ARTIGO 300 – A LUTA CONTINUA
Terminada a etapa de Brasilia, na qual os donos da casa se impuseram nas duas partidas, algumas considerações podem ser feitas, primordialmente às de caráter técnico-tático. Fora as mesmas, é de se lamentar que uma decisão da maior importância para a divulgação do basquetebol na capital federal, aquela que deveria ser o centro irradiador cultural e desportivo, e não só político do país, a de se ter levado tão acirradas e importantes decisões para um local que semanas atrás carreou um caudal de 25000 pessoas empolgadas, e que por exigência de jogadores, e por que não, comissão técnica, foram mantidas no acanhado ginásio onde treinam. A desculpa de que perderiam os referenciais da quadra, o que beneficiaria com algumas vantagens a equipe de Franca, cai no vazio como evidencia técnica, principalmente pela grande experiência dos jogadores envolvidos na disputa, a maioria com retrospecto internacional e vivencia mais do que suficiente para anular as pseudo desvantagens anotadas. Perdeu a juventude de Brasília uma oportunidade impar de assistir bons jogos e bons jogadores, aqueles que preencheriam seus imaginários juvenis. Perdeu também o patrocinador, ao abdicar de uma exposição de mídia ampliada em “somente” 20000 pessoas, fora aquelas agregadas às dimensões de um evento não muito comum de acontecer em se tratando de basquetebol nos dias atuais. Foi uma atitude tola e caipira, não muito condizente com os valores que integram a equipe, superiores em alguns aspectos aos de seus adversários. Faltou confiança em suas possibilidades, faltou tirocínio publicitário. Depois não venham reclamar da falta de exposição de mídia, da falta de apoio popular.
A parte técnico-tática representou a decisiva e inquestionável dominância dos armadores nessa nova e bem vinda tendência em nosso basquetebol. Bato na tecla de que o sistema de jogo implantado no país continua intocado, não só pelos técnicos, como pelos jogadores. O grande diferencial foi a paulatina e irrefreável substituição dos alas tradicionais, bons de arremesso, mas péssimos de fundamentos, por armadores plenos dos recursos ausentes naqueles, fatores que aos poucos foram sendo adotados por algumas equipes, principalmente as quatro semifinalistas. Outra razão predominante foi a nova postura dos homens altos, agindo como pivôs moveis e ágeis no perímetro interno, interagindo junto aos dois, e até três armadores, o que dinamizou o jogo e tornou-o muito próximo daquele que praticávamos vinte anos atrás.
Essa oportuna e estratégica mudança beneficiou enormemente os sistemas defensivos, o que ficou patente nos dois primeiros quartos do segundo jogo da série, nos quais seis jogadores habilidosos se enfrentaram rigidamente e incansavelmente, características inerentes aos armadores. E finalmente, operou-se o retorno contundente dos contra-ataques, referenciados pela qualificação dos dribles e dos passes.
O próximo jogo em Franca, se constituirá numa autentica prova dos nove ante essa nova tendência que se inicia no âmago de nossas melhores equipes, que quando agregadas de alas mais qualificados nos fundamentos, retomando seus lugares ora, e justamente ocupados por armadores puros, propiciarão um enorme alento ao nosso combalido basquetebol.
Mas um último fator, talvez o mais importante deva ser mencionado, o papel futuro dos técnicos envolvidos nessa nova tendência, ou seja, a obrigação que todos têm daqui para diante, de desenvolverem novos sistemas, novas estratégias, novas formas de treinar seus jogadores, independendo de posições, idades e prestígios, nos fundamentos do jogo, desde os mais básicos, dando aos mesmos as condições necessárias para recriarem na quadra os sistemas propostos nos treinamentos, até mesmo aqueles rabiscados nas pranchetas que alguns, por vicio ou hábito, ainda teimarão em aposentar. E que essas novas (não tão novas assim…)
propostas tenham como referenciais o preparo das seleções nacionais, pois seus responsáveis não poderão omiti-las por teimosia e irresponsável auto-suficiência, incorrendo em gravíssimo erro ao negarem evidências
inquestionáveis. Torço para que reconsiderem posicionamentos pétreos, anulando um pouco certas ingerências nenesianas, que depreciam a disciplina, o respeito hierárquico e os princípios do bom e decisivo comando. Amém.
PS- Aconteceu no segundo quarto do jogo de hoje. O juiz assinalou uma infração de andar com a bola cometida pelo pivô de Brasília, mesmo estando em ação de drible. O comentarista da TV não entendeu o que ocorria e manifestou a dúvida enfaticamente. Agiu corretamente o juiz, pois o drible estava sendo executado acima do peito, fazendo com que a bola se mantivesse por longo tempo, e conseqüente espaço, em contato com a mão, originando a quebra do binômio drible-passada. No artigo que escrevi a semana passada, Sistemas III – Treinando fundamentos II, abordo exatamente essa questão. Correto o juiz.
