O ÁS DE MANGA…
Prometi não voltar tão cedo ao assunto, mas o lançamento oficial da LNB obriga-me a relevar um pouco a promessa, adiando-a também um pouco, já que é um mote difícil de resistir.
Assisti pouca coisa pela TV, pelo horário impróprio para mim, mas os blogs e sites ligados ao desporto salvaram e esclareceram minha curiosidade natural. Entrevistas com o presidente da Liga, técnicos presentes, e jogadores emblemáticos, além das discussões e análises de comentaristas, descortinou um horizonte repleto de dúvidas e algumas indagações em direção às verdades que se ocultam por trás deste movimento “que soerguerá o basquete em nosso país, trazendo-o de volta como o segundo esporte na preferência do torcedor brasileiro”, que foram as palavras que finalizaram a entrevista do Sr.Kouros Monadjemi, presidente eleito pelos clubes para comandar a LNB.
Um pouco antes de proferir tais palavras, o Sr.Kouros teceu os mais rasgados elogios ao ex-jogador Oscar, seu ídolo confesso, que ao seu lado não escondia sua satisfação ao mencionar que era este o seu sonho ao fundar três anos atrás a NLB, que foi dinamitada pelo grego melhor que um presente e pelos dois candidatos que postulam seu cargo na eleição de maio vindouro.
Mas como em nosso país, cuja falta e abstinência de memória é notória, principalmente quando cargos e interesses políticos estão em jogo, ali naquele recinto iluminado e festivo, transitavam situacionistas e opositores, irmanados pela perspectiva de uma perfeita e equânime divisão das chaves do cofre, agora engordado pela respeitável fatia de um patrocínio global.
E como estava feliz e sorridente, chegando quase às lágrimas emocionadas o nosso grego melhor que um presente, num discurso emotivo e descaradamente…continuísta, pois este foi o ás de manga que lançou na mesa de um jogo onde iniciantes, ingênuos e idealistas, simplesmente não têm vez. Propugnou a continuidade do Moncho para…2012! E as clinicas de preparação de técnicos e jogadores, exatamente como havia planejado desde sempre, com o assistente do Moncho ali ao seu lado consubstanciando o inefável projeto, como favas mais do que garantidas.
Somente uma certeza de continuidade justificaria os encômios bajuladores de um presidente para outro, como num trato de cavalheiros, no qual o cargo de um jamais obliteraria os projetos do outro, na medida das contrapartidas, único e palpável argumento para que o helênico presidente abrisse o flanco às chaves do cofre, e num momento que se vê atraiçoado (será mesmo?…) pelos dois outros presidentes federativos candidatíssimos ao seu honorável, longevo e lastimável périplo presidencial.
Ou será que exista alguém que duvide dos “arranjos de bastidores” nessa abjeta e coloidal política desportiva brasileira? Será meus deuses, que exista quem acredite em lisura, ética e progresso no meio dessa pandega em que se transformou o esporte pátrio?
Bem, a boa política ensina que sapos devem ser engolidos e digeridos, mesmo sendo um cururu, na medida em que brechas evolutivas possam ser abertas, num posicionamento que a maioria apelida de “dores da democracia”. Mas nem sempre essas pequenas brechas evoluem para um rombo cívico, um rasgo irresistível que dê passagem, não a pequenas lufadas, mas sim a um furacão com ventos purificadores, mesmo sendo violentos, aqueles capazes de realmente mudarem uma situação falimentar.
E bem agora, próximo a marca de uma aposta decisiva, o grego melhor que um presente põe seu jogo na mesa, passando a mão, mas preparando o flush que definirá seu futuro em maio de 2009, pois a perda de um Campeonato Nacional, se diluirá no projeto, que anunciou alegre e feliz, de cuidar das seleções, e da formação das futuras gerações, exatamente os pontos em que mais falhou, em que mais se comprometeu, e aos quais dará a trágica continuidade que nos mergulhou no fundo do poço nacional e internacional. E fazendo coro com a LNB, sequer uma palavra sobre o basquete feminino, hoje praticamente abandonado por todos aqueles que o deveriam apoiar e desenvolver.
E para quem ainda não se convenceu de certos e não muito ocultos poderes neste país, ai está a prova mais cabal do quanto um império televisivo é responsável por mudanças milagrosas de ferrenhos pontos de vista, mas não tão ferrenhos na medida em que fechaduras e cadeados possam ser mudados a seu bel prazer.
O grego melhor que um presente trocou sua permanência por uma LNB, tendo negado seu apoio à NLB três anos atrás, aplicando uma pequena e sutil malandragem, pois o fez no ano da eleição ao cargo que julga ser seu ad perpetuam, a CBB, onde seus acólitos e atuais concorrentes se criaram e prosperaram. São raposas de alta linhagem e que merecem o nosso mais absoluto e perenemente inconformado respeito.
Teremos uma Liga novinha e cheia de novidades e promessas de novos tempos, mas também teremos uma CBB rançosa, viciada e anacrônica destilando sua incompetência técnica, porém poderosa na barganha e no escambo. Vamos ver para que lado penderá o braço desta inacreditável balança.
Que todos os deuses nos ajudem.
Amém.