FALANDO DE SELEÇÃO…

“E ainda tem gente que escreve e comenta que o basquete brasileiro está acabado, e que os melhores jogadores estão atuando lá fora. Não é o que estamos vendo nesse campeonato, com jogadores de ótima técnica e grandes atuações. Que formidável jogo o que estamos assistindo”, afirmava o comentarista da ESPN Brasil na transmissão da final paulista.

Concordo com ele, e vou um pouco mais além, quando proponho que seja constituída uma seleção brasileira com somente jogadores que atuem no país, para treinarem de março até julho visando o Pré-Olímpico. Reunindo-se em fins de semana, e nos intervalos dos campeonatos, até que pudessem se concentrar nos treinamentos integrais dois meses antes da grande competição. Seria um desafio às qualidades técnicas e didático –pedagógicas do técnico espanhol escolhido para aquela difícil tarefa. Com hérnia ou sem ela, com assistente brasileiro ou não, se comunicando em espanhol, portunhol ou checheno, não importa, mas com razoável tempo para elaborar um bom plano de jogo e uma boa sincronia de equipe. Se não pudesse assumir tal tarefa, já que apalavrado e compromissado com os nomões de plantão, que um dos bons técnicos brasileiros fosse escalado, para este, que na minha humilde opinião, é o único modo plausível de se preparar uma seleção que tivesse como alvo uma difícil classificação olímpica.

Quanto aos delfins e cardeais, somente disponíveis e recheados de exigências e disposições nem sempre condizentes a atletas em suas melhores condições físicas e técnicas, que ao se apresentarem um mês antes do embarque(se é que poderiam atender às convocações aqui em sua terra…), disputariam democraticamente suas vagas em uma equipe razoavelmente treinada e ajustada, onde os mesmos (acredito que uns cinco no máximo…) poderiam somar suas qualidades e experiências para o reforço da seleção, e, o mais importante, contribuindo decisivamente para o desaparecimento, que se faz tardio, dos celebres e negativos “grupos fechados”, que tanto prejudicaram o nosso basquete nos últimos torneios internacionais.

Armadores como o Valter, Helio, Mateus, Fúlvio, Alfredo, Fred, somados a alas como Di, Marcio, Rogerio, Biro, Felipe, e a pivôs ágeis e moveis como Druri, Probst, Estevão, Maozão, Bambú, e outros que completassem uma lista inicial de vinte jogadores, plenos de vontade e determinação em defender a seleção, constituiriam o núcleo básico desse trabalho ao longo dos quatro meses mais importantes e decisivos para as nossas pretensões no restrito universo freqüentado pelas potencias do basquete internacional, ao qual pertencemos num passado não muito distante, e do qual nunca deveríamos ter saído.

Mas claro, que se trata de uma abstração aqui do velho técnico, que à margem e fora do circulo mandatário dos destinos do grande jogo, se mantém, exatamente pela distância de tão absoluto poder, a cavaleiro de situações espúrias e viciadas pela mais abjeta política desportiva de que temos noticia nas últimas duas décadas, manchadas e vilipendiadas por indivíduos descredenciados e despreparados dos mais ínfimos princípios diretivos e éticos, e que somente tem os estrábicos e míopes olhos voltados para seus intumescidos umbigos e egos convenientemente voltados às maiores ou menores vantagens que possam vir a auferir, política e economicamente.

A equipe de Franca, mesmo longe de repetir a última partida em seus domínios, teve suficientes trunfos para levar de vencida a de São Bernardo, dando continuidade ao renascimento do jogo veloz, sem deixar de ser controlado, da defesa na linha da bola, com os pivôs adversários tendo de fugir de suas posições pela marcação à frente que enfrentavam, da dupla armação de qualidade, da reescrita historia de um ala veterano, e principalmente, da contenção e objetiva direção de um técnico veterano, que aposentou a impessoal e fria prancheta, substituindo-a pelo dialogo olho no olho, e pela coerência diretiva ao exigir o que foi realmente treinado. Parabenizo a todos pelo muito bom e honesto trabalho.

Amém.