Professor Paulo, admiro muito seu conhecimento técnico-tático e principalmente de fundamentos… Uma certeza eu tenho, se um dia eu fosse dirigente da CBB ou até mesmo presidente da mesma entidade, daria a vc um cargo de coordenador das seleções de base, assim quem sabe começaria uma mentalidade de ensinamento e aprendizagem nas categorias de base, pra quando chegarem ao nível profissional, todos eles saibam jogar em conjunto e em equipe principalmente, pois só assim uma seleção poderá ser campeã!!!
Um forte abraço PROFESSOR!!!
2 armadores que dominam os fundamentos profundamente, 1 ala que tenha tais caracteristicas de armador mas que se volte a pontuação, e 2 ala-pivos que possam trabalhar em velocidade e entrosamento. Professor, pelo que entendi, este é o sistema que o senhor está priorizando, e que tem dado certo nas equipes que o estão utilizando. Mas eu tenho lá minhas dúvidas! O que acontece se o time adversário possui um pivo monstro, estilo Shaquille O’neal, grande e pesado, dominante e muito difícil de ser marcado? Eu não abriria a mão de ter um pivo com mesmas características no meu time. A dobra pode ser uma opção também, mas decha um homem livre para o arremesso. Quando questionado sobre que jogadores o senhor convocaria para a seleção, disse que chamaria duas duplas de armadores e 8 jogadores ágeis com caracteristicas de ala/pivo. Então não averia alguem para marcar um gigante. outra, que sistema o senhor usaria, alternativo, ao já famoso passing game, pêndulos, e pick’n rolls? Estes sistemas são antigos e caracterísiticos de Nba que nada tem a ver com o basquete internacional, é verdade. Mas são sistemas que foram implantados pelos técnicos estudiosos e inteligentes dos EUA, e oferecem os espáços necessários para os movimentos dos jogadores em direção à cesta. Que este sistema é padronizado no Brasil todos sabem, então após estas minhas colocações, eu acho que o senhor já entendeu minha verdadeira pergunta. Que sistema(s) alternativo(s) é(são) este(s) que o senhor tanto fala que devemos adotar e que encaixariam perfeitamente neste esquema de 2 armadores a que estamos nos referindo?
Abraço.
Desculpe os erros de português, o teclado e os dedos comeram as letras, hehe.
Abraço.
Prezado Clovis,como você bem disse a minha designação para cargos técnicos na CBB somente se concretizaria com a sua liderança na entidade.Mesmo assim agradeço.Mas não foi sempre assim,
pois nos anos setenta fui designado como acessor técnico do então vice-presidente técnico Gerson Silva,não dando prosseguimento aos afazeres do cargo pela profunda e mútua divergência que existiu e existe entre mim e a CBB, pela forma absolutista que sempre a caracterizou.É um orgão de interesses muito mais politicos que desportivos, o que é profundamente errado.Mas sempre propugnei pela constante evolução do nosso basquetebol,estudando,pesquisando,dirigindo equipes e formando jogadores.Sempre
fiz a minha parte,e continuarei fazendo na medida que a saúde assim o permitir.Play the game,always!É o meu lema. Um abraço,Paulo Murilo.
Prezado William,como você muitos têm me perguntado que sistema é esse,que pode ser empregado indistintamente contra defesa por zona e individual,
sem a necessidade de pedidos de tempo para a devida troca, que mantem os cinco jogadores em permanente movimentação,tanto da lado da bola,como oposto a ela,que propicia uma luta pelos rebotes ofensivos com um minimo de três homens,e que tem seu balanço defensivo permanentemente guarnecido.Um sistema que privilegia os arremessos de curta e media distâncias,cujas margens de acerto podem chegar aos 65%,e que destina os de três pontos somente aos especialistas,exatamente para manter os niveis de acerto por volta dos 45%.É um sistema testado por muitos anos em divisões de base,nas quais a necessidade de títulos era substuida pela maturação do sistema,visando exatamente sua divulgação nas divisões superiores com grandes margens de experimentação e confiabilidade.Quem enfrentou as equipes que dirigi sabe bem o que estou descrevendo,por isso não temo divulgá-lo sempre que me é dada a oportunidade de fazê-lo.Brevemente publicarei artigos com video exemplificando-o.Quanto ao jogador de massa que você descreve como dificil e quase impossivel de ser marcado,lembro que se o fizer permanentemente pela frente( A defesa linha da bola que demonstrei no mes passado permite tal ação)e em velocidade pode ser perfeitamente parado,e sem cometer cinco faltas pessoais.No Mundial Feminino da Australia a Alessandra e a Cintia pararam as gigantes dos EEUU e da China marcando dessa forma. Paciência e aguarde.Um abraço,Paulo Murilo.