TÉCNICOS POR ATACADO…


Se porventura um técnico atuante e experiente tiver que estar presente ao Curso de Certificação Nível III em São Paulo, para em 4 dias (7 a 10 de julho) poder ter acesso a uma das carteiras que o tornem um técnico daquele nível, e sem a qual não poderá exercer a orientação de uma equipe adulta, numa ação didático pedagógica impar no universo do ensino, pela concentração de conteúdos de tal ordem extraordinários, que reduz a tão poucos dias o que qualquer técnico desportivo leva anos, décadas para aprender, tornou-se claro para mim a necessidade de analisar tão revolucionário programa, constituído de onze temas, os quais passo a enumerar e discutir:
– A importância da formação dos treinadores.
Este é um tema realmente importante para um curso de administradores, ou gerentes, ou mais propriamente para um público leigo nos assuntos desportivos, nunca para os técnicos, já que os mesmos, inseridos no contexto, sabem e conhecem de sobra a importância e liderança resultantes de sua formação. Logo, nada a somar para esse nível. Mas em se tratando de técnicos nível I, seria um assunto aceitável. Com tão escassos dias de curso, obviedades deveriam ser descartadas em prol de assuntos realmente relevantes.
– Gestão e marketing esportivo.
Por que motivo(s) tal tema tenha de ser desenvolvido em um curso de formação de técnicos de 4 dias, quando uma vasta bibliografia sobre o assunto está à disposição dos mesmos em qualquer biblioteca ou livraria? Não creio que tais assuntos repassados superficialmente somem algo que realmente beneficie a formação técnico tática de um treinador de alto nível.
– Justiça desportiva.
Parece que muita gente quer deixar sua marca na fase inaugural da ENTB/CBB, não importando o que fale, discurse ou comunique, na medida que ponha seu lacre na ata de fundação de uma escola pioneira.
– Aspectos táticos: conceitos ofensivos e defensivos.
Eis um assunto realmente importante, pena que tais conceitos divaguem por sobre um só existente, o sistema único de jogo, desenvolvido e implantado em todo território nacional, em todas as categorias e faixas etárias a mais de 20 anos, no plano ofensivo. No defensivo, o que dizer, quando um sistema ofensivo único reina por duas décadas sem anteposições? Ou se negam a admitir que se conceitos defensivos eficientes tivessem sido desenvolvidos o tal sistema único de jogo não teria sido sistematicamente mudado? E o que justificar quando professamos a ditadura dos arremessos de três pontos, exatamente pela inexistência dos tais “conceitos”?
– Filosofias de jogo.
É de arrepiar quando vemos uma escola mencionar para estudos “filosofias de jogo”. Por que não sistemas, conceitos, estratégias, táticas de jogo? Filosofia? Seria mais interessante que incentivassem os técnicos no esclarecimento etimológico da palavra filosofia, pois muitos males entendidos seriam corrigidos. Uma leitura rápida em um dicionário bastaria.
– Valorização da profissão e do profissional.
Obviedade é isso ai, menos para os crefs da vida. Meus deuses, e ao custo de 800 reais!
– Tecnologia no basquete.
E lá vai a turma da estatística dar o seu recado para os desinformados do nível III. Haja sacrifício por uma prosaica carteira…
– Terminologia do basquete.
Anos atrás um grande professor de educação física, Otavio Fanalli editou um libreto com as terminologias mais comuns na educação física e nos desportos. Por que não um libreto, ou apostila com os termos basquetebolisticos pura e simplesmente? Sobraria tempo para o basquete de 4 dias.
– Preparação física.
Ridículo, se todos são professores experientes, ou não são? Se são técnicos largamente experientes, ou não são? Ou terão de ser “provisionados”?
– Formação de jogadores da base ao adulto.
É o típico tema para os técnicos de nível I, não para os de nível III, largamente formados e informados na temática da formação de base da
modalidade, pela qual, obrigatoriamente passaram em suas longas formações, ou não?
– Disciplina tática.
É o aspecto que justifica a presença de todos no curso, não só a disciplina tática, mas a técnica e a de vida, logo, não discutida por ser mais do que óbvia.
Concluindo, somente o quarto tema daria por si só assunto para os 4 dias do curso, com suas variáveis e diversidades, todas do mais alto interesse de técnicos de alto nível, mas somente possível se realmente professássemos conceitos e sistemas diversificados, e não um só, absoluto e imutável, e ai tenho de reconhecer, sobrariam muitas horas nos 4 dias propostos, e talvez seja esta a justificativa da presença dos temas definidos no programa, e que acima discuti.
Mas uma analise bem superficial constata uma particularidade sobejamente conhecida por todo professor e técnico experiente, a de que a formulação temática do curso segue a norma estabelecida pelo Confef em seus cursos para provisionados, onde o preparo de leigos para uma tarefa de transcendental importância para o processo educacional da juventude brasileira prima pela falta de bom senso, numa primeira ação de conquista, para agora evoluir de encontro aos licenciados e aos técnicos mais experientes, amparados por leis que antecederam a fundação de tão arrogantes e nefastos conselhos, e cujo curso de formação de treinadores parece ser uma jóia preciosa em seus desígnios de poder absoluto sobre a indústria do corpo, para a qual são os avalistas e banqueiros.
E que outra justificativa daria a ENTB quando na ficha de inscrição para o curso consta o item CREF (nº do registro) e sua validade?
Por prever e antecipar exatamente tudo isso que vem ocorrendo, é que me insurgi técnica e hierarquicamente contra a indicação de um preparador físico para coordenador da escola de treinadores, sabedor dos reais motivos para tal escolha. Agora que todos vocês já sabem, optem admitir, ou não. De minha parte emiti desde sempre um brado de indignação, e continuarei a lutar e me indignar para garantir o direito constitucional de continuar a ser o que sempre fui, um professor e técnico, por formação acadêmica e nas quadras desse imenso país, a mais de 50 anos, e não formado, provisionado e certificado em 4 dias.
Mas, se não restar mais nenhum recurso que me garanta, por direitos adquiridos, a direção de uma equipe adulta, e dependendo da ajuda finaceira da equipe do Saldanha da Gama, da qual sou o técnico, para fazer frente aos gastos de passagens, estadia, alimentação em São Paulo, e o tal “investimento” exigido pela ENTB/CBB, serei obrigado a comparecer ao tal curso, onde sentado por 4 dias, ouvindo palestrantes, estarei sendo devidamente atualizado e certificado, e por que não, reiniciado na carreira de técnico de basquetebol. Seria cômico, se não fosse absolutamente trágico.
Mas, se for este o preço que terei de pagar para poder enfrentá-los numa quadra, o farei, e quem sabe…
Com a palavra a Liga Nacional de Basquetebol – LNB, a qual não deveria por sua chancela a tão evidentes distorções.
Amém.

