YES,TAMBÉM TEMOS UM AMERICANO…
Assisti hoje pela ESPN Brasil um bom jogo de basquetebol, entre a equipe do Minas Tênis e a do Penarol de Sunshalles, válido pela Liga das Américas, realizado naquela cidade argentina. E quando digo que foi um bom jogo, me reporto ao fato de que ambas as equipes atuaram rigorosamente dentro do padrão portenho de jogar, ou seja, desenvolvendo o jogo cadenciado e coletivista. Das equipes brasileiras atuais, a do Minas é a que mais se aproxima dessa forma de atuar, já que a de Franca retoma em grande estilo a nossa forma de jogar em velocidade controlada e técnica, sob o comando de dois armadores de qualidade, estilo esquecido de muito pelas demais equipes nacionais.
A equipe mineira também atua com dois armadores, e promove uma movimentação permanente de seus homens altos dentro do perímetro, abrindo espaços e se colocando bem para os arremessos e os rebotes próximos à cesta ofensiva. É uma equipe que vem privilegiando o treinamento prolongado e paciente, dotando seus jogadores de um bom arsenal de situações de ataque e boa defesa.
No entanto, ainda peca ao adotar um vício colonizado, que se espraiou pela maioria das equipes nacionais, de contar com jogadores americanos, como se a ausência dos mesmos descaracterizasse o conceito de equipe. E o pior, contratando jogadores de 14ª e até mais opções no quadro de preferências dos mesmos para atuarem pelas ligas internacionais. Os jogadores americanos que aportam em nosso país, com uma ou duas exceções, não são melhores que os nossos jogadores, sempre minimizados quando os pagamentos são em dólares. Esse jogador americano contratado pelo Minas é terrivelmente fraco, e incrível, no fator que sempre dominaram, os fundamentos. Não fosse ele, e a equipe do Minas teria vencido por boa margem, pois seus erros ofensivos e até defensivos quase pôs a perder o esforço maior de seus companheiros, latinos. Por muito menos, e logo ali do lado, bons jogadores argentinos e uruguaios, e muitos brasileiros esquecidos, poderiam ser contratados com evidentes vantagens, não só econômicas, como técnicas, além da maior comunicabilidade na apreciação e entendimento das orientações dos técnicos.
Mas esses mesmos técnicos parecem hipnotizados pela presença de americanos, pela oportunidade de transmitir instruções bilíngües, e que nem de longe se tocam do ridículo que as mesmas representam quando enunciadas num “ingrês” caipira e risível, e o pior, escalando os ditos craques no aeroporto, às vezes sem um único treino. E como vêm de um basquetebol oposto ao que praticamos, de saída já dicotomizam o sistema de jogo pretendido por algumas de nossas equipes, criando no seio das mesmas impasses difíceis e até impossíveis de correção. Já não é novidade assistirmos os historicamente disciplinados e obedientes jogadores ianques, discutirem e até contestarem técnicos brasileiros, em inglês, portunhol ou checheno, provando o quanto de precária liderança ainda subsiste no comando de nossas equipes.
Mesmo na equipe argentina a insurgência já se faz notar, quando o bom jogador Battle, que ostenta o salário de 30 mil dólares, quando a média salarial dos argentinos não ultrapassa os 5 mil dólares, foi acintosamente contestado por um companheiro seu de equipe, exigindo do mesmo mais empenho e dedicação, E isso na presença de seu grande público e ao vivo e á cores pela TV. Precisamos rever esse conceito de qualidade, pretensa qualidade diria melhor, pois mesmo um jogador de 30 mil dólares, é infinitamente ultrapassado pelos altos salários pagos nas 13 ligas que antecedem à sua opção sul-americana, e no país que ostenta o atual título olímpico, numa realidade oposta a de nossas equipes, por mais tradicionais que sejam. Ter na equipe um americano como prova de prestígio e alta qualidade é um engodo que somente beneficia uma pequena, porém rentável indústria de empresários, na contra-mão de nossas verdadeiras e urgentes necessidades.
Vamos aguardar a evolução dessas duas equipes, Minas e Franca, torcendo para que criem em torno de si uma aceitação técnico-tática fundamentada na dupla armação e na utilização de três homens atuando permanentemente dentro do perímetro, e que nos impressione positivamente ao testemunharmos com alegria a ação altamente positiva da marcação permanente do pivô pela frente exercida pela equipe mineira, motivo maior da anulação parcial, porém decisiva, do pivô Batlle, aquele dos 30 mil dólares, exercida pelo Maozão, que talvez não receba 1/10 avos daquela quantia, mas que provou não ser o físico avantajado o item mais decisivo à uma boa e eficiente marcação. É por aí minha gente, é por aí que renasceremos para o grande jogo.
Amém.