O PRODÍGIO…
Ao final do segundo quarto, o comentarista Wlamir Marques da ESPN mencionou algo inusitado – “…Deveriam arranjar um fórmula para que os três pivôs, Anderson, Spliter e Nenê pudessem jogar juntos…”, numa declaração surpreendente àquela altura do jogo, não muito distante de outras semelhantes feitas e apontadas nas redes globais, inclusive de técnicos veteranos e até de comentaristas, anônimos ou não, em blogs especializados…
E porque menciono estes testemunhos após a hecatombe de que foi vítima a seleção nessa Copa Mundial?
Porque outros importantes, e até mais contundentes foram escamoteados até essa data, como que numa névoa não dissipada, presente por todo o processo de convocação, treinamento e preparação, iniciada pela romaria técnica aos estelares no exterior, como que atendendo audiências onde a aceitação do processo de preparo tivesse de ser rubricado pelos mesmos, numa inversão de valores lapidar e constrangedora, para que o hermano tivesse em mãos o supra sumo do talento pátrio rumo a uma tardia medalha…
E ele o teve, junto a uma comissão que ultrapassava em número o total dos jogadores, apresentando nos jogos um banco gigantesco, onde a maioria, incluso os mascotes, nada tinham ali o que fazer, mesmo…
Teve e manteve sua metodologia saudosa de tempos platinos, ortodoxa e voltada ao sistema único, a uma rígida defesa obsequiada por constantes trocas, mas sem o material humano proprietário de sólidos fundamentos, que exequibilizasse seus conceitos de jogo, sua estratégia voltada a uma competição duríssima e inflexível ante erros grosseiros, dos muitos que foram cometidos…
A começar pelo posicionamento estratificado dos pivôs, isolados em sua luta, sem o apoio de um seu igual e de uma armação distante e incapaz de mais produzir, por também se situar isolada de um segundo armador nunca disponível em quadra, pois em nenhum momento Huertas e Raul estiveram juntos, quando muito o Alex e o Larry na posição de ala, nunca próximos dele, tornando o sistema adotado numa antítese do coletivismo apregoado aos sete ventos, e o pior, acoitado por uma mídia dita especializada pronta ao endeusamento, do “monstro” ao “prodígio”, numa espiral ao contrário de suas reais qualificações, pois nesse, que é o grande jogo, a verdadeira qualificação é aquela profundamente lastreada nos fundamentos e no conhecimento tático, fruto da mais exigente das técnicas, a competente e decisiva leitura de jogo, alcançada pelo conhecimento cumulativo de conceitos e sistemas existentes no mesmo…
Mas para que todos esses fatores colimem harmonicamente, torna-se necessária a existência de um planejamento que privilegie dois objetivos a serem alcançados, uma convocação coerente, justa e apartidaria, e a implementação de sistemas inéditos e progressivos, fugindo da mesmice endêmica existente, tornando a equipe proprietária de algo realmente seu, digno de ser estudado, treinado e desenvolvido por todos, indistintamente…
E é nesse ponto que se destacam as palavras do Wlamir reproduzidas no parágrafo inicial, já que ficou bastante claro que, dentro do sistema único, praticado pela maioria das seleções nesta Copa Mundial, com exceção da equipe americana, nossa seleção estaria, como esteve, inferiorizada pela fragilidade de seus fundamentos, se comparada às demais, tornando a aplicabilidade tática altamente previsível pelos adversários, facilitando em muito sua marcação, dentro, e principalmente fora do perímetro, como vimos no jogo de hoje, com uma Sérvia sempre um passo à frente de nossas movimentações, anulando-as quase que automaticamente…
Então, uma formação em dupla armação, de verdade, e não arremedos pontuais, alimentando uma trinca de pivôs móveis, ágeis e em permanente movimentação dentro do perímetro, pelos deslocamentos de todos os envolvidos, por todo o tempo, sem dúvida alguma levaria as defesas antagônicas a cometerem erros e equívocos, propiciando passes mais curtos, logo, mais seguros, arremessos mais precisos, por serem de curta e média distâncias, garantindo a todos a possibilidade de rebotes em sempre possíveis falhas, pela presença dos grandes pivôs dentro do garrafão.
