A 120 KM/H…

“Quero ver o time a 120 km/h”- Foi essa a instrução do técnico do Flamengo ao início do jogo, e que justiça seja feita, foi obedecida integralmente, pois daí para diante pudemos testemunhar uma das maiores correrias vistas em uma quadra de jogo, e o mais emblemático, seguida pela equipe do Paulistano, como se tivessem combinado a ação previamente. E mais emblemático ainda foi a constatação de que o jogo preliminar, entre Bauru e Brasília tenha se pautado da mesma forma. Em síntese, as quatro finalistas da LDO propuseram na prática mais uma competição de corrida em velocidade, do que um jogo pensado e desenvolvido com técnica apurada nos fundamentos, e na qualidade dos sistemas propostos. Aliás, o sistema proposto, o único que conhecem e praticam, onde pivôs continuam jogando no perímetro externo, bloqueando, armando (foto) ou arremessando à cesta, de três pontos; armadores se situando fora do foco das ações em sua corridas por trás das defesas; uma infinidade de passes contornando as defesas, originando penetrações forçadas pelo esgotamento dos 24seg , com arremessos desequilibrados, e muitas vezes fora do aro da cesta.

Ao lembrar o grande Wlamir Marques, que sempre afirma ser a extrema velocidade inibidora do raciocínio, do pensar o jogo, e que os jovens deveriam correr menos e pensar mais, podemos aquilatar o quanto de desperdício de talentos está ocorrendo com essa frenética forma de jogar.

Perdas e perdas de bola acarretadas por dribles desconexos, fintas equivocadas, passes fora do tempo, arremessos despropositados, posicionamentos defensivos errados dentro do perímetro e inexistentes fora dele, num incentivo explícito aos arremessos de três; movimentação nula sem a bola é agravada pelo desenfreado ritmo imposto por um modelo anacrônico, formatado e padronizado do sistema único de jogo.

Equipes com dois, e até três jogadores com mais de 2,05m não sabendo jogar com os mesmos, mantendo-os, a exemplo da divisão adulta, como buscadores das bolas perdidas dos longos arremessos de seus companheiros, desconhecendo os giros de 180 graus ao conquistarem os rebotes, forçados e orientados a bloqueios muito distantes do perímetro interno, sua destinação de direito, enfim, atuando como coadjuvantes eternos em suas equipes. Mas quando recebem um passe ao lado do garrafão, e iniciam os dribles de costas para a cesta, todo o restante da equipe, como que paralisada pela tentativa de seu pivô, não se move da inércia catatônica  de que fica possuída, caracterizando seu desconhecimento do que venha a ser jogar sem a bola, principalmente quando a mesma se situa bem dentro da zona restritiva.

No entanto, bons valores justificam a regra geral com suas habilidades de exceção, principalmente aqueles que já atuam na categoria adulta, como o Gui, o Gegê, o Fred, o André, o Ronald, e outros com poucas oportunidades na mesma, mas que pouco se desenvolverão se não forem profundamente exigidos no preparo e pratica constante dos fundamentos, e que tenham a oportunidade de se situarem técnica e taticamente em sistemas outros de jogo, além do coercitivo e inibidor sistema único, onde os grandes beneficiários desde sempre, os técnicos, hesitarão muito em abandonar suas privilegiadas posições de estrategistas, que os situam pratica e pretensamente, como os donos do jogo, como bem comprovam suas pranchetas, pródigas e prolixas na elaboração de jogadas infalíveis, mas sempre e completamente omissas quanto ao posicionamento defensivo, mesmo primário, de seus oponentes face ao que projetam e planejam.

Nosso basquete de base se encontra absolutamente órfão de criatividade, de espontaneidade, de domínio dos fundamentos, de conhecimentos técnico táticos outros que não o onipresente sistema único, e que agora, como grande conquista, se encontra sob o jugo da velocidade inconseqüente, impensada e estéril, aquela situada a 120 km/h.

Frear para pensar com mais lógica e raciocínio, seria uma boa solução, um bom começo para acelerar o processo de amadurecimento técnico e tático desses jovens. Eles já fazem por merecer um melhor preparo, visando um futuro mais promissor.

