QUEM DIRIA…
Dois técnicos da ex-comissão técnica da seleção brasileira se defrontaram ontem pelo campeonato nacional, na direção das equipes de Brasília e do Minas Tênis. Quando se esperava um comportamento técnico-tático à imagem daquele empregado na seleção, e defendido às raias do parodoxismo pelo líder da quadra comissão, onde a utilização de um único armador constituiu-se na base do sistema de jogo em todas as competições de que participou, foram todos surpreendidos com a sistemática de jogo fundamentada em dois, e até três armadores por parte da equipe de Brasilia, já que a equipe mineira já vinha se utilizando dessa forma de atuar desde o ano passado, estando num processo de implantação e sedimentação das reformas propostas.
E o técnico de Brasilia ousou inovar, mantendo em quadra, por todo o tempo uma formação com dois armadores e três homens altos no rodízio interno. Mas tudo isso alimentado pelo sistema usual, onde os chifres, punhos, cabeças, e não sei mais quantas denominações de jogadas pranchetadas com esmero, se mantinham incólumes à nova proposta, antítese àquela utilizada na seleção nacional. Mas já foi uma bem vinda evolução, pois agilizou e flexibilizou a equipe, dotando-a de velocidade ofensiva e disposição defensiva, particularidades pertencentes a armadores de formação.
Com as duas equipes equipadas de bons condutores de bola, razoáveis nos passes, e dispostos pela boa técnica às penetrações longitudinais às cestas, o jogo ganhou em emoção e empenho, apesar de ainda limitados às coreografias de praxe, motivadas pelo engessamento técnico-tático do sistema adotado por todas as nossas equipes, fundamentado no modelo NBA. Mas aos poucos, a tendência, torço eu, é a de que os técnicos brasileiros passem a se interessar por novos sistemas fundamentados nessa disposição tardia, mas não definitiva, de se libertarem daquelas amarras coloniais, e se lançarem à experiências que realcem e otimizem a nossa tradicional tendência à improvisação e criatividade, lastreadas por um melhor e mais objetivo preparo nos fundamentos, independente de categorias ou faixas etárias, como o pré-requisito básico e fundamental para o jogo.
No artigo passado, menciono a opinião do técnico espanhol nomeado para dirigir a seleção no próximo Pré-Olímpico, que concorda ser possível e admissível jogar-se com dois armadores e três alas-pivôs baixos, ou mesmo três pivôs móveis, sistema já utilizado por grandes seleções mundiais, e que exige tão somente tempo e vontade técnica para implantá-lo, ainda mais num país como o nosso, pleno de criatividade e amor ao risco competitivo.
Claro, que nos comentários do jogo em questão, como em todos os outros com a participação das equipes de Franca e do Minas Tênis, tais implicações técnico-táticas sequer são destacadas pelos analistas televisivos como determinantes à nossa evolução, mas que, sem dúvida alguma destacarão com alarde, todas e quaisquer tentativas a esse respeito, se as mesmas partirem do espanhol escolhido e nomeado pelo grego melhor que um presente, quando e se aplicadas à nossa seleção. O fato de ter sido eu o único no campo prático e acadêmico a pautar por essa mudança, que na realidade é uma reminiscência outrora praticada e sedimentada entre nós, esquecida e varrida para baixo do tapete da história como algo a ser execrado e abolido, na tentativa de obscurecer e minimizar nosso passado de glórias internacionais, permite que me ponha na vanguarda resistente, na trincheira enfim, como um dos últimos moicanos(melhor seria, caiapós…)que teimosamente se negaram a assimilar impunemente o prét à porter que nos impingiram goela abaixo nos últimos vinte anos, e que, como um pequeno milagre de resistência vê surgir das cinzas calcinadas a esperança de um nunca tardio soerguimento, mesmo que através a voz e testemunho de um desconhecido, e por isso mesmo, descompromissado espanhol, que com sua ascendência européia (lembrar que o euro está bem mais valorizado que o dólar sagrado…)sempre encontrará eco nas hostes tupiniquins, reduto fervoroso e contrito do mais abjeto colonialismo técnico e cultural, lapitopis caipiras incluídos.
Que venham os dois armadores e conseqüentes reservas, os três pivôs moveis, rápidos, atléticos e flexíveis, todos trabalhando e evoluindo com inteligência nos seus perímetros, muito bem preparados nos fundamentos, defendendo com técnica e rigidamente na linha da bola, arremessando com firmeza e direcionalidade dos dois( preferencialmente…) e dos três pontos, atuando com equilíbrio mental e atenção coletiva, e principalmente, com amor e patriotismo, como exemplos de disciplina e retidão a serem orientados e imitados pelas gerações que os sucederão, à margem de “grupos fechados”, lideranças cardinalícias, traições ao comando e envolvimento dopante. Somos um país forte e gerador de esperanças, aqui e lá fora, mas que infelizmente, no caso do grande jogo, ainda dependerá injusta e unilateralmente de um guia que no habla nuestro idioma. Pero, tenemos lo portunhol para…
Amém.
