POR QUE NÃO?

As equipes americanas resolveram prestigiar os Jogos Pan-americanos, enviando formações universitárias, que na maioria das vezes não se dão bem quando em confronto com equipes filiadas à FIBA. Mas num confronto com seleções centro e sul-americanas e mais o Canadá , poderão vivenciar um brilhareco oportuno, pois as mais representativas se apresentarão com suas equipes secundárias. Com tais e mais do que previstas participações, o grande e majestoso ginásio não será palco de um verdadeiro e representativo campeonato, e sim um “quebra-galho” de alguns milhões de dólares, que não representam nada para um país rico e poderoso como o nosso, repleto de excelentes escolas e com um povo, que de tão alfabetizado, se permite comandar por um governo que prestigia e desenvolve a cultura, a educação, os esportes, e mantem professores e técnicos num patamar social invejável, à altura de suas importâncias estratégicas. Logo, nada demais em aplaudir as empreiteiras, os especialistas estrangeiros, os profissionais do esporte tupiniquim, os políticos e agregados, todos dentro do espírito voluntário de bem servir o país, não importando os lucros advindos de tanto sacrifício em nome da pátria. Detalhes sem maiores importâncias, como a implantação de transportes de massa, canalização e saneamento das lagoas circundantes do centro nevrálgico dos Jogos, segurança nas grandes vias de acesso ao mesmo, vendas de ingressos democratizadas, representam valores ínfimos ante a desejada e aguardada publicidade internacional de nossa capacidade organizativa, que temo não ser tão competente como apregoam. Vamos ver se o nosso famoso “jeitinho” se coaduna com o gigantismo da empreitada.

E os americanos selecionaram seus jogadores, e a equipe feminina, seguindo uma tradição de representar o nicho onde se encontra a melhor escola de fundamentos do jogo, fato recentemente reconhecido pelo mais destacado técnico universitário de todos os tempos, John Wooden, apresentou uma relação de convocadas, que por si só é uma lição de evolução e comprometimento para o futuro, num momento em que seu basquetebol luta em busca de um soerguimento internacional, haja visto os sucessivos fracassos nas competições mundiais. É uma relação composta de seis armadoras, uma ala-armadora, quatro alas, uma ala-pivô e uma só pivô. A seleção masculina deverá apresentar uma convocação semelhante, pois os princípios evolutivos são os mesmos, velocidade, mobilidade de todos os jogadores e composição física que não entrave tais atributos, bem próximo da maioria das equipes européias.

Mas por aqui, a terra da mesmice implantada e defendida por um grupelho que implantou uma “filosofia de trabalho” baseada no que de pior a NBA nos legou, no máximo dois armadores são convocados, ao lado de uma enchurrada de pivôs de força e alas com domínio pífio dos fundamentos, mas todos compromissados com as coreografias pranchetadas e empurradas goela abaixo de jogadores criminosamente afastados da criatividade e livre iniciativa, fatores que estão muito além da compreensão das doutas comissões e suas arrogantes “filosofias”.

Por tudo isso, seria de bom alvitre começarmos a pensar e a agir tendo como meta Londres 2012, senão 2016 ainda será inalcançável.

Por onde começar? Do zero, numa semibreve de alto tom, nas mãos de quem realmente entenda o grande jogo, de quem realmente enxergue o futuro. Como fazê-lo? Bem sabem, como sabemos, todos aqueles que vivenciaram e vivenciam o basquete brasileiro, mas que num torpor generalizado se omitem ante a realidade de que algo precisa ser feito, com urgência, com destemor e com amor. Muitos que hoje ocupam grandes postos na vida pública brasileira, tiveram no basquetebol uma grande e poderosa escola de seu desenvolvimento, mas que num esquecimento injustificável viram as costas ao mesmo, lançando-o num limbo inescrutável e inexplicável, fruto da ingratidão de muitos, que em suas posições poderiam ajudá-lo a se soerguer. As associações de veteranos espalhadas pelo país estão repletas de homens e mulheres gabaritados e bem sucedidos em suas vidas, repletos de experiências técnicas e administrativas, quiçá políticas, num quadro de importância vital a qualquer processo de revitalização para o basquete que tanto amam. Que tal se moverem nessa cruzada, liderando os mais jovens, mostrando aos mesmos o caminho das pedras que tanto e com maestria souberam trilhar? Por que não? O que esperam? Por que não? Amém.

