BAIXO E FEIO…

Nesta data, 11 de setembro, três anos atrás, iniciei este blog na intenção de discutir os problemas do basquete brasileiro e seu possível soerguimento técnico. Após 344 artigos ininterruptamente publicados, constato que um universo de decisões terá de ser tomado, se é que será, por todos os envolvidos direta e indiretamente no basquetebol, para que retornemos a um razoável patamar de excelência produtiva, alcançada no passado, hoje esquecido e até discutido em sua veracidade, por uma geração totalmente voltada ao “basquete internacional”, ao basquete NBA, com sua avassaladora dominância econômica, e por que não, política e ideológica. Nem o organizado e poderoso basquete europeu pode oferecer resistência a tamanho poder, lastreado em muitos milhões de dólares, mesmo que títulos internacionais o confrontem e desafiem. E é em nome destes títulos fugidios que o poderoso basquete americano se une em torno de uma composição, reunindo jogadores profissionais e técnicos universitários, mais próximos taticamente do basquetebol FIBA, a fim de, juntos, retomarem a liderança perdida e contestada nas últimas competições internacionais.

Enquanto isso nos perdemos em duvidosas e pouco embasadas discussões sobre que caminho pautar daqui para diante, após as desastrosas participações em mundiais e pré-olímpicos, quando nos afastamos celeremente do grupamento de que sempre fizemos parte, o dos vencedores e titulados. O fator mais determinante nesse retrocesso foi exatamente o processo dicotômico que se instaurou entre as gerações de grandes jogadores e técnicos de um passado não tão distante assim, com as mais recentes, largamente influenciadas pelo inédito progresso das mídias, onde a sigla NBA se instalou e frutificou mundialmente, e que desventuradamente, não contou com uma liderança técnica-administrativa que mantivesse ambas interligadas, num constante diálogo de experiências e ações, para manter acesa a chama das conquistas passadas iluminado as futuras, num transbordo de vivências e exemplos dignos e preciosos de serem seguidos e continuados. Interesses vis e da mais precária e rasteira política continuista, se sobrepôs ao interesse maior, a grandeza do nosso basquetebol, a ser mantido pela permanente lembrança do que fomos, unindo a experiência de seus heróis aos esforços dos mais novos visando um futuro, que mesmo sob a brutal influência vinda do norte, poderia, a exemplo de nossos irmãos argentinos, manter suas tradições de inovadores que sempre ostentou naquele glorioso passado.

Vivemos, após derrotas contundentes, a possível realidade de vermos nosso destino técnico-tático entregue ao domínio internacional, se é que essa tendência possa resultar possível num espaço de um ano até o próximo pré-olímpico, dentro da realidade técnica de nossos jogadores, frágeis que são no domínio dos fundamentos básicos do jogo. Uma realidade que pune grandes técnicos nacionais, a maioria dos quais jamais teve a oportunidade de sequer serem lembrados para seleções de base, escolas experimentais para futuros sistemas de jogo, e não serem, como o foram até os dias de hoje, repositórias de uma “filosofia padronizada” para todas, engessando-as a um principio uno e indissociável do modelo escolhido pela facilidade prêt-à-porter de uso, sem maiores implicações voltadas a desnecessários estudos e pesquisas, o bem elaborado, inteligente e escravizador modelo NBA.

E essa fatal dicotomia, incentivada por sucessivas e mal sucedidas administrações, que em tempo algum procurou a união do ontem com o amanhã, justificando o hoje de suas ações, descartando um universo de estudos, experiências e excelentes resultados, nos levou ao beco sem saída em que nos encontramos, onde uma só solução é antevista por tal liderança, em nome de sua continuidade política, e ao largo de qualquer obstáculo que ensaie a mais tênue desconfiança à perda de tal posição, a pura e simples possibilidade de entrega técnica da seleção a uma liderança estrangeira, mesmo que existam entre nós técnicos capazes e competentes para exercê-la, quase todos pertencentes à geração esquecida e marcada pela desunião provocada pelo ostensivo desapoio às suas honestas tentativas de união classista, duas vezes tentadas através a ANATEBA e a BRASTEBA, levadas à extinção por se anteporem ao interesseiro isolacionismo politico da CBB.

Uma substancial mudança em nosso destino basquetebolistico, fatalmente terá de passar por três estágios:

1 – Um forte e bem elaborado projeto de convencimento técnico-político no âmbito das federações estaduais, a fim de que seus votos espelhem as reais necessidades do basquetebol brasileiro, conduzindo à direção da CBB nas eleições de 2009 uma diretoria representativa e compromissada com a evolução e o progresso do grande jogo entre nós. Sem essa mudança, nada, ou pouquíssima coisa será possível de ser alcançada.

