I’M NOT DOG NO…
Fico muito preocupado com a corrida de equipes do NBB atrás de americanos, em alguns casos três de uma só vez , para numa escalação primária, somente dois brasileiros compondo uma equipe básica, e isso tudo em território brasileiro.
E lá vamos de encontro a um desfile de equívocos, até certo ponto hilariantes, com técnicos empostando a voz, para num inglês lamentável e ininteligível passar informações no idioma digno de um I’m not dog no, de um Falcão muito mais coerente.
E a qualidade dos craques, medidas e avaliadas quase sempre através de vídeos veiculados por espertos agentes, colocando jogadores de qualidade duvidosa (as raras exceções não contam…) num mercado que veda a muitos bons jogadores patrícios uma chance de trabalho, muito dos quais vindos da Sub 21.
Sugiro então uma pequena reflexão, ao analisarmos uma listagem de países com ligas organizadas, com salários mais atraentes e maior visibilidade promocional: Espanha, Itália, França, Rússia, China, Austrália, Lituânia, Turquia, Grécia, Bélgica, Alemanha, Portugal, México, Porto Rico, Panamá, Venezuela, Argentina, Uruguai, talvez mais uns dois ou três, para ai sim, nos depararmos com a opção (?) Brasil. Pergunta-se então, qual a qualidade de um jogador de décima oitava opção?
Mas eles ai estão, e continuarão a chegar à medida em que teimarmos em nos manter atrelados a um pungente estado de colonizados, esquecendo que em vez da teimosia em nos apegarmos a produtos acabados(?), deveríamos treinar, preparar e potencializar nossos jovens valores, que para a infelicidade de alguns, se exprimem em português, e necessitam serem ensinados e polidos, configurando uma situação de fato antagônica a muitos auto denominados “estrategistas”.
Lembro um artigo que escrevi no inicio desse blog, Vícios do nosso cotidiano, exprimindo com razoável precisão esse instigante assunto, que no entanto continua a ser esquecido por uns poucos, em detrimento de muitos, o que é profundamente triste e lamentável.
Mas como diria o lúcido Falcão – Days better virão…
Amém.
É, professor, triste a situação de Franca. Muito temerária a opção de tentar reestruturar uma base que funcionava há anos (rompida via mercado, ok) com a integração de uma trinca de americanos de uma só vez, sem pré-temporada ou preparação alguma.
O que me deixa estarrecido aqui é a seguinte pergunta: como é possível que Franca não tenha nenhum, mas nenhum garoto mesmo minimamente pronto para chegar ao nível profissional?
Não precisamos ir muito longe. Coisa de dez anos atrás, com graus diferentes de sucesso, eles lançaram jogadores como Edu, Fransérgio, Anderson Varejão, Fúlvio, Matheus… Hoje, os garotos só estão jogando por total falta de opção, não por terem a confiança do Hélio, visto que nos últimos anos, com o elenco montado, eles mal viam a cor da bola. Então, se nem Franca mais lança jogadores, o que isso quer dizer sobre a base brasileira?
Lamentável.
Um abraço.
Já ia esquecendo, professor, uma pergunta: mesmo com a valorização do real, os salários pagos no Brasil seriam bem inferiores aos pagos em ligas menores (de Portugal e Bélgica para baixo) europeias? Acredito que, ao menos em termos de salário, já superamos os argentinos, embora eles desfrutem de mais exposição lá, já que a rede de contatos dos técnicos e dos clubes é muito mais firme por lá. Aqui, só os agentes mesmo fazem qualquer tipo de ponte, pelo visto.
Não só Franca Giancarlo, Vila Velha também embarcou numa trinca, e agora até jogador africano desembarca por aqui, e na armação, a mais técnica e exigente das posições, deixando de lado um Rafinha, excelente aos 24 anos, que por não ser agenciado fica ao largo da LNB, mas que apresenta um senão, só fala português…
E daquela boa equipe do Saldanha no NBB2(2010), Amiel, Roberto, João, Rafinha, Muñoz, De Jesus, André, Matheus, quem está disputando o NBB, a não ser o Casé no Tijuca? Nenhum deles, o que é profundamente lamentável.Mas, você poderia argumentar que o Amiel e o Muñoz são estrangeiros, não? Sim, mas adaptados ao nosso basquete, latinos como nós, com irrelevantes limitações de idioma, e navegando o mesmo barco terceiromundista, mas que não os limitam por serem muito bons, testados e convincentes jogadores.
