CORAJOSAS INOVAÇÕES.

E o Final Four chegou ao final, e com uma bela apresentação da estupenda equipe da Florida University, que deteve com maestria o ataque de Ohio e seu vetusto Greg Oden. A grande e bem-vinda novidade foi a confirmação de que nem todos professam o passing game na terra americana, e que novos e promissores ventos começam a soprar em direção a uma maior similitude do jogo ultra tradicional do basquete universitário americano com o praticado na Europa. O drible consciente e incisivo, sempre voltado em direção à cesta, assim como os passes semi-cegos desenvolvidos durante, ou logo após um processo de corta-luz, em ações antecipativas a qualquer reação defensiva, dotaram a equipe da Florida de um arsenal letal de pequenas escaramuças fora do perímetro, através seus habilidosíssimos armadores, e próximo á cesta nas constantes mudanças de direção de seus altos, rápidos e também habilidosos alas e pivôs. Não fosse o tempo de posse de bola de 35 segundos e teríamos um sistema de jogo muito próximo ao dinamismo das equipes européias, que muitos classificam de academicamente lentas. Um placar de mais de 80 pontos não pode ser caracterizado como de um jogo lento e controlado, ainda mais sob tal regime de posse de bola. Acho profundamente interessantes certos depoimentos de analistas sobre reformas, descobertas e lançamentos de modernas táticas e sistemas de jogo, sem que determinem, expliquem e demonstrem os teores dos mesmos. Simplesmente os anunciam, mas não enunciam, debatem, mas não explicam, promovem, mas não justificam. Revoluções táticas e sistemas modernos e avançados são anunciados e divulgados sem um mínimo de clareza do que realmente se tratam, a não ser pela insistência de que um ou outro jogador de maior talento os lideram e desenvolvem em suas equipes. No basquete universitário americano, de pétreas tradições, mudanças e novos ares custam muito a desabrocharem, pois o princípio que rege o inabalável prestígio dos técnicos, não só no seio das equipes, mas também no âmago das comunidades que as mesmas pertencem, torna o novo, o inédito, o avançado, um prato de difícil assimilação, pois põem em risco conquistas de muitos anos, tanto pelas instituições, como pelos técnicos.

Florida inovou em dotar sua equipe de grande velocidade em todos os seus setores, ao jogar com pleno equilíbrio tanto fora, como dentro do perímetro, e principalmente, por ter exercido a mais perfeita definição de defesa linha da bola, fosse marcando individual, zona ou pressão toda a quadra, indistintamente, sorrateiramente, em trocas permanentes por toda a partida. Ohio acertou sua única bola de três pontos nos 5 minutos finais do jogo. Seu técnico soube escolher os jogadores certos e adequados às suas propostas, ensaiadas na temporada passada, e sedimentadas na que ora findou, ambas conquistando os campeonatos. Fico imaginando o que poderiam alcançar se continuassem por mais uma ou duas temporadas, já que quase todos poderiam fazê-lo pelos regulamentos da NCAA, mas que desde já um movimento de dissolução do plantel, dos jogadores pelo draft profissional, e do assedio que seu excelente técnico passou a sofrer pelas universidades derrotadas, ameaçam sua continuidade. Pena, pois tal continuidade poderia, enfim, ditar os caminhos para o soerguimento internacional do basquete americano, e não deitar de lado a pequena revolução que desencadearam nesses dois anos de inovador trabalho. O peso dos dólares da liga maior são poderosos argumentos neste mundo globalizado, e agentes e investidores não perderão tempo com picuinhas olímpicas e mundias , afinal de contas seu torneio é conhecido como Basketball Worldchampionship, e estamos conversados.

Em tempo- O sistema de jogo da Florida, inovador ante os rígidos padrões das demais equipes se fundamentava nos seguintes princípios:

A- Sua defesa seguia os princípios da linha da bola com flutuação lateralizada, fosse marcando individualmente, fosse por zona, e sempre quando exerciam a defesa por toda a quadra. A flutuação lateralizada, ao contrário da longitudinal à cesta, poucas chances oferece ao adversário para os arremessos desmarcados de três pontos, já que obriga os passes em elipse, onde a recuperação linear defensiva propicia uma anteposição imediata e equilibrada, assim como situa seus defensores em posições de interceptação, que ocorreram em muitas situações, propiciando alguns dos contra-ataques que definiram a supremacia no marcador. B- No ataque, o jogo de duplas com incidência de corta-luzes externos colocavam o receptor do passe antecipado de frente para a cesta, obrigando a cobertura defensiva, anulando a dobra sobre o pivô, deixando-o sempre na situação de 1 x 1, que foi fatal para Ohio. C- Dispôs permanentemente os três homens altos em triângulo no garrafão de Ohio, dominando o rebote ofensivo em muitas ocasiões. D- Exerceu o rodízio de seus pivôs, principalmente visando a marcação do Greg Oden, que não agüentou o embate no transcorrer da partida. Somente num ponto a equipe da Florida falhou em algumas ocasiões, a saída da marcação pressão, provando que nada é perfeito em se tratando de uma competição desportiva.



2 comentários

  1. Idevan G. 05.04.2007

    Durante a temporada e até o Final Four admirei muito o estilo de jogo da UCLA. Aparentemente, também não adota o “passing game” como as outras equipes, possuindo um jogo coletivo muito forte e bom domínio dos fundamentos. Porém, acredito que a Florida fez por merecer o título.

  2. Basquete Brasil 06.04.2007

    Idevan,concordo com você. As duas equipes realmente se diferenciavam das demais na forma de jogar.Infelizmente se enfrentaram na semi-final e somente uma pode prosseguir.Ohio não venceria UCLA, tenho certeza. Um abraço,Paulo Murilo

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