Amém.

Fotos- Reprodução da TV. Clique nas mesmas para ampliá-las.

UM EMAIL ESCLARECEDOR…

Assunto Professor Paulo
Remetente Henrique Lima
Para Paulo Murilo
Data Ter 09:09

 

 

Professor Paulo Murilo, como está?

 

Primeiramente, um feliz natal e feliz 2012, de muita paz, saúde, basquetebol e textos. E da minha parte, obrigado por tantos ensinamentos, ainda que à distância,

mas com a proximidade que a internet pode nos proporcionar. Embora alguns reclamem da modernidade, acredito que é melhor poder ler seus textos pela internet,

essa ferramenta excepcional, do que nunca ter tido a oportunidade de lê-los, caso isso não existisse !

 

 

Agora, o senhor viu Chris Paul e Chauncey Billups juntos na armação do Los Angeles Clippers? Dois armadores fantásticos, da melhor qualidade, jogando juntos.

No garrafão, dois laterais, o fabuloso Blake Griffin e o excelente Caron Butler, apenas um pivô, embora cru nos fundamentos (o que é uma pena), mas com

muita velocidade, agilidade e qualidade no saltos e tempo de bola para tocos, além de pegar alguns rebotes, De Andre Jordan. Mo Williams, outro veterano armador, é o

sexto homem. O Clippers montou um belo e organizado time. Caso o senhor não tenha visto, lhe recomendo.

 

O Dallas jogando com Kidd e Barea, parece que não passou despercebido por aquelas bandas, já por aqui, poucos esforços, talvez por isso eu tenha gostado de Minas

e Limeira, é algo fora do nosso padrão e que o senhor batalha tanto para ser pensando, refletido e praticado.

 

Um forte abraço,

 

Henrique Lima

 

Ao receber esse email de um leitor de longa data, com o qual travei (e ainda travo) excelentes debates, me vi perante um impasse do tipo – “Que bom que ele existe”- pois nos obriga a optar por um de dois caminhos, ou se desiste de batalhar por um ideal, ou segue-se na luta, mesmo que dificilmente (não impossível…) o alcancemos. E que ideal é esse, caro Paulo? O de ver, testemunhar uma efetiva e séria mudança no nosso modo de jogar, sentir, ver e ler o jogo de outra forma, que não a mesmice endêmica a que nos atrelamos subservilmente  nas últimas duas décadas. E esse email nos obriga a lembrar que a luta mal começou, e que muito ainda há por vir, principalmente quanto à dupla armação (dupla mesmo, e não um reparo substituindo um dos alas por um armador dentro do sistema único…), e um jogo mais dinâmico e veloz dentro do perímetro, com dois e até três pivôs móveis (ou alas-pivôs se preferirem), modificando a essência do jogo, numa guinada radical e ousada no mundo formatado e padronizado do basquetebol.

Essa guinada se torna necessária, na medida em que celeremente o sistema único se aproxima da exaustão, pelo quase absoluto controle do jogo por parte dos técnicos, com suas coreografias repetitivas, e suas pranchetas absurdamente impostas como um dogma sagrado. A criatividade, o livre pensar e ler o jogo por parte dos jogadores tem de ser resgatado dessas coercitivas amarras, a fim de que seja recriado o maior dos tesouros deste grande jogo, o amor incondicional em jogá-lo, desde a formação até as divisões adultas.

Mas como fazê-lo Paulo, pois simplesmente copiar o que vai dando certo não garante o sucesso de uma equipe, já que determinantes e decisivas transformações exigem toda uma didática de ensino, profundamente alicerçada em estudo, pesquisa e trabalho árduo, ações essas que não encontram muitos adeptos entre os estrategistas de plantão.

Isso me recorda o testemunho de um veterano técnico que  disse  algo referente a minha obsessão de estudar sistemas de jogo – “Por que vou quebrar minha cabeça com isso se você já o faz? Basta ver o que dá certo e copiar…”.

