ENFIM,SALVO…
Na sexta-feira que passou experimentei um misto de alegria e alivio, por ter, depois de longos 5 anos, conseguido salvar o único filme didático, baseado num campeonato mundial aqui realizado, do desaparecimento total e irremediável. Quando coordenador do Laboratório de Tecnologia Educacional da EEFD/UFRJ em 1971, propus à CBB a realização conjunta de um documentário em 16mm, sobre o Campeonato Mundial Feminino que seria realizado naquele ano em São Paulo, com sub-sedes em Brasília e Niterói. A EEFD cederia o equipamento de filmagem e participaria de um rateio na compra de negativos e aluguel de estúdio de som, e a CBB com as despesas de revelação, copiagem, transporte e acomodações para as sedes dos jogos. Trato feito, fomos à luta, que não foi fácil, dada à precariedade dos equipamentos, uma simples câmera Paillard-Bolex, sem tripé, uma editora manual amadora, e um entusiasmo enorme.
Filmei em Brasília inicialmente, por lá estarem a vice-campeã mundial Coréia, e a vice-campeã européia, a França. As coreanas, que praticavam um basquete diferenciado e extremamente veloz, mereceu uma documentação mais abrangente, inclusive em seus treinos, fato que me induziu a eleger aquela inovadora seleção, como um dos elementos básicos de estudo no documentário. Quando do término da partida entre aquelas duas equipes, com a vitoria da Coréia, embarquei praticamente de carona no avião das delegações, saindo do mesmo aqui no Rio direto para o Laboratório Líder, a fim de tentar a execução de um copião, a tempo de levá-lo no dia seguinte para São Paulo. A empreitada tinha como objetivo mostrar aos técnicos e jogadoras a equipe que enfrentariam naquela noite, numa talvez tentativa pioneira de estudo de imagens no campo do planejamento esportivo, hoje corriqueiro com o advento do vídeo. As imagens foram mostradas, estudadas e analisadas, ajudando um pouco à equipe brasileira levar de vencida as coreanas, garantindo o terceiro lugar naquele campeonato.
Outros jogos foram filmados em São Paulo, originando ao final um bom e extenso material para ser editado, montado e narrado por mim, já que não possuíamos verba para contratar especialistas do ramo. Após alguns meses de trabalho cansativo, e correndo atrás das parcas verbas prometidas, eis que ao final das contas, praticamente todo o filme foi financiado Pela EEFD.
Ao ficar pronto, em sua montagem final na forma de documentário técnico-didático, foi o mesmo aceito em algumas escolas de educação física, além de ter sido requisitado a um preço de custo pelas federações da Australia e Estados Unidos. Uma outra cópia foi ofertada ao ISEF de Lisboa, além das cópias da CBB e da EEFD.
Passados mais de trinta anos, eis que o desgaste natural das cópias aconteceu naturalmente, e quando o Prof.Ricardo da EEFD, me comunicou que não mais era possível projetar a copia lá existente, conclui que o filme havia se extinguido. No entanto, numa faxina no sótão de minha residência, encontrei os negativos de imagem e de som em umas esquecidas latas, já em adiantado estado de liquefação daquelas matrizes. Corri ao Laboratório especializado, e pedi um orçamento para tentar salvar a obra. Foi de 6 mil reais, quantia que não podia arcar pessoalmente. Por isso, com a recusa da EEFD em ajudar, procurei a CBB, na pessoa de seu presidente, na tentativa de manter vivo aquele documento que contava uma das mais belas competições realizadas em nosso país. O presidente da CBB não se interessou, e deixei, por não ter a quantia disponível, os negativos no laboratório. Cinco anos se passaram, quando recebo um encomenda de Portugal com uma cópia em razoável estado, por não ter sido projetada com freqüência, mas com as marcas do envelhecimento. Voltei ao laboratório, e desta vez o orçamento ficava mais em conta, pois somente havia a necessidade de um banho de limpeza em ultra-som da cópia e a telecinagem em DVD, num total de aproximadamente 800 reais. Paguei a restauração em três etapas e na sexta-feira pude ter de novo em mãos aquele filme tão importante na história do basquetebol brasileiro. Infelizmente, os negativos de som e imagem estão estocados sob refrigeração no MAM, a espera, quem sabe, de uma restauração mais completa e profissional, mas muito aquém de minhas possibilidades financeiras. A copia e o DVD restaurados apresentam as marcas indeléveis do tempo, mas mantém a mensagem histórica em um conteúdo que custou muitos sacrifícios e negativas em salvá-los.