PS – Sugestivo o logotipo da ENTB/CBB, onde se destaca altaneira e absoluta…uma prancheta! Coerência é isso aí…



11 comentários

  1. Clayton 28.06.2010

    Prezado Professor Paulo Murilo, ainda estou me inteirando do assunto, mas pelo que entendi existe a obrigatoriedade de realizar um curso de 4 dias p/ ser tecnico de equipe adulta de basquete!!!
    Por acaso provisionado também pode realizar esse curso, pois aí a falcatrua é ainda maior!
    Ano passado tentei fazer um curso de Tecnico de Atletismo nivel I, não pude! Motivos: não sou filiado e nem tecnico de nenhum clube ou associação, não tenho CREF.
    Questionamentos: – Isso não é um contra senso, pois eu não deveria me capacitar primeiramente p/ posteriormente trabalhar c/ a modalidade em questão?
    Resposta da federação: Não! Tem que ser tecnico de algum clube, e mesmo assim, é muito restrito o nosso curso, pois é muito melhor que uma pós graduação…
    Sou Professor de Educação Física Escolar há 4 anos, e como quem regulamenta nossa profissão é o MEC, não fui obrigado a fazer o registro do CREF, apesar das campanhas ridículas , tais como: ano da Educaçã Física Escolar, onde esses famigerados tentam a todo custo conseguir com que professores que lecionam em escolas também tenham o CREF…
    Felizmente passei em um concurso de Tecnico de Esportes, infelizmente serei obrigado a ter o CREF…
    Como pode um orgão que apenas fiscaliza nossa profissão cobrar uma anuidade tão cara, a única coisa que fazem é mandar uma revista com 3 meses de atraso, onde engravatados recebem homenagens em cursos de atualização, cursos esses que não tem divulgação e nem desconto p/ professores que realmente estão na ativa.

