TERRIVEL JOGO, NUM ÁRIDO CENÁRIO…

Chego na Arena às 10:45, deserta, com 21 carros no estacionamento, na vastidão daquele estacionamento árido e descampado, ao custo de 15 reais, isso mesmo, 15 reais! Vou até a bilheteria, deserta, compro um ingresso para idoso, os mesmos 15 reais do estacionamento, surreal!

Adentro a enorme e colossal Arena, e… as fotos contam uma verdade dolorosa em pleno domingo, numa radiosa manhã de sol, praticamente deserta, com uma torcida diminuta orquestrada por um animador trajado a La NBA, e um DJ movido a batidão, onde a única música sugerida em nosso idioma foi o hino nacional, e mais nada que lembrasse nossa criativa e majestosa identidade musical. Cultura globalizada é isso ai, sem maiores dúvidas. Lamentável.

E o jogo meus deuses, o jogo!

Mas que jogo, se somente uma equipe se apresentou para o embate, não sendo certamente a equipe do Vitória, agora sem as desculpas do primeiro jogo na liga, quando perdeu de 53 pontos para o Pinheiros, de se apresentar com somente um de seus titulares, assessorado por juvenis, já que as inscrições dos demais não haviam se concretizado administrativamente.

Neste jogo, contra a equipe do Flamengo, lá estavam todos, exceto o armador Muñoz, assim como ausente estava o Duda por parte do anfitrião.

E o resultado? Derrota por 54 pontos, absurdos e inadmissíveis 54 pontos, por mais forte que fosse o adversário, pois ali se defrontavam equipes da elite do basquetebol nacional, e não juvenis imberbes.

E os porquês para tão acachapante derrota, se ambas as equipes jogaram sob um mesmo sistema de jogo, aquele tradicional, enraizado e granítico sistema único de jogo, onde as posições de 1 a 5 são padronizadas e possuídas como capitanias hereditárias por especializados jogadores e seus mentores técnicos? Isso mesmo caro leitor, pelo simples fato de nesse perverso sistema vencerá sempre aquela equipe que tiver os melhores jogadores em cada posição de 1 a 5, onde os confrontos 1 x 1 são um produto final para cada situação de jogo, durante o tempo em que for jogado, como mini jogos do 1 contra o 1 adversário, o 2 contra o 2, e sucessivamente até o 5 contra o 5, numa antítese do jogo coletivo, aquele resultante de uma equipe cujos jogadores dominam uma única posição, a 12.345! Mas isto é exigir demais do corporativismo implantado pela esmagadora maioria de nossos técnicos de ponta, com uma ou duas exceções, no seio dos quais a prancheta é a personagem principal de suas intervenções coreografadas.

E por conta dessa realidade, montam-se as equipes por nomes, por especialistas ( ou o que pensam ser…) de 1 a 5, restritos àquelas exigências padronizadas para cada posição, nas quais determinados fundamentos ( assim pensam em sua maioria…) podem ser relevados em comparação às demais posições, o que no frigir dos ovos determinam uma pobreza de domínio dos mesmos, que atingem limites inconcebíveis. Drible, fintas, passes, posicionamento defensivo, rebotes e arremessos, são negligenciados em função das posições que pretensamente imaginam dominar, tornando-se reféns daqueles mais bem preparados nas mesmíssimas posições.

Neste cenário, uma equipe que propugnasse o enfoque prioritário nos fundamentos, e o sucedâneo coletivismo advindo dos mesmos, já que um nivelamento técnico individual se faria sentir durante a preparação da mesma, através um sistema, qualquer um, que priorizasse a participação indistinta de todos os seus integrantes, numa forma democrática de jogar o grande jogo, sem dúvida alguma jamais se submeteria a derrotas de tal teor, jamais, fosse a equipe que fosse.

Enfim, foi uma manhã frustrante, num cenário árido e desprovido do calor humano, minimamente representado ante o gigantismo daquela Arena, onde o valor do meu ingresso foi o mesmo para estacionar o carro, numa prova de que muito ainda nos falta para atingirmos metas mais ambiciosas.