PS-Um homem que muito amou o jogo e que tentou ajudá-lo se candidatando à Federação do Rio de Janeiro, tendo sido um excelente praticante, nos deixou sete dias atrás. Marvio Ludolf vai fazer falta, muita falta, e daqui dessa humilde trincheira peço aos deuses que o recebam com toda a pompa de que se fez merecedor em toda sua vida. Saudades.

SISTEMAS II – TREINANDO OS FUNDAMENTOS.

Dando prosseguimento à série Sistemas, apresento o segundo capítulo da mesma. Espero que o estudem, comentem e que o desenvolvam na medida do possível, pois é uma preciosa ferramenta de trabalho, e que conta com a simpatia e aceitação da maioria dos jogadores, dos infantís aos mais graduados, já que a imensa possibilidade de evoluirem na prática dos fundamentos não têm limite. Para os técnicos e professores, a oportunidade de exercerem uma constante correção dos fundamentos, torna esse sistema de enorme valia no dia a dia de suas profissões. Espero que gostem.
PS- Existe a possibilidade de aumentar as imagens com a utilização do mouse sobre as mesmas.

APLAUSOS AO BIS.

“É um grupo que não foi formado agora, vem sendo convocado a algumas temporadas, formando uma base bem sólida dentro da filosofia de trabalho da Comissão Técnica. Temos grandes jogadores que vestem com orgulho a camisa do Brasil e estão dispostos a representar muito bem o nosso país nos Jogos Pan-Americanos do Rio de janeiro e no Pré-Olímpico”.

“O Pan será muito importante para o Marcelinho. Ele é o único que pode ser tricampeão e ainda vai estar jogando em casa”.

“O Pan-Americano vai servir como preparação para o Pré-Olímpico, mas é claro que é uma preparação que tem uma importância muito grande”.

“O João Paulo está sendo observado há algum tempo e é um jogador muito forte, que pode ser um pivô de força, algo que todo time precisa”.

“O Paulão, por exemplo, é um jogador juvenil, mas que já treinou com o grupo. O Rafael jogou uma Copa América e o Caio foi até o Mundial”.

São declarações do técnico da seleção brasileira junto à imprensa logo após apresentar a lista de convocação para as duas competições. Na mesma, somente dois jogadores são armadores puros, sendo que os demais poderão ser adaptados como alas-armadores, assim como a maioria dos pivôs relacionados são da categoria “pivôs de força”, e não pivôs velozes e ágeis.

Conclusões- Teremos de volta a “filosofia” de uma comissão técnica derrotada e pior, prontinha para repetir os erros incomensuráveis de um passado bem recente. À começar pela manutenção dos cardeais, aqueles jogadores donos de posições indisputadas e porta-vozes de uma ética peculiar denominada “grupo fechado”, a tal base sólida mencionada pelo técnico chefe.

Em conformidade com a “filosofia” implantada e marmorizada, atuaremos com um só armador, treinado na arte dos sinais, emanados das coreografias mais do que manjadas do repertório técnico-tático repetitivo e de amplo conhecimento da mais simplória equipe que enfrentaremos, todas magistralmente desenhadas numa folclórica prancheta de triste e permanente presença. E no caso desesperado de atuarmos com dois armadores, testemunharemos adaptações sempre prontas a tropeçarem e atropelarem a bola no afã de exercerem sobre a mesma uma técnica que simplesmente desconhecem.

Entrementes, sequer foram relacionados, ao menos para um treinamento preliminar, um grupo de armadores que vêm apresentando excelentes performances em suas equipes, tais como o Fulvio, o Matheus, o Fred e até mesmo o veterano Helio, que na companhia de outro veterano, o ala Rogério, se encontram numa forma técnica apreciável. Mas claro, todos afinados com uma forma diferenciada de atuar contrastante com a retrograda “filosofia” da douta comissão.

