IRREPREENSÍVEL…

Foi um fim de semana de arrasar. Jogos masculinos e femininos, e pelo menos um que preliminarmente parecia ser o mais equilibrado, Franca enfrentando Joinville na casa deste. E foi, com a vitória de Franca por um ponto. Falar deste jogo, no entanto, só faria sentido após as declarações do técnico da casa ao termino do primeiro tempo, quando afirmou que sua equipe teria feito um primeiro tempo irrepreensível, que em outras palavras significa correto; perfeito; impecável(Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa). Mas logo a seguir menciona que alguns arremessos tinham sido precipitados, que rebotes tinham sido perdidos, que algumas perdas de bola ocorreram…Bem, não foi uma produção tão irrepreensível como rotulou de inicio, corroborado pelo analista da Sportv em seu comentário sobre as estatísticas daquele meio tempo.Mas antes de se despedir pediu um tempo a mais de audiência para desancar os críticos e jornalistas que afirmam estar o basquete no fundo do poço, tanto administrativa, como tecnicamente falando, e que aquele jogo demonstrava o quanto estavam enganados. E assim fomos para o segundo tempo e a prorrogação, onde, por mais uma vez a equipe de Franca manteve seus dois armadores no comando do jogo, chegando mesmo a se utilizar de um terceiro ao final, quando mais necessitavam da posse controlada da bola, para propiciar penetrações e arremessos mais equilibrados, já que desmarcados.Do lado da equipe da casa o que mais chamava a atenção eram os seguidos arremessos de três pontos de seu pivô, e as falhas gritantes de seus claudicantes armadores.Salvo esse respiro de novidade que Franca tem oferecido com a utilização eficaz de dois,e até três armadores, continuamos, sim senhores, no fundo de um poço que não merecemos estar, pelo menos por nossas gloriosas tradições.Um dos grandes, senão o maior sonho da ciência mundial, perseguido por séculos, é o da busca do moto-continuo, a maquina que alimenta a si própria, sem paradas e sem reabastecimento. A ciência jamais conseguiu tal proeza, mas nosso basquete conseguiu o sistema, que tal qual o principio da moto continuidade, se repete ad infinitum. De norte a sul, leste a oeste, em todos os quadrantes que se jogue basquete, em qualquer das muitas categorias masculinas e femininas, se repetem os mesmos movimentos, as mesmas jogadas, onde os“punhos”,“polegares”,“5×5”se repetem monocordicamente, numa ciranda de absoluta falta de criatividade e quaisquer indícios de renovação, em nome de uma padronização absolutista e totalmente ante democrática. E como os participantes dessa farsa, técnicos e jogadores instituíram os posicionamentos gabaritados, as posições demarcadas em 1,2,3,4 e 5,com funções definidas em produção e comportamento tático, tornaram-se tais posições feudos, capitanias hereditárias de um tipo de jogador e de técnico imunes a mudanças que possam vir a representar ameaça ao pouco que sabem do grande jogo. A grande capa da mesmice, aceita e repassada através os diversos estágios por que passam os jogadores e também a maioria dos técnicos, garante a continuidade de tão monstruosa herança, calcada no que de pior pode acontecer ao gênero humano, a negação do novo, do desconhecido, do inusitado, a negação de se ver ante as incertezas do futuro.Mas também pudemos ver três rebotes ofensivos do pivô Estevan de Franca, realizados com giros de 180°, que o colocaram em posição de tripla opção, ou seja, o drible, o passe exterior, uma nova tentativa de arremesso.E por coincidência realizou as três. Foi uma grande e auspiciosa novidade, que aplaudo daqui desse pequeno blog, e desde já classifico como a grande e desejada novidade deste fim de semana, tão ou mais pobre que os das semanas antecedentes.Dois armadores habilidosos, um terceiro agindo como um ala também habilidoso, um pivô que gira nos rebotes, um técnico que,enfim,aposenta a inefável prancheta e se aquieta em seu córner, vendo o jogo sem paixão e com equilíbrio, podendo dessa forma passar a seus jogadores a tranqüilidade necessária e estratégica para vencer as partidas, são,sem dúvida, algumas pequenas conquistas que aos poucos poderão nos libertar da utopia da moto continuidade. Torço fervorosamente por isso, torçamos todos nós por isso, será o suficiente, amém.



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