O NEGÓCIO É “PUXAR FERRO”…

O que é preferível em uma equipe de basquetebol, treinar duramente os fundamentos do jogo, em circuitos desafiadores, individualizados ou coletivos, como um excelente instrumento prático para adquirir habilidades, fôlego e firmeza muscular, ou alocar os jogadores em meio a uma parafernália tecnológica (?) forçando articulações e músculos de fibras rápidas, na busca apolínea, mais para o estético, do que o eminentemente técnico, onde o instrumento de trabalho, a sutil, volúvel e errônea bola sequer aparece, mesmo como enfeite?…

Porque não preparar jogadores em constante contato com a bola, driblando, passando, fintando, revertendo, recuando, lateralizando, arremessando, reboteando, e até mesmo, agindo sem a posse da mesma, defendendo, fintando, desmarcando, bloqueando, e acima de tudo, pensando cada ação, longitudinal ou sagitalmente, antecipando, projetando, cobrindo espaços e gestos, formulando jogadas em improvisos conscientes, inteligentemente, somando seus intensos esforços colaborativos aos demais companheiros, fórmula maior para a consecução do coletivismo fluido e autêntico ?…

Por que não ir fundo no estudo personalizado dos arremessos, arte para poucos nos de longas distâncias, exigindo sólidos conhecimentos de direcionalidade quase balística, e não simples e cansativamente desgastar-se em mil ou duas  mil tentativas por semana, com a discutível certeza de que somente dessa forma atingirá a excelência? Não, como toda arte que exige habilidades físicas e mentais, o saber como fazer supera em larga margem ao simples fazer quantitativo, acumulando muitas vezes erros crassos e incorrigíveis após repetições descerebradas. Nos fundamentos, no arremesso em particular, cada tentativa tem e deve ser pensada, analisada, corrigida e aprimorada, claro, por professores que saibam, rigorosamente o que estão ensinando, corrigindo, aprimorando, a luz das capacitações individuais de seus alunos, atletas, jogadores…

O que ontem era dominante, o preparo fundamental, hoje é suplementar, ou nada, substituído matreiramente pelo fisiologismo galopante, pelas ferragens deslizantes, contra pesos, esteiras que sobem ou descem, cargas cada vez mais fortes, mesmo aquelas voltadas a explosão muscular, até que começam a explodir articulações e cartilagens, pois o importante passou a ser aqueles que chegam a frente, velozes, saltadores, trombadores, brigadores, ao preço que terão de pagar, mesmo que mal saibam driblar com eficiência (e não trapaceando a regra nas cada vez mais redundantes “conduções de bola” que grassam entre os jogadores, armadores em especial, coniventes com arbitragens condescendentes), passar no tempo correto, olhar e saber interpretar o jogo, pensando e não só correndo, indo além das pernas, saltando e contestando fora do tempo e de ritmo, com membros inferiores travados lateralmente pelo atrofiamento muscular imposto pelas incidentes e cumulativas cargas, tornando todos seus segmentos tensionados qual cordas de um violino afinadas ao seu extremo, no limiar da ruptura, que é o que vemos aumentar a cada temporada que passa…

Tal preparo, formulando atletas poderosos ganha adeptos velozmente, na proporção direta em que se magoam, muitas vezes exigindo graves cirurgias, concomitante ao descaso ascendente no preparo técnico individual e coletivo, chave mestra para a prática do grande jogo, sem o qual, super atleta nenhum vencerá outro conveniente e seriamente preparado no conhecimento de sua ferramenta mestra de trabalho, os fundamentos e a bola de jogo, cujo comportamento é desconhecido pela maioria…

Então Paulo, você é contra e se insurge contra a “musculação”, a “academia”? Não, absolutamente não. Sou contra seu protagonismo modal, prioritário, inclusive nos vultosos valores para obter seus equipamentos de “última geração”, administrados por preparadores físicos que encasquetaram em suas cabeças serem aqueles que definirão aos professores e técnicos quais jogadores podem correr mais, saltar mais alto, trombar com mais eficiência, percorrer maiores distâncias, e pelo visto antever nos mais jovens aqueles que poderão mais adiante jogar o grande jogo com eficiência física e orgânica, restando uma singela questão – saberão eles jogar de verdade o grande jogo, saberão?

Escrevi esse artigo inspirado pela visão das fotos aqui publicadas, de jogadores de nossa seleção nacional, com 7 dias para treinar, ou 14 treinos, dedicar a metade deles “puxando ferro”, quando deveriam estar na quadra, driblando, passando, marcando, etc, etc, etc. claro, se os poderosos preparadores abrirem uma brecha em suas transcendentais pesquisas…

Em equipes minhas eles eram  importantes como complementos para dirimir alguma carência física, jamais para tutelar o quem é quem técnico e tático, função assumida por um head coach de verdade, o que sempre fui…

Amém.

Fotos – Reproduções da divulgação CBB e arquivo próprio. Clique duplamente nas mesmas para ampliá-las.



4 comentários

  1. Gil Guadron 12.12.2018

    Paulo…..Excelente comentario….nada substituye a la — ejecucion correcta de los fundamentos —

  2. Basquete Brasil 12.12.2018

    Ola Gil, que bela surpresa estar você de volta aos comentários desse humilde blog, que teimosamente se mantem na luta pela preservação do grande jogo como deve ser ensinado, treinado e jogado de verdade. Neste 2019 farei 80 anos, e tentarei reunir aqui em casa os amigos verdadeiros que tenho, não muitos, mas os tenho, e você e Luiza são meus convidados especiais, claro, se puderem aqui estar, para no dia 14 de novembro comemorar os únicos 80 anos que farei em vida. Vai ser uma grande festa. Um abração Gil. Paulo Murilo.

  3. Carlos Vicente Andreoli 21.03.2019

    Que reportagem ridícula , sem pé nem cabeça
    Os treinos são abertos e todas as etapas podem ser discutidos. Venha aqui , reportagem de orelhada é fácil.

  4. Basquete Brasil 21.03.2019

    Não se discutem etapas planejadas de treinamento e preparação de seleções nacionais, aplica-se, sendo comentadas, de orelhada, ou não, em reportagens de jornalistas especializados, ou não. Acontece que se trata de um artigo técnico, em um blog eminentemente técnico, elaborado por um técnico e professor de basquetebol, doutor em ciências do esporte, e devidamente assinado, e que pode ser lido, ou não. O ridículo e o sem pé nem cabeça ficam por sua conta, em respeito ao seu agressivo e despropositado questionamento.

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