No entanto, para o técnico hermano, tais novidades jamais o fizeram sensível a mudanças em seu modo de ver e sentir o grande jogo, mesmo tendo em mãos os tão sonhados pivôs, “uma das melhores tabelas do mundo”, mas que faliram pela solidão imposta a cada um deles, órfãos de um sistema que os unissem, tornando-os interdependentes pelo somatório de talento e força, e não réfens solitários, presas fáceis das coligadas defesas que enfrentaram…
Enfim, perdemos uma grande oportunidade de avançarmos no cenário internacional, fruto de uma equivocada formação de equipe, da convocação à escolha de um sistema de jogo realmente inédito e instigante, aquele que poderia, de certa forma, compensar a fragilidade nos fundamentos básicos do jogo, os quais poderiam, se quizesse a douta comissão técnica, corrigir em boa escala, como, por exemplo, os tenebrosos lances livres, e mesmo as famigeradas bolinhas, os dribles, as fintas, os passes, por que não, ou não sabem?…
Como já temos craques anunciando despedidas em 2016, que tal antecipar tais prerrogativas, dignas de capitanias hereditárias, promovendo novos valores, e mesmo alguns veteranos treináveis e confiáveis, situando-os num projeto evolutivo e realmente inédito, como o sugerido pelo Wlamir, mesmo sob a desconfiança interesseira do mini universo técnico e tático, encastelado no comando absoluto da modalidade no país, para o qual, mudar pode significar perda de prestígio e renda, conjugados ao velado domínio de agentes, muito mais ligados aos seus lucros, do que o desenvolvimento do grande jogo entre nós, para lançá-lo nos envolventes braços de uma insinuante e cada vez mais presente NBA no imaginário de nossos jovens…
Engraçado que, nos últimos 50 anos junto ao grande jogo, e 10 aqui nos artigos desse humilde blog, sempre propugnei e provei na teoria e na pratica as mudanças técnico táticas que agora, depois da derrocada, alguns se instituem como estandartes das mesmas, numa ação que espero seja habilitada, mesmo sob o prêço do impessoal esquecimento…
Amém.
Fotos – Reproduções da TV. Clique nas mesmas para ampliá-las e terem acesso às legendas.
Professor e amigos…
Após tudo o que estamos vivenciando , surge uma inquietante preocupação acerca de um futuro de sucesso “ logo ali” para o nosso basquete….que acredito infelizmente ser uma previsão muito otimista..
Vejo muita luta e debate..especialmente aqui neste blog, acerca do que deveria e deve ser feito para a melhora (técnica) dos nossos atletas e um reavivamento de dirigentes e treinadores …sinto verdade nesta real tentativa de mudar certos procedimentos.
Enquanto isso, observamos esta geração e principalmente as outras futuras do nosso basquetebol com resultados pouco significantes a nível internacional …a vida segue e temos competições importantes pela frente, inclusive uma Olímpiada em território nacional..
E acredito que tenhamos ainda 2 ou 3 gerações mal formadas a serem chamadas e que não irão conseguir representar com sucesso nosso país na busca por medalhas e as primeiras colocações no cenário mundial…dificil, mas esta é uma realidade que ainda poucos querem aceitar.
Mudanças são inevitáveis, e urgentes…deveriamos começar pelo incentivo ao nosso basquete de base, mini- mirim, sub12,13….se possivel ter todos estes “subs” unificados juntamente com o NBB..fazendo todo este pessoal jogar o máximo possivel, principalmente os pequenos…e acima de tudo, dando uma base fundamental correta para a gurizada.
Por enquanto, estar/permanecer entre as potências do basquete mundial é apenas sonho…. mas precisamos continuar na jornada assim como todos aqueles que discutem aqui neste espaço…a busca do ideal…e da concientização.
Enquanto isso..seguimos lutando,..e acreditando.
Parabens a todos.
Ola Professor Paulo,
Infelizmente estamos pagando um alto-custo para mais um aprendizado!
Nao podemos participar de uma competicao de alto-nivel sem fazer o dever de casa no Brasil. Campeonato Carioca com 3 clubes??? Basta!
O Brasil em nenhum jogo do mundial conseguiu manter um nivel de performance durante todos os 4 quartos de jogo!
O jogo contra a Servia foi uma catastrofe, ou seja, resumindo:
Defesa Fraca + Ataque confuso e previsivel + Falta de controle emocional = 28 pontos de diferenca.