Fica patenteada a continuidade da utilização de pivôs de força, situação antagônica às nossas tradições de velocidade e destreza, para as quais nossa biotipologia é tão bem direcionada, mas que não encontra eco no seio dos donos da verdade basquetebolística, sendo que alguns dos que integrarão a delegação final sequer entrarão em quadra, a exemplo do ocorrido no mundial passado. A atração exercida pela presença de massas físicas nos bate-bolas de apresentação, representam, como fetiches, uma atração incontrolada nessa comissão, que por conta disso deixam de fora jogadores que realmente representassem nossa real e indiscutível força.

Força esta que somente se faria presente se liderada por um técnico que representasse lidimamente uma forma de jogar que beneficiasse nossos valores e tradições, que se encaixam perfeitamente com o movimento inovador que vêm se antepondo ao modelo NBA no mundo, principalmente do lado europeu, e que é ferrenhamente defendido e empregado em nossas últimas seleções nacionais, com resultados deploráveis.

Enfim, testemunharemos mais uma etapa de desmando técnico, tático e ético protagonizado, não por uma comissão conivente com cardeais e aspirantes a títulos romarizantes, onde milésimos gols e tricampeonatos pessoais se antepõem aos verdadeiros objetivos concernentes a uma seleção nacional, mas sim a uma pseudo-liderança representada por uma entidade falida no âmbito técnico, e principalmente no administrativo, já que eminente e nefastamente política. Gol mil para o grego melhor que um presente, e sua comitiva de áulicos e incompetentes. Isso é Brasil.

O ANESTÉSICO DAS CONSCIÊNCIAS.

Imperdível a matéria publicada no O Globo de hoje, domingo, com a entrevista do Presidente da Agência Mundial Antidoping, Richard Pound concedida ao repórter Fábio Juppa, que em determinado trecho da mesma perguntou: “A NBA não dá um mau exemplo para o resto do mundo ao permitir que jogadores usem substâncias ilegais para a comunidade esportiva?” Assim respondeu Richard Pound: “Algumas ligas profissionais incrementaram seus programas antidoping nos últimos anos. Foram pequenos passos na direção certa, graças às pressões da mídia e do Congresso americano. Mas ainda devem muito ao que é esperado delas, e não há duvidas que essas ligas, incluindo a NBA, precisam fazer muito mais na luta contra o doping. Eles devem parar e se perguntar se querem o esporte livre das drogas ou não. E têm de mostrar aos jogadores que substâncias que melhoram o desempenho carregam riscos significantes, assim como a pena que podem pegar. É necessário desencorajar os jogadores a usá-las, além de aumentar as sanções”.

De longa data é sabido, e convenientemente escamoteado, o uso indiscriminado de substâncias estimulantes por muitos jogadores da NBA, principalmente nas pré-temporadas, onde as exigências contratuais baseadas em observações e performances nos campos de treinamento, forçam muitos deles a procurarem o suporte dopante a fim de se apresentarem dentro das exigências físicas e emocionais que os garantam nas equipes, com bons contratos de preferência. Dentro de um universo de interesses e de extrema competitividade, o uso de estimulantes e anabolizantes se tornou corriqueiro, a ponto de chamar a atenção dos órgãos governamentais ligados ao combate às drogas e do Senado, com suas CPI’s no campo desportivo. Dois dias atrás, a Comissão do Senado implicou dois dos mais renomados jogadores de beisebol pelo uso de anabolizantes, e que juntamente com jogadores da NFL, a liga do futebol americano, foram as primeiras modalidades a serem investigadas com rigor. A NBA, sem dúvida, será a próxima a ser investigada, o que alterará substancialmente o cenário competitivo da mesma.

Muitas deserções de jogadores estelares em competições da FIBA, encontrarão explicações plausíveis, muito ao contrário das desculpas de que não iriam às ultimas Olimpíadas em Atenas por falta de segurança, assim como em Mundiais. Poderemos compreender as mudanças radicais no físico de muitos jogadores, que num curto espaço de tempo se transformam em massas disformes e enormemente pesadas, pondo em real risco articulações, sistemas cardiovasculares e renais. Mas o peso dos muitos milhões de dólares tende a justificar tais mergulhos no escuro, em um mundo irreal e perdulário, onde interesses de empresários, agentes e grandes firmas lastreiam e comandam a vontade dos jogadores.

