DE DELFIN E CARDEAIS…
A convocação saiu, a segunda, pois outra já havia vindo a público, visando o Sul Americano, com jogadores que, segundo o Magnano, poderão ser pinçados para a equipe que vai à Londres, num luxo sequer comparado às grandes nações líderes na modalidade, onde duas seleções máster soam inverossímeis.
Mas algo por trás dessa pródiga safra de talentos, justificando as duas seleções convocadas, deveria ser interpretado, não fosse o técnico hermano, além de excelente na quadra, sagaz, e muito, fora dela, senão vejamos:
– Desde o Pré-Olímpico de Porto Rico, que o relacionamento do delfin com os cardeais não era dos melhores, extensivo ao Marcos também, e mais recentemente com o Leandro e seu pulso malandro, fatos estes mencionados pela mídia e de completo conhecimento do técnico argentino, e mesmo pelo seu antecessor espanhol.
– Em Mar del Plata, a seleção houve-se relativamente bem sob o comando (ainda meio claudicante com relação aos cardeais, mas sem o delfin…) do argentino, classificando-a para Londres, depois de 16 anos de abstinência olímpica, e exatamente nesse ponto que uma grande dúvida começou a assombrar o inteligente técnico, pois estaria mais do que claro que, frente aos problemas que o delfin começou a enfrentar na NBA, entre outros, com uma indesejável troca de equipes, e conseqüente desprestigio técnico na rica e poderosa liga, e sabedor da grande vitrine constituída pela mega promovida Olimpíada, marketing que nem as grandes estrelas americanas esnobam, viu na seleção a oportunidade real de valorização e exposição profissional na mais emblemática competição do planeta.
– Então, como convocá-lo depois de tantas idas e vindas, profissionais, políticas ou mesmo pessoais, não ferindo suscetibilidades daqueles que deram a “cara a tapa” em Mar del Plata, e liderados pelos cardeais? Difícil, muito difícil, ainda mais para um estrangeiro que em sua terra natal jamais passou por semelhantes problemas, haja vista a verdadeira irmandade constituída pela formidável geração campeã olímpica e vice mundial, da qual foi o técnico, e que agora se despedirá em Londres, sempre unida.
– Mas, sagaz como ele só, convocou um jogador daquela saga pré olímpica, onde teve brilhante participação, além de relacionar outros mais na seleção para o Sul Americano, que poderão, inclusive, recompor a equipe para Londres, já sabedor que somente por um milagre da medicina, o Rafael Hettsheimeir poderia ser aproveitado, originando dessa forma a brecha para o delfin se encaixar sem maiores contestações, já que bem superior na posição que o indigitado Rafael, e mais, garantindo um Leandro, inquestionavelmente superior tecnicamente que um dos jovens presentes em Mar del Plata, o Luz e o Raul.
– Claro, que um discurso mencionando que os mesmos terão de brigar por uma vaga na equipe, cai no vazio, pois na ausência de um surpreendente Rafael, ninguém mais contestaria a posição de um delfin profundamente interessado na rentável vitrine olímpica. Logo, o caminho para definir a equipe para Londres estaria pavimentado para um técnico que, face ao sucesso, não só profissional, mas político também, viu seu belo contrato estendido até 2016, numa façanha difícil até para um Coach K.
O engraçado nessa indesejável novela, é que os outros dois jogadores da grande Liga, o Varejão e o Spliter, nunca encontraram, pelos seus coerentes posicionamentos frente às convocações, quaisquer oposições cardinalícias, constituindo-se um caso à parte no relacionamento inter pares no âmago da seleção.
Concluindo, daqui para frente, o Magnano terá que se ater a um problema a mais, além do técnico tático, o de liderança, pois cisões existiram, estarão latentes ou não, mas existiram, e num ambiente de alta competição, tais óbices podem corroer um bom trabalho, podem salientar que entre delfin e cardeais, nem só promessas de união resolvem, e sim certezas.
Finalmente, num artigo maravilhoso do Marcel, Adeus às armas, em seu site Databasket, muito do que aqui prevejo, é objetiva e magistralmente descrito pelo grande desportista em seus parágrafos finais, ao qual deposito o meu respeito incondicional, a quem muito deve o basquete nacional, o”bom basquete” para ele, o “grande jogo” para mim, ambas as definições que merecem um tratamento melhor por parte de todo aquele que o ama, o respeita, e que deseja o melhor para ele, pois tanto o Marcel, como eu, professamos diferentes formas de jogar, frontalmente em oposição à mesmice em que nos encontramos, desejando ao Magnano que mude tal situação, talvez a única forma de nos fazermos realmente presentes e competitivos em Londres, lançando uma providencial base para o futuro, para 2016, num esforço conjunto que é vedado, mesmo que minimamente a nos dois, por propugnarmos diferentes formas de jogar, por sermos, realmente diferentes no pensar, agir e divulgar o “bom basquete”, o “grande jogo”, como bem lembrou o jornalista Giancarlo Gianpietro com o artigo O preço de ser diferente em seu blog VinteUm no dia de hoje.
Marcel, brindo a diferença.
Que viva a democrática e plural diferença!
Amém.