Tinha que ser no Natal, o prana, o presente supremo, enfim alcançamos a glória suprema, a NBA natalina, a NBA das multidões, com suas arenas lotadas e seus milhões de dólares que nos redime de um NBB “que ninguém nunca viu”, com suas arenas vazias, gerando um solitário eco, que bem representa a agonia do grande jogo nesse imenso, desigual e injusto país…
Nas páginas do maior jornal do país, semanas após semanas, enormes matérias expõe uma redentora NBA, com chamadas nobres, e páginas e páginas inteiras com a programação da grande liga, num investimento dirigido cirurgicamente aos torcedores e consumidores tupiniquins, principalmente os mais jovens, numa campanha direcionada aos interesses mercadológicos que a sustentam nesse bilionário mercado…
Enfim, é a glória, sufragando um investimento colossal, deixando as migalhas ao torneio “que ninguém nunca viu”, com suas dezenas de argentinos, outro tanto de americanos meia boca, alguns venezuelanos, um ou outro grego, e até um paraguaio, todos irmanados a rodados e experientes nativos, adeptos confessos do sistema único, garantidor de seus empregos, com uns raros jovens que em breve se inscreverão no draft redentor, somados a inacreditáveis “pranchetas que falam”, sobraçadas por estrategistas que bailam, caminham, gesticulam freneticamente ao lado das quadras, além de sistematicamente constrangerem as arbitragens, num espetáculo que beira ao circo…
Mas nada que se compare ao maior show da terra, aquele que arrasta o interesse pátrio, aquele que, mesmo sendo economicamente inatingível e factível aos nossos parcos recursos, direciona o nosso interesse ao interesse maior e coercitivo da turma acima do equador, pois é dessa forma que a banda toca, ao preço que for, até que recobremos a vergonha na cara. Quem sabe, um dia…
Amém.
Desejo aos poucos e teimosos leitores desse humilde blog, um Feliz Natal, e um esperançoso 2025 para o nosso tão maltratado basquetebol.
Fotos – Reproduções do jornal O Globo. Clique duplamente nas mesmas para ampliá-las.
Por quanto tempo mais continuaremos nessa espiral invertida que tanto deprecia e castiga o grande jogo entre nós, tanto no aspecto técnico, como no tático, sedimentando uma mesmice endêmica que nos esmaga e humilha, deuses, por quanto tempo mais?…
Seleções são constituídas, dirigidas por nacionais ou estrangeiros, que juram de pés juntos revolucionar a forma de jogar, pensar, evoluir e desenvolver novos e inéditos caminhos, que nos redirecione equilibradamente às grandes competições internacionais, porém inócuos até hoje, repetidos que são os mesmos erros e equívocos…
Que são sérios e teimam em se manter na formação de base, que espelham as ações desenvolvidas nas divisões superiores, inclusive seleções, que exemplificam à base, todo o comportamento padronizado e formatado que direciona o grande jogo entre nós, mantendo-o rigidamente alinhado a um sistema único, originado na NBA, e tornado universal na maioria dos países que o praticam a mais de três décadas…
Por conta de tal descalabro, poucos técnicos ousam tentar algo de diferenciado como ação contínua, arriscando um ou outro movimento fora da curva, como a dupla armação básica, e uma tríade de homens altos atuando no âmago das defesas que enfrentam, como vemos, ainda que timidamente, acontecer nesse NBB, e mais timidamente ainda em nossas seleções, mas nada que iguale a enorme cisão técnico tática provocada pelo humilde Saldanha no NBB 2, que por tal comportamento libertário, foi demolido pelo sistema único, tanto como equipe, como direção técnico tática, profundamente indesejável pelo mesmo, sólida e dogmaticamente corporativado desde sempre…
O artigo reproduzido a seguir conta um pouco daquela fugaz, porém impactante saga, a dos dois armadores e três alas pivôs, que se continuada, teria influenciado positivamente o grande jogo, neste imenso, desigual e injusto país…
Criou-se no mundo do grande jogo no país a premissa de que, fora do sistema único que empregamos sofregamente a três décadas, nada mais viceja, a não ser a confirmação sistemática de tudo que emana da matriz do norte que deve ser conceituada como palavra final, como diretriz de via única, custe o preço que for, da formação de base a elite, nada podendo ser contestado, seja no âmbito técnico das equipes, seja na esfera da crítica, todos mergulhados de cabeça e de espírito no que de melhor convier para o progresso da modalidade, claro, na opinião formatada e padronizada de todos eles, menos e solitariamente, da minha…
Que, dando de frente a um parágrafo do artigo do jornalista Fabio Balassiano publicado em 22/5/17 no blog Bala na Cesta, a seguir mencionado:
(…)Sem a menor cerimônia, Bauru fechou o garrafão para impedir as cestas “de pertinho” e deu o perímetro para o Pinheiros arremessar. Como que dizendo “aqui dentro você não entra, então se quiser pontuar na gente vai ter que chutar de fora”.(…).