  2. Basquete Brasil 29.06.2010

    Prezado Clayton, creio que pouco a pouco o pessoal realmente compromissado com a educação física e os desportos acorda para essa triste realidade dos crefs e o confef. É uma luta minha de longa data, desde antes da criação desse “conselho”, cuja finalidade maior é o de garantir e avalizar a política do culto ao corpo implantada na contramão dessas atividades dentro das escolas.Basta pensar o fato de que a educação física é a unica disciplina do currículo escolar que tem um conselho pseudamente regulador e fiscalizador.Não conhecemos conselhos federais de matemática, português, física ou outra disciplina qualquer, só a educação física.E mais, já se movimentam para estabelecer um teste probatório próprio, nos moldes dos conselhos de medicina e direito, quando colocarão em cheque a qualificação de escolas de ed.física estaduais, federais e particulares. Será o fim da já combalida profissão, principalmente na área escolar.Cursos de formação de técnicos então se tornam alvos preciosos a estas investidas, pois alcançam nichos altamente rentáveis, vide o futebol. Frear tais ambições se impõe com urgência, a começar com a volta das escolas de ed.física para o âmbito dos centros de formação de professores, retirando dos centros de ciência da saúde uma função que vem de 1972, e que submeteu a profissão ao nível de paramédicos de terceira categoria tutelado por tais conselhos.
    Mas essa é uma outra história, comentada por mim em vários artigos aqui publicados.
    Um abraço, Paulo Murilo.

  3. Clayton 29.06.2010

    Prezado Professor, quanto mais me atualizo sobre essas questões, mais desiludido eu fico…
    Mas vamos falar de coisas boas, gostaria de sugerir ao prezado Professor para postar alguns videos,se possível, mostrando na prática, essas dicas interessantes dos seus artigos a respeito de fundamentos, iniciação, etc., seria muito interessante, principalmente p/ professores e tecnicos que estão iniciando, pois confesso que muito da terminologia e conceitos do basquete não conheço e assistindo um video c/ atletas demonstrando seria ótimo.
    Um Abraço,
    Clayton.

  4. Basquete Brasil 29.06.2010

    Então somos dois os desiludidos, prezado Clayton, mas não jogo a toalha. Sua sugestão é excelente, mas colide com uma realidade, a de que veicular videos, montá-los e editá-los são tarefas dispendiosas e demoradas. Mas, tentarei tocar esse projeto na medida de minhas possibilidades, pois não tenho patrocinio nenhum. Tudo que aqui foi feito e publicado correu por minha conta e ajudas técnicas de meu filho basqueteiro. Publiquei a tempos atrás dois artigos sobre treinamento de fundamentos, com imagens e narração. digite no espaço Buscar Conteúdo-Treinando fundamentos, e terá dois artigos que poderão ser úteis a você no seu trabalho. Bons treinos e sucesso.
    Um abraço, Paulo Murilo.

  5. Clayton 30.06.2010

    Muito Obrigado Professor Paulo Murilo,
    Abraços,
    Clayton.

  6. Aix Rizzo 02.07.2010

    Como vai, Professor Paulo Murilo!
    Para seguir adiante, somente amantes da profissão como você. A anuidade do CREF não é diferente da anuidade da OAB, por exemplo, ao daquele tributo chamado ITBI que a gente paga à Prefeitura ser que ela tenha ajudado a comprar um tijolo sequer do imóvel.

    Não jogue a toalha mesmo!

    Um abraço.

  7. Basquete Brasil 03.07.2010

    Não sou e jamais fui homem de jogar toalhas prezado Aix, e por isso sigo meu caminho com a justa certeza do dever cumprido com honestidade e lealdade.
    Mas o que poderei fazer se for obrigado a frequentar um curso de certificação para ter o direito de continuar na liga?
    Fica a dúvida do “ser ou não ser”, do poder ou não continuar, apesar de todo um histórico curricular exemplar.
    Mas algo poderia ocorrer em nome da justiça, o que duvido que ocorra.
    Um abraço, Paulo Murilo.

