SABE?…

Sabe? Nunca na história desse país… E lá se foi o nosso condutor dissertando ante três respeitosos e contidos jornalistas, sobre esporte, com relevo ao futebol, e dando fortes pinceladas nas demais modalidades, principalmente no esporte colegial.

Realmente, nunca na história deste país um presidente da república foi A Bola da Vez, transmitida ontem pela ESPN Brasil. Poderia ter ficado no futebol, com seus times preferidos e torcida apaixonada pela seleção, que já seria o suficiente para o incremento vertical de sua proverbial popularidade. Mas não, enveredou pelo desporto olímpico, pelo desporto colegial, que é um aspecto altamente constrangedor em seu, e nos anteriores governos, desde Mem de Sá.

Agora todos nós podemos entender “os porquês” da longevidade de nossos dirigentes esportivos, do COB às confederações e federações, que pungentemente são aconselhados pelo bonachão presidente a “cederem” seus postos para a necessária e sempre renovadora fonte de novas idéias, que são preteridas quando se perpetuam no poder.

Conselhos, sugestões caro Presidente? Que tal a formação de um grupo sério de trabalho que apresente a V.Exa. uma verdadeira legislação que garanta o progresso desportivo escolar brasileiro? Ou o Sr. gostará de arriscar, quando de sua volta à presidência daqui a seis anos, ver acontecer de novo uma vaia bem orquestrada para que o Imperador Cobiano quebre, por mais uma vez, a tradição de abertura de uma Olimpíada, rigidamente reservada aos dirigentes das nações, repetindo o gesto orgiástico do Pan do Rio?

Ou V.Exa. pensa que essa turma está para brincadeiras? Inclusive, quando afirmou que cada escola do país deverá ter condições de ter uma pequena pista de atletismo, uma pequena piscina e um local coberto para atividades físicas e coletivas, talvez tenha esquecido que os bilhões gastos no Pan e os já prometidos para 2016 dariam de sobra para a consecução deste sonho, pelo país inteiro, ajudando no preparo físico e intelectual de gerações futuras, que trabalhariam com mais saúde pelo engrandecimento da nação, com mais disciplina e fervor patriótico, e não ficando na perene e endêmica espera de promessas jamais honradas, mas que premiam empreiteiros, construtoras, empresas estrangeiras de serviços e de tecnologias, além, é claro, de garantirem o leitinho das crianças de nossos dirigentes, aqueles mesmos que proclamam estarem exercendo “cargos de sacrifício”, sacripantas que são em sua esmagadora maioria.

Nenhuma desculpa ou afirmação de que milhares de empregos serão criados, que o turismo será implementado, que a indústria aumentará seus ganhos, que, que…sei lá mais quantas vantagens alcançaremos com uma Olimpíada, ante a realidade trágica de nossas escolas, nossos professores, nossa educação de terceiro mundo, aviltada e humilhada por essa corja que desde Cabral se perpetua em suas redomas refrigeradas e insensíveis ao clamor de nossa juventude.

Eu mesmo, caro presidente, abri mão de muitos sonhos para educar decentemente meus três filhos, dando aos mesmos, como professor que sou, bons livros, boas escolas, bons filmes, boas peças teatrais, boa música, nem sempre modernos computadores, e principalmente, algumas perspectivas de sucesso em suas vidas. Dois deles estão no exterior, e o terceiro já embarcará nos próximos meses, educados e cultos, mais incapacitados de trabalharem em seu país por absoluta falta de oportunidades. E quantos milhares estão na mesma situação sem poderem seguir suas vocações? Quantos Sr Presidente? E os que nem educação tem, marginalizados social e humanamente pelo seu próprio país? Quantos Sr.Presidente?

E V.Exa. vem a publico recitar a cartilha de uma corriola que nem no mais comezinho pensamento pensa no futuro de nossos jovens? Bilhões que desde já, e anunciados, serão expropriados em nome de uma competição absurda em um país com os nossos crônicos problemas educacionais , quando  seriam transcendentais na resolução dos mesmos? Que denominação V.Exa. daria a tão cruel acontecimento?

Quando V.Exa. anuncia que muito tem feito seu governo na área da educação, posso assegurar, com a mais absoluta convicção e conhecimento, que tais ações, mesmo multiplicadas por 100 ainda seriam insuficientes para resgatar o incomensurável abismo que nos separa das grandes nações da terra, e que urge, pelo perigo que corremos de alargarmos tão dramática distancia, investirmos todas as nossas energias e os parcos recursos nessa luta, e não os alocarmos nas aventuras irresponsáveis e criminosas de um grupo que visa interesses que não os nossos, os quais V.Exa. jurou proteger e preservar por duas vezes em seu juramento presidencial.

Aliás, e é sempre bom relembrar, foi exatamente por tudo que sempre nos negaram, que o generoso, apesar de inculto, povo brasileiro o guindou ao comando que hora exerce, e não uma confraria de bufões que investem pesado em sua boa fé desportiva, para se locupletarem em suas colonizadas e rentáveis ausências de amor à pátria e aos que a herdarão, seus tristes e abandonados jovens.

Amém.