A OMISSÃO FUNCIONAL (FROM VARSÓVIA)…

Dia de sol e calor em Varsóvia


Não pude assistir o quarto jogo da série por estar viajando de Dublin para Varsóvia, com traslados complicados nesta trepidante Europa pós pandemia, com aeroportos cheios de ansiosos viajantes, carentes de ferias, sol e reencontros…

Mesmo assim, examinando as estatísticas finais daquele jogo, constatamos a realidade de uma mesmice para lá de endêmica, que cansativa e repetidamente venho expondo em muitos e muitos artigos publicados neste humilde blog…

Começando com a acentuada discrepância nos arremessos de 2 e 3 pontos das equipes em confronto, com o São Paulo lançando 19/38 bolas de 2 pontos e 11/31 de 3, contra 10/24 e 13/33 respectivamente de Franca, numa clara prevalência são-paulina no perímetro interno, e equilíbrio no externo, pegando mais rebotes, e errando fundamentos no mesmo patamar que Franca (11/10)…

Eis os números:

                            Franca.   81.  X.    86    São Paulo

          (42.0%)  10/24.                2.          19/38 (50.0%)

          (36.0%). 13/33.                3.          11/31.(35.0%)

          (81.0%). 25/31.                LL.        15/17 (88.0%)

                      36.                       R.                    44

                      10.                       E.                    11

Em suma, São Paulo priorizou o jogo interno com o apoio de seus pivôs, e erroneamente duelou com Franca nos longos arremessos, vencendo a partida por sua maior eficiência nas bolas curtas mais precisas…

Prioridade das prioridades, as bolinhas…

E veio o jogo final, ao qual pude assistir desde Varsóvia com meu filho João David conectando seu poderoso laptop numa televisão 32 polegadas do apartamento alugado, dando-me a oportunidade de assisti-lo integralmente. E o que vi? Um primeiro quarto tétrico de arrepiar, findo o qual 2/19 bolas de três foram indiscriminadamente disparadas com um acerto por equipe, como um pré jogo peladeiro indigno de uma final nacional. Melhoraram tecnicamente no segundo quarto, com os são-paulinos abdicando do jogo interior e Franca o forçando, numa correta leitura de jogo aproveitando o retraimento de seu adversário. No intervalo, o jogador Betinho do São Paulo afiançou da necessidade do Ansaloni (que foi de enorme eficiência nos jogos anteriores e só havia atuado ;pouquíssimos minutos nesta final) deveria voltar, pois a equipe teria de acionar os pivôs se quisesse vencer a competição…

Acionamento falho do pivô ante o imobilismo dos demais atacantes…

Foi a mais justa e equilibrada opinião de quem estava lá dentro da arena de jogo, e que não encontrava e não encontrou respostas de quem estava do lado de fora, confirmando com sobras que não basta juntar estrelas e nominados para vencer competições sérias e equilibradas, sem comando qualificado, experiente, e profundamente preparado na condução de equipes, da base ao adulto, sem saltar aquelas etapas necessárias a plena formação de um professor e técnico na acepção do termo, fatores que infelizmente em nosso imenso, desigual e injusto país é simplesmente equalizado através QI’s hereditários e políticos…

Franca foi bem mais presente e eficiente no perímetro interno, vencendo o jogo, apesar das 8/32 bolas de três.

Do outro lado, Franca foi forte e eficiente dentro do perímetro, assim como nas decorrentes penetrações, provocando mais lances livres que seu batido adversário, e ganhando 13.rebotes a mais (46/33), somando pontos e placar elástico, vencendo o campeonato com justiça..

Merecida vitória de quem soube ler com mais clarividência o sentido do jogo.

Justiça esta que clama por respostas a importantes e estratégicas questões, tais como:   – Quando assistimos a maioria dos jogos serem vencidos e muitas vezes perdidos por jogadores estrangeiros, principalmente atuando em dupla armação, que de forma alguma seguem o catecismo emanados das “pranchetas que falam”, tomando para si o controle dos jogos, nitidamente contradizendo e contrafazendo situações pseudo táticas que foram “exaustivamente” preparadas e treinadas (assim discorrem os comentaristas de ocasião), num determinismo que expõe a extrema pobreza de comissões técnicas conceitualmente fracas, pois seguem caninamente um pseudo sistema de jogo que prioriza o jogo aberto e a artilharia de fora, apelidado de “basquete internacional”, o famigerado sistema único, arsenal raquítico e limitado, que tanto inferniza o grande jogo, e que coloca nas mãos da estrangeirada a condução impune, sacramentada e cúmplice de nossos estrategistas mais torcedores do que técnicos, bailando, se contorcendo, coagindo arbitragens ao lado das quadras, rabiscando pranchetas com algo que nenhum deles leva muito a serio. Fica a questão de quando teremos nosso basquetebol de volta, com jogadores nacionais liderando em quadra, quando? Que tal reduzir para dois os estrangeiros? O grande jogo agradeceria, principalmente a Seleção.

O jogo aberto, até quando meus deuses?

Outra questão, esta tão seria como a exposta acima, nossa preparação de base, acionada técnica e taticamente por professores e técnicos melhor formados para atuarem nas escolas (para tanto tem de ser licenciados em Educação Física e não `’provisionados” por Crefs e congêneres), clubes e associações espalhadas por este imenso país, e não por escolas e institutos liderados a décadas por um mesmo grupo, .profundamente interessado na manutenção do status quo vigente, garantidor de um mercado fechado, hoje claramente direcionado aos interesses da NBA na formação de técnicos e jogadores seguidores de sua forma de atuar técnica e comercialmente num país de 208 milhões de habitantes, líder inconteste na América Latina…

Influência, poder, domínio…

Podemos e devemos sim, mudar para melhor os currículos dos cursos superiores de educação física, maximizando os créditos das disciplinas desportivas, minimizados com o desmesurado aumento das de cunho paramédico, assunto que tem sido largamente analisado e discutido neste humilde blog, como ação prioritária na correta formação de professores e técnicos desportivos, e não paramédicos de terceira categoria a serviço de uma politica de culto ao corpo bilionária, a quem não interessa educação física, desportos, artes, nas escolas (vide a tão proclamada reforma do ensino que criminosamente torna opcionais estas básicas e fundamentais atividades educacionais, que são um direito constitucional dos jovens brasileiros), e nos clubes comunitários também…

Uma questão específica do grande jogo também deveria ser prontamente discutida, pontual e honestamente, a mudança, senão radical, a mais ampla possível em nossa medieval forma de preparação das categorias de base, assim como nas adultas, seleções em particular, para servirem de espelho às mais jovens, hoje cativas das finalizações de longa distância, jogo aberto individualizado, defesas zonais e influências exógenas, perdendo em galopante velocidade o interesse pelos fundamentos básicos, exaustivos, porém essenciais em sua sólida formação como praticantes do grande, grandíssimo jogo, hoje tão depreciado em sua exata dimensão, numa terrível omissão funcional que o tem descaracterizado como um exemplar desporto coletivo, sendo transformado em individual por todos aqueles que o odeiam, por não compreendê-lo, e consequemente amá-lo…

Que os deuses nos ajudem

Amém.

Fotos – Reproduções da TV e O Globo. Clique duplamente nas mesmas para para ampliá-lãs.



1 comentário

  1. […] conta desta falência formativa, que venho abordando a longo tempo, sendo matéria do último artigo publicado neste humilde blog, onde a questão defensiva é lembrada com precisão,e também […]

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