COLAGENS.

Dois jogos preparatórios da seleção brasileira, duas colagens do que tem sido os últimos anos do nosso basquetebol, repetição tatibitati de um sistema teimosa e anacrônicamente repetido.Dois pivôs de choque não prestigiam a seleção, e dois outros, bem mais leves são deslocados para as suas posições como se pesados fossem. E lá estavam eles de costas para a cesta, recebendo os passes em posições estáticas, investindo”na marra” e aos empurrões, estando seus outros colegas de time igualmente estáticos como numa torcida privilegiada de dentro da quadra aguardando passivamente o desfecho da battle under basket. Ou na continua e já cansativa rotina da subida para a linha dos três pontos, para exercerem funções de base para corta-luzes com os armadores, que seriam mais eficientes e letais se fossem executados pelos mesmos, deixando os pivôs próximos à cesta. Mais NBA do que isso impossível. E os dois pivôs somados a outros três no banco formam o grupo de gigantes mais rápidos que tivemos nos últimos anos, e todos jovens, atléticos, flexiveis e muito,muito velozes. Dá pena vê-los serem forçados a abdicarem dessas raras qualidades, anulando-as ao jogarem como se mastodontes fossem. Se cada um deles recebessem os passes em deslocamento, dificilmente as rochas de plantão nas hostes adversárias teriam velocidade para interceptá-los, e muitas faltas os beneficiariam, assim como para toda a equipe. Outrossim, também dá pena ver os alas e armadores trocarem passes inóquos entre sí mantendo-se em suas posições semi-estáticas, principalmente contra uma defesa zonal, esquecendo que drible e corte contra este tipo de defesa funciona tanto quanto se a mesma fosse individual. O primeiro principio dos oito movimentos básicos do basquetebol (publicados por Clair Bee em 1942), que determina o deslocamento do jogador no sentido do passe ao pivô, fator dinamizador de qualquer jogada, simplesmente é ignorado, não ensinado e treinado, tornando-o desconhecido por nossos armadores, propiciando sistemáticamente a flutuação de seu marcador numa dobra defensiva ao pivô, que poderia ser SEMPRE evitada se seu deslocamento fizesse parte do comportamento pós-passes. Mas não é o que constatamos ano após ano, seleção após seleção, masculina ou feminina, de base ou principal. É uma pasteurização suicida, que trava nossos valores, anula sua velocidade no ataque armado, mas aufere aos técnicos um controle descabido em todas as movimentações táticas, como se fossem marionetes de pranchetas. Alguns jogadores, como um antídoto contra tais amarras, desandam nos arremessos de três pontos, tendo rebotes ofensivos colocados ou não, numa prova cabal de que mais confiam em seus”tacos”, do que no sistema que tentam desenvolver, mas não aceitam em seu interior.Mas não é sempre que os tacos estão calibrados, e se os adversários se impuserem uma defesa mais próxima e agressiva, adeus jogo.E no mundial, cada jogo é decisivo e terminal. Outra observação pertinente é a da saudável utilização de dois armadores puros, que é uma tentativa bem -vinda, mas tem pecado na escalação, pois tem parecido que o critério estabelecido até agora é o de que antiguidade é posto, fator que quando confrontado com qualificação técnica individual torna-se discutível. Nessa seleção dois são os armadores puros, e um outro mais incisivo e veloz, possuidor de grande arrancada e explosão, o Leandro. Se prevalecer a técnica, pela técnica em si, este jogador terá que fazer dupla com o Huertas, ambos acima dos 1,90, muitíssimo rápidos e envolventes. Nezinho os substituiria num rodízio importante, principalmente ante defesas pressionadas. Marcelo e Alex não são armadores, pois não detêm a ambidestralidade dos três, além de estarem inicialmente mais focados na cesta do que nas necessidades da equipe como um todo. Dizer que o Guiherme é o único ala do grupo foge à realidade, pois suas armas de penetração pela linha final e arremessos de três, são elementos comuns aos outros dois, os quais, em hipótese alguma podem ser os responsáveis pela transição defesa-ataque sob forte marcação, pois não têm técnica individual desenvolvida para tal. São eficientes como alas, arremessadores e eventuais reboteiros, o que já é muita coisa. Quanto à defesa, nada a comentar, pois não se comenta o que não existe. É simplesmente deplorável a teimosia na defesa do(s) pivô(s) por trás, principalmente se forem muito pesados, fator que seria em muito contestado pela velocidade de nossos homens altos, aptos por essa qualificação a exercerem ajudas e coberturas aos passes em elípse, unicos possiveis ante marcação à frente.
E se esses passes forem obstados com energia e proximidade pelos demais defensores, mais eficiente seria nosso sistema defensivo, tanto em zona, como individual, além de evitar, e mesmo proteger os homens altos de cometerem muitas faltas pessoais, o que estratégicamente torna-se de vital importância. Temo que não terão coragem de mudar, principalmente no sistema ofensivo, pois estabeleceram por muitos anos ser esta a nossa”realidade” técnica, fruto de um movimento internacional cujo beneficiário foi a indústria do basquete profissional americano, e algumas ligas européias, as quais vem se modificando por força do movimento antagônico a tal hegemonia, no que resultou em algumas e contundentes vitórias nas competições internacionais.
Nossos irmãos argentinos bem cedo vislumbraram tal tendência, e lucraram sobremaneira nas últimas competições. Os americanos, ao entregarem sua atual seleção a um dos ícones do basquetebol universitário, e que nunca quis dirigir uma equipe da NBA, estabelece um precedente de quem, sem dúvida alguma, quer mudar seu rumo técnico-tático. Enquanto isto, ao sul do equador, ainda teimamos doentiamente no passing game, nos pick and roll, hi-lo post,
punhos, cocs, chifres, e não sei mais quantas baboseiras, num redemoinho de vaidades e politiquinhas caipiras, muito a gosto do presidente da UniCBB e sua turma. Que os deuses nos protejam, amém.