Quanto ao jogo, a mim valeu mais pelo reencontro com alguns atletas que dirigi, com o Washington e o Marcos, assistente e fisioterapeuta respectivamente, e a entrega pelo DeJesus de minha mala que havia ficado em Vitoria desde março. Foi um ótimo reencontro, mas um jogo para esquecer.

Amém.

Clique nas fotos para ampliá-las.



14 comentários

  1. Henrique Lima 22.11.2010

    Professor, retrato perfeito da nossa realidade.

    Porém tem gente que acredita que ainda somos potência no basquetebol.

    Este retrato que o senhor mostrou é dos piores. 21 carros estacionados ?

    Devíamos ter 100 pessoas no ginásio ? Nem isso ?

    E nem falarei do nível técnico que se encontra Vitória. Ai .. que arrependimento deve existir por te-lo deixado livre. E as outras equipes não enxergam isso … como o basquetebol brasileiro é cego.

    Um grande abraço

  2. Basquete Brasil 22.11.2010

    É Henrique, uma triste e dolorosa realidade, desde sempre varrida para baixo do tapete da história.E ainda ousamos realizar um olimpic games em um país refém dessa realidade. É para chorar de vergonha, mas que reforça cada vez mais minha capacidade de indignação, única arma que possuo como cidadão de meu país. Paulo.

  3. fernando 22.11.2010

    Professor um abraço, infelizmente ou talvez nem tantopois não assisti a está partida, mas concordo que não aguento mais a mesmice e a falta de criatividade de nossos tecnicos, o pior e que minha constatação vem da base de nosso esporte, pois depois que se marmoriza o cerebro do atleta fica dificil trabalhar com material tão duro e quebradiço.
    Este ano vi um tecnico de base pegar um time campeão estadual, que jogava com dois armadores e um lateral sempre controlando o jogo, e dois pivos que se moviam o tempo todo dificultando a marcação e facilitando o controle da bola, observação o tecnico do ano passado era aberto a conversações e pude lhe falar do seu trabalho do seu blog e do Saldanha da Gama, ao qual ele apreciou e me agradeceu, ja o deste ano me disse que a filosofia de jogo dele e imexivel e moderna (na minha cabeça uma coisa impede a outra).
    Mas passei o ano escutando a tal filosofia dele, e so pude constatar o seguinte:
    -Vai, vai, postura, postura, acelera, acelera, chuta, chuta, o incrive e que independia do momento do jogo ou da postura tatica do adversário.
    O mais legal era o final apos a partida:
    – Podiamos jogar até amanha que não ganhariamos!
    – Faltou postura!
    – Perdemos nos detalhes!
    e a mais linda, depois da derrota dizer -Foi melhor do que eu esperava! Sendo que ele tinha um time campeão na mão.
    Desculpe mas e o desabafo não so por perder um campeonato como torcedor, mas por ver os garotos muitas vezes entregues a pessoas sem ambição, vontade de inovar e ousar, com medo de arriscar e ser criticado e o pior medo de vencer, ai se apegam a mecanismos iguais ou sistemas iguais aonde não podem ser criticados, pois a desculpa será sempre os atletas não se portaram como previsto. O tecnico do ano passado que havia sido campeão ficou com uma categoria bem mais nova, aonde joga o filho do diretor.Politica no basquete.

  4. Clayton 22.11.2010

    Prezado Professor,
    Uma pena realmente toda essa situação, e pelas fotos percebo um ginásio com uma baita infra-estrutura, poderia (deveria) estar lotado.