Ate breve Professor,
Ola Professor Paulo,
PARA REFLEXAO! E muito mais facil ganhar uma competicao com CRAQUES,jogadores que colocam a bola na cesta em qualquer situacao. Porem cabe ao tecnico facilitar o trabalho desses jogadores com fluidez ofensiva e que este se encaixe as caracteristicas individuais desses jogadores.
O sistema defensivo deve ser aquele que anule as melhores opcoes de cesta do adversario – objetivando minimizar o tempo de posse e o aproveitamento por posse de bola!
No basquetebol moderno e de alto-nivel nao se pode jogar da mesma forma contra todos os adversarios tanto no ataque quanto na defesa!
A grande estrategia e tornar a equipe imprevisivel surpreendendo no ataque e forcando o adversario a ter que se ajustar e sair de sua area de conforto!
Isto foi o que a Franca fez no jogo com a Espanha!
Estamos pagando muito caro por aprendizados, Estamos tentando fazer o nosso dever de casa em 5 meses e durante as competicoes de alto-nivel! Trazendo tecnicos estrangeiros e jogadores que em sua maioria nao jogam no Brasil!
Porque sera?Em um passado nao muito distante, nossos clubes fabricavam craques! Estes jogavam no Brasil e eram dirigidos por brasileiros! O que aconteceu com o Basket no Brasil?
A razao e que nao temos estrutura de base. Falta formacao em todos os niveis e segmentos. Nossos clubes estao falidos. Campeonato carioca com apenas 3 equipes! Campeonato nacional onde os melhores jogadores trocam de clubes todos os anos e este acaba ganhando o campeonato!
Estava torcendo MUITO pelo Brasil no Mundial! Para nos militando no exterior o sucesso do Brasil e importante pois abre portas a novos empregos e desafios!
Ate a ultima copa do mundo, nos eramos o pais do futebol!
Hoje devido a esta falta de estrutura esportiva, etc. no Brasil, somos apenas o pais do Volleybal!
Por sinal nossas selecoes de volley Masc. e Fem. sao treinadas por brasileiros e estes sao FERAS!
Prezado João, suas colocações, muito além de pertinentes, reflete um cenário desolador para o grande jogo entre nós, e que aqui nessa humilde trincheira tem exaurido essa dolorosa temática ao máximo possível, sem, no entanto, vislumbrar qualquer aceno de que algo venha a ser mudado a médio prazo, pela mais absoluta falta de planejamento técnico, apesar da existência de verbas públicas em profusão. Trata-se, simplesmente, de evasão fraudulenta de divisas, de um baita e vergonhoso cabide de empregos, voltada ao corporativismo vigente e oportunista.
Honestamente, se esta mesa não for virada, nada florescerá de novo, absolutamente nada…
Um abraço. Paulo Murilo.
Walter, disse tudo, e muito mais, e não a toa que tenho em você um dos mais próximos colaboradores nessa, agora decana, trincheira, o que muito agradeço, de coração. Melhoras a vista para o grande jogo por aqui? Acredito que não, frente a um monolítico sistema de toma lá dá cá, implantado no âmago da modalidade, até que em um dia…
Sei lá Walter, creio que, se a saúde e a paciência ajudarem, ainda estaremos nessa inglória luta, porém boa de ser travada, por ser justa e patriótica.
Um abração, Paulo.
Torci muito pelo Brasil, aplaudi na vitória e também na derrota.
São jogadores que merecem aplausos, como todos os nossos solitários esportistas.
É impressionante como estes jogadores não formaram nenhuma seleção da base do Brasil! Não jogaram nenhuma competição de base ( juvenil, júnior e outras).
Não temos base. Temos que aplaudir nossos solitários jogadores.
Professor, parabéns pelos 10 anos do blog!!!!
Nestes 10 anos quais jogadores de equipes de base estão na atual seleção brasileira? Acho que só o Raul.
A Servia em seis anos renovou duas vezes a sua equipe.
Abraço
Joaquim
Prezado Joaquim, muito me honra a sua participativa audiência, algumas vezes indignada como eu, pelos tortuosos caminhos em que muito se perdeu o nosso amado basquetebol, mas ainda pleno de esperanças de que melhore, se soerga, a fim de retornar ao seu merecido lugar. Muito obrigado pelos votos, dos quais me sinto grato. Um abração, Paulo Murilo.