ABSURDA PADRONIZAÇÃO…

Vença quem vencer no próximo dia 4 de maio, como num conluio secreto, as supervisões e comissões técnicas das seleções de base continuarão as mesmas, intocadas e atuantes desde sempre, assim como o projeto de clinicas pelo país, cujos responsáveis são os mesmos que atuam nas mesmas, nome por nome.

Constituem uma unidade de pensamento, onde a palavra de ordem é a padronização, do preparo físico até os conceitos técnico táticos, da base ao adulto, pétreo, granítico, e por isso mesmo, absurdo e de uma pobreza de pensamento desoladora.

Numa entrevista no Databasket, assim se manifesta um dos preparadores físicos integrante das comissões técnicas da CBB :

“(…) Na seleção brasileira já fazemos um trabalho de padronização da preparação física, desde a base até o adulto, com as diretrizes sendo estabelecidas pelo professor Diego Jeleilate para melhor acompanhar o desenvolvimento dos nossos atletas. Isso é um grande passo e espero que seja em breve uma referência para todos no território nacional quando se trata de valores referência para o basquete. (…)”

Quer dizer que valores referenciais para o basquete nacional estarão padronizados? Como ousam estabelecer tais parâmetros num país que na verdade é um continente, com suas regionalidades, seu gentio diversificado e miscigenado, suas brutais diferenças econômicas, com situações climáticas que tocam os extremos, com uma alimentação carente e nem sempre sadia, com níveis de saúde claudicantes em situações endêmicas e não raro epidêmicas? Como ousam estabelecer padrões unificando formação de base e realidade adulta num país de impossibilidades naturais? Como um grupo paulistano, sede da maior economia do país ousa estabelecer padronizações nacionais baseadas em suas realidades, antítese da maior parte dos estados brasileiros?

Pois é, caros leitores, estamos no limiar de uma padronização de preparação física para o basquetebol, que em conjunto com outra, tão ou mais nefasta, a dos conceitos técnico táticos, que vem empobrecendo e afundando nosso basquete nos últimos 20 anos. E o que é mais apavorante, aceitos pela atual situação e as duas chapas que disputam o continuísmo na CBB, pois é disso mesmo que se trata, continuísmo, deslavado e sem vergonha.

“(…) Resumidamente, a função (de supervisor) é de oferecer as seleções, conceitos de jogo coletivo ofensivo e defensivo que são utilizados no basquetebol internacional, além de acompanhar os jogadores das categorias de base a fim de dar subsídios e respaldo técnico à comissão técnica.(…)”

E eu que sempre pensei serem estas funções exclusivas de um técnico, desde a formulação de sistemas de jogo, até a observação e acompanhamento de jogadores, e não exercer a incumbência de dar seguimento a sistemas e observações emanadas, e por que não, impostas por supervisores, em troca de indicações e enriquecimento curricular.

“(…) Acredito que o mais importante é na formação e capacitação de técnicos, principalmente os que estão atuando nas categorias de base. A criação da Escola de Treinadores de Basquetebol já esta em uma fase bem adiantada. Com a melhora da qualidade dos técnicos, penso que ira melhorar a qualidade dos jogadores e assim sendo, as equipes adultas deve ter obrigatoriamente a participação de jogadores ate 19 anos em seus campeonatos, o que já vem fazendo o NBB/LNB.(…)” ( São trechos da entrevista do supervisor das seleções de base da CBB dada ao site Newsflash por Alcir Magalhães ).

E nesse ponto chegamos ao âmago de uma amarga pretensão, e que influenciará decisivamente o futuro do nosso basquetebol, quando a já bem adiantada implantação de uma Escola de Treinadores se tornar realidade, e o mais trágico, nas mãos e dentro dos conceitos dessa turma do barulho, onde, mais uma vez repito, e incansavelmente me oporei, ao principio criminoso que se fundamenta em padronizações, quando toda uma tendência generalista e pluralista, fundamentos do humanismo democrático, se antepõe à tendências absolutistas e centralizadoras, fatores opostos à criatividade, alimento fundamental dos desportos coletivos.

Sem dúvida alguma necessitamos da melhoria de nossos técnicos, de trabalhos inovadores e modernos, opostos a copia pura e simples do que importamos de pior, sem a adequação às nossas necessidades e realidades, sem conceitos limitadores, já que padronizados, por aqueles que se acham donos das verdades, quando não passam de repetidores de interesses que não os nossos, todos na contra mão de nossa historia e de nossas tradições.