Fez com que me reportasse a uma curta, curtíssima, porém bem sucedida experiência que tive no Saldanha da Gama no NBB2, quando no oitavo treino de meia quadra 5 x 5, interrompi o duelo furioso entre defesa e ataque, para enfatizar a todos os que atacavam naquele momento – “Guardem bem, e não esqueçam ou se omitam de que é bem aqui, dentro, no miolo, no coração da defesa que farão os ´pontos decisivos, entendendo agora o porquê de tantos exercícios de dribles, passes e arremessos que realizaram, e muito realizarão dentro desse exíguo espaço, na cozinha do adversário, onde as conclusões são mais seguras, de 2 em 2 e de 1 em 1 pontos, pois nada arrefece e desbasta uma defesa do que se vê liquidada e vencida “ aqui dentro” e “bem de pertinho”, minando sua moral e auto reconhecida solidez”…
E assim foi feito e entendido, por todos, sem exceções, ao som dos choques corpóreos, das inevitáveis pancadas, com um dos lados atacando com dois armadores e três homens altos permanentemente enfiados lá, “na cozinha”, numa louca, porém disciplinada movimentação aleatória e ao mesmo tempo consciente dos valores da improvisação, degrau mais alto do conhecimento técnico que exerciam dentro de seu sistema proprietário, enquanto do outro, tudo faziam, a meu pedido, para tornar estéril toda e qualquer movimentação dentro do sistema ofensivo que optamos desenvolver, como que nos adiantando ao comportamento defensivo de nossos futuros adversários, e por se tratar de um sistema híbrido, por ser o mesmo utilizado tanto contra defesas individuais, como as zonais, indistintamente, talvez variando somente quanto ao ritmo de jogo, e que para ser desenvolvido e treinado exige grande conhecimento técnico, tático, e coragem suficiente para aplicá-lo em toda sua essência inovadora, nada mais…
Infelizmente, depois de um belo recomeço em São Paulo, viu-se a equipe alijada de três de seus melhores jogadores, para enfrentar duas semanas de derrotas, algumas delas que não aconteceriam se sua unidade não tivesse sido quebrada daquela forma, mas, que um pouco adiante, reformulada em seus limitados recursos humanos, pode mostrar a muitas das poderosas equipes daquele segundo campeonato da liga, inclusive a campeã, como defender dentro e fora dos perímetros, dentro da mais irrestrita linha da bola, flutuando lateral e jamais longitudinalmente à cesta, e atacar com força e inteligência, jamais ultrapassando o limite seletivo dos 10/15 arremessos de 3, concluindo a maioria de seus pontos de 2 em 2 e de 1 em 1, “lá dentro” e “bem de pertinho”…
Duvidam? Então vejam, e não esqueçam, se realmente se interessam pelo grande jogo, aquele que foi jogado um dia de forma diferenciada em nosso país ( já lá se vão quatorze anos), de verdade, lamentando somente me ter sido vedada a continuidade do mesmo. Por que? Por quais motivos? Saberão responder?
Fotos – Minha homenagem aos grandes jogadores do Saldanha da Gama no NBB2, a quem tive a grande honra de dirigí-los. Clique duplamente para ampliá-las.