Essa é uma realidade que se repete ad perpetuam em nosso basquete, e não só o nosso, como no de muitos países, até mesmo aqueles considerados de ponta, aonde a concentração de talentos de 1 a 5, contratados a peso de ouro, vem garantindo a perpetuação dos tais estrategistas, para os quais ensinar algo a um deles, mesmo um  movimento fundamental, sequer é cogitado, e por um único aspecto, não sabem como fazê-lo, ficando a espera de quem o faça, para oportuna e simplesmente…copiar.

Por tudo isso, nunca a necessidade de evoluir tenha alcançado o patamar da sobrevivência a que chegamos, onde o investimento transcendental tem de ser concentrado na formação de base, através a somatória de esforços daqueles que realmente concentram o conhecimento do grande jogo, na contramão dos simplificadores estratégicos que teimam em formatá-lo e padronizá-lo à mesmice endêmica em que o aprisionaram. Trata-se, repito, de sobrevivência do grande jogo entre nós.

No próximo dia 27 poderemos ver ao vivo o quadrangular final do torneio da LDB para a divisão sub 21, até agora acompanhado por estatísticas, nas quais o índice de erros de fundamentos chegam a assustar pelos seus elevados e injustificáveis números, assim como também poderemos testemunhar a existência, ou não, de algo técnico tático inovador, ofensiva e defensivamente falando, já que se trata da geração sucessora da que ai está competindo no NBB.

Lá estarei torcendo contritamente para que algo de novo e de bom esteja nascendo no âmago do grande jogo.

Desejo a todos os professores, técnicos, jogadores, diretores, jornalistas, ou simples e apaixonados torcedores que lêem e prestigiam esse humilde blog, um Feliz Natal, e um Ano Novo de conquistas e pródigo em saúde e muita paz.

Amém.

OS AMERICANOS…

E os capixabas se superam, pois acabam de bater um novo recorde, o de derrota pela maior diferença de pontos, recorde este que pertencia a eles mesmos, desde os 54 pontos de diferença impostos ao Vitoria pelo Flamengo no NBB3, para uma esmagadora e constrangedora diferença de 62 pontos do mesmo Flamengo sobre o Vila Velha, contagem inadmissível dentro de uma competição deste nível.

Três foram os americanos contratados pela equipe do Espírito Santo, como uma solução pela péssima campanha no NBB3, igualmente encontrada pela equipe de Franca, mas que ao final dessa nona rodada as fazem ocupar as colocações inferiores da tabela, provando que americanos por si só não elevam equipes à ponta classificatória, e sim treinamento altamente qualificado que, pelo menos, os situem harmonicamente dentro de suas equipes, e não como o centro irradiador das mesmas, pois na maioria das vezes não têm qualificações para tanto, já que excedentes de pelo menos quinze ligas profissionais espalhadas pelo mundo.

O incrível sobre tais contratações, é que a maioria delas preenche o imaginário de muitos técnicos, ávidos em “comandar” americanos, como se tratasse de um salto qualitativo em suas carreiras, um invejável acréscimo em seus currículos profissionais (?).

Agora imaginemos um jogo entre duas equipes nacionais com três americanos em cada (caso de Franca e Vila Velha), que pelo investimento em dólares os fazem titulares, ocupando seis posições contra quatro de brasileiros, e com técnicos que balbuciam um ininteligível inglês, para avaliarmos o caos comunicativo que se instalará na quadra, ainda mais quando a pretensa superioridade de jogo dos estrangeiros inexiste na pratica. Imaginaram?

Pois caros leitores é exatamente o que vem ocorrendo no NBB4, com duas equipes perdendo cada vez mais jogos (inclusive com recordes negativos de contagem) de um lado, e seus técnicos incapacitados de fazer jogar americanos de DVD, que de português só devem conhecer a palavra salário, de outro.

Sem dúvida alguma alguém deve estar lucrando com tudo isso, quando menos, pela errônea publicidade de que um americano no time resolve problemas, quiçá três, num monumental equivoco lastreado por um sentimento, praticamente irremovível, de colonialismo endêmico que se apossou das lideranças de nosso basquetebol nas duas últimas décadas.

