangria das bolinhas de três, onde dez de cada doze jogadores de uma equipe se acham especialistas nas mesmas…

E o mais emblemático, lamentável e comprometedor aspecto, a vitrine das midiáticas pranchetas, onde a maioria dos estrategistas as utilizam através apresentações risíveis e patéticas, à cores e HD, num pretensioso domínio estratégico de um jogo que vai muito além, muito além mesmo de suas arrogantes e vazias demonstrações…

Hoje, frente a uma realidade cada vez mais aceita internacionalmente, a qual ousei aplicar  seis anos atrás depois de a desenvolver por mais de quarenta anos, correm todos estabanadamente na busca do primado vencedor, somente esquecendo, ou melhor, suprimindo por ignorância o como fazer dois armadores e três pivôs agirem, interagirem, fluindo em uníssono, no ataque e na defesa, criando e improvisando em torno de um tema em comum, arte de quem conhece as bases e os fundamentos didático pedagógicos para a consecussão de um projeto de tal envergadura, e não tão somente escalando dois armadores e três pivôs, distribuindo-os nas controladas e estanques jogadas do sistema único, onde chifrar é o tema a ser seguido coercitivamente, senão…banco!

Devagar, quase parando é como me sinto, triste de não poder participar de um processo pelo qual dediquei toda uma vida, todo um ideário no âmago do grande, grandíssimo jogo. Mas de vez em quando analisarei algum jogo, desenvolverei alguns artigos técnicos, comentarei assuntos inerentes à profissão, quem sabe atingindo os 1500 artigos publicados nos últimos doze anos de existência dessa democrática e inexpugnável trincheira, humilde trincheira…

Amém.

Foto – Última equipe que dirigi na Supercopa, Cabo Frio, sozinho com oito jogadores, e ainda vítima de calote. Clique na mesma para ampliá-la.