CERTIFICAÇÃO(OU PROVISIONAMENTO?)…
“ A comunidade do basquetebol está em festa. A Escola Nacional de Treinadores de Basquetebol, ENTB, uma antiga reinvidicação dos técnicos de basquetebol do nosso país, finalmente saiu do papel e é uma realidade. Sei que muitos técnicos ainda questionam a forma como a ENTB foi criada mas era preciso criá-la, não importando como. A partir da sua criação, com certeza, muita coisa terá que ser corrigida mas isso se tornará mais fácil. O importante é que teremos a partir de agora uma entidade que norteará todo o trabalho dos profissionais envolvidos com o esporte da bola laranja” (…).
(Trecho da matéria publicada pelo Prof. Byra Bello no seu blog Lance Livre em 19/6/2010).
Mais do que nunca mantenho minha posição contra a forma de como foi criada a Escola, e “o não importando como” mencionado pelo autor da matéria demonstra, sendo ele um dos componentes fundadores da mesma, a falibilidade da argumentação que a sustenta, ao largo da afirmação de que “o importante é que teremos a partir de agora uma entidade que norteará todo o trabalho dos profissionais envolvidos com o esporte da bola laranja”.
O “não importando como”, permitiu que a coordenação da Escola escorregasse para as mãos de um crefiano preparador físico, justificando um aparte do técnico Jorge Guerra durante o Congresso de Treinadores, quando de uma comunicação do técnico Aloísio Ferreira sobre a realização do Curso de Certificação Nível III, de que para o futuro somente os formados em educação física registrados nos crefs poderiam exercer a profissão, esquecendo que a massa crítica, sustentáculo do Confef e dos crefs estaduais se escuda nas centenas de “provisionados” , aqueles sem formação superior, e em muitos casos, sem formação secundária, autorizados pelos mesmos, ai incluindo técnicos desportivos, das lutas ao futebol, inclusive de seleções nacionais, atualizados e formatados em cursos pagos de qualidade inferior, os “provisionados”. E que são os mesmos que agora se arvoram no pseudo direito de formulação dos conteúdos programáticos das disciplinas de cursos superiores de educação física, na ingerência nos concursos públicos para professores de formação superior, nos municipios e estados, e por que não, no controle de formação de técnicos desportivos, onde a ENTB se encaixaria como uma luva.( É oportuno referendar ter sido esta a única comunicação extra programa durante toda a realização do excelente congresso dos técnicos).
O reconhecimento de que “a partir da sua criação, com certeza, muita coisa terá de ser corrigida, mas isso se tornará mais fácil”, incorre num erro fatal de previsão, o fato de que a partir de agora nada será corrigido, principalmente se tais correções forem de encontro a interesses solidamente estabelecidos, por se tratar de um mercado restrito e altamente rentável, pelo menos à luz de nossa realidade economico desportiva.
E pensar que tudo isso deveria ter sido o produto maior de uma associação nacional de treinadores, onde a hierarquia e o mérito pautariam uma verdadeira escola, e não um pastiche de interesses e inversões de valores. E foi durante aquela comunicação sobre o curso da ENTB durante o Congresso de Técnicos, que inquiri o porque de não ter sido escolhido o nível I ( técnicos de iniciação dos 9 aos 14 anos) para dar partida à escola, por serem os mais carentes de conhecimentos, tendo como resposta de que tal curso teria de ser realizado nas férias de fim de ano, já que a clientela seria basicamente formada pelos professores de educação física, numa suposição pública de que o mesmo se estenderia por um ou dois meses, e tal foi minha surpresa ao constatar de que o curso para o nível III será realizado em 3 dias de julho, quando todos aqueles novos técnicos, os mais carentes estarão também usufruindo suas férias de meio de ano, fato que anula a versão da coordenação da escola.
E nessa cornucópia de valores equivocados nos deparamos com as qualificações de “carteira definitiva” e “carteira provisória”, onde se encaixarão os técnicos da elite do basquete nacional, os de nível III após o curso de 3 dias em São Paulo ao custo de R$ 800,00 por participação, ao largo daqueles poucos, bem sei, altamente qualificados acadêmica e tecnicamente, que por principio constitucional se graduaram através os anos em cursos superiores nacionais e internacionais, nas quadras e ginásios, por décadas de trabalho profícuo, que terão de ser “provisionados” com suas carteiras definitivas ou provisórias, exigência esta fundamentada em que leis federais?