4 comentários

  1. Cláudio 26.07.2006

    Bom dia professor,

    Ontem não assisti ao jogo, que foi marcado para um horário ridiculo, assim como o de sexta, aqui em São Paulo. Escutei de várias pessoas ontem reclamações a respeito disso. Primeiro marcam no paulistano, que tem um ginásio minúsculo, e depois marcam para as 18:15 de uma sexta feira. Quem é o imbecil que não sabe que na sexta feira em são paulo, para chegar as 18:15 em algum lugar você tem de sair as 16:00?? E quem pode sair do serviço as 16?? Nem todo mundo pode.
    No primeiro jogo, assisti somente o primeiro quarto. Não gostei nem um pouco do que vi. Não consigo olhar esta seleção e ter esperanças. Mas também, tinhamos esperanças na de futebol e ela foi por agua abaixo. Pode surpreender. (O que eu dúvido). O pior de tudo isso é que não deve mudar tão cedo. Teria de mudar muita coisa, muita estrutura, muita cabeça. Fico desanimado quando penso assim, pois pessoas como eu, que não tem influência nenhuma, não pode ajudar quase nada a mudar.

    Abraços

    Cláudio Schmidt

  2. Basquete Brasil 27.07.2006

    Prezado Claudio,você se engana em considerar nulos seus esforços para uma mudança em nosso basquetebol.Somando sua indignação à de outras pessoas, num bôca a bôca cívico, divulgando opiniões e artigos contrários ao que aí está em termos administrativos e técnicos,
    conversando e atraindo pessoas ao debate democrático,em breve verá que as coisas podem mudar sim, basta não abdicar da luta.Hoje você poderá encontrar meus artigos publicados no Draft Brasil,no Sportmania,no blog da
    Associação de federações de basquete do Brasil,discutidos e analisados por muita gente pronta a interagir pelo progresso do grande jogo.Não desista,
    pois para quem ama o basquete vale à pena lutar.Um abração,Paulo.

  3. renato 28.07.2006

    Prezado Paulo, sou leitor do seu blog a algum tempo e esta é a primeira vez que posto um comentário. Fui assistir ao jogo do Brasil contra Nova Zelândia ontem (27/07) em Rio Claro. É difícil entender porque o Marcelinho Huertas joga tão pouco tempo. Quando ele está em quadra o time fica muito mais insinuante e os pivôs receberam algumas bolas em deslocamento em direção à cesta e não parados feito postes. Por conta da sua movimentação, os outros jogadores são “obrigados” a movimentarem-se constantemente no ataque. Bom, talvez seja por isso que ele não jogue tanto … Abraços, Renato

  4. Basquete Brasil 30.07.2006

    Prezado Renato,tente se pôr no lugar de 4 técnicos, que perante uma realidade que ultrapassa seus mais graníticos conceitos,se vêem perante um jogador que ao tomar iniciativas que fogem totalmente de seus controles, contesta de forma avassaladora um sistema de jogo
    antítese de seu comportamento técnico-tático.Só pode ir para o banco,
    pois pôe em risco suas tênues lideranças.Coerência pouco inteligente é isso aí.Um abraço, Paulo.

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