E gostaria de terminar este honesto relato, comunicando ao grego melhor que um presente, que sua negativa em colaborar com a restauração de um documento que conta uma parte da história do nosso basquete, que ele prometeu por duas vezes em seus dois discursos de posse , defender, hoje está a salvo, não por que assim eu o quis, e sim por merecer continuar vivo e atuante para enriquecer os jovens técnicos, jogadores, dirigentes e jornalistas, que se interessarem pela história e tradições do grande jogo entre nós.
Em breve, colocarei à disposição de quem se interessar pelo filme, cópias em DVD por um preço simbólico, além de duas cópias que farei chegar a Biblioteca Nacional, para ai sim, ficar garantida a perpetuação da humilde obra.
Desta vez os deuses ajudaram a causa do soerguimento do basquete, dando aquela ínfima, porém importante ajudinha , entre as muitas que ainda faltam ajudar.
Amém.
Professor Paulo, parabens pelo novo espaço !!
Está MUITO BOM !!!
E que siga com as suas aulas ! 🙂
Abração do leitor, Henrique Lima !
Parabéns pela “reforma” no blog, professor. Ficou ótimo. E parabéns também ao filho, que criou o novo desenho. Abraços e boa sorte na nova fase. Rodrigo
Prezado Prof. Paulo Murilo,
Tenho muito interesse em adquirir uma cópia do DVD. Se possível, me informe assim que estiver disponível. Ministrei recentemente uma disciplina de esportes coletivos e acredito que esse material histórico seria muito relevante para a disciplina.
Saudações,
Renato
Prezado Henrique,que bom que gostou.Fico feliz.Pode deixar,os artigos continuarão,agora envoltos em algumas pequenas novidades que vou dominando aos poucos.Um abraço,Paulo Murilo.
Prezado Rodrigo,de tanto namorar o formato do Rebote,tomei coragem e pedi ao André Luiz que me fizesse algo mais moderno do que o formato “banco e violão” que meu outro filho músico(www.myspace.com/flightband)apelidou o blog.Espero que a sorte desejada por você aconteça.Um abração, Paulo Murilo.
PS- Perdoe-me a pequena publicidade da obra do João David,também basqueteiro como o irmão.PM.
Prezado Renato,Logo,logo terei algumas cópias que viabilizarei a preço de custo,a quem se interessar.Aguarde somente mais um pouco.Um abraço,Paulo Murilo.
Prezado Paulo: No mundial Feminino realiza no Brasil,poderia nos fazermos um comparação entre o basquete daquela epoca e o de hoje? Decada de 60 e decada de 2000? Ataves do seu DVD? Sempre, nos mais velhos temos que responder perguntas se o basquete de ontem éra melhor do que o de hoje. Me esclareça sobre esta pergunta? Ouve evoluçao? mais na parte tecnica, tatica ou fisica? Sabemos o que diz a ciencia que o homem cresceu 15 centimetros nestes 40 anos. Tambem sabemos que o basquete é uma briga de homens grandes a grosso modo, logico. Seriam perguntas sem logica se não lecemos nas entre linhas, certo? Bom, voce sobre este assunto tem capacidade de escrever um belo livro. Do amigo. Roberto.
Oi Roberto, que pecado deixá-lo sem resposta todo esse tempo,mas só agora tive tempo de fazer uma varredura no próprio blog!Desculpe a omissão. Respondendo se houve evolução? Fisica, sem dúvida. Mas quanto à técnica creio que involuimos significativamente.Não atoa que o grande John Wooden declarou a algum tempo que técnica de fundamentos ele só estava vendo no basquete universitário…feminino!
Quanto ao livro, estou propenso a fazê-lo digitalmente, ou seja, através o proprio blog, já que não consigo editoras interessadas pelos dois que aprontei a tempos. Um abraço,Paulo.