Professor Paulo Murilo,
E com muito prazer que estou comentando em sua coluna, pois aprendi e continuo aprendendo muito com voce desde o tempo de Flamengo e agora por intermedio de sua coluna na net incluindo comentarios e observacoes brilhantes sobre o estagio atual do basquetebol brasileiro. Como vc sabe, ja estou militando no basquetebol Internacional ha muitos anos, para ser exato 16 anos (o tempo passa rapido nao?). Durante este periodo tive a oportunidade de dirigir equipes profissionais e participar de competicoes contra equipes dirigidas por tecnicos de varias nacionalidades. Isto me ajudou muito na minha formacao e amadurecimento como profissional e esecialista do esporte. Leio seus comentarios com atencao, e observo que voce enfatiza a utilizacao de 2armadores e um sistema de jogo que promova e facilite a nossa tradicional tendência à improvisação e criatividade, lastreadas por um melhor e mais objetivo preparo nos fundamentos. Concordo com o Senhor em relacao a improvisacao e criatividade com dominio dos fundamentos. Porem gostaria de acrescentar que no cenario do basquetebol Internacional, principalmente em competicoes de alto-nivel, a improvisacao e a criatividade individual sao fatores extremamente importantes desde que focada para tirar proveito de situacoes de “mismatch”, ou seja um armador alto contra um baixo, um ala mais rapido contra um mais lento, jogar com 5 abertos, etc. O plano de jogo deve explorar as virtudes de sua equipe contra as deficiencias do adversario. Ontem tive a felicidade de ganhar um jogo por 3 pontos, pois o nosso plano de jogo foi fazer com que o cestinha da equipe adversaria marcasse forcando-o a cometer faltas. Com isso nos consguimos diminuir o tempod e participacao deste jogador – o que para nossa equipe era vantajoso. O que estou querendo dizer, e que para o Brasil participar e conseguir seus objetivos em uma competicao a nivel de pre-olimpico com 2 armadores sera muito dificil – pois esta deficiencia de estatura, etc. sera explorada pelo adversario. Aproveito tambem para ressaltar que o jogo cientifico e tatico baseado em estatistica de jogo e muito importante no processo de elaboracao de um plano de jogo – pois nao podemos atuar da mesma forma contra equipes de biotipo e caracteristicas diferentes. Desculpe por me extender neste comentario. Ate breve!
Caro Walter,tê-lo aqui comentando é uma das raras oportunidades de propiciar aos demais leitores opiniões e enfoques técnicos de quem realmente priva no basquete internacional,e não o ouvir dizer de muitos “analistas” tupiniquins.O mismatch é o produto direto da mesmice técnico-tática do chamado “basquete internacional” que tem o apoio da maioria dos técnicos nacionais, pois ele decorre das estupidas especializações que vem sendo impostas aos jogadores, rotulando-os em 1,2,3,4 e 5,
manietados a ações setorizadas,propiciando uma anteposição defensiva de igual teor técnico individual,numa caricatura do 1×1,o 2×2,o 3×3 e assim por diante.Rompidas,por troca ou bloqueios,tais confrontos setorizados,são estabelecidos os desequilibrios de ordem fisica e técnica,que tanto temem os técnicos engessados pelo sistema.Numa equipe,ou dentro de principios técnico-táticos onde tais setorizações e especializações cedam caminho a uma concepção eclética e multifacetada de seus intervenientes jogadores,o mismatch
tenderá a ser bastante atenuado,
dada às características defensivas polivalentes de seus integrantes.Com a média de estatura dos armadores se situando à nivel de competição internacional por volta dos 195 centimetros,que em breve alcançaremos no Brasil se a prática dos fundamentos for desencadeada com vigor e disciplina,assim como a instituição da dupla armação continuar crescendo, nada impedirá que tal posicionamento vingue entre nós,pois o mesmo ao dotar a equipe de maior velocidade e técnica no perímetro externo,propiciará soluções táticas aos outros três jogadores dentro do mesmo,numa movimentação conjunta de homens e bola, e não estanque como se pratica hodiernamente.Se um sitema defensivo ao alternar aleatoriamente suas formações,entre
individual,zona e pressão tende a criar e desencadear grande desequilibrio nas ações ofensivas do adversario,imagine se forem programadas.Nesse ponto, o planejamento baseado em estudo de tapes,e até estatísticas podem ser proveitosos, mas nada que substitua o preparo qualificado e objetivo nos fundamentos do jogo,que é a ferramenta decisiva ao enfrentamento aos mismatch da vida.
