MOMENTOS (FROM BERLIN)…

Paulo,quase quatro meses sem nada publicado? Como é possível? Jogou a toalha definitivamente? Sou arguido por um dos poucos leitores deste humilde e insistente blog, aquele exigente e intransigente amigo de longa data de convivência no grande jogo, implacável quando discordante de alguns posicionamentos aqui postados, mas sempre respeitoso e ético em suas precisas contra argumentações a alguns deles…

Não caro amigo, não desisti, só estou muito cansado de bradar no  deserto de idéias (se é que existem), na mesmice endêmica instalada no cerne de um basquetebol repleto de talentosos jovens, e falsas e incompetentes lideranças a orientá-los, por culpa de uma corrosiva influência exógena que absolutamente não nos diz respeito. Mas a adotamos, minimizando um passado de glórias e conquistas, dura e arduamente conquistadas, mas que aos poucos vai se consumindo no valão da mediocridade e ignorância do que o grande jogo representou para esse imenso, mal tratado e injusto país…

Hoje, praticamos o propalado e deificado “basquete internacional”, super espaçado, onde o 1 x 1 reina absoluto, assim como o tsunami dos arremessos de três dita a regra cegamente seguida. Sob a égide de um sistema (?) de jogo padronizado, que em nosso país tem sido implantado desde as divisões de base, ação esta que é refletida ipsi literis nas seleções municipais, estaduais e nacionais, pasteurizando uma forma absolutamente primária e previsível de se comportar em quadra, facilitando os sistemas defensivos de nossos oponentes, pela previsibilidade e precariedade coletiva, e inferioridade na prática dos fundamentos básicos do jogo…

Somos contemplados com muitos talentos, precarizados pelos reticentes e claudicantes fundamentos, fruto de uma orientação mais voltada ao sistema adotado, do que a intensiva prática daqueles, alma mater do grande jogo, ferramenta raiz de todo praticante, do início ao término de sua vida esportiva e competitiva, sem a qual nenhum sistema, por mais primário que seja, se torna plausível, compreendido, consciente e criativamente praticado…

Logo, o grande e prolongado hiato que inferioriza nossa forma de atuar, se localiza no ensino correto e intenso dos fundamentos, ação técnica e básica, alicerce na formação do tão sonhado coletivismo, perdido no vasto deserto de conhecimento autêntico do que venha a ser uma verdadeira equipe de alta competição, e não uma desenfreada orgia de personalismos e exibicionismos inconsequentes e em muitos casos, irresponsáveis…

O blog já publicou 1701 artigos, a maioria de cunho técnico e formativo, insistente e repetidamente didático, e por que não, pedagógico, mostrando caminhos, formas e roteiros que poderiam ser trilhados após serem discutidos e debatidos democraticamente, em reuniões, conselhos de técnicos, cursos sérios de formação, e não provisionamentos com duração de 4-5 dias. Tenho travado essa luta por mais de 50 anos, como professor e técnico, e nos últimos 20 anos, como editor e redator deste humilde blog…

Por tudo isso me sinto cansado, muito cansado, mas não a ponto de desistir, jogar a toalha, me calar, me indignar.

Inesquecível noite quando visitei o belo trabalho do Fabio no CEU Aricanduva em São Paulo, quando a pedido dele proferi uma pequen palestra para seus alunos.

Sigo e seguirei na medida do possível, lamentando perdas factuais, e algumas pessoais, como a recente e dolorosa partida do Fábio Aguglia, jovem professor e técnico formador dos melhores de São Paulo, perdido num lamentável acidente automobilístico, duas semanas atrás. Foi um dos mais assíduos colaboradores e amigo deste blog, atuante e lúcido, inteligente e incisivo em seus comentários, e que conheci pessoalmente quando do jogo da equipe que eu dirigia no NBB2, o Saldanha da Gama, jogando em São Paulo contra o Paulistano, Dali para diante, nossa comunicação se estendeu por 15 anos de discussões e análises sobre o basquetebol que tanto amamos e servimos diligentemente. Planejamos alguns projetos de estudos em formação de jogadores, assim como um podcast que abordaria formação e aperfeiçoamento de jovens praticantes, assim como jogadores da elite. Não foi possível, o Fábio se foi, mas a idéia se mantém e se manterá na medida em que eu a possa levar a frente, se os deuses assim o permitir…

Mas, caro amigo inquisidor, como ser e manter-se analista de basquetebol ao pinçarmos de um jogo do atual e corrente LNB um dado estarrecedor de 46 erros de fundamentos (Pato x Caxias), dentre jogos que apresentam dados semelhantes ou maiores (coletem, por favor), com médias de mais de 30 por jogo realizado (insisto que pesquisem), numa demonstração tácita de falência na correta execução dos mesmos, prova clara do quanto e do porque falhamos na consecução de jogadas e sistemas em seus momentos mais críticos, ou mesmo na hesitação ou negação de realizá-los, por inabilidade, ou insegurança prática…

Sinto-me cansado de sugerir a adoção de sistemas de jogo diferenciados, dinâmicos, criativos, a acima de tudo proprietários, aqueles que ressignificam uma equipe, uma forma de atuar particular e intuitiva, geradora de dúvidas e surpresas aos oponentes, e não um prêt à porter genérico e endêmico, marca registrada do que vem sendo aplicado desde sempre em nosso desditoso país, vítima e refém de um processo de colonização técnico tática advinda de uma matriz, cujo poder econômico  e formação colegial e universitária de jogadores e talentos inigualável, nos submete a uma realidade no momento inalcançável e utópica…

Olhando sempre em frente, com fé e esperança.

Por tudo isso, sempre propugnei trilharmos outros caminhos, outras ações e atitudes, dentro de uma realidade factível, onde a administração de nossa pobreza em recursos, deveria ser desenvolvida com doses maciças de criatividade e improvisações conscientes e audaciosas. Bem sei que não é trabalho para qualquer um, e sim para professores e técnicos que dominem com clareza e convicção os sutis e determinantes caminhos para ensinar, estudar, pesquisar e preparar equipes neste especial cenário em que se encontra o grande, grandíssimo jogo nesse imenso, colossal, desigual e injusto país.

Amém. 

Fotos – Arquivo pessoal. Clique duplamente nas mesmas para ampliá-las.



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