Desde que iniciei este blog venho alertando a todos os verdadeiros esportistas sobre o perigoso avanço do doping no meio esportivo, em particular no basquetebol. E jamais me arrependi de abordar este tema tão controvertido e teimosamente varrido para baixo dos tapetes daqui e os lá de fora. Trata-se de uma hipocrisia institucionalizada a serviço de grupos muito fortes e de princípios mafiosos, que movimentam milhões de dólares, em evidente contraste com os milhões de jovens que ainda vêem o esporte com pureza e ideais olímpicos.

A entrevista é esclarecedora e de importância vital para o desporto mundial, nessa luta desigual pela lisura nos campos desportivos. Vale a pena lê-la e guardá-la, para conferi-la daqui a alguns anos. Quem sabe poderemos manter os princípios das competições justas e democráticas. Quem sabe…

O PUJANTE BASQUETEBOL.

“O basquete brasileiro mostra que está pujante, mais vivo do que nunca, apesar de alguns derrotistas dizerem o contrário( nesse momento fixa desafiadoramente as lentes da câmera). A entrevista do Varejão no O Globo mostra um atleta determinado a defender a verde e amarela, não importando a NBA aceitar ou não. O publico recorde de Brasília ai esta para comprovar o grande momento de nosso basquete”. Com estas palavras o técnico de Joinville iniciou seu discurso ufanista ao inicio do jogo contra Franca. E disse mais:”Podemos formar 20 equipes, com alguns estrangeiros de reforço, para voltarmos ao cenário internacional”. E finalizou: “Mas também precisamos mudar alguns conceitos de jogo, a exemplo do que a equipe de Franca vem aplicando”.

Vem o jogo, e com a equipe francana nitidamente rodando seus jogadores, no intuito de preservá-los para a maratona de jogos que terá de enfrentar daqui para diante, e o que se viu foi um enfrentamento dos atuais conceitos mencionados da equipe de Franca, ante os conservadores conceitos da equipe de Joinville, e que graças a excelente participação de seu pivô conseguiu equilibrar os quartos iniciais da partida. No derradeiro quarto, a equipe francana fez voltar seu quinteto básico, com o aproveitamento de seus três armadores e dois homens altos e liquidou a partida. Em nenhum momento se viu na equipe do sul um vislumbre, por menor que fosse, de mudança conceitual, e sim a mesmice que grassou e ainda grassa na grande maioria das equipes brasileiras. Logo, o discurso, apesar das indiretas àqueles que discordam veementemente da absurda situação por que passamos desde muito tempo, caiu no vazio, demonstrado na pratica, pela sua equipe. Seria de boa cepa, que evitasse tais manifestações que lhes são ofertadas por microfones globais, substituindo-as por um trabalho que visasse as tão propaladas mudanças conceituais.

Agora, afirmar que podemos formar 20 equipes de categoria, que juntamente com o reforço de estrangeiros nos levaria de volta ao cenário internacional, soa falso, muito falso. Seria mais ou menos como a equipe do Sunshales, que venceu Franca no Sul-americano, onde dois americanos praticamente derrotaram os brasileiros, aspecto muito bem descrito pelo comentarista da ESPN Brasil, ressaltando, que sem os mesmos a equipe argentina dificilmente derrotaria os brasileiros. Propugna-se então a volta do tempo em que as equipes só eram levadas à serio se possuíssem americanos em suas hostes, para gáudio e status de seus técnicos, que em muitos casos mal podiam dialogar com os mesmos em sua língua pátria.

E onde encontraríamos tantos técnicos “preparados” para liderarem tantas equipes de nível internacional, se mal nos agüentamos em pé atrelados aos conceitos que o televisivo técnico sempre foi ferrenho defensor, e ainda atual utilizador? Porque levantar bandeiras que nunca levantou, pelo simples fato de estar sempre plugado aos microfones globais? Porque o rancor com a critica, ainda mais quando emanadas por quem conhece as quadras, o jogo, as longas lutas por condições de trabalho, divulgando o grande jogo, democraticamente por todo o país, e que tem ajudado na formação de muitos professores e técnicos ao longo dos anos? A critica fundamentada é necessária quando está em jogo o futuro do nosso basquetebol, e que mesmo longe das benesses dos “open mics” se manifesta naqueles nichos tão bem descritos pelo Melk, as gloriosas trincheiras na internet, que vivas e atuantes não se deixam cooptar e influir por discursos ilusórios, interesseiros e, por que não, pujantes.

