DEBATES E RETROCESSOS

Não a muito tempo a ESPN Brasil promoveu um intenso debate, tendo como fóco principal a dispensa do técnico da seleção e a realidade do basquetebol brasileiro. Mais recentemente o SPORTV veiculou matéria sobre a atualidade e o que se esperar para o futuro da modalidade, e em ambas as iniciativas contaram com o testemunho e ativa participação de antigos e atuais jogadores,técnicos,jornalistas e até profissionais de outras áreas ligados, ou interessados pelo basquetebol. Discutiram,debateram, mas em nenhum momento apontaram os verdadeiros, porém comprometedores motivos da decadência. Em artigos anteriores apontei grande parte deles, mas um em particular deve ser priorizado,a desunião profissional.Torna-se muito difícil, e até repetitiva a abordagem desse assunto, porque atinge em cheio e profundamente a essência da ética.E é em respeito a esse princípio fundamental das relações profissionais que insisto em fazê-lo, apesar das críticas em contrário. Podemos estabelecer que poucas foram as ocasiões em que pudemos constatar união entre os técnicos,mas elas existiram, através as efêmeras, porém importantíssimas associações de técnicos fundadas nos anos setenta, a ANATEBA e a BRASTEBA.Foram duas
brilhantes tentativas de união “inter pares”, as quais propiciaram encontros,cursos,
debates e clínicas, onde eram discutidas as diversas tendências técnicas,os sistemas
mais em voga, os principios éticos, a convivência enriquecedora. Foi uma época onde
a diversidade metodológica provocava o surgimento de novos padrões de treinamento,de
inovadores sistemas de jogo,de táticas audaciosas, de inteligentes estratégias. A
mesmice existente nos dias de hoje, o marasmo subserviente, o colonialismo cultural e
técnico não existiriam se aquelas nobres tentativas do passado tivessem obtido o
êxito merecido. No entanto, merecimento nem sempre alimenta boas e profíquas intenções, o qual, na medida em que vai de encontro a certos interêsses de mercado,
necessita ser extirpado,para que os objetivos dos mesmos sejam alcançados.Foram-se
os ideais, feneceram as lutas, venceram aqueles que viriam a implantar o terrivel
modelo que ora viceja em nosso país, o “basquete internacional”,o modelo NBA. Um
modelo que dispensa maiores estudos, custosas adaptações as nossas condições,modelo
“prèt-a-porter” com soluções padronizadas e por isso inteligentemente globalizadas
em pról de um basquetebol de principios unilateralistas,mas profundamente rico e para
o qual se voltam os olhos e as vontades daqueles que se negam a enfrentá-lo. Essa é a
escravidão que temos de renegar, para tentarmos nos soerguer tendo como exemplo maior
um passado glorioso e patriótico, um passado de vitórias. Não se trata da negação de
uma escola que sempre se pautou pela excelência dos fundamentos do jogo, mas sim de
não adotar soluções técnico-táticas inadequadas à nossa realidade, ao caráter de
nossos jóvens, à realidade de nossas deficiências econômicas e sociais. Temos de
reaprender a administrar nossa pobreza, voltando a utilizar doses maciças de coragem
e criatividade.Enfim, temos de retomar o caminho perdido, temos de voltar a nos unir
em torno do ideal maior, ao reencontro de nossa verdadeira vocação.



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