2 – Organização de associações estaduais de técnicos, com a participação de pessoas físicas e jurídicas comunitárias, assim como representação de jogadores, a fim de que juntos possam contribuir com projetos, estudos e soluções de casos inerentes às suas realidades regionais, colaborando e complementando as políticas emanadas e implementadas pelas federações, visando num futuro próximo a criação da associação nacional, que englobaria e divulgaria todas essas experiências em caráter nacional, autonomicamente colaborando com a entidade mater, a CBB.

3 – E emergindo dessa nova realidade, a implantação de uma autêntica escola de técnicos, qualificando-os em níveis progressivos, através cursos diretos e à longa distância com acompanhamento e aferições semestrais de corpo presente por parte dos professores, implantando de uma vez por todas o primado do mérito, desde o nível voltado à iniciação, até a direção de seleções, quando teremos afastado o primado da escolha política, e da troca de favores pessoais.

Estes são os pontos fundamentais para o real soerguimento do basquetebol entre nós, e que são soluções com duas ou mais décadas de atraso se relacionadas aos países que hoje ocupam o espaço que um dia também foi nosso. E afirmo tudo isso, no dia em que esse humilde blog completa três anos, por ter de certa forma percorrido todas as etapas que aqui relacionei, como professor nos três níveis de escolaridade, como técnico de todas as categorias masculinas e duas femininas, como professor de futuros professores de Educação Física, de Pedagogia e de Técnicos de Basquetebol, como fundador e dirigente de associações de técnicos, como pesquisador e doutorado em Ciências do Desporto, com tese em basquetebol, e só não dirigindo uma seleção brasileira, na época em que era considerado entre os melhores, na idade de 25 anos, porque numa escolha para dirigir a seleção feminina que se apresentaria em Paris em 1967 em jogos com a seleção tcheca perante o COI, a fim de decidirem pela inclusão, ou não, do basquete feminino nas Olimpíadas, fui preterido pela direção técnica da CBB, que queria enviar uma seleção que rivalizasse em beleza à seleção tcheca, e que destoaria por ser eu baixo e feio, sendo na ocasião trocado por um técnico alto e bonito, o que foi realmente perpetrado. Não acreditei quando o velho e amigo Chico, roupeiro das seleções nacionais e funcionário dedicado da EEFD/UFRJ me contou constrangido, depois de ter testemunhado a escolha quando servia o café na sede da CBB. Desta data em diante, promet lutar para que um dia, por mais distante que fosse, visse estabelecido no âmbito desportivo, no basquetebol em particular, o primado da excelência, da competência, do mérito enfim.

Em tempo – O técnico escolhido foi o Ary Vidal, tijucano, alto e bonito, e bom técnico também, mas não melhor.



6 comentários

  1. Henrique 12.09.2007

    Caro Professor, parabens pelo texto e testemunho.

    E a lamentar que, desde da epoca do senhor como técnico até os dias de hoje, nada evolui no embate da
    competencia e servidão que está estabelecia em nosso país.

    E acho que espero como o senhor,
    ver o basquetebol nacional mais organizado, no minimo.

    Dificil é saber que o continuísmo da atual diretoria da cbb tem tudo para se manter … ineflizmente.

    Abraço,
    Henrique Lima

  2. Fabio 12.09.2007

    Olá Professor

    Gostaria muito de ver esplanações suas a respeito do jogo ofensivo com dois armadores, especialmente o posicionamento dos outros 3 jogadores e como isso se adaptaria contra uma defesa por zona.
    Abraços

  3. Basquete Brasil 13.09.2007

    Prezado Henrique,já trabalhei tanto,batalhei outro tanto,me doei integralmente ao projeto de soerguimento do basquete,que me sinto um pouco cansado,não pela idade,e sim pelo enorme peso que tenho carregado pelas opções tomadas,mas nunca renegadas.Colaboro da melhor maneira que posso,externando e divulgando minhas experiências,meus estudos,minhas pesquisas,minha honesta crença de que dias melhores hão de vir,e que homens capazes e resolutos encamparão essa luta que é de todos nós,e que deve ser de todos nós,e sem a qual,nenhuma réstia de esperança subsistirá.Um abraço,Paulo Murilo.

  4. Basquete Brasil 13.09.2007

    Prezado Fabio,estou ultimando um artigo da série Sistemas,que abordará esse tema.Um pouco de paciência.Um abraço,Paulo Murilo.

  5. Walter Carvalho 14.09.2007

    Ola Professor,

    Estou vendo se consigo registrar meu nome para nao entrar como anonimo!

  6. Basquete Brasil 14.09.2007

    Prezado Walter,envie seus comentários assinando no final do mesmo.Alguns leitores que não conseguiram o registro( não sei explicar o porque…)usam este expediente perfeitamente válido.Um abração,
    Paulo Murilo.

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