Um abração Walter,e participe sempre com seus comentários,sempre importantes e atuais,Paulo Murilo.
Professor Paulo,
Em relacao a sua resposta, gostaria de reiterar que se prática dos fundamentos for desencadeada com vigor e disciplina, porque nao tornar todos os nossos jogadores especialistas do esporte e nao da posicao? Continuo adepto nao a mesmice internacional mas no estabelecimento de uma plano de jogo que tire proveito dos dados estatisticos e das observacoes(scout)enfocando os pontos fortes de minha equipe e atacando os ponts vulneraveis do adversario. No basket internacional, a pegada nos nossos armadores, com ou sem saida de bola organizada faz com que a gente cruze o meio da quadra com uma media de 16- segundos de posse de bola. Movimento continuo e motion offense seria viavel se o “shot clock” fosse maior e se todos os componentes de minha equipe tivessem o mesmo potencial de pontuacao e habilidade tecnica. Enfatizo uma filosofia de jogo de imprevisibilidade mas que explore os pontos fracos do adversario e que diminua o aproveitamento de arremesso por posse de bola do mesmo enquanto procuramos aumentar a porcentagem de aproveitamento de arremesso de minha equipe por posse de bola. Ainda penso que o basquetebol brasileiro e ainda muito empirico e que pouco se utiliza de dados estaticos que possam vir a ser explorado na competicao. Ainda me recordo, que durante o mundial, o Brasil estava executando a mesma movimentacao de ataque da China que possui elementos e caracteristicas totalmente diferentes da equipe brasileira. Well, thats it for now! Aproveito para reiterar que o salvador da Patria dirigia uma equipe na Europa com mais de 9 estrangeiros em sua equipe e que mesmo assim foram rebaixados para 2a e posteriormente 3a-liga do pais.
Amen!
Prezado Walter,ontem ao assistir pela TV ao jogo entre as universidades do Kansas e do Missouri pela Big 12 da NCAA,pude mais uma vez atestar o ponto de vista que defendemos conjuntamente,o de dotarmos todos os nossos jogadores,independente de posições,estatura, da formação às divisões adultas,de dominio nos fundamentos do jogo.Em diversas ocasiões naquela partida vimos os grandes e ágeis pivôs sairem de suas defesas driblando com boa técnica e velocidade,facilitando em muito a transposição da defesa para o ataque,ecomomizando tempo para as ações ofensivas. E olhe que na NCAA são de 35 segundos a posse de bola.Sem dúvida alguma o fraco desempenho nos fundamentos por parte da mioria de nossos jogadores, se constitue no maior óbice que teremos de enfrentar com urgência, antes de partirmos para soluções técnico-táticas que dependem decisivamente daquela habilidade estrutural.A busca da imprevisibilidade ansiada por todo técnico inteligente para seus sistemas de jogo,tem como ítem básico a capacidade de improvisação de jogadores muito bem preparados nos detalhes e minúcias dos fundamentos, pois só é capaz de improvisar quem tem pleno dominio dos mesmos, e por conseguinte,o conhecimento intrinsico dos sistemas de que participa.Bons scautings e detalhados videos serão de pouca valia para a formulação de sistemas de jogo, se os jogadores forem ineptos no dominio dos fundamentos.Esse é o fato das pranchetas serem tão populares entre nós.É que nelas tudo dá certo,refletindo às avessas a realidade crua do jogo.Devemos sempre lembrar que a mesmice técnico-tática é o resultado cruel do nivelamento rasteiro de uma realidade social,e desportiva. Quanto ao salvador,quem conhece um pouco do basquete mundial tem pleno conhecimento de seu curriculo.Mas nada que o faça perder os muitos euros que lucrarão, ele e quem o patrocina.
No mais resta-nos contritamente rezar aos deuses por dias melhores.
Um abraço,Paulo Murilo.
Paulo Murilo Iracema
Já que você é um grande técnico, e conhece das ciêcias do desporto, eu lhe peço para que poste alguns treinamentos para a pré-temporada de basquete que façam um bom efeito em muitas das habilidades, como salto, agilidade, fundamentos, dentre outras coisas fundamentais para um bom desempenho de um jogador.
Os motivos pelos quais estou enviando esse comentário é que sou um amante desse esporte, e realmente viciado em basquetebal, porem minha busca por treinamentos esta cada vez mais dificil de conquistar, e lhe peço que leia e respoda se possivel eh claro.