Quando observamos com satisfação a produtividade técnica de alguns jogadores latinos, onde até um paraguaio demonstra insuspeitadas qualidades, numa liga que ainda se situa no limiar de maiores investimentos, e os vemos serem liquefeitos em contratos com jogadores de quarta linha (com três ou quatro exceções), pagos em dólares, e completamente fora da nossa realidade econômica, e por que não, técnico tática, em detrimento de bons jogadores nacionais, basicamente os mais novos, trocados pela quimera da supremacia americana equivocadamente pronta para o consumo, por uma plêiade de técnicos que se nega, ou não tem conhecimento, para treiná-los nos fundamentos, corrigindo-os para que exequibilizem seus sistemas e táticas, temos de nos preocupar seriamente, pois dos mesmos depende o futuro do grande jogo entre nós, e somente deles, os verdadeiros técnicos e professores de basquetebol.

Creio que daí para frente, somente o resgate da meritocracia nos guiará pelo soerguimento sustentável do grande, grandíssimo jogo.

Amém.

QUEM DIRIA…

Num inicio de jogo contundente, Brasília coloca 13 x 0 abalando um Pinheiros pressionado e acuado, ainda mais quando seu armador argentino comete três faltas no primeiro quarto do jogo.

Nesse momento de intensa supremacia dos candangos, o narrador pergunta ao comentarista se “não estaria faltando um segundo armador para ajudar o Figueroa”, no que é respondido com um inusitado comentário- “Sem dúvida, hoje as equipes tendem a jogar com dois armadores, reforçando suas opções de ataque e maior firmeza defensiva”.

Ora, quem diria, pois há muito pouco tempo a dupla televisiva denominava um segundo armador como, finalizador, pontuador, ou arremessador, um 2 complementar ao 1 de oficio, mas que de repente se transforma num efetivo armador pela entre ajuda de ambos, numa guinada surpreendente para quem sempre incutiu na audiência os dogmáticos posicionamentos de 1 a 5.  Ótimo que isso tenha ocorrido, somente lembrando que dupla armação nunca foi por eles defendida, muito pelo contrário, e ponto para o Basquete Brasil em sua solitária e teimosa luta por um basquete contestador à mesmice endêmica que se instalou entre nós, inclusive com o incentivo daquela e de outras mídias, com poucas, porém honrosas exceções.

Daí para diante, uma coincidência se fez presente e decisiva no resultado do jogo, pois nenhuma das duas equipes possuem armadores à altura dos titulares, Figueroa e Nezinho, nem para a armação simples, nem para a dupla, daí a vantagem que a equipe de Brasília auferiu com a maior presença em quadra do Nezinho, enquanto o Figueroa era guardado para o quarto final.

Então, para variar, passamos a assistir o espetáculo autofágico dos três pontos, principalmente pela equipe candanga, com um Alex “queimando” o que podia e não podia, culminando num arremesso final de três, frontal e de larguíssima distância, quando ainda faltavam 5seg, em um jogo em que sua equipe perdia de dois míseros pontos, o que recomendava uma tentativa de penetração ( e logo ele que é um especialista) para um empate, e quem sabe um arremesso extra por falta recebida. Mas não, a bolinha foi disparada, e deu no que deu…

Mas um pouco antes, com a volta do Figueroa e a saída pelo limite de faltas do Nezinho, pode a equipe paulista se aproximar no placar, e ultrapassar seu adversário, quando numa tosca perda de bola do armador brasiliense Bruno, se viu líder do jogo.

 

No entanto, ficou constatado que ambas as equipes carecem de armadores eficientes para formarem com seus titulares, duplas armações de qualidade, o que é algo constrangedor quando vemos não aproveitados nessa altamente especializada posição, jogadores do naipe de um Muñoz e um Rafinha, que em hipótese alguma poderiam ficar de fora numa liga que necessita de experiência e qualidade de jogo nas duplas armações.

Numa próxima etapa, que espero não seja muito longa, quem sabe poderemos ver implantado o jogo interior através de pivôs ágeis, atléticos e velozes, jogando de frente para a cesta, em estreita coordenação com duplas armações firmemente focadas em abastecê-los para arremessos curtos e de media distâncias, pois de 2 em 2 se vencem jogos com muito menos desperdícios do que as hemorragias despropositadas dos três. Assim espero, assim ainda o será.