Concordo, porém, que devemos mudar conceitos, de jogo, de táticas, de planejamento, e de ética, e que os mesmos bem que poderiam renascer na bela cidade de Joinville, para a alforria do basquete brasileiro, mas com muito e dedicado trabalho, e menos discursos. Amém.

ENCONTROS EM SUNSHALES.

Foi um grande jogo, decidido pelos dois americanos do Sunchales no terceiro quarto, o mesmo no qual equipe de Franca decidiu os dois jogos em casa. Dessa vez, a inversão dos papéis deveu-se muito mais à ânsia de decidir a partida em tentativas individuais por parte dos francanos, dando a oportunidade de contra-ataques fatais através a dupla norte-americana em noite inspiradíssima. Faltou uma necessária quebra do ritmo alucinante imposto pelos brasileiros nos dois quartos iniciais, nos quais conseguiram igualar o placar, mesmo ante a grande pressão exercida pela assistência argentina, levando seus jogadores a um empenho defensivo muito forte, onde, mais uma vez, se destacou o porte e a atuação intimidadora do excelente pivô Battle. A atuação precipitada dos jogadores brasileiros no terceiro quarto selou suas pretensões de vitória, que nem mesmo a recuperação do controle técnico e emocional no quarto derradeiro foi suficiente para conseguir dobrar a equipe da casa. Ficou muito clara a ascendência determinante da dupla americana sobre os demais componentes da equipe, que sem os mesmos não fariam frente à equipe brasileira. Também ficou claro, que a distancia, antes muito acentuada, entre os jogadores argentinos e os nossos, já não apresenta tanta discrepância, o que nos habilita nos confrontos que se seguirão daqui para frente, a começar nos Jogos Pan-americanos.

Mas para tanto, urge uma grande renovação de conceitos técnico-taticos por parte de nossos técnicos, que de uma maneira geral ainda se guiam pelo modelo NBA em suas formas de direção de equipes. A utilização de dois armadores, e um rodízio dos homens altos no perímetro interno já se constitui em grande e bem vindo avanço, faltando-nos somente que invistam em novos princípios de jogo que complementem tais conquistas, assim como, também urge o desenvolvimento massivo de caráter defensivo, ponto fulcral ao desenvolvimento do nosso basquetebol.

Desenvolver modelos de jogo que priorizem a capacidade criativa de nossos jogadores, aliados a um efetivo e determinante preparo nos fundamentos, é o que nos falta para a grande retomada ao encontro do grande tempo perdido nas duas ultimas décadas. Somente os técnicos, imbuídos por princípios evolutivos, e repletos de coragem para resgatá-los, é que poderão mudar o estado retrogrado em que nos encontramos. Se isso vier a ocorrer, acredito que no espaço de um par de anos possamos restabelecer o tempo perdido, criminoso e estupidamente perdido.

Mas o ato final da aventura sul-americana, nos guardou uma grande surpresa, a presença irmã e xipófaga daqueles dois dirigentes que recentemente, de forma censurável e publica, se engalfinharam em fortes declarações de cunho político, rompendo os vínculos que os prendiam à doce teia do mundo cebebiano, numa bem sucedida tentativa de enganar o publico com falsas premissas de desacordo político. Lá estavam, segurando taças e distribuindo medalhas, após virem do congresso no paraíso antilhano, unidos, coesos, e rindo por dentro daqueles que caíram na encenação magistralmente concebida, não fossem raposões da mais pura linhagem. E ainda tem gente que acredita. Xeque mate do grego melhor que um presente. Aprendam, cresçam e apareçam.

SISTEMAS I – DEFESA LINHA DA BOLA.

Inicio uma serie de artigos sobre sistemas de jogo, defensivos e ofensivos, que empreguei nas equipes que dirigi nos últimos 45 anos, esperando que sirvam de estudos e indagações, por todos aqueles que se interessam pela compreensão do jogo. A cada mês publicarei um artigo que poderão vir na forma de fótos, como esse primeiro, diagramas e vídeos. Espero que gostem.

MICROFONE DE LAPELA.