Senão vejamos o caso do professor Paulo Murilo:
-Licenciado em Educação Física pela EEFD/UFRJ em 1962
-Especialização em Basquetebol no Curso de Técnica Desportiva da EEFD/UFRJ em 1963.
-Registro de Técnico de Basquetebol no CND/MEC, em 1965.
-Técnico Emérito da FBERJ.
-Estágio Técnico de basquetebol em Universidades Americanas após concurso público qualificatório promovido pelo Dep.de Estado Americano e CBB, em 1967.
-Professor de Cursos de Atualização de Basquetebol do DED/MEC em vários estados brasileiros.
-Idealizador e fundador das duas primeiras associações de técnicos do país, a ANATEBA (1971), e a BRASTEBA(1975).
-Coordenador e Professor do Curso de Técnica de Basquetebol da UERJ em 1985.
-Graduação em Jornalismo Audiovisual pela ECO/UFRJ em 1975.
-Especialização em Didática e Metodologia do Ensino Superior pela PUC/RJ em 1976.
-Coordenador das disciplinas de Didática e Prática de Ensino da FE/UFRJ por 27 anos.
-Coordenador do Laboratório de Tecnologia do Ensino da FE/UFRJ por 10 anos.
-Sub coordenador do Departamento de Educação Física da UFF por 9 anos.
-Doutorado em Ciências do Desporto na FMH/UTL de Lisboa em 1992 com a tese “Estudo sobre um efetivo controle da direção do lançamento com uma das mãos no basquetebol”.
-Técnico de basquetebol de equipes infantis, infanto juvenis , juvenis e de primeira divisão, masculinas e femininas por mais de 45 anos.
-Editor e fundador do blog Basquete Brasil(www.paulomurilo.com), com mais de 750 artigos técnicos, táticos e didáticos, voltados aos jovens técnicos, jogadores e entusiastas do país, desde 2005.
-Atual técnico do CR Saldanha da Gama na LNB.
São cursos, estágios e qualificações amparadas em leis federais, auferindo direitos adquiridos em entidades de ensino superior nacionais e internacionais, assim como um vastíssimo campo de experiências, estudos, pesquisas e trabalhos teóricos e práticos, em décadas de dedicação à causa da educação e do desporto pátrio.
Sei que são poucos aqueles que ainda resistem ao tempo, trabalhando e produzindo, mas eles ai estão, não como participantes de direito e mérito na formação de uma escola, mas prestes a serem nivelados àqueles que iniciam suas caminhadas, prestes a terem, ou não, o direito de continuarem seus trabalhos arduamente conquistados, representado por uma crefiana carteira de provisionado, disfarçada em definitiva ou provisória, justo e lídimo prêmio punitivo às suas ainda resistentes teimosias, aquelas que propugnam a valorização do mérito e da hierarquia, fatores fulcrais e determinantes de uma verdadeira, generalista e democrática Escola Nacional de Treinadores, de que modalidade for.
Torço para que a LNB, com suas reais propostas de progresso para o basquetebol, atente para tais distorções emanadas da CBB, a qual está vinculada a ENTB. Nunca será tarde para correções de rumo, assim espero.
Amém.
Fotos da comunicação técnica do Prof.Paulo Murilo no Congresso de Técnicos da LNB.
OBS-Clique nas fotos para ampliá-las.
Caro Professor Paulo, como está ?
Ainda não liguei para a CBB (talvez nem o faça) para saber como será o curso e principalmente saber em qual ”categoria” me encaixo. Provavelmente um certificado de ”presença” será o que posso almejar nesse sentido.
Porém, não começar com o curso Nível I é de uma burrice escandalosa. Dói aos olhos ler o texto de Byra Bello, ”não importa como”, depois corrigiremos, fazer de qualquer jeito … então pode-se fazer errado no começo ?? Meu Deus, como alguem fala isso e acha que está correto ?!!?! Esta é a impressão que fica, que o importante é recolher os 800,00 reais de cada um que irá lá e pronto. Mas irão os mesmos de sempre.