6 comentários

  1. Idevan G. 22.02.2008

    Caro professor, concordo plenamente com sua sugestão de montar uma equipe com atletas que joguem no Brasil visando o pré-olímpico. Pelo simples fato que precisamos treinar. Meu receio seria o risco do grupo ser um pouco inexperiente (ao menos em jogos internacionais), mas muitos jogadores que hoje atuam aqui já vestiram a camisa da seleção em diversas competições. Seria excelente, se alguém na CBB tivesse o mínimo de visão além de um palmo dos olhos.

  2. Basquete Brasil 22.02.2008

    Prezado Idevan,coincidentemente,ou não,o jornal O Globo publica hoje uma matéria com o técnico da seleção feminina, onde a convocação de uma equipe de jogadoras que atuam somente no país será considerada em termos finais. Por que não na masculina?Ou será que o fato inconteste de que a maioria dos convocados ao sairem das equipes paulistas que se insurgiram contra a CBB ao fundarem a ABCB,tornaria tão crucial medida passível de negativa? Porque somente contar com jogadores que se apresentarão, ou não,às vesperas da competição, em condições nem sempre ideais,para treinos corridos e sem profundidade? Politica de baixo nivel é isso ai caro Idevan.Antes dos legítimos interesses do país vigoram os interesses pessoais e continuistas, pois de ilusões em ilusões,promessas jamais cumpridas e adiamentos perenes,a casta dominante se perpetua no poder.Para eles,bom senso é argumento de trouxas,de abnegados,de iludidos,todos obstáculos aos ganhos e a sobrevivencia da matilha.Um abraço,Paulo Murilo.

  3. Anonymous 23.02.2008

    Prezado Prof. Paulo Murilo, não vejo hoje no país jogadores com condições tecnicas suficientes para representar o Brasil em um pré-olimpico, concordo sim em montar uma seleção com jogadores daqui de preferencia, mais novos, para disputarem campeonatos sul-americanos, pan-americanos, campeonatos de segunda linha. Infelizmente o trabalho na base do basquete brasileiro esta falida, quando surge um atleta bom nas categorias de baixo, os agentes vem e os levam para Europa ou EUA. Acho sim que a CBB deveria começar a proibir isto, mas na condição se os clubes ou a propria confederação tivessem condições de mantê-los em condições dignas aqui, como não possuem essas condições, temos que assistir um nacional mediocre e os nossos jovens atletas buscando sua liberdade financeira cada vez mais novo fora do seu país.
    Gustavo Silva

  4. Basquete Brasil 23.02.2008

    Prezado Gustavo,você já parou para observar a quantidade de jogadores medíocres que atuam na NBA e nas Ligas européias,fazendo com que jogadores brasileiros se sobressaiam razoavelmente junto aos mesmos?E que a maioria quase absoluta de nossos técnicos ditos de ponta somente admitem uma seleção composta por aqueles jogadores exilados? E que mesmo o contratado espanhol já expos seu ponto de vista baseado na presença dos mesmos? E que todos esses posicionamentos afastam a possibilidade de que estes profissionais admitam arriscar seus “prestigiosos curriculos” na preparação de uma seleção composta por jogadores aqui estabelecidos? E sabe o porque desse posicionamento?Isso mesmo,não têm competencia para mudar o rumo desta triste história,na busca de algo inusitado e fora dos canhestros padrões técnico-táticos a que estão escravisados por conveniência e criminosa omissão.Quero ver terem a coragem de reunir os bons jogadores que temos no país,prepará-los conscientemente nos fundamentos,ajustá-los em sistemas que fujam da mesmice internacional,dando-nos a oportunidade do fator surpresa,para num torneio de curta duração,como o Pré-Olímpico, retirar qualquer possibilidade de assimilação técnica por parte de nossos poderosos adversários, na tentativa de conquistar uma dificílima classificação.E finalmente,que tivessem a coragem de somente incluir na seleção final aqueles luminares que realmente quisessem defender o país,sem desculpas de cansaço,incomodas dores,e presunção do lugar garantido pelo status alcançado e pelos dolares e euros acumulados,que tanto enfeitiçam a claque deslumbrada tupiniquim.Pois ai sim,teriamos uma verdadeira seleção nacional,que mesmo perdendo dignificaria seu brilhante passado,dando um exemplo de dedicação às futuras gerações,sem grupos fechados,e cardeais sempre prontos a contestarem o comando da equipe.ED sabe do que mais?Temos no Brasil técnicos que fariam este trabalho,por serem competentes e energicos para comandar.Onde estão e quem são? Bem sabemos a resposta.O resto é conversa fiada de quem se satisfaz com a posição de colonizados profissionais.
    Um abraço,Paulo Murilo.