  5. Basquete Brasil 23.11.2010

    Prezado Fernando, essa é a realidade que venho expondo durante todos os anos de existência desse blog, perfeitamente retratada por você no exemplo acima. Infelizmente, esse é o prêço que pagamos pelas padronizações e formatações impostas ao ensino do basquete através as celebres clinicas da CBB, e pelo exemplo emanado de nossos técnicos da chamada divisão de elite, e nossas seleções. Assim como tentei quebrar essa hegemonia técnico tática, acredito que alguns jovens técnicos venham a conseguir, com sucesso, o que tentei sozinho. E eles vão conseguir, injetando novos conceitos em novos tempos que advirão, com certeza absoluta.
    Um abraço, Paulo.

  6. Victor Dames 23.11.2010

    Caro Professor:

    Estou sempre lendo seus artigos, infelizmente não tenho muito a comentar porque, como o senhor mesmo o diz, “a mesmice endêmica” continua a imperar. Apenas procuro fazer minha parte como torcedor, acompanhando a modalidade como posso e torcendo pelas equipes de minha preferência, embora triste com o baixo nível técnico constado até por um leigo como eu.

    Mas este artigo chamou a minha atenção sobre algo que posso opinar com mais propriedade, como cliente que sou do espetáculo: a organização e infraestrutura extraquadra.

    Há uma série de fatores que contribuem para a aridez que o senhor relatou: o criminoso valor do estacionamento é um, o preço do ingresso nem tanto, em minha humilde opinião, considerando o nível de conforto da Arena e o custo de outros eventos lá realizados; mas o péssimo horário para o jogo (basquete profissional de manhã, só mesmo na cabeça dos mandachuvas da tv), a fraca divulgação, a falta de atrativos para os torcedores (quiosques de produtos da modalidade, boas opções de alimentação, atrações culturais diversificadas no intervalo) afastam o torcedor que não seja fanático, pessoalmente interessado, ou no caso do senhor, racionalmente apaixonado pela modalidade.

    Mas sigamos nessa luta, apontar defeitos não é desmerecer aqueles que os cometem, mas tentar fazer com que eles mesmo os vejam, para quem sabe não mais comete-los.

    Abraços!

  7. Basquete Brasil 23.11.2010

    Prezado Clayton, é verdade, trata-se de uma arena suntuosa, mas que somente lota em eventos religiosos e shows de consagrados artistas.Nosso esporte ainda não está preparado para ocupar tão significativo espaço de competição. Uma pena.
    Um abraço, Paulo Murilo.

  8. Henrique Favilla 23.11.2010

    Que perpectiva podemos nós termos desse esporte em nosso país. Triste ver a situação na qual nos encontramos. Sem esperanças, sem novos horizontes. A criação do NBB foi muito elogiada pela mídia, mas está longe, muito longe, de ser solução para nosso basquete.

  9. Basquete Brasil 23.11.2010

    Concordo com suas observações Victor, sempre lúcidas e pertinentes. Infelizmente a mesmice endêmica que assola a parte técnico tática e formativa do nosso basquete, vem se infiltrando também na parte administrativa e de planejamento das competições. frutos de ações movidas pela incompetência gerencial. Mas era de se esperar por esses resultados, não fosse o comando da CBB estar nas mãos de quem nunca deveriam lá estar. No artigo antecessor a este, mostro todo o encadeamento politico que os levaram ao comando da CBB, provando que não foi poi falta de aviso tal situação se estabelecer. Enfim, somos merecedores do que aí está, pela omissão e desunião.
    Um abraço, e obrigado por sua inestimável audiência. Paulo.

  10. Basquete Brasil 23.11.2010

    Prezado Henrique, sim, é verdade, sobram muito poucas perspetivas ante uma situação falimentar como essa por que passa o nosso basquete. Poucas, mas existentes, e uma delas, talvez a mais poderosa, seria a união dos verdadeiros basqueteiros em torno de um objetivo comum, o soerguimento do grande jogo entre nós. Quimera, sonho, ilusões? Não sei, mas sei ser esse o único caminho a ser trilhado.
    Daqui dessa trincheira tento contribuir da melhor forma que conheço, trabalhando, ensinando, debatendo, divulgando, e o mais importante, me indignando ante tanta falta de bom senso, de equilibrio, de justiça, de amor ao grande jogo.
    Um abraço, Paulo Murilo.

