A DERROCADA…

Assisti a derrocada da seleção contra o Chile, que mesmo vencendo por um único e mísero ponto, em momento algum da partida se fez merecedora da vitória. Mas venceu, podem afirmar batendo no peito os responsáveis por tão pífia apresentação, onde os mais canhestros conhecimentos dos fundamentos do jogo ficaram restritos a uns dois, senão três jogadores, muito, muito pouco para uma seleção de um país bi-campeão mundial e três vezes medalhista olímpico. Nunca em nossa tradição basquetebolistica vimos uma seleção tão fraca no manejo e domínio da bola, onde os mais comezinhos conhecimentos de passes, dribles e fintas se perderam num abismo de incompetência e falta de conhecimento, com especial referência ao posicionamento defensivo. Simplesmente, nossos jogadores, em sua esmagadora maioria não sabe defender individual e coletivamente.

E é nesse ponto crucial que deveríamos ter levado em conta um vírus comportamental que vem grassando silenciosamente, e a bom tempo entre nossos jovens, o de que não existe passaporte mais seguro para adentrar nossas seleções, cuja vitrine ainda é tênuamente respeitada, do que atuar numa escola americana, ou clube europeu, mesmo que tais entidades pertençam ao baixo clero esportivo de seus países, onde militam técnicos de menor capacidade e expressão, que também existem nestes centros de excelência, como decorrência de seus próprios sistemas de massificação esportiva, fruto da natural decantação que separa os ótimos dos bons e medíocres, aspectos estes que passam ao largo de nossa tendência colonizada, para a qual o fator exógeno transcende ao dispensável conhecimento do que seja realmente importante para o nosso desenvolvimento técnico. Em outras palavras, se é de fora , é melhor.

Então, partindo desse pressuposto, vicejam entre nós os arautos deslumbrados com os acenos hegemônicos parcimoniosamente distribuídos por mercados, muito mais voltados a seus interesses futuros ( entenda-se como conquistar-influenciar-dominar-subjugar…), do que interesses que possam vir a entravar e retardar tais objetivos, e que contam com aqueles para a consecução dos mesmos, baseados na cegueira irresponsável de todos eles. Simplesmente, obstamos nossos valores, em prol de valores exógenos. Bons e efetivos jogadores da terra, preteridos por jogadores medíocres que atuam em equipes de terceira categoria no exterior, incentivando ações que os levem para fora do país se quiserem ter as mesmas oportunidades daqueles que se foram, num mercado ascendente para alguns e “bem –intencionados agentes”. Tenta-se no esporte olímpico a mesma abertura de mercado que tem sangrado o nosso futebol, situado hoje no limbo das grandes potências.

E o resultado é o que temos testemunhado no Chile, e mesmo nas apresentações da equipe para o Pré-Olímpico, onde alguns (não todos…) pseudo-craques, por atuarem no exterior, se sentem aquém de qualquer crítica, e contam com o apoio irrestrito de uma claque, que ingenuamente se coloca à serviço de uma corriola que só antevê lucros e vantagens, em detrimento de ótimos jogadores, mesmo veteranos, que numa hora de decisão para o futuro do nosso basquete se vêem esquecidos injustamente. E o pior e mais constrangedor, a anuência de um punhado de técnicos cúmplices de tão denegrida situação, no afã de ascender a um altar fundeado e lastreado na areia movediça das falsas pretensões.

No próximo dia 22 o Presidente da Associação Nacional das Associações de Técnicos Desportivos de Portugal, Prof. José Curado, ex-técnico da Seleção Portuguesa e do Sport Clube Benfica, professor do ISEF, fundador e presidente por muitos anos da Associação de Técnicos de Basquete, estará aqui no Rio para participar da organização dos Jogos dos países da língua lusófona, e que também a convite, irá até a Argentina para participar de uma reunião de trabalho com a Escola Nacional Argentina de Treinadores de Basquetebol, congênere da que fundou e organizou em Portugal, e que se predispôs comigo a participar de um encontro com os técnicos e todos aqueles interessados nessas organizações nos dias 25 e 26. Participei sua intenção ao Prof.Byra Bello, que tenta organizar uma associação aqui no Rio, e estou aguardando uma comunicação sua para as palestras e o encontro. Somente solicitei que as mesmas se desenrolassem fora do âmbito federativo e confederativo, pois o principio básico associativo deve primar pela autonomia plena, que assegura sua função eminentemente técnica e apolítica. Caso obtenha resposta em prazo hábil, tentaremos estabelecer um encontro aberto a todos que se interessarem pelo problema, técnicos, professores, dirigentes, jogadores, jornalistas e alunos de escolas de Ed.Física. Tentaremos também a divulgação do evento junto aos blogs que noticiam e defendem o grande jogo, sempre presentes na linha de frente e nas trincheiras que o mantêm alerta e bem informado.

Hoje, joga-se com a Argentina, onde a realidade de sua organização contrasta com nossa estagnação, produto de uma suicida disposição de emular o que não é nosso, na aceitação pura e simples de uma globalização, na qual, para a maioria, basta aderi-la, nunca contestá-la, sequer participar de sua concepção. Triste, muito triste.

Amém.



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