Amém.

Foto-Divulgação LNB. Clique na mesma para ampliá-la.

I’M NOT DOG NO…

Fico muito preocupado com a corrida de equipes do NBB atrás de americanos, em alguns casos três de uma só vez ,  para numa escalação primária, somente dois brasileiros compondo uma equipe básica, e isso tudo em território brasileiro.

E lá vamos de encontro a um desfile de equívocos, até certo ponto hilariantes, com técnicos empostando a voz, para num inglês lamentável e ininteligível passar informações no idioma digno de um I’m not dog no, de um Falcão muito mais coerente.

E a qualidade dos craques, medidas e avaliadas quase sempre através de vídeos veiculados por espertos agentes, colocando jogadores de qualidade duvidosa (as raras exceções não contam…) num mercado que veda a muitos bons jogadores patrícios uma chance de trabalho, muito dos quais vindos da Sub 21.

Sugiro então uma pequena reflexão, ao analisarmos uma listagem de países com ligas organizadas, com salários mais atraentes e maior visibilidade promocional: Espanha, Itália, França, Rússia, China, Austrália, Lituânia, Turquia, Grécia, Bélgica, Alemanha, Portugal, México, Porto Rico, Panamá, Venezuela, Argentina, Uruguai, talvez mais uns dois ou três, para ai sim, nos depararmos com a opção (?) Brasil. Pergunta-se então, qual a qualidade de um jogador de décima oitava opção?

Mas eles ai estão, e continuarão a chegar à medida em que teimarmos em nos manter atrelados a um pungente estado de colonizados, esquecendo que em vez da teimosia em nos apegarmos a produtos acabados(?), deveríamos treinar, preparar e potencializar nossos jovens valores, que para a infelicidade de alguns, se exprimem em português, e necessitam serem ensinados e polidos, configurando uma situação de fato antagônica a muitos auto denominados “estrategistas”.

Lembro um artigo que escrevi no inicio desse blog, Vícios do nosso cotidiano, exprimindo com razoável precisão esse instigante assunto, que no entanto continua a ser esquecido por uns poucos, em detrimento de muitos, o que é profundamente triste e lamentável.

Mas como diria o lúcido Falcão –  Days better virão…

Amém.

SERÁ SÓ IMPRESSÃO?…

Acho que algo terá de ruir, e fragorosamente, pois não é mais possível que ainda se escute – “Faz o X para baixo, ou a punho, ou… qualquer coisa que fizerem tá bom”. Isso depois de rabiscar, apagar, tornar a rabiscar a prancheta ante olhares atônitos de jogadores que simplesmente não sabiam o que fazer, e ainda escutarem o… qualquer coisa que fizerem tá bom!

Um técnico novo, estudioso e dirigindo uma das equipes mais importantes do basquete brasileiro, não pode e nem deve cometer erros de comunicação como o acima mencionado, e transmitido pela TV, numa prova de pouca experiência em comando, principalmente numa jovem e promissora equipe.

Tudo que tenha de ser dito e comentado num pedido de tempo, tem de ser o reflexo do treinamento realizado, exaustivamente analisado e discutido nos mínimos detalhes, onde as leituras de ações técnico táticas têm de alcançar padrões de alta precisão, através insistentes repetições de situações de jogo, onde as maiores intervenções devem ser dirigidas aos defensores, instigando-os e orientando-os à anulação dos sistemas ofensivos em treinamento, mesmo que sejam os da própria equipe, pois sendo esta a ação que será buscada pelos adversários no jogo real, todos terão de estar prontos para o inevitável confronto, onde as diagnoses e conseqüentes retificações têm de estar, obrigatoriamente previstas e treinadas, e não corrigidas em pranchetas ironicamente pegas de surpresa.