Uma Escola de Treinadores tem de se apoiar nos conhecimentos de todas as escolas, conceitos, sistemas, organizações, ligados e amalgamados às nossas reais condições e carências, respeitando as diferenças e oportunidades sociais de nossos jovens, de todos os pontos deste imenso país, exatamente para que ao compreendê-los em sua essência nos tornemos capazes de formular conceitos de preparação física, de técnicas e táticas, de apoio e preparação mental, de comportamentos sociais e esportivos, de ética e de patriotismo, profundamente estudados, pesquisados e aplicados à luz da diversidade e da generalidade, marca registrada de nosso povo continental, e não à sombra funesta de uma padronização liderada por uns poucos fundamentados em seus Q.Is. políticos e coercitivos.

Uma verdadeira Escola de Treinadores tem de ser liderada e composta por aqueles professores e técnicos que realmente representem nossa qualidade na formação, e não ser composta e liderada por pessoas que num prazo de 3 ou 4 anos pulam de uma equipe de clube para uma seleção nacional, por pessoas mais preocupadas em política do que em educação e esporte, por pessoas que aterrissam no basquete expurgados de atividades opostas ao desporto. Tem de ser composta por pessoas competentes e reconhecidamente capazes, que temos muitas em nosso país, porém despidas dos Q.Is convenientes, mas repletas de conhecimentos, alta técnica, e ética ilibada.

Uma verdadeira Escola de Treinadores tem de ser produto de uma associação de técnicos, ou de um ambiente universitário, e nunca pertencente a um órgão político, dissociado de funções didático pedagógicas por principio e formação, como CBB e COB. Deve ser autônoma e senhora de seus princípios e funções educativas e técnicas. Deve ser livre e democrática, bases do bom ensino e qualificação.

Amém.



7 comentários

  1. Prezado Professor,

    Mas que batalha! Como e dificil fazer eles entenderem…

    Uma verdadeira Escola de Treinadores tem de ser liderada e composta por aqueles professores e técnicos que realmente representem nossa qualidade na formação, e não ser composta e liderada por pessoas que num prazo de 3 ou 4 anos pulam de uma equipe de clube para uma seleção nacional.

    Fico triste quando leio rapazes de 29 anos ja tem a solucao para o basquetebol nacional – pergunto baseado em que? Nao quero questionar a capacidade de um dia estes se tornarem bons treinadores, porem no momento, qual e a base e o conhecimento que possuem para tal?

    Sofro de longe mas continuo otimista….

    Ate breve,

  2. uma pena!

  3. Basquete Brasil 27.04.2009

    E isso é só o começo caro Walter, só o começo.Fico imaginando o curriculo de uma escola organizado pela troupe, fundamentado-o numa premissa de padronização. É muita estupidez, mas é o que ocorrerá muito em breve.Que os deuses nos socorram e nos ajudem, se for possível… Um abração, Paulo.

  4. Glauco nascimento 27.04.2009

    Uma coisa foi muito bem dita por você. Não existe uma associação de técnicos, existe!? Acontece a mesma coisa com os jogadores. Não existe uma associação de jogadores,sendo que os jogadores são os que mais sofrem com isso. Um exemplo é o Flamengo onde os jogadores ficaram 4 meses sem receber salário. Tem que haver um maior envolvimento dessas partes para que o basquete brasileiro cresça com isso! Esses mesmos técnicos poderiam muito bem dar palestras para os jovens técnicos. Eu agradeceria se eles fizessem isso, porque até hoje só consegui assistir a uma palestra com Herb Brown e outra com Ary Vidal e Wlamir Bocardo, e isso já faz um bom tempo.

  5. Basquete Brasil 28.04.2009

    Prezado Glauco,associações de técnicos e de jogadores jamais serão apoiadas por federações e confederação, isso porque contestações e supremacia técnica não fazem bem às mesmas, que são politicas e interesseiras. Logo, cabe aos técnicos e jogadores se organizarem e partirem para a definição de seus destinos. Não existe outra alternativa. Um abraço, Paulo Murilo.

  6. natalia santos da silva 26.05.2009

    sim sim

  7. […] -ABSURDA PADRONIZAÇÃO… (27/4/09) […]

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