  11. Pablo 25.11.2010

    Hoje estou com vontade de escribir depois de um tempo onde o senhor me chamo de estrangeiro desinformado.

    Acabe de asistir o treino de um time mini, onde o tecnico (jovem e com seu CREF) ficou quasi 3/4 do treino sentado. Fez um exercicio de 1×1, onde 2 meninos participavam e os outros 8 asistiam. Em meu pais falam para aproveitar ao maximo os recursos (tem mais tres tabelas e muita bolas), eles ficavam jogando em uma tabela e com uma bola. E para terminar 5×5 para que o tecnico posa falar com a seguinte turma (5×5 por supuesto sem correçoes)

    Como vcs podem culpar a CBB o suas clinicas?? O que ensinan na faculdade?? Para que sirve o CREF?? Um semestre de basquete e vc ja esta pronto para dar aulas??

    Que tecnico jovem va a tirar o lugar de Lais en Sto Andre, o Ferreto em Catanduva, o Borracha de Sao Caetano o tantos tecnicos com vaga garantida?? Para que ele va estudar??

    Todo eso que o senhor sonha, para mi em meu pais é uma realidade, todas sextas encontros com meus amigos tecnicos para falar de basquete, para trocar opinioes, para falar dos nossos jogos, em fim…. e vc me cham de estrangeiro desinformado…. humildade é o que falta na comunidade basqueteira.

    MENOS EU e MAIS NOS

    Um abraço

    Pablo

  12. Basquete Brasil 25.11.2010

    Señor Pablo, mais do que nunca o considero desinformado, e mais, seriamente equivocado. Muito, muito antes de vocês em seu país (não sei qual é…)nós, os técnicos brasileiros estudavamos muito, e nos reuniamos bastante para discutir jogos e treinamentos, inclusive, se o señor tiver a paciência de navegar pelo blog, encontrará varios artigos que tocam profundamnte no assunto, e constatará e compreenderá porque éramos infinitamente melhores que vocês, nos constituindo a quarta força mundial no século passado, conforme relato da FIBA.
    No entanto, concordo com muitos dos detalhes relatados pelo señor, principalmente quanto a atualidade técnica de muitos de nossos técnicos jovens, e também os experientes. Os últimos 20 anos de péssimas administrações nos levaram ladeira abaixo, principalmente no âmbito politico desportivo, fatores estes herdados da ditadura militar que enfrentamos.
    De forma alguma nos falta humildade, e sim coragem para modificar tal quadro, a começar pelo soerguimento do que tinhamos de melhor, dissociado de influências exógenas que tanto nos tem prejudicado desde os tempos imemoriais. Mas conseguiremos, tenho a mais absoluta certeza, apesar de pessoas, como o señor, duvidarem disso.
    Fico pensando se em seu país eu teria as mesmas oportunidades que o señor está tendo no meu, real ou irrealisticamente falando.
    Um abraço, e obrigado pelo humilde debate.
    Paulo Murilo.

  13. Washington Jovem 26.11.2010

    Professor,

    Ficamos imensamente felizes por reve-lo, eu, De Jesus e Marcos, é sempre um prazer muito grande em poder estar e falar com o Senhor, mais um vez fica aqui o meu muito obrigado.
    Washington Jovem

  14. Basquete Brasil 26.11.2010

    A reciproca é absolutamente verdadeira, prezados companheiros, pois mesmo numa divisão profissional de elite, laços de respeito e amizade podem e devem ser desenvolvidos e mantidos, no contra ponto de muitos que negam essas possibilidades, acostumados que sempre estiveram nos “comandos” e correlatas “submissões”. Ética e muito trabalho calcado no respeito mútuo, se constituem na base de uma equipe, de um verdadeiro time.
    Um abraço a todos vocês, e sucesso no NBB.
    Paulo.

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