MICROFONE DE LAPELA.

Em duas partidas brilhantes Franca venceu a forte equipe do Sunchales, levando a decisão para a cidade argentina na próxima semana. Se pode vencer a final? Sim, e com autoridade, mas se iniciar o primeiro quarto com sua formação mais eficiente, a mesma que derrotou seu adversário no inicio dos terceiros quartos nas duas partidas. Na de hoje, como num preito ao sofrimento, Franca iniciou o jogo com dois armadores, o Helio e o americano, e três homens altos, numa tentativa de sobrecarregar o grande pivô americano do Sunchales. Acontece que a defesa argentina atua num rodízio quase perfeito embaixo de sua cesta, oferecendo ao atacante uma primeira possibilidade de finta, para a seguir, quando da tentativa de cesta, acontecer a cobertura, sempre voltada ao bloqueio, não importando a altura do mesmo, já que o norte-americano possui a noção exata da correlação tempo-espaço, fazendo-o imbatível, não só nos bloqueios, como, e principalmente nos rebotes, e o pior, cometendo muito poucas faltas. Esse embate desigual concorreu em tal acréscimo de confiança para o Battle, que no ataque praticamente pendurou todos os pivôs de Franca, fragilizando os rebotes da equipe. No momento que o técnico francano, ao inicio do terceiro quarto escalou seus três armadores, abdicando da luta desigual com o pivô argentino(?), jogando em torno do perímetro com maior velocidade, e penetrando fundo, na intenção de abrir espaços de dentro para fora do garrafão, no intuito dos arremessos de três pontos, conseguiu reequilibrar e dominar a partida, pois o grande pivô, sem a mobilidade exigida para o jogo externo, perdeu sua grande arma, a intimidação embaixo da cesta. No momento que Franca abdicou da luta interior, do jogo de choque, optando pelas escaramuças externas, onde a velocidade supera o embate físico, venceu as duas partidas.

Na Argentina, a equipe de Franca não se pode dar ao luxo de ao inicio do jogo, que é o último e decisivo, abrir mão de sua maior arma, o jogo veloz, incisivo, invasor e profundamente voltado ao desmarque, para que seus ótimos arremessadores possam usufruir de tempo suficiente para lançamentos firmes e equilibrados. Isso obrigará os argentinos a saírem debaixo de sua cesta, numa área em que o Battle não apresenta a firmeza do jogo de choque, quebrando um pouco a sua confiança, que respaldada em sua formidável presença defensiva, personaliza-o nas ações ofensivas, já que decisivamente presente nas duas cestas. Ao diminuir sua importância defensiva, atuando longe de suas firmes intervenções, muito de sua ação ofensiva se esvairá pela possível quebra de seu equilíbrio psicológico. Ao enfrentar um jogador com tão decisiva ambivalência, torna-se necessário diminuir em muito uma de suas funções, e nesse caso particular, tentando diminuir suas ações defensivas, atuando ao máximo longe de sua influência, de sua presença.

Claro, que são conjecturas baseadas em observações, nada mais do que isso. O técnico francano, melhor do que ninguém saberá, como tem feito, encontrar as melhores opções para sua equipe, mas, com uma pequena e sutil diferença: em Sunchales terá muito poucas chances de se insurgir contra a arbitragem da maneira como se insurgiu em sua casa, violentamente, e com o respaldo de 7000 torcedores, numa ação, que para o narrador e o comentarista da TV, surtiu pleno efeito, pelo menos em um dos juízes, o que é profundamente lamentável. Mas a transmissão da TV argentina nos dará algo bem positivo, assim espero, a não instalação nas lapelas dos técnicos de microfones, responsáveis pela transmissão direta, ao vivo e à cores, de todo um repertório de impropérios e palavrões para dentro das casas dos telespectadores, e sem pedir permissão para tal. O técnico argentino, com propriedade e grande dose ética, não permitiu tal ingerência em seu trabalho, o que foi louvável.

Enfim, fora tais inconvenientes de caráter educativo(se é que têm real importância) a equipe de Franca, tem apresentado boas perspectivas de mudanças no pobre cenário técnico do basquete brasileiro, sendo inclusive, seguida por outras do mesmo porte. Jogar com dois armadores já se torna uma realidade entre nós, faltando somente que se inove em sistemas adequados aos novos tempos, fugindo-se definitivamente do engessamento que nos foi imposto por modelos exógenos, que em nada combinam com nosso caráter e forma de jogar o grande jogo. Espero que continuem em tais e bem-vindas mudanças. Amém.



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