DEFESA-MITOS E VERDADES

DEFESA-MITOS E VERDADES

Desde longa data se afirma no Brasil que nossos jogadores somente direcionam seus esforços para as ações ofensivas,,dentro da acertiva de que a melhor defesa é o ataque. Tudo bem, senão por um único e decisivo detalhe,o de que sendo uma modalidade esportiva na qual os movimentos básicos, por complexos e sofisticados, devem ser ensinados por profissionais qualificados, e dentre os fundamentos ensinados a movimentação defensiva deveria ser prioritária.Mas, é esta a realidade entre nos? Mais uma vez a figura dos técnicos responsáveis pelo ensino dos fundamentos ascendem ao fóco das discussões. Os principios básicos, de dificil execução e mais dificil aceitação por parte dos jóvens são convenientemente ensinados? No nosso caso,afirmo que, com raríssimas exceções o ensino da defesa é ensinado com presteza.A falha se torna mais gritante nas divisões de base, que com a adoção maciça da defesa por zona torna mais fácil alcançar resultados vitoriosos e de imediato sucesso. Resultados que garatem empregos e alimentam vaidades familiares, justificam investimentos e alimentam futuras e incontornáveis deficiências. Desde muitos anos defendo a proibição da defesa por zona em categorias
de base, assim como defendo desde o advento dos 24 segundos que aquelas categorias tivessem como tempo de posse de bola 35 segundos. No caso da defesa torna-se óbvio o quanto de fundamentação técnica defensiva os jóvens adquiririam durante sua formação, para mais tarde poderem marcar por zona com total domínio da mesma. Os 35 segundos respeitariam a realidade psicosomática dos jóvens, permitindo a absorção gradual dos ensinamentos adquiridos pelo treinamento e sua aplicabilidade prática, em sua evolução natural.É como aprender a andar de bicicleta de aro 20. A criança cairá com frequência, se equilibrará e finalmente dominará o veículo. Ao crescer, numa bicicleta aro 28 ele simplesmente se adaptará a um veículo que já domina em escala inferior. O mini-basquete segue esta norma, inclusive quanto ao tamanho e
pêso da bola. O fato de nesta modalidade ser aceito o empate ao final das partidas, acrescenta mais um importante fator no desenvolvimento da criança, o de afastar naquela etapa do desenvolvimento mental o principio da vitória a qualquer prêço. Mas, é o que acontece em nossa realidade? Federações, clubes, parentes seguem essas básicas e fundamentais normas?
No aspecto individual cremos que não pairam dúvidas do porque desconhecemos os ca-
minhos da arte defensiva. E quanto aos aspectos táticos nas divisões juvenis e adultas, o que sabemos e empregamos em nosso pais?
Em 1971 publiquei na Revista Arquivos da EEFD da UFRJ um artigo que abordava um
sistema defensivo designado como”Defesa Linha da Bola”.Naquela época despontava um sistema de defesa individual que utilizava flutuações longitudinais à cêsta, ou seja, o atacante de posse da bola era marcado classicamente, com o defensor entre ele e a cêsta, pressionando-o com intensidade.Os demais defensores flutuavam em direção à cêsta congestionando a área restritiva, mas permitindo o livre trânsito dos passes, o que originava frequentes arremêssos sem defêsa possível. Uma adaptação posterior recolocava os defensores nas linhas de possiveis passes, mas esta atitude expunha o miolo da área restritiva aos cortes e penetrações.
Desenvolví então um sistema que substituia a flutuação longitudinal em direção à cêsta por uma flutuação lateralizada em função de uma linha imaginária partindo da bola, onde ela estivesse, em direção à cêsta. O atacante de posse da bola continuaria a ser marcado classicamente e com o máximo vigor, e os outros defensores se aproximariam o mais que pudessem da linha imaginária e não mais da cêsta. Esta ação conjunta permitia quase que de uma maneira natural a marcação dos centros pela frente, pois as coberturas se fariam automàticamente e sem espaços fragilizados. No entanto, tratava-se de um sistema que exigia grande carga de treinamento, o que propiciava efetivo aprendizado na complexa arte de defender. Empreguei este sistema como base do treinamento, e quando da mudança para uma defêsa por zona os efeitos
eram formidáveis. Um de meus alunos na UFRJ, e que era um técnico laureado nas divisões de base no Futebol de Salão, pediu-me que o orientasse na possibilidade de empregar o sistema da linha da bola em sua modalidade, substituindo a cêsta por um ponto central da baliza. Depois de alguns mêses fui procurado por ele com a notícia de que havia vencido seus campeonatos,e que o sistema estava se popularizando por todo o estado. Hoje, quando vejo a seleção brasileira de Futebol de Salão, muitas vêzes campeã mundial utilizando integralmente os principios da flutuação lateralizada em função da linha da bola, sinto o gosto amargo de constatar a não utilização do mesmo em minha modalidade, o qual não é utilizado por ser difícil e de lenta progressão no aprendizado.Ser campeão com as defêsas por zona é muito mais fácil e compensador,não importando se amanhã o jovem saberá se defender. Não ensinar energicamente as ações defensivas aos jóvens é o maior ato de covardia e pusilânimidade que um técnico possa cometer.Somente eles são os culpados por esta nossa crônica deficiência.
Teremos chances no futuro? Se pensarmos basquetebol unicamente pelo ângulo das divi-
sões adultas e seleções nacionais afirmo com absoluta precisão,NÃO!
Se nos envolvermos com a formação de base, começando ontem, eu diria com razoável
certeza,TALVEZ!
Mas se houver uma discussão desapaixonada e profundamente ética por parte daqueles
que realmente entendem,estudam,divulgam e amam o jôgo,poderemos vislumbrar dias melhores,COM CERTEZA!