Enfim, em 3 dias formarão treinadores nivel III … rs
Um forte abraço !
Primeiro quem já está lá, evita concorrência.
Quem quizer entrar depois tem que ser muito bom e/ou (principalmente) ter um Q.I. muito bom.
Tomara que não formem treinadores nivel I em 3 dias também.
Professor Paulo
Não me diga que estão criando um ‘conselho profissional’ ao invés de uma escola de técnicos? Professores de educação física podem ser técnicos de qualquer esporte. Se serão bons ou ruins é outra coisa. Pelo menos tem formação para trabalhar com esportes de modo geral e se especializar.
Técnicos leigos, em que se considere a experiência com o esporte (como atletas e como técnicos) necessitariam uma formação específica para trabalhar com pessoas usando todo o acervo de conhecimentos da educação física.
É muito mais fácil para um professor de EF aprender a ser técnico de basquete do que um leigo adquirir toda a formação complementar que necessita e que vai bem além de ensinar fundamentos e táticas.
Espero que não criem carteirinhas e barreiras para os professores de EF ao mesmo tempo em que certificam leigos em 3 dias.
abraços!
Suzana
Os R$800,00 são o de menos Henrique, quando o pulo do gato é a certificação do grupo pioneiro, aquele que redigiu as regras do jogo. Me recordo que em 1975, quando do primeiro mestrado de educação física foi criado na USP, com 30 vagas iniciais, que em se tratando de uma entidade pública deveriam ser preenchidas por concurso, 19 delas foram previamente reservadas para os professores da Escola de Ed.Fisica da propria USP, fazendo com que as restantes 11 vagas fossem disputadas, ai sim, em concurso, pelos demais interessados do país.Fui o único carioca aprovado, e após 76 brilhantes créditos cursados fui defenestrado por não concordar em mudar o teor de minha tese, experimental sobre arremessos de basquetebol, somente defendida, em nivel de doutoramento 14 anos depois na FMH/UTL em Portugal, provando a validade cientifica da mesma. Logo Henrique, não é novidade nenhuma, pelo menos para mim, que reserva de mercado seja prerrogativa de quem exerce o poder, infelizmente delegado a quem o bajula e apoia servilmente.Não é esse o time em que jogo e jamais jogarei. Um abraço, Paulo Murilo.
E põe Q.I. nisso prezado Douglas.Como a formação do Nivel III somente tomará 3 miseros dias, é de se pressupor que esses formandos que prepararão mais adiante os de Nivel I precisarão somente de 2 dias para transformá-los em tecnicos de basquetebol. Tecnologia educacional é isso ai Douglas, e convenhamos, se o preço for o mesmo se constituirá numa grande pechincha como investimento, palavrinha mágica que substitui o carcomido termo, inscrição, pois ao fazê-la para um curso, nada garante sua aprovação a priori. Mas, investimento…
Um abraço. Paulo Murilo.
Eu não diria um “conselho profissional” Suzana, mas sim uma “elite profissional”, corporativista e exclusiva. Basta ler os requisitos e a programação do “curso”. E ao final, surpresa, veremos encarteirados as mesmas personalidades de sempre e alguns novos e especiais agregados. Curso mesmo, de verdade, somente poderia ser dado por pessoas que de forma alguma seriam chamados, não importando suas qualificações, já que “velhos e ultrapassados”, não estivessemos nós todos em um país em que até ministro de educação taxou toda uma geração de magnificos mestres universitários de “vagabundos e inúteis”, afirmações estas que deveriam ter sido vomitadas em frente a um espelho.
Por tudo isso é que torço com ardor para que a LNB não se deixe contaminar com tal distorção advinda da CBB, mesmo que uns poucos nomes sejam comuns às duas entidades.
Um abraço, e parabéns pelo seu belo trabalho ai nas plagas gaúchas.
Paulo Murilo.
Professor Paulo e o pior que na grande mídia, isso é colocado como um passo “à frente” para a classe …
brincadeira né ?
Um grande abraço
Se cada povo tem o governo que merece, porque não o basquete, prezado Henrique? Ao exercer minha indignação, mantenho viva as esperanças de que o bom senso volte a se fazer presente nas decisões no seio do grande jogo. Um abraço, Paulo Murilo.
