NOSSOS VELHOS…

Recebo uma chamada pelo Skype pela manhã do Walter no longínquo Bahrain, que me cobra um artigo sobre os velhos técnicos, aqueles que ainda teimam em permanecer ativos, que estudam, e até pesquisam, curiosos e sempre em busca do novo , do inusitado, do anti passivo, do controverso, na contra mão da subserviência e da colonização explicita que nos esmaga. Ele mesmo, que outro dia era por mim dirigido no Flamengo, e que agora transmite seus conhecimentos em plagas tão distantes, e que na flor de seus quase 50 anos já se considera sócio honorário do clube… dos velhos.

E que venerável clube este, que sequer é levado em conta por seus pares mais jovens, para os quais, em esmagadora maioria, o basquete passou a existir com seus nascimentos, esquecendo, consciente ou inconscientemente, que já existia muito, muito antes, inclusive, dos velhos, e que estes, acumularam conhecimentos, experiência, sabedoria, bom senso e coerência de tal ordem, que somente quando lá chegarem, se chegarem, saberão entender e talvez compreender o mágico processo do amadurecimento intelectual, espiritual e porque não, técnico tático e fundamental, sem os quais ninguém poderá ousar formar, educar, treinar e liderar jovens em seu despertar para a vida competitiva e cidadã, na plenitude do conhecimento possível, onde os erros são largamente superados pelos acertos, e não ao contrário quando delegamos a inexperientes e neófitos tão básica e estratégica atribuição educacional.

E tão estratégica, que para a garantia da sobrevivência de seus povos e tradições, cabem aos idosos de nossas tribos indígenas a iniciação, educação e treinamento dos jovens nos conhecimentos milenares que se somam através gerações imemoriais, na mesma trilha percorrida pelos povos orientais de onde emigraram no limiar da humanidade.

Este posicionamento educacional, que ao ser respeitado e disseminado nos países europeus, e seguido pelos demais países oriundos de suas colonizações, ao ser transposto para os desportos os tornam fortes e dificilmente derrotados. No basquetebol essa realidade é indiscutível e largamente aceita e difundida. Não por acaso, estamos numa situação falimentar na formação de base, onde jogadores travestidos de técnicos, recém formados com conhecimentos mínimos, curiosos e provisionados crefianos traçam normas de ensino de conceituação frágil e destituídas de fundamentação didático pedagógica, de sólidos conhecimentos técnicos, de estruturas comportamentais, de vivência escolar e acadêmica, de estudos, de pesquisas e de comportamentos éticos.

Nossas seleções de base, nosso basquete de base, assim como nossos jovens técnicos oriundos de uma tentativa de padronização imposta como verdade absoluta, padecem dos males acima apontados, quando deveriam ser preparados, orientados e liderados por aqueles…velhos, aqueles mesmos que vivenciaram um trabalho magnífico que nos classificou no século passado como a quarta maior potência basquetebolistica mundial.

Por que não ouvi-los, não chamá-los a esta difícil e dolorida tarefa de formar nossos jovens, e preparar novos técnicos, orientado-os pelos caminhos do mérito, e não pelos tortuosos e irresponsáveis caminhos dos Q,I’s políticos e apadrinhados, cujos resultados ai estão escancarados à vista de todos, e que despudoradamente ainda se mantêm no comando? Por que?

Enumerá-los, não tem necessidade, são conhecidos e veneravelmente respeitados, e não se furtariam a sentar em torno de uma mesa, não necessariamente grande, onde dialogariam, traçariam, e até discutiriam propostas efetivas e coerentes de ações lógicas e sensatas, fundamentadas em suas vidas, longas e produtivas, onde uns ainda teriam fôlego para irem às quadras, e outros se manteriam na supervisão e no ensino, e todos liderariam as novas gerações de técnicos, aí sim, bem formados e exigidos em seus começos, e não nos fins que muitos pensam terem atingido.

Esse é o caminho, o único caminho, que no longo transcurso lembraria aos mais jovens o valor do respeito, da consideração, da ética, dos conceitos democráticos, e por isso mesmo, amplos e generalistas, em plena sintonia com nossa grandeza territorial e inter racial, para no ápice de sua formação atingir o pleno conhecimento do que vem a ser um educador, um professor, um técnico de sucesso, não só por títulos alcançados, mas primordialmente por sua função social, profissional e patriótica, onde símbolos do país jamais poderão ser desprezados e renegados sem a devida e exemplar punição, a começar por sua camisa.

Que os deuses protejam nossos velhos, e que os mantenham lúcidos, sábios e prontos a servir, na medida em que os lembrem.

Amém.



2 comentários

  1. Walter Carvalho 28.06.2009

    Professor Paulo Murilo,

    Agradeco a lembranca e aproveito para reconhecer o seu esforco e dedicacao prestado ao Grande Jogo. Felizmente eu tive a oportunidade de ser dirigido por um mestre como voce – estudioso, dedicado e etico. A sua influencia em minha vida profissional extrapolou as dimensoes da quadra pois os seus ensinamentos tambem contribuiram para a minha formacao como homen e cidadao.

    Em relacao a indicacao de jovens ainda nao experientes para a formacao de nossos jovens atletas, gostaria de citar que grande parte do ensino-aprendizado-treinamento, ou seja, o que fazer – como fazer e quando fazer – faz parte de um conhecimento processual que so pode ser adquirido com kilometragem, ou seja, vivencia e experiencia.

    Estes, nao por falta de capacidade e sim por falta de experiencia, ainda nao podem entender e visualisar de uma forma mais clara e eficiente a interrelacao entre os componentes do esporte: tempo-espaco e situacao e como esta triade se relaciona a variaveis do jogo como equipe, caracteristicas e talento individual, adversario, bola, placar e suituacoes de jogo.

    Este ainda na esta amadurecido o suficiente na profissao para perceber o grande jogo.

    Fico a imaginar – como seria a grande metamorfose no nosso esporte se a profissionais como voce fosse dado a oportunidade para contribuição e formacao destes profissionais. Formacao esta baseada em experiência, visão e conhecimento técnico-pedagogico.

    No mais continuamos a lutar e a estudar. Recomendo uma mudanca radical de conceitos e na estrutura de nossa formacao de base unico maneira de sair desse buraco em que, todos concordamos, nosso Basquetebol se encontra.

    Tudo de bom – Felicidades e Saude

  2. Basquete Brasil 28.06.2009

    Somos curtidos pelos longos anos de estudo, trabalho, pesquisa e orientação de equipes nos diversos segmentos que as compõem caro Walter, assim como muitos profissionais de verdade espalhados por este imenso país e mesmo fora dele, todos sinceramente desejosos de participar do soerguimento do grande jogo entre nós. Mas não temos cacife político para tanto, pois o que sabemos é ensinar, orientar, formar e dirigir jovens e adultos, o que é muito pouco frente ao conhecimento e apadrinhamento político rasteiro dos que comandam o desporto em nosso infeliz país.Logo, só nos resta a continuidade laboral e o estudo visceral, o que nos leva de encontro à paz e ao conforto do dever cumprido. Um abração, Paulo.

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