A– O Petrovic em recente testemunho ao programa Hello LA do Sportv, discorreu longamente sobre sua volta à direção da seleção brasileira, depois de dirigí-la de graça (?) no Pré-Olímpico para Paris, quando classificou-a na difícil competição…
Falou, discursou muito, no seu confuso portunhol, colocando-se como o arauto da nossa retomada do grande jogo ao cenário internacional, prometendo lançar cada vez mais jovens promessas no ciclo olímpico que se inicia, conclamando os técnicos tupiniquins que façam o mesmo em suas equipes, numa caminhada onde seu exemplo renovador deveria ser aceito e seguido por todos aqueles empenhados no ensino e aperfeiçoamento técnico tático a imagem e semelhança de seu esforço junto aos jovens talentos desse imenso, desigual e injusto país…
Guardou, surpreendentemente, a cereja do bolo ao final de sua retórica, brava retórica, a de passar o comando da seleção, se classificada a Los Angeles, a um técnico nacional, numa pungente renuncia, que no entanto gera uma outra real e objetiva pergunta – E se não classificar? Bem, os salários, altos e dolarizados salários de todo um ciclo já estariam devidamente embolsados, restando somente uma classificação no bojo de um formidável e inovador (?) projeto, que seria vivenciado por um brasileiro, que qualquer um nada, pouco ou muito conhecedor dos meandros do basquetebol pátrio já conhecem de cor, Spliter, um gênio que apesar de nunca ter militado até bem pouco tempo na direção de equipes, se situa acima de qualquer julgamento inter pares, por seu absolutamente incomparável conhecimento do grande jogo, em sua complexa sistemática, e profunda preparação de jogadores, técnica, tática e mentalmente orientados…
Meus deuses basqueteiros (ou não), onde se encontram nossos mais profundos, dinâmicos e competentes ases das pranchetas, “aquelas que falam”, aqueles que deitam prolixamente vastos conhecimentos fora e dentro das quadras, esbravejam contra arbitragens, gesticulam teatralmente quando se veem focados pelas lentes televisivas, emitem prognósticos e opiniões que nem mesmo eles acreditam, que se dizem conhecedores dos atalhos que levam às vitórias, mesmo estando todos sob a égide de uma sistemática formatada e padronizada, geradoras de uma mesmice endêmica que nos tem ferido de morte por algumas décadas, e da qual somente emergiremos com muito e penoso trabalho a médio e longo prazos, mas que encontra agora uma válvula de escape pelas mãos de um milagroso croata, e no razoável prazo de um ciclo, destinando magnanimamente seu ápice a um treinador nacional…
Grande Petrovic, puxa vida, agradecemos penhorada e emocionadamente tão grandioso e fantástico presente. Quanto a mim, já técnico experiente, o vi jogar ao lado de seu estreante irmão, Drazen, pela seleção da Iugoslávia contra a brasileira no ginásio corintiano nos anos 70, e que agora comanda nossa seleção em dois ciclos olímpicos, ostentando um salvador, renovador e hermético discurso, o qual gostaria imenso de, particularmente, não concordar e aceitar, por um único e singelo motivo, aprendido e apreendido com meus pais, mestres, alunos, jogadores, amigos e irmãos, o de ter vergonha na cara, simplesmente isso, vergonha na cara.
B– Imaginem um caótico jogo, com mais de 80 arremessos na partida, muito acima dos de dois pontos, mesmo que com uma prorrogação, imaginaram o absurdo tiroteio? Pois é. esse jogo aconteceu esta semana, Flamengo e Pato cometeram esta insanidade, e acredito que estão prontos para continuá-la, numa competição “como você nunca viu”, segundo os propagandistas da Liga, com pouca técnica, até concordam, mas com emoções extremas, pena que na presença de ginásios semi desertos, repletos de narradores e comentaristas ensandecidos com a profusão de tocos, enterradas e, claro, bolinhas em profusão. Eis os números:
Flamengo 110 x 103 Pato
21/38 2 20/39
13/43 3 16/39
29/32 LL 15/18
57 R 34
12 E 9
Pelas continhas – Arremessos de 2 – 41/77
Arremessos de 3 – 29/82
Lances livres – 44/50
Erros de fund. – 21
Ficam perguntas no ar – Quem marcou, defendeu nesta partida?
Que maravilhosos sistemas propiciaram tantas tentativas livres de cesta?
Ouso responder- Ausência quase total de princípios de equipe, numa aventura colossal de individualidades, advindas de inexistência defensiva, e de liderança e comando responsável. Abreviando, uma descomunal pelada, onde a turma estrangeira se locupleta triunfante, e claro, no mais puro inglês, e por que não, castelhano também. Sobra-nos as pranchetas, “aquelas que falam”, e como…
E no rufar triunfante dos tambores, emergirão nossas seleções, atuando como jogamos internamente, solidificadas pela sanha orgiastica das bolinhas de três, arremessadas por todos em quadra, de todos os quadrantes e formas, não fossemos nós (numa absurda crença geral) os maiores especialistas mundiais nas mesmas, contando, inclusive, com a progressiva aderência e anuência do Petrovic, que aqui aportou com um discurso oposto a essa forma arrivista de jogar, e hoje, cada vez mais, fã do estilo, garantidor de seu excelente e muito bem pago emprego, o qual se desfará ao passar o comando a um já definido (mas sutilmente não exposto) brasileiro, para a competição olímpica. Neste momento voltemos uns paragrafos atrás, onde uma pergunta se faz ecoar – E se não classificar? Pano rápido…noves fora as já equacionadas responsabilizações, num magistral projeto de ciclo olímpico…