UMA BÚSSOLA, URGENTE…

Numa época em que executivos empresariais e de administração são disputados acirradamente pelo mercado, onde qualificação, experiência de campo, estudos atualizados, postura de comando e decisões se tornam moedas de altíssimo valor, nosso esporte, na contra mão da realidade evolutiva, ainda se prende aos antigos padrões coronelistas e paternalistas, onde uma outra moeda se faz dolorosamente presente, a do escambo e do QI da mais rasteira política.

“Não sou formado-estou cursando administração-,e vou me esforçar para conseguir o diploma porque sei que é importante. Em outubro, logo após a Copa América, embarco para Los Angeles, onde ficarei 45 dias fazendo um curso voltado para a formação de elencos na UCLA.(…) Minha principal missão no cargo, agora, é classificar o Brasil para o Mundial.(…) Mais para frente teremos de reformular os trabalhos na base, unificar os discursos, trazer todos para a mesma linguagem.(…) No começo sei que vou errar, mas sempre estarei de peito aberto para aprender e acertar da vez seguinte. Comigo vai ser assim: estou aberto ao diálogo, porque acredito que neste momento o basquete não pode se privar de nenhuma idéia. Nenhuma mesmo! (…) As categorias de base, por exemplo, quase não participam mais de Mundiais, e quando participam têm dificuldades. Quando isso acontece, alguma coisa precisa ser feita, não?”

“(…) Gosto do da Metodista, de São Bernardo(…). É um trabalho integrado e com a presença de psicólogos em todas as categorias, o que considero muito importante.(…) Se começarmos isso aos 13, 14 anos, no entanto, teríamos uma geração completamente mapeada, com suas características, deficiências, medos e pontos fortes. Pretendo, também, avalizar a escola de técnicos.(…) Sei que temos que trabalhar, mas estou otimista. Não adianta mais ficar esperando as coisas acontecerem.”

São declarações do recém empossado Diretor Técnico da CBB, pinçadas de uma entrevista dada ao jornalista Fábio Balassiano do blog Bala na Cesta, em 4 /8/09.

Como vemos, ou lemos, um cargo comissionado e provavelmente muito bem pago, está sendo ocupado por alguém que afirma-“ Sei que temos de trabalhar, mas estou otimista”. Muito bem, trabalhar sob quais objetivos, planejamentos, estratégias, finalidades? Quais idéias ao menos, quais? Onde estão os planos e projetos desse trabalho tão fundamental para a modalidade, onde? Lendo as declarações, como disse, pinçadas da entrevista, me vem logo à mente a imagem de uma bússola, daquelas bem simples, que no final das contas poderia orientar o nosso executivo de encontro ao seu sonhado norte, que talvez se descubra em sua volta de LA, com a quimérica realidade (para nós…) de uma organização a mil quilômetros de nosso cotidiano, como a da UCLA.

E como em toda situação caótica, onde objetivos inexistem, e sequer sabem ser formulados, brechas absurdas e irresponsáveis suscitam penetrações de profissionais de outras áreas, que cada vez mais se apoderam de uma atividade formativa e educacional de natureza humanística, cuja riqueza e experiências transformam o esporte num veículo permanente de descobertas e vivências essenciais ao desenvolvimento pleno de nossos jovens, função básica desenvolvida e exercida pelos verdadeiros artífices dessa arte, os professores e técnicos envolvidos e compromissados com a formação de base, e não um pragmático grupelho interessado em mapeamentos de crianças e jovens que simplesmente desejam jogar, conhecer e amar o grande jogo.

E ante tais declarações, absolutamente vazias de projetos e estratégias, me recolho àquela insignificância dos sonhadores, dos velhos sonhadores, mas plenos de trabalho reconhecido, de vivências encanecidas, de conquistas meritórias, de sacrifício insano e mal pago, quando pago, dos muitos iguais e superiores em sabedoria acima da minha humilde realidade, espalhados por esse imenso país, plenos de conhecimento, mas velhos demais para serem ouvidos, sequer prestigiados, pois no fim dos tempos, reconhecem que – quem tem padrinho, não morre pagão…

Amém.



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