  8. Clayton 05.07.2010

    Prezado Professor Paulo Murilo, abordei o tema CREF/CONFEF, na comunidade esportiva virtual ( CEV )no tópico CEV Café, está uma discussão interessante, gostaria muita de sua contribuição relatando suas experiências, principalmente referente a certificação p/ atuar como tecnico.
    http://cev.org.br/comunidade/cevcafe/debate/cref-confef-absurdo/#replay-7662

  9. Clayton 05.07.2010
  10. Basquete Brasil 05.07.2010

    Prezado Clayton, já estou nessa luta a mais de 10 anos, e aqui mesmo no blog tenho publicado inúmeros artigos sobre o tema. Agora, que posso ser vitima dessa turma do barulho, estudo um meio juridico e constitucional que garanta meus direitos adquiridos, décadas antes da existência desse famigerado conselho, pois não posso admitir ser “provisionado” ou “certificado” por um grupo que não tem competência técnica e acadêmica para por em dúvidas minha carreira e meu curriculo profissional. Além do mais, aos 70-1 anos não tenho mais paciência para discutir picuinhas e absurdos como este. Logo, ficarei aguardando os acontecimentos, para tomar as devidas providências, ou não, pois nesse caso quem perde é o basquete, não eu. Mesmo assim obrigado pelo convite. Um abraço, Paulo Murilo.

  11. Distinto Colega:

    Oportunizando congratular pela lúcida opinião, além de aderir, gostaríamos de dizer que participamos, aqui no RGS, de um movimento contra o uso de uma entidade, que deveria organizar uma profissão, para querer controlar outros setores da sociedade.

    Conheça a opinião da Justiça a respeito em

    http://www.padilla.adv.br/cref

    Em estudos mais recentes, e que estamos ampliando.

    TGPs – Teoria Geral dos Processos

    “Os processos de pensamento e de comunicação, dos quais são espécies os jurídicos: administrativos, cíveis, desportivos, eleitorais, legislativos, penais e trabalhistas”

    em
    http://www.padilla.adv.br/UFRGS/TGP

    Temos nos debruçado sobre a distorção nas normas…
    http://www.padilla.adv.br/teses/normas

    E em especial na influência e na manipulação
    do “processo de pensamento” pela mídia:

    http://www.padilla.adv.br/evoluir/perceber

    Há décadas, pesquisamos a efetividade da Justiça, a morosidade e a falta de ética nos conflitos:
    http://www.padilla.adv.br/teses

    Atenciosamente,
    Prof. PADilla* Luiz Roberto N. Pad!lla
    http://lattes.cnpq.br/3168948157129653

    * DIR2 – Departamento de Direito Privado e Processo Civil
    Secular e histórica Faculdade de Direito da U F R G S
    Campus Central Porto Alegre Cep 90046-900 (51)3308 3322

    Qualidade Abril 2009:
    http://gevestibular.abril.com.br/selos_ge2009.asp?CursoGraduacaoID=235462&opid=154661

    Considerando a imensidão do Universo
    e a vastidão do tempo
    é um privilégio
    compartilhar com você
    espaços virtuais como:

    http://padilla-luiz.blogspot.com/
    http://cev.org.br/qq/padilla
    http://www.youtube.com/user/PADillaLuiz
    http://vimeo.com/pad
    http://www.myspace.com/482548792
    http://www.padilla.adv.br/prof
    http://www.orkut.com/Profile.aspx?uid=1990308448905105073
    http://www.facebook.com/profile.php?id=714013822
    http://twitter.com/Prof_PADilla
    http://badoo.com/padill
    http://aiccint.ning.com/profile/PADillaLuizRobertoNunes
    http://br.octopop.com/padilladv
    http://www.gazzag.com/profileviewer?id=M3mWPnhUdV%2FgHm5I%2B2zkRA%3D%3D
    http://www.tagged.com/register.html?aa=4psyxw6&a=1
    http://www.hi5.com/i?l=B_0_ekKuDWL-PADilla
    http://pt.netlog.com/PADilla_Luiz
    http://www.linkedin.com/pub/padilla-luiz-roberto-nu%C3%B1es/15/390/634
    http://www.viadeo.com/pt/profile/padilla-luiz-roberto-nunes-padilla.pad
    http://pad1lla.spaces.live.com
    http://spaces.msn.com/members/pad1lla

Deixe seu comentário