E exatamente pela ascenção quase divina de agenciadores, com seus “produtos prontos no sistema único”, confirmados em videos editados somente com as boas jogadas, convencendo estrategistas da economia de treinamentos prolongados, já que utentes dos mesmos sistemas, enfim, prontos para o consumo imediato, praticamente montando as equipes dentro de suas “altas competências técnicas”, é que nos vemos e nos encontramos nesse perverso rodamoinho da mesmice endêmica que tanto critico e condeno ano após ano.
E ao final de tudo resta uma pergunta – Quando daremos vez aos nossos jovens, preparando-os e treinando-os competente e magistralmente, para que ingressem na liga superior, ao largo das coercitivas imposições de agentes e estrategistas?
Um abraço Giancarlo, Paulo.
Nota – Que jogador de alguma qualidade trocaria a vitrine europeia (qualquer uma), pela aventura de atuar numa liga que engatinha tropega e inconsistentemente? Só os que ai estão… PM.
Otimo texto professor, exatamente no ponto!
Me parece que com o real valorizado (e crise no exterior) o nosso basquete voltou ao radar dos agentes que estão tentando empurrar tudo que for possível para cá! (e dalhe DVD de divulgação)
E casa como uma luva com clubes que nao se planejam antecipamente e querem um “milagre” de última hora! Ou então para dar uma resposta à torcida (“eu tentei, trouxe os americanos, se não deu certo não foi culpa minha”) bem tipica do futebol.
Outro ponto relevante para reflexão desse caso é a falácia que com dinheiro tudo se resolverá no basquete ou em outros esportes olimpicos em geral; cada vez se joga mais $ (público e privado) nesses esportes e a melhoria de planejamento e gestão é altamente questionável.
Mas meu caro Ricardo, é exatamente atrás desses $$ que a patota investe, onde planejamento e gestão oferecem brechas legais(?)para as mais variadas desculpas por fracassos, acobertando desvios e outras mazelas bem conhecidas. No que não investem jamais é em pessoal qualificado tecnicamente, aqueles que dominam e sabem ensinar e treinar talentos, verdadeiros professores e técnicos que são, e cujo único compromisso irmana esporte e educação, que são fatores onde criação e livre pensar geram lideres e cidadãos independentes, exatamente o segmento que se antepõe aos aventureiros e arrivistas travestidos de desportistas. E perante este tenebroso cenário, o que, e a quem interessa uma politica nacional do desporto, a quem?
Um abraço, Paulo Murilo.
poucos clubes, poucas crianças jogando, pouco basquete no Brasil,
triste isso,
triste Brasil, triste Rio, mando um site que achei com fotos do basquete do Olaria, que tiveram a coragem de acabar numa região que é densamente povoada e com isso potencial
http://rogeriorichter.blogspot.com/
o site em baixo está clarinho:
http://rogeriorichter.blogspot.com/
Professor,
Muito boa a história no texto “Vícios do nosso cotidiano”.
Imagino que aqueles devam ter sido os primeiros americanos a chagear para jogar no Flamengo, porque 1965, estamos falando de logo depois da geração do Deca.
E não deve ter dado muito certo, porque o Flamengo ficou sem ser campeão entre 1964 e 1977.
No blog “Esporte Rio” tem uma foto antiga em que aparecem Kanela, Pedrinho, Gabriel e Boccardo e que 3 “black powers” com cara de americanos. Serão esses que o senhor se referiu?
No meu blog livroanacao.blogspot.com, estou montando uma sessão “História do Basquete do Flamengo”. Vou colocar várias coisas durante o mês de dezembro. Queria vez se conseguia mais histórias sobre o fracasso destes primeiros “importados” na Gávea.
Um abraço do admirador,
Marcel Pereira
Você tem toda razão, prezado Elton, e as reminicências do Olaria calam fundo, a mim inclusive que lá trabalhei junto ao Heleno Lima por duas temporadas vitoriosas. Valeu a pena.
Um abraço, Paulo Murilo.
Sim Marcel, foram os primeiros jogadores americanos a jogar pelo Flamengo em 1965, e a história que contei tem relação com eles.
Um abraço, Paulo Murilo.
Melhores palavras, impossível.
Mas que não seja impossivel que saiamos desse limbo em que nos encontramos, prezado Will. O grande jogo merece ser melhor tratado e prestigiado pelos que o amam de verdade.
Um abração, Paulo Murilo.