2 comentários

  1. marcio camargo 15.06.2011

    Professor, é uma honra escrever para o senhor. Em primeiro lugar endosso integralmente as questão defesa zona sem os principios fundamentais da marcação individual. Essa banalização de defeza zona com consequentes ganhos mutilam a verdadeira capacidade dos
    nossos jovens em fazer realmente marcar.
    Tenho uma dúvida. Nosso time de Estado entre 13 a 14 anos estão
    na 3ª fase do campeonato de basquete! Tenho muitos erros e o que
    aprender. O fato é que observei e vejo os outros times fazendo
    aquela marcação zona passiva e sem ímpeto controlado.
    Faço apenas defesa individual nessa categoria. Preciso com
    urgência de algumas orientaçãoes para reforçar esse tipo de
    marcação. Nosso jogo será dia 27 de junho Agradeço imensamente
    a consideração. Abraços e nossa luta pelo basquete melhor brasileiro
    continua!!

  2. Basquete Brasil 15.06.2011

    Muito mais honrado me sinto em responder a você, prezado Marcio. Sugerir aspectos técnicos sem conhecer uma equipe, seus jogadores, suas ações é bastante temerário, pois cada caso é um caso em particular. Mas vamos abordar os fatores mais genéricos sobre a Linha da Bola, suas exigências mais primarias, exatamente aquelas que devemos desenvolver nos jovens iniciantes.
    Primeiro, a marcação classica, o mais próximo possivel do atacante de posse da bola, por todo o tempo que ele estiver de posse da mesma, atrapalhando ao máximo sua evolução no drible, e principalmente nos passes. Tentar tomar a bola não é fator prioritario aqui, e sim adiar ao máximo as tomadas de decisão do mesmo.
    Segundo, que os demais defensores se estabeleçam, em flutuação lateralizada, o mais próximo possivel da Linha da Bola, obrigando os passes em elipse, mais lentos e de facil anteposição.
    Terceiro, a marcação deliberadamente à frente do pivô, ou pivôs adversarios, sem receio de receberem passes em cobertura.
    Finalmente, a ajuda permanente entre os defensores, evitando as trocas desnecessárias, e acima de tudo, buscando o conjunto coordenado de ações e decisòes defensivas, obrigação de todos sem exceções.
    Pronto, Marcio, creio que é o melhor que poderei sugerir sem o prévio e necessário conhecimento de sua equipe. Um abraço, sucesso e muito bom e leal jogo. Paulo Murilo.

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