SEXTA FEIRA…

Foi uma sexta basquetebolística, na acepção do termo. Dois jogos semifinais da Euroleague, dois do NBB e um da NBA que só consegui assistir um quarto.

E ao final do dia, cansado e com a vista ardendo pela luminescência intermitente da TV, pude com a calma dos veteranos constatar pela enésima vez o quanto ainda temos de evoluir para alcançar o nível europeu e americano.

Começando pela Euroleague, o que mais acrescentar à excelência técnica do seu basquete, representado por um quarteto de equipes de tirar o fôlego? Talvez sua inquestionável eficiência defensiva, onde todos os jogadores, ao se empenharem de forma irrepreensível, ofereciam a seus ataques todo um lastro de firmeza, segurança e objetividade. Dá gosto ver armadores de alta técnica serem marcados fortemente, e mesmo assim exercerem suas funções essenciais sempre que em vantagem, numa disputa equilibrada e profundamente estratégica, assim como alas e pivôs que dominam os fundamentos com maestria e precisão, interagindo em sistemas de jogo onde todos se movimentam não importando o setor em que a bola se encontre. Enfim, um basquete solidário e instigante.

A NBA, apesar de não contar com a minha simpatia por jogarem um outro jogo, com outras regras e outra realidade técnico tática, não podemos deixar de admirar sua precisão inigualável na execução dos fundamentos do jogo, onde são mestres irrefutáveis,

E aí, nesse ponto fulcral, os fundamentos, aterrissamos na nossa realidade, nas imagens tatibitates da maioria de nossos jogadores quando de posse da bola, que para muitos é um estorvo irremediável, numa proporção diretamente relacionada com a estatura dos mesmos, que quanto mais altos, mais claudicantes se revelam no manejo e controle de seu instrumento de trabalho. E o pior e mais chocante, sem serem ensinados e treinados, da base ao nível adulto, onde as necessárias e básicas correções são preteridas em nome dos conceitos de sistemas de ataque e defesa, por parte de uma plêiade de pseudo técnicos muito mais voltados às suas pranchetas coreográficas, do que o ensino dos fundamentos, onde a maioria deles sequer desconfiam da existência de didáticas e princípios pedagógicos para torná-los realidade.

E é o que atestamos ao vermos num mesmo dia jogos europeus, americanos e brasileiros, onde constatamos incrédulos o abismo que nos separam do resto do mundo quando o enfoque é centrado nos fundamentos, seu domínio, seu entendimento, sua praticabilidade, individual e coletiva.

E para exemplificarmos essa disparidade, basta um único exemplo, o dos dois primeiros quartos do jogo em Brasília, quando a equipe do Flamengo se utilizou do Duda como o armador básico, sendo marcado inicialmente pelo Alex e posteriormente pelo Diogo, onde ambos assistiam à distância as evoluções do ala transformado em armador, que mesmo sem qualquer habilidade para tal função se fartou de municiar seus pivôs, quando é sabedora e notória sua fragilidade ao ser pressionado energicamente, já que não possui controle ambidestro. Uma simples troca de marcação, pelo Ratto por exemplo, armador típico, e que mesmo sem a presteza de anos atrás, seria suficiente para brecar e fustigar o Duda, não permitindo seu festival de assistências para o perímetro interno. Nesse dois quartos o Flamengo impôs uma dilatação no placar que o fez vencedor numa partida com numero elevado de erros de fundamentos, marca registrada de nossos campeonatos, seja em que categoria for.

E ao final do longo dia e seu desfile de jogos em dois continentes, mais se avolumou em nossa percepção o imenso abismo que nos separa de um basquetebol bem fundamentado, do qual fomos mestres um dia, e que atualmente se perde, ou já se perdeu, na penumbra da ignorância, travestida de “conceitos modernos do basquete internacional”, de onde só retiramos os sistemas, as jogadas e os pick and rolls rabiscados em pranchetas reluzentes, omitindo criminosamente os pré requisitos básicos e necessários para suas consecuções práticas nos campos do grande jogo, o conhecimento irrestrito dos fundamentos, seu estudo, sua pesquisa, seu ensino aos jovens, e por que não aos adultos envolvidos profundamente com o mesmo, mas que antes de tudo existam quem os estudem, pesquisem e ensinem, e que certamente não são os que ai estão empunhando lapitopis caipiras, bonés publicitários, pranchetas multicoloridas e um discurso modernoso e anacrônico, prontos para liderarem e divulgarem seus parcos horizontes em uma mais anacrônica ainda escola de treinadores, que segundo consta, já está em adiantado estado de organização, o que é lastimável se a mesma se tornar realidade dentro da concepção vigente.

Fundamentos sim, sob qualquer e isenta analise, é o óbice que nos mantém, pela ausência correta de seu ensino, fora do cenário internacional, e sem os quais nada alcançaremos no amanhã que se avizinha, pois a mesmice será sacramentada na segunda feira, onde as mesmas personalidades darão seguimento ao que ai esteve, está e estará pelos próximos quatro anos.

Que os deuses protejam nossas futuras gerações.

Amém.