No entanto, como a maioria das equipes adotam o sistema único, com as mesmas jogadas e até mesmo as sinalizações, configurou-se uma mesmice comportamental nos jogadores desde as divisões de base, desaguando na divisão adulta como verdade única e absoluta, daí a padronização das intervenções dos técnicos em seus pedidos de tempo, onde alguns incluem o palavreado pesado, cobranças indevidas, ou simplesmente um – “qualquer coisa que fizerem tá bom…”-  Muito poucos instruem de verdade, baseados em uma estrutura solida de treinamento técnico tático, e absolutamente nenhum na correção de fundamentos de jogo que poderiam ser otimizados em momentos pontuais ou cruciais de uma partida, raros realmente tentam inovar, mas em sua maioria propugnam pela manutenção do que ai está, padronizado e formatado a mais de duas décadas de mesmice endêmica.

Daí a necessidade premente de que sejam buscados outros e diversificados caminhos no ensino e divulgação do grande jogo, através os jovens técnicos do país responsáveis pela formação, assim como os mais experientes na direção das equipes de elite, da qual faz parte o técnico interveniente no jogo em questão, entre Uberlândia e Minas, que também é jovem e talentoso, mas precisa quebrar as amarras que o prendem à mesmice que esmaga e tolhe o futuro do nosso basquetebol, basta querer.

Afinal, será que é só impressão, ou algo de novo ainda está muito longe de acontecer? Torço veementemente para que não.

Amém.

Foto – Divulgação LNB.

SUTÍS MUDANÇAS…

“Tripla armação funciona e Tijuca/Rio de Janeiro derrota a Liga Sorocabana” (Blog Basketeria em 1/12/2011), assim como tem merecido destaque nos blogs as duplas armações que aos poucos vão se impondo em algumas equipes participantes do NBB.

Mas nada comparável ao decréscimo nos arremessos de três pontos, exatamente pela inclusão da dupla armação, responsável por uma distribuição mais equitativa nos passes interiores de alta qualidade e, por conseguinte alimentando os pivôs em suas investidas de frente para a cesta, com velocidade e maior precisão.

Outra tendência em conseqüência da dupla armação é o retorno do DPJ (foto) nas finalizações, pois o sistemático apoio entre os armadores propicia espaços para esses arremessos de media distância, com um grau de precisão bem mais elevado do que os de três pontos, além de situar os pivôs dentro do perímetro, incrementando substancialmente as reais possibilidades nos rebotes ofensivos, mantendo todos os atacantes no foco das ações.

No jogo entre o Tijuca e a Liga Sorocabana, os pivôs Casé (foto) e Coloneze contabilizaram juntos 34 pontos dos 78 conseguidos por sua equipe, que atuando com três armadores (André, Arnaldo e Gegê) os municiaram permanentemente, apesar de falharem 16 arremessos de três dos 21 tentados. Se a metade dos mesmos fosse orientada aos de dois pontos, a diferença no placar final teria sido mais ampla. A equipe do Flamengo em seu jogo com Bauru, invicta até esse jogo, arremessou um inédito 1/7 nos três pontos (14%), contrastando com os 35/52 de dois pontos (67%) alcançados ao final da partida, numa inconteste prova que de dois em dois pontos pode uma equipe de qualidade atingir contagens acima dos oitenta pontos, em vez da desvairada sangria dos arremessos de três.

Orientei-me nas analises acima pelo comentário de outros blogs e pela estatística oficial da LNB, numa unusual ação (da qual me desculpo), incomum e pontual, para expor uma tendência que vem se fazendo presente, na medida em que um maior conhecimento e domínio da dupla armação e decorrente utilização dos pivôs aos poucos se estabelecem em algumas das equipes do NBB, numa evolução técnico tática significativa para o grande jogo no país.

Somente consegui assistir ao segundo tempo do jogo Paulistano e Limeira, do qual me eximo de maiores comentários pela franciscana pobreza do que foi apresentado, num jogo absolutamente falho e inexpressivo.

Porém, outro aspecto sobre o que de inédito vem ocorrendo, é o fato de que a utilização de dois ou mais armadores, e dois ou mais pivôs no âmago do perímetro, em continuidade ao sistema único, determina somente uma adaptação, uma substituição de alas por armadores, com sua conseqüente melhoria técnica nos dribles, passes e fintas, e não uma mudança nos sistemas de jogo, que deveriam estar orientados a essa nova postura, como forma de otimizá-los, em continuidade às suas melhores formações através treinamento especifico, desde as divisões de base, numa retomada segura e progressiva ao encontro de sistemas diferenciados da mesmice endêmica que ai está, sacramentada e cristalizada de duas décadas para cá.

