BASQUETE SOCIETY…

Sou de uma época, mais propriamente no Grajaú, onde existiam somente casas e alguns sobrados de dois andares, e muito terreno e descampado para jogar, brincar e sentir a terra sob os pés descalços. Mas o progresso e o gentio floresceu, e os terrenos e descampados foram sumindo vertiginosamente, dando lugar a enormes prédios com sua população enclausurada e voltada à passividade televisiva, e mais recentemente, escravizada às telas dos computadores.

A ausência dos espaços de lazer deram origem aos desportos miniaturizados, ao futebol soçaite, ao vôlei em duplas, ao basquete em trincas, e outras mais modalidades que tiveram de se espremer, principalmente nas escolas, pela ausência dos espaços tomados pelo crescimento das cidades.

No entanto, mesmo sem a abundância de antanho, as modalidades olímpicas se mantiveram atuantes, claro, assimilando jovens sem a liberdade espacial de outrora, mas encontrando na nova realidade meios de compensarem tais limitações, através um preparo mais técnico, com professores e técnicos conscientes, bem preparados e melhor formados, e que deram inicio a algumas décadas de formação básica intensa e vencedora.

No entanto, nos últimos vinte anos, quando o progresso tecnológico deu passos gigantescos, e a pragmatização alcançou índices majoritários, como num retrocesso histórico, estagnamos ante essa nova realidade quando perdemos e abjuramos os princípios humanísticos que nos haviam sido legados pelas antigas gerações, originando o que agora presenciamos num misto de torpor e incredulidade.

E na vitrine desses novos tempos, teimamos em inovações que pensávamos ultrapassadas e caducas, ao miniaturizarmos uma equipe de alta competição, participante de campeonatos sérios e importantes para o futuro do basquete brasileiro, a Copa America, e mais do que certo, o Mundial em 2010, apresentando ao mundo o Basquete Society, onde somente 7 jogadores participam nos jogos para valer.

Termos no banco 5 outros jogadores se torna de somenos importância quando inovações desta magnitude são lançadas na grande passarela de um modismo