Em duas partidas brilhantes Franca venceu a forte equipe do Sunchales, levando a decisão para a cidade argentina na próxima semana. Se pode vencer a final? Sim, e com autoridade, mas se iniciar o primeiro quarto com sua formação mais eficiente, a mesma que derrotou seu adversário no inicio dos terceiros quartos nas duas partidas. Na de hoje, como num preito ao sofrimento, Franca iniciou o jogo com dois armadores, o Helio e o americano, e três homens altos, numa tentativa de sobrecarregar o grande pivô americano do Sunchales. Acontece que a defesa argentina atua num rodízio quase perfeito embaixo de sua cesta, oferecendo ao atacante uma primeira possibilidade de finta, para a seguir, quando da tentativa de cesta, acontecer a cobertura, sempre voltada ao bloqueio, não importando a altura do mesmo, já que o norte-americano possui a noção exata da correlação tempo-espaço, fazendo-o imbatível, não só nos bloqueios, como, e principalmente nos rebotes, e o pior, cometendo muito poucas faltas. Esse embate desigual concorreu em tal acréscimo de confiança para o Battle, que no ataque praticamente pendurou todos os pivôs de Franca, fragilizando os rebotes da equipe. No momento que o técnico francano, ao inicio do terceiro quarto escalou seus três armadores, abdicando da luta desigual com o pivô argentino(?), jogando em torno do perímetro com maior velocidade, e penetrando fundo, na intenção de abrir espaços de dentro para fora do garrafão, no intuito dos arremessos de três pontos, conseguiu reequilibrar e dominar a partida, pois o grande pivô, sem a mobilidade exigida para o jogo externo, perdeu sua grande arma, a intimidação embaixo da cesta. No momento que Franca abdicou da luta interior, do jogo de choque, optando pelas escaramuças externas, onde a velocidade supera o embate físico, venceu as duas partidas.

Na Argentina, a equipe de Franca não se pode dar ao luxo de ao inicio do jogo, que é o último e decisivo, abrir mão de sua maior arma, o jogo veloz, incisivo, invasor e profundamente voltado ao desmarque, para que seus ótimos arremessadores possam usufruir de tempo suficiente para lançamentos firmes e equilibrados. Isso obrigará os argentinos a saírem debaixo de sua cesta, numa área em que o Battle não apresenta a firmeza do jogo de choque, quebrando um pouco a sua confiança, que respaldada em sua formidável presença defensiva, personaliza-o nas ações ofensivas, já que decisivamente presente nas duas cestas. Ao diminuir sua importância defensiva, atuando longe de suas firmes intervenções, muito de sua ação ofensiva se esvairá pela possível quebra de seu equilíbrio psicológico. Ao enfrentar um jogador com tão decisiva ambivalência, torna-se necessário diminuir em muito uma de suas funções, e nesse caso particular, tentando diminuir suas ações defensivas, atuando ao máximo longe de sua influência, de sua presença.

Claro, que são conjecturas baseadas em observações, nada mais do que isso. O técnico francano, melhor do que ninguém saberá, como tem feito, encontrar as melhores opções para sua equipe, mas, com uma pequena e sutil diferença: em Sunchales terá muito poucas chances de se insurgir contra a arbitragem da maneira como se insurgiu em sua casa, violentamente, e com o respaldo de 7000 torcedores, numa ação, que para o narrador e o comentarista da TV, surtiu pleno efeito, pelo menos em um dos juízes, o que é profundamente lamentável. Mas a transmissão da TV argentina nos dará algo bem positivo, assim espero, a não instalação nas lapelas dos técnicos de microfones, responsáveis pela transmissão direta, ao vivo e à cores, de todo um repertório de impropérios e palavrões para dentro das casas dos telespectadores, e sem pedir permissão para tal. O técnico argentino, com propriedade e grande dose ética, não permitiu tal ingerência em seu trabalho, o que foi louvável.

Enfim, fora tais inconvenientes de caráter educativo(se é que têm real importância) a equipe de Franca, tem apresentado boas perspectivas de mudanças no pobre cenário técnico do basquete brasileiro, sendo inclusive, seguida por outras do mesmo porte. Jogar com dois armadores já se torna uma realidade entre nós, faltando somente que se inove em sistemas adequados aos novos tempos, fugindo-se definitivamente do engessamento que nos foi imposto por modelos exógenos, que em nada combinam com nosso caráter e forma de jogar o grande jogo. Espero que continuem em tais e bem-vindas mudanças. Amém.