Temos a obrigação de pesquisar, estudar, planejar e aplicar novas metodologias de treino, com as conseqüentes didáticas de como exequibilizá-las e divulgá-las através da informação, pulverizando-a aos mais recônditos lugares desse continental país ao encontro dos jovens técnicos, como os mais experientes também,  no esforço maior de soerguimento do grande jogo entre nós, pois merecemos alcançar tão ansiado objetivo, através o trabalho e esforço de todos que o amam, em confronto direto àqueles que o subjugam pela mediocridade e retrógada  mesmice.

Amém.

Fotos – Colin Foster e Divulgação LNB

NARRANDO & COMENTANDO…

Iniciado o jogo e uma mensagem tocante vai ao ar – “O tênis de fulano é rosa, e o de beltrano azul, uma homenagem às criancinhas”- Formidável, não?

“O Joinville não marca, não joga na transição por não ter a posse da bola (juro que está lá gravado…), e no 5×5 não atua com confiança. O técnico tem de parar o jogo para acertar as coisas”, detona o comentarista, cujo discurso inicial é idêntico em todos os jogos que comenta, pela similitude entre todos.

O técnico para, expõe todos os acertos na prancheta e devolve o time ao jogo que… continua não marcando, nem jogando na transição, muito menos se encontrando no 5×5, e com a auto confiança no chinelo.

Lá pelo terceiro quarto outro tempo, e uma pérola  –“ Eles estão fazendo o que querem, arremessam de onde querem! O que é que vocês querem que eu fale pra vocês?” Honestamente, sugiro que treine a equipe…

Mas nem tudo estava perdido, ainda, quando é anunciada uma mudança tática que alteraria o jogo, no momento que a equipe catarinense trocou a defesa individual pela defesa por zona, algo realmente inédito em uma divisão máster, e o resultado? Bauru disparou na contagem…

Mas no tempo pedido a um minuto do  final (foto) algo inesperado quando determina – “Vamos de chifre…” Fim.

Creio que escrever mais se torna desnecessário, logo, fico por aqui.

Amém.

Foto-Reprodução da TV. Clique na mesma para ampliá-la.

CORRENDO PARA O SUCESSO(?)…

O NBB4 começou, estive na rodada inicial no Tijuca, não pude ir na segunda, mas assisti na TV o jogo em Joinville, onde o dono da casa não conteve a equipe campeã do NBB3, o Brasília.

Não foi um bom jogo, muitos e muitos erros de fundamentos, onde passes, dribles e fintas eram perdidos num ritmo de jogo correlato a divisões de formação, inviabilizando o sistema único planejado por seus técnicos. O que sobrou então? O de sempre, a monocórdia exibição de suspeitas e insuspeitas qualidades individuais, tendo a correria como mote comum às duas equipes, onde a melhor qualidade dos candangos nessa especialidade pautou o confronto. Senti-me frustrado com o que testemunhei, achando estar sendo rigoroso e critico demais, mas nunca esquecendo se tratar o NBB a divisão maior, a que dita aos mais jovens os caminhos a serem seguidos na busca das grandes conquistas, mas que, face ao que vem sendo mostrado ano após ano, continuará (até quando?…) pouco acrescentando ao desenvolvimento técnico tático desta magnífica e especialíssima modalidade.

No entanto, um lapidar artigo escrito por Giancarlo Giampietro em seu blog Vinte Um, De abalar os nervos, em 21/11/11, define com precisão o que ocorreu naquele jogo, com todas as implicações inerentes ao mesmo, ao qual somente agregaria uma citação do técnico do Joinville, num de seus pedidos de tempo, quando conclamou sua jovem equipe – “Se eles estão dando pancadas lá, dêem pancadas aqui também!”- no que foi, infelizmente, obedecido, numa lamentável demonstração do que jamais deverá ser induzido numa equipe bem treinada de basquetebol, principalmente se preparada eficientemente nos fundamentos de defesa individual e coletiva, e mais, sendo muito jovem.

