SIRIZANDO…

Lembro-me como se fosse hoje. Era uma sexta-feira à tardinha, e estávamos prestes a iniciar um treino de equipe muito importante, pois representava o fecho de uma semana trabalhosa e exaustiva. A equipe era a seleção carioca feminina que se preparava para o Campeonato Brasileiro onde certamente duelaria com a seleção paulista numa final que definiria o quem é quem no basquetebol feminino da época. O ano era 1966. Um minuto antes de iniciarmos o coletivo eis que chega ao ginásio uma equipe completa de cinegrafistas de TV, repórteres e jornalistas. Baseados nas noticias em jornais que a equipe havia escolhido em votação interna a musica que a acompanharia nos intervalos dos jogos, um grande sucesso de Roberto Carlos, “Que tudo mais vá para o inferno”, queriam os jornalistas que a equipe dançasse rock para as câmeras, matéria que seria veinculada à noite no jornal televisivo. Imediatamente proibi a filmagem, pois eles ali não estavam para entrevistas, e sim para exibir as jogadoras de uma forma distorcida em suas reais funções de atletas e cidadãs. No jornal daquela noite, o cronista Sergio Porto fez uma contundente critica à não permissão dada por mim para tal e desnecessária exposição anti-desportiva, no que foi contestado através o direito de resposta garantido por lei.

Hoje me deparo com uma foto publicada no site do Rebote, onde vemos a seleção brasileira masculina durante seu treino para o Pré-Olimpico que transcorrerá em poucos dias, sendo liderada por dois infantilóides vesgos- televisivos em uma dança do siri, para depois arremessarem cocos e melancias às cestas, num espetáculo deprimente e que foi veiculado na Rede TV como “publicidade positiva” para o nosso infeliz basquetebol. Segundo o jornalista Rodrigo Alves, o técnico numero um parece não ter gostado da brincadeira, mas não a obstou, o que é profundamente lamentável.

Quarenta e um anos separam nossas experiências em situações correlatas, mas com desfechos antagônicos. Digo correlatas, não no aspecto e na dimensão da importância das equipes que nos foram dadas a liderar, e sim pelo aspecto puramente profissional, e por que não, professoral. Se naquela remota época, já existiam indícios do que poderia vir a representar a proposital e interesseira ligação esporte e jornalismo sensacionalista, imaginemos nos dias atuais, onde a mídia desconhece toda e qualquer barreira que a possa afastar da notoriedade, do estrelismo, da exposição geradora de celebridades fugazes, da incomensurável busca da fama, sem limites éticos.

Num primeiro e emblemático treino para a competição mais importante para o nosso basquetebol nos últimos anos, aquele que definirá nosso futuro internacional, vemos veiculada em rede de televisão que sua primeira ação técnica foi a exibição da dança do siri. Aguardo com incontida curiosidade se a mesma se repetirá em Las Vegas, sob a égide passiva e comprometedora de uma comissão técnica que marcha exatamente como os siris e seus primos caranguejos, de lado.

Meus deuses, realmente estamos muito mal. Nos protejam por favor. Amém.



2 comentários

  1. Henrique Lima 08.08.2007

    Caro Professor,
    após isso …
    qual dança iremos esperar em solo americano ?

    A dança dos desesperados quando estivermos perdendo jogos que poderiamos ganhar ?

    Ou a velha ladainha do AZAR ?!
    MOMENTO ?!! Aquele velho discurso
    de quem sabe porque e quando perdeu.

    O engraçado é que faltam menos de duas semanas para o incio do Pre-Olimpico e ainda nao reunimos a seleção completa para TREINAR !

    Incrivel …

    Pre Olimpico Mundial que nos aguarde !

    Abraçao para o senhor !

  2. Basquete Brasil 09.08.2007

    Prezado Henrique,por tudo isso é que tenho me mobilizado para Londres 2012
    ,qundo teremos algum tempo para reestruturarmos tanta irresponsável bagunça.Um abraço,Paulo Murilo.

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