  5. walter carvalho 24.02.2008

    Professor Paulo,
    Saudacoes de Bahrain. Concordo com a sua proposta para elaboracao de um programa de treinamento para os jogadores que atuem no pais. Porem acredito que isto venha a ser inviavel devido as distancias e ao alto custo para manutencao de tal programa e a falta de um objetivo pois na hora “H” os jogadores que atuam no exterior serao os que participarao das competicoes importantes. Acredito que, se este programa viesse a ser implantado, esta selecao deveria participar de sul americanos – torneios internacionais e Pan Americano e os jogadores que viessem a se setacar nestas competicoes seria selecionados e aproveitados na equipe A para disputas de mundial e pre-olimpico. Desta forma os jogadores teriam a necessaria motivacao e o custo para tal programa seria justificado.
    Porem o que observamos e que os jogadores que particparao do mundial ja formaram um “ciclo vicioso” e este dificilmente sera quebrado por qualquer tecnico brasileiro ou estrangeiro. Ja existe uma aceitacao a nivel de quem e ou nao titular e o numero de minutos que cada jogador deve participar em uma competicao – se for quebrado este “status quo” – o tecnico ficara em uma situacao dificil para ser contornada. razao pela qual advogo uma selecao de jogadores que venha quebrar este “grupo fechado” que foi criado por falta de lideranca.
    Professor – possuimos as pecas e os componentes para sairmos desta situacao – so basta competencia, profissionalismo e autonomia por parte de nossos adminstradores e tecnicos para que as decisoes possam ser tomadas sem vinculos e obrigacoes. A situacao requer tecnicos com autoridade e peito para assumir tal responsabilidade e infelizmente nao acredito que isto acontecera – pois a selecao que sera formada sera a mesma que participou do pre olimpico em Vegas recheada de vicios e maus habitos. Com tudo isso – continuaremos torcendo! Ate breve!

  6. Basquete Brasil 25.02.2008

    Walter,numa citação lapidar de meu velho e causídico pai,ele me fazia sempre lembrar que -“Todo ser humano que erra,procura alguém que o compreenda,para continuar a errar”.O grande e verdadeiro amigo é aquele que coloca e situa o infrator ante seu erro,sem desculpas e maiores explicações, mesmo que a reação à negativa de apoio e compreensão estremeça,e até rompa com a amizade.Por que menciono essa citação?Porque temos de apontar o rumo certo,sempre,mesmo que desgoste e negue opiniões em contrário.Nossa seleção só tem uma chance de tentar a dificilima
    classificação.Inovar,arriscar, subverter,inusitar.E nenhum destes aspectos passa pela manutençaõ do status quo vigente e profundamente viciado e corrompido,desde a técnica à relação ética e de comando inter pares.Uma seleção que possa realmente se dedicar aos treinamentos,reforçada por jogadores comprometidos,atuantes e presentes ao dia a dia da mesma,sob um comando evolutivo e transgressor no que concerne aos sistemas de jogo,terá alguma chance no Pré,pequenas,porém reais.Deslocar jogadores no eixo sudeste,se torna infinitamente mais barato do que manter uma ficticia seleção sendo preparada na Europa,por um europeu,e com um planejamento de 35 treinos e 4 jogos amistosos.Seria ridículo,para não dizer,trágico,projetarmos sucesso a tão pífia preparação.É isso ai,meu caro e competente técnico Walter.Um abração,Paulo Murilo.

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