Precisamos em caráter de urgência, incutir na divisão máxima do basquetebol tupiniquim, algo de inovador, algo de instigante, a começar pela máxima valorização do preparo nos fundamentos, ali mesmo, na divisão superior, como exemplo e incentivo maior aos jovens que se iniciam, a quem cabe o futuro do grande jogo neste imenso e desigual país.

Amém.

EVOLUINDO…

Foi uma noite surpreendente, com um bom e animado público, uma quadra renovada, e muita gente importante para o basquete, prestigiando-o e valorizando uma modalidade que luta com denodo por seu soerguimento.

`                      Mais surpreendentes ainda alguns aspectos técnicos que foram apresentados, como a já estabelecida dupla armação, desenvolvida pelas quatro equipes presentes na rodada inaugural, com uma delas, o Flamengo, jogando praticamente a partida inteira não com dois, mas com três armadores e dois pivôs de grande mobilidade ( o Caio parece estar mais leve), ação esta que quando estiver bem estruturada e treinada dará um enorme trabalho às defesas que o enfrentarem.

No primeiro jogo, Tijuca e Pinheiros fizeram um primeiro tempo bastante equilibrado ofensivamente, mas pecando em demasia nos sistemas defensivos com a adoção, por ambas, das dobras dentro do perímetro, a fim de tentarem conter o forte jogo interior adotado pelas duas, permitindo que voltas de bola encontrassem os arremessadores sempre desmarcados. Essa tendência foi mais evidente no terceiro quarto, com a equipe carioca acelerando o ritmo da partida, quando deveria ter feito exatamente o contrario, cadenciar ao máximo ante uma equipe ofensivamente superior, permitindo um maior controle e valorização de posse de bola, diminuindo a incidência de erros, e obrigando o adversário, pelo significativo aumento da velocidade a cometê-los. Não o fazendo, e tentando acompanhar o ritmo vertiginoso imposto pelo Pinheiros, se perdeu nos erros e praticamente nada produziu daí em diante, perdendo uma partida por não conseguir administrar sua volúpia ofensiva em detrimento de uma postura defensiva mais rígida e atenta, pontos que terá de aperfeiçoar se quiser evoluir positivamente no campeonato.

No segundo, a equipe do Paulistano jogou os três quartos iniciais com muita força defensiva e uma excelente postura nos rebotes, mas trocava demasiados passes lateralizados em suas ações ofensivas, o que tornava suas conclusões precipitadas pelo limite dos 24seg. Um trabalho mais incisivo na direção de seus muito bons pivôs, e a tarefa da equipe rubro negra teria sido bem mais exaustiva.

No quarto final, a trinca de armadores composta pelo Helio, o Leandro e o americano Jackson, inspiradíssimo nos arremessos de três pontos a ele liberados pelas incisivas incursões de seus hábeis pivôs, forçando uma compressão defensiva dentro do perímetro interno dos paulistas (vide foto), e deliberadas voltas de bola para fora do mesmo, proporcionou uma folga razoável no placar para os cariocas, mantido até o final do jogo.

Concluindo, podemos atestar que o principio da dupla armação já está se estabelecendo na maioria das equipes participantes da Liga, e que por decorrência desta evidência o jogo interior começa a ser desenvolvido por pivôs mais velozes, jogando de frente para a cesta e efetivamente participando de todas as ações ofensivas de suas equipes, e não somente lá estando para apanharem rebotes e concluírem nas sobras embaixo das cestas, numa evolução realmente instigante e positiva para o futuro do nosso basquete, do grande jogo.

Como vemos, podemos, mesmo que homeopaticamente evoluir na direção oposta à mesmice endêmica representada por um sistema único que nos engessou por mais de duas décadas, e que agora ensaia uma  retomada técnico tática que nos pode catapultar de volta a elite mundial, mas não antes que sedimentemos tão salutar tendência na formação de base, principalmente nos fundamentos do jogo.

Amém.

Foto-Disposição ofensiva do Flamengo. Clique na foto para ampliá-la.