NA TERRA DE DOM BOSCO.

Ginásio repleto, 26 mil assistentes, num recorde admirável para os padrões brasileiros. Foi a prova inconteste do amor que o basquete ainda desperta em nossa sofrida gente, e que a turma de Brasília ainda resguarda a chama do esporte como fator de congraçamento social. Vivi quatro anos naquela cidade e bem sei do quanto amam o desporto. A epopéia para a montagem do ginásio após um show de rock na antevéspera, determinou os caminhos para o sucesso do jogo, num elogiável trabalho de equipe, com o Pedro Rodrigues dando os rumos do mesmo.

O jogo, como esperado, não originou grandes sobre-saltos a equipe da casa, pois o Flamengo, sem seus dois armadores titulares pouco poderia apresentar de concatenação técnica. Brasília, jogando com dois, e até três armadores simplesmente desconheceu o adversário, provando de uma forma definitiva que o exemplo oriundo do time de Franca, já encontra eco nas melhores equipes do país, nas quais se fazem presente uma acentuada e bem vinda melhora nos fundamentos do jogo pela presença dos mesmos, apesar do decréscimo na estatura das equipes. O inusitado, é que nenhuma das equipes mudou seus esquemas de jogo, somente qualificou-os com jogadores mais técnicos nos fundamentos, o que reduziu drasticamente o jogo de passes, em função do aumento do controle de bola e das fintas incisivas. Infelizmente, os pivôs ainda vêm para fora do perímetro tentarem executar canhestramente os corta-luzes, invariavelmente faltosos, numa falta de sensibilidade tática que chega a ser tocante pelo primarismo. Se dois dos armadores, jogando mais próximos os tentassem, os pivôs voltariam a atuar onde são realmente eficientes, próximos à cesta.

Numa segunda etapa a essa evolução, teremos, obrigatoriamente, de qualificar tecnicamente nossos alas e pivôs nos benditos fundamentos do jogo, e para tanto, além de novas (não tão novas, talvez relembradas) didáticas, terão os técnicos de plantão de se convencerem de que adultos, e mesmo veteranos, sempre poderão aprender e apreender novas técnicas, bastando para tal, que sejam orientados por gente competente e que realmente domine a essência do jogo. Técnico de prancheta e de esquemas tipo desembrulhe e use, jamais entenderá tal importância.

Por outro lado, os técnicos e professores responsáveis pela formação, terão que reformular alguns de seus estratificados e colonizados conceitos, para guinarem na direção do ensino profundo dos fundamentos para todos os jogadores, independentemente de funções e estatura, desde o mini, até seu ultimo dia como atleta de competição. Somente após essa profunda guinada, é que poderemos nos situar no avançado campo das táticas e das estratégias de jogo, já que estaremos possuidores e dominadores do passaporte para a excelência nos sistemas, o domínio dos fundamentos. Um bom caminho ainda teremos de trilhar, caminho este que deveria passar ao largo de clinicas voltadas única e exclusivamente ao processo de continuísmo da retrógrada turma que se instalou,como um feudo perpétuo, uma capitania hereditária de triste e continuada existência.

Alguns estados, meritoriamente, ensaiam a criação de suas associações de técnicos, fator primordial para nossa evolução no grande jogo. Com a existência das mesmas, num razoável tempo a criação e formulação de uma associação nacional daria amalgama a todas as outras, mas somente após a existência, organização e continuado trabalho das estaduais. Uma associação nacional antecedendo o trabalho e a importância das associações estaduais perverteria o cerne do trabalho associativo, onde o caráter regional tem de ser estudado, pesquisado e devidamente implantado. Qualquer tentativa de criação de uma associação nacional, mormente se patrocinada pelo órgão diretivo da modalidade no país, colocará por terra todo e qualquer esforço de democratização, desenvolvimento e implantação de novas políticas comportamentais, técnico-taticas, e principalmente, éticas.

Por tudo isso, foi uma maravilhosa experiência a que foi vivida em Brasília, enchendo-nos de esperanças em dias melhores para o nosso tão sofrido e maltratado basquetebol. Amém.