Suzana, conheço essa briga professores de educação física x ex-atletas profissionais,
não sei se é tão fácil um professor de educação física que nunca foi atleta de basquetebol se tornar técnico de basquete, acho melhor ele ter um ex atleta ao seu lado para auxiliá-lo no treinamento, e o contrário como vemos muitos, ex atletas com profissionais de educação física o auxiliando, cada um dando sua contribuição, mas o problema do país é complexo, afinal o Brasil parece que é o país só do futebol, quem sabe um dia sejamos um país verdadeiramente olímpico.
Henrique, o problema da mídia leia-se organizações Globo, ela adquiriu os direitos de nosso Novo Basquete Brasil gratuitamente, então é um jogo de toma lá e dá cá, e como o Brasil é um país que parece só do futebol, ai do Dunga que não ganhe a Copa, a Globo vai tentar acabar com a carreira dele de treinador como fez com a do Lazaroni, este último tenta arrumar times ou seleções lá fora porque por aqui a Globo o queimou.
Isso mesmo pessoal, incrementemos o debate tão necessário numa hora decisva para o futuro dos novos técnicos, e por que não, o presente dos mais calejados.Paulo Murilo.
Olá David
Eu fui atleta de ginástica olímpica e ginástica rítmica. Joguei Voleibol em nível estudantil escolar. Nunca joguei basquete.
Assumi o basquete de minha escola e fui a luta para aprender e te asseguro que é mais fácil aprender com a experiência de atleta aquilo que é específico da técnica e tática do basquete. Porém, penso que mais difícil ainda é, para o leigo, aprender todas as demais coisas que se tem de saber para trabalhar com pessoas (anatomia, fisiologia, psicologia, psicomotricidade, …. – alista é grande).
Assumi o basquete na escola (que não existia, na ocasião) por necessidade da escola. Estou atualmente com quase 4 anos como técnica de basquete masculino e tenho cerca de 40-50 atletas treinando e competindo em diversas categorias. Tenho muito a aprender, mas já aprendi muito, também.
Minha escola tem disputado as finais da maioria das competições estudantis como Jogos Abertos de Porto Alegre, Estudantil Paquetá, Schoolgames, Jogos Escolares Gaúchos. Minha escola é militar e o ingresso se dá por concurso, logo não há atletas bolsistas como em diversas outras escolas. Meus atletas mirins são convidados entre os +- 70 meninos que passam no concurso para a 5ª série.
Aqui: http://www.gutierrez.pro.br/basquete/ tu podes conhecer um pouco do trabalho. Nada milagroso, apenas dedicação de professor que teve uma boa formação e abraçou o basquete com vontade de aprender. E até aprendi a jogar basquete 🙂 Tenho um bom arremesso e uso isso como motivação aos atletas. Já pensou perder para a professora que não treina e tem 1,60 de alura?
abraço!
Suzana
Para toda regra há as …
e este é o seu caso Suzana,
a maioria que nunca jogou basquete não consegue isso, não tem sucesso, parabéns por ter tido facilidade em aprender isso é um dom seu, mais a maioria que não o tem, se nunca jogou basquete pode ter muitas dificuldades.
Já falaram que convidaram o Bernadinho pra técnico de futebol e ele não topou ele disse que seria um desastre apesar de ser botafoguense roxo, a maioria que “muda” de modalidade depois de “velho” não dá muita “sorte”, me lembro do João “sem medo” o João Saldanha na seleção, aquela que depois acabou ganhando a copa de 70, o Gerson “Canhotinha de Ouro” falava que dialogava muito com ele e o João sem medo, João era muito bom segundo ele.
E o debate continua, e estou gostando por ser o segundo estabelecido aqui no blog. O primeiro aconteceu na serie Debates, e agora esse. Foram poucos nos 6 anos do blog, mas prevejo que outros virão, na medida que a jovem geração de técnicos decida ir a luta, se indignando, e cobrando o de direito.E o espaço aqui está, onde anonimato não teve, não tem, e jamais terá divulgação. Um abraço a todos, Paulo Murilo.