(esse assunto não está ligado ao do seu post, mas foi a unica forma que encontrei para lhe fazer esse pedido)
(se puder me mandar alguns treinos mande neste e -mail “ldmc27@yahoo.com.br”)
Grato: Lucas Drummond
Prezado Lucas,em primeiro lugar lhe afianço de que não sou um grande técnico, e sim um técnico e professor aplicado,e que conheço ainda muito pouco das ciências do desporto,falha essa que tento sanar estudando assiduamente através os anos,na tentativa sempre válida de aprender um pouco mais.Seu pedido me comoveu,como os muitos que recebi em todos os anos que milito na modalidade.Uns pude atender,outros infelizmente não,pois os que atendi os fiz pessoalmente,transmitindo conhecimentos e técnicas olho no olho,e não através exercicios rabiscados num papel.Tenho escrito nesse blog muitos artigos que falam e tocam no problema(sei que é trabalhoso se reportar aos quase 400 artigos publicados),como também sei o quanto de ausência bibliográfica reduz a divulgação dos fundamentos do jogo.Por tudo isso é que já está nas mãos de um editor o meu primeiro livro sobre os fundamentos,bastando um pouco de paciência até a sua publicação e venda (módica,com certeza)através esse blog.Ao não enviar exercicios para você,o faço movido pela plena certeza de que, sem uma supervisão permanente e pessoal,pouco de utilidade os mesmos representarão para sua melhoria técnica.Envie-me o nome da cidade em que você vive e atua, que tenterei indicar um bom técnico e professor que poderá ajudá-lo nos treinamentos.Envie-me também sua idade e experiência,que são fatores importantes para uma boa orientação.Um abraço,
Paulo Murilo.
Caro Professor Paulo Murilo,
parabens pelo nivel da discussão entre o senhor e o Professor Walter Carvalho. Dificil ver isso pelo internet, é um prazer le-lo sempre que possivel !!
Agora, questiono o senhor uma coisa.
O Minas bem na verdade deve ter revezado Soró com o Luiz Felipe na armação, qual a formação que o senhor gostou mais?!?
Eu acredito que com o Luiz, o time ganha em velocidade na transição e mais participação defensiva.
Com o Soró, ganha mais em termos ofensivos uma vez que ele pontua facilmente.
Queria saber do senhor isso, ou o senhor acredita que o Soró tem a qualidade necessária para driblar e passar a bola tão bem como o Facundo ou o Luiz ?
E outra questão Professor Paulo,
destes jogos que o senhor tem visto, algum armador encanta o senhor jogando aqui no Brasil ?
Eu gosto muito do Facundo Sucatzki do Minas, porém ele já não é novato e também não é brasileiro. Logo, não poderia ser utlizado na nossa Seleção.
Um abraçao para o senhor e estou lendo sempre que possivel !!
Prezado Henrique,os melhores momentos da equipe do Minas sempre aconteciam com os dois em campo,o Luiz e o Soró, que juntamente ao Vanderson,ao Maozão e o Facundo,apresentavam seu melhor basquetebol.Foi exatamente ai,na quebra desse entrosamento com a entrada forçada do americano que tudo ruiu,técnica,tática e moralmente falando.Quanto ao armadores que gosto, ai vai uma pequena relação para a escolha de qutro, que comporiam,no meu ponto de vista,as duplas impulsionadoras de uma seleção-Huertas,Fulvio,Mateus,Fred, Helio,Luiz,Valter,Leandro.Todos muito bons,mas que deveriam ser mais e mais treinados na função para jogarem em duplas fora do perimetro.Um abraço,Paulo Murilo.
Professor, grande lista.
Você não inclui o Arnaldo nela não ?
E o que o senhor acha da falta de valorização dos jogadores que atuam em nosso solo ?!
Li uma entrevista do treinador da Argentina e ele falou, que uma das vitorias para ele do Pre Olimpico,
seria a maior valorizaçao por parte de todos da Argentina para com o basquetebol local.
Aqui, deveria ser o mesmo ne ?!
Abração para o senhor.
Prezado Henrique,não inclui o Arnaldo por não considerá-lo um armador.Quanto ao testemunho do técnico argentino,concordo plenamente,e inclusive publiquei um artigo onde defendo uma seleção formada com jogadores que aqui estão,bem treinados, e que poderiam contar com dois ou três reforços deaqueles que estão fora,e mesmo assim que pudessem treinar integralmente por quatro semanas.Estariamos formando uma seleção coesa,apesar de não contar com as estrelas(mais de marketing do que outra coisa…)full time,mas que ao encontrarem uma equipe formada poderiam somar qualitativamente.As quatro semanas previstas para os mesmos estarem à disposição da seleção seriam suficientes para se entrosarem na equipe já pronta.Era o que faria se fosse o técnico, mas não acredito que seja do estilo mochiano.Mesmo esse plano de ação bateria de frente com a convocação dos jogadores locais,onde a maioria deles se originariam da Copa SP, e não do Campeonato Nacional.Meu último artigo aborda o problema.Um abraço, Paulo Murilo.