A TEMÍVEL CONVERGÊNCIA…

Nestas duas últimas rodadas do NBB3, pudemos constatar um aumento na convergência entre os arremessos de 2 e os de 3 pontos, que vem se acentuando a cada rodada do campeonato, numa tendência nem um pouco desejável ao nosso desenvolvimento técnico tático, visando um futuro menos constrangedor nas competições internas, assim como, e principalmente, nas internacionais.

Em seis dos últimos vinte e oito jogos, aconteceram convergências que variaram de um arremesso de diferença ( 28/29 -Pinheiros contra Brasília) a cinco nos demais cinco jogos, com uma equipe, o Vila Velha, se repetindo em duas ocasiões, isso quando mencionamos a convergência crítica de até cinco arremessos, cuja tendência de freqüência cresce a olhos vistos, bastando darmos uma simples revisão nas estatísticas das últimas cinco rodadas.

Casos extremos, como o de pivôs pesados voltarem aos arremessos de três estão se avolumando, como o Tiagão em suas 0/7 tentativas na rodada passada, numa prova inconteste de que sistemas de jogo estão sendo  abandonados em função dos fáceis (assim pensam ser…) arremessos do meio da rua, abandonando seus posicionamentos fundamentais próximos à cesta, indo rivalizar e competir com os lançadores de ofício (que também pensam ser…) de suas equipes, e com o aparente (já que não obstado…) beneplácito de seus técnicos.

E como toda sangria indesejada, o estancamento exige pressões acentuadas por sobre uma ferida que nos está levando a uma gangrena irreversível, cada vez mais nos afastando do bom senso ao jogar o grande jogo. Claro que temos de arremessar, mas não dessa forma irresponsável e suicida.

Como a utilização prolongada (mais de 20 anos…) e globalizada do sistema único já se tornou num concreto ciclópico, e na mais completa ausência de um sistema (ou sistemas…) que o pudessem contrapor, tornou altamente previsível TODAS as movimentações de ataque, facilitando sua contenção primaria de defesa, daí o artifício ( bem vindo pelos medíocres de fora e de dentro das quadras…), dos arremessos de três, com a desculpa singela, mas desprovida de qualquer fundamentação aceitável, de ser a arma letal para abri-la e contestá-la.

Imaginem e se conscientizem neste ponto ( encruzilhada?…) em que nos encontramos, quando desde as divisões de base tal exemplo se estabelece como um vírus indetectável, porém poderoso e maligno, na formação de nossos futuros jogadores, onde arremessos de longa distância cristalizam uma conquista sem os traumas de cansativos treinamentos de dribles, fintas, passes e corta-luzes, assim como os de defesa, já que, a exemplo das divisões de elite, não se antepõem aos mesmos, e sequer tentam fazê-lo?

Assistam, se puderem, o March Madness da NCAA que se inicia amanhã, e verão que dentre as 68 equipes classificadas muitas aderiram à moda dos arremessos de três, algumas de forma irresponsável (creio que já não se produzem técnicos da qualidade dos mais antigos e tradicionais da grande liga universitária americana…), frutos do marketing e da projeção midiática, mas ainda sendo mantido o fenomenal poder defensivo, e jogo interno poderoso e bem formulado, das melhores equipes da competição, aquelas que definirão as finalistas.

Precisamos com urgência estancar essa hemorragia que nos enfraquece aos olhos do mundo, estudando e pesquisando novos sistemas de jogo, que potencializem nossas melhores qualidades, que nos obriguem à volta dos treinamentos dos fundamentos, mostrando e demonstrando aos mais jovens os caminhos pedregosos e difíceis do controle do corpo, da mente e da bola, do sentido de equipe, do valor incomensurável dos arremessos curtos e médios, mais seguros e confiáveis, deixando os de longa distância nas mãos daqueles muito poucos especialistas de verdade, e mesmo assim em condições de liberdade e equilíbrio totais.

Não vejo outra forma de encararmos de frente essa nossa já histórica deficiência, a começar pelos novos técnicos, que deveriam ser instados a novas concepções técnico táticas, a novas formas de ensinar o grande jogo, com eficiência didática e metodológica (jamais alcançadas em cursos de 4 dias de duração…), onde o mérito de cada conquista, de cada etapa, deveria ser a meta a ser atingida, e não a cópia canhestra e o brilho enganoso do ouro dos tolos.

Que essa progressiva convergência seja combatida com vigor e inteligência, pois em caso contrário iremos às quadras para assistirmos constrangidos, desde as divisões de base, até as principais, torneios de arremessos absurdos e mentirosos, e para gáudio de uma certa imprensa, complementados com enterradas fulgurantes e circenses, pois segundo sua distorcida e bem orientada ótica, é disso que o povo gosta…

Honestamente não acredito nisso.

Amém.

OBS-Na foto(clique na mesma para ampliá-la) um  exemplo de arremesso de media distância como resultante de um trabalho no perimetro interno.



8 comentários

  1. Gustavo Nunes 15.03.2011

    Prof. Paulo Murilo,
    É uma pena que os arremessos de três pontos estejam se tornando cada vez mais o “protagonista” de um jogo de basquete. Vejo vários jogos do NBB e percebo, assim como o senhor, essa irresponsabilidade ao se utilizar a linha dos três pontos. Prof. Paulo, o senhor poderia postar em seu blog alguma matéria sobre fundamentos do basquete (passe, arremesso, drible etc.) para que eu possa nortear meus treinamentos?
    Espero ver isso o mais rápido possível. Ficaria muito grato se isso acontecer.

    Um abraço, Gustavo Nunes.

  2. Gil Guadron 15.03.2011

    La popular Revista de Basquetbol “WinningHoops” realizo una investigacion en 2009 sobre los entrenadores a nivel de High School. Fueron devueltos 1800 cuestionarios y alguna conclusiones fueron:

    1- El sueldo que recibe como entrenadores de basquetbol por la temporada es de : U$ 4,957.30

    2- En promedio el entrenador principal tiene 11 años de experiencia, y previamente fue entrenador asistente por un promedio de 5 años.

    3- El 96 % son graduados de Universidades.

    4- El 87% son profesores de la escuela de donde son entrenadores.

    5- El 49% jugaron a nivel High School , y el 43 % jugaron a nivel Universitario

    6- El 82% pertenece a la Asociacion de Entrenadores del Estado donde residen / o entrenan.

    7- El 81% han asisitido a Clinicas para Entrenadores en el ultimo año.

    8- Su mayor reto : el presupuesto asignado.

    Saludes.

    Gil Guadron

  3. Basquete Brasil 16.03.2011

    Prezado Gustavo, tome nota:
    No espaço acima e a direita do site, digite no Buscar Conteúdo um destes titulos:
    Debates – Drible
    Debates – Rebotes
    Debates – Fintas
    Debates – Defesa
    Sistemas – Defesa Linha da bola
    Sistemas – Falemos um pouco de sistemas I, II, III,lV, V
    O que todo jogador deveria saber 1/10…….10/10
    O que todo armador deveria saber I e II
    O que todo ala deveria saber I e II
    O que todo pivô deveria saber I e II
    O que todo técnico deveria saber I e II
    Anatomia de um arremesso I, II, III, IV, V e VI
    Fundamentos
    E muitos outros assuntos sobre técnicas e táticas num total de 798 artigos publicados e dispostos mês a mês desde 2004.
    Espero que ao navegar pelo blog muitas perguntas e duvidas sejam sanadas.
    Um abraço, Paulo Murilo.

  4. Basquete Brasil 16.03.2011

    Gil excelente investigação essa, que inclusive poderá servir de parâmetro à nossa realidade, tão carente nos fundamentos. Um abraço,
    Paulo.

  5. Gustavo Nunes 17.03.2011

    Muito obrigado professor Paulo.
    Um abraço, Gustavo Nunes.

  6. Basquete Brasil 17.03.2011

    Você sempre será bemvindo, prezado Gustavo. Um abraço, Paulo Murilo.

  7. GUstavo Pereira 24.03.2011

    Professor, você já viu que o George Karl, técnico do Denver Nuggets, esta jogando quase todo o jogo com dois armadores puros(felton e Ty lawson) e alas rápidos…
    Parece que ele esta lendo seu blog, brincadeira a parte, quem sabe agora alguns treinadores olhem com carinho outras possibilidades… grandes técnicos não tem medo de errar , eles não ficam tempo todo num esquema predefinido como o “certo”… E esse esquema esta sendo vitorioso com muitas vitórias contra times fortes e as derrotas por pequenas margens de ponto.

  8. Basquete Brasil 24.03.2011

    Gustavo, sim, já observei, e prevejo que outros tecnicos da NBA vão seguir o mesmo exemplo, que foi deflagrado pelo Coach K no último mundial. Precisou um técnico universitário sacudir a mesmice do sistema único, e vencer, para provar que se dependesse de algum técnico dos profissionais dirigindo aquela seleção, nada seria mudado.O Karl sempre agiu com muita sagacidade, e embarcou na proposta sabedor que primazias sempre pulam à frente. Quem sabe agora, a turma aqui do país que baba NBA por todos os poros, não mude um pouco de pensar, afinal, se a NBA faz…
    E pensar que ajo técnica e táticamente dessa forma a mais de 40 anos…
    Não é preciso ter lido meu blog para evoluir em sistemas de jogo, basta estudar e, como você mesmo diz, não ter medo de errar…Mas como errar sem ao menos tentar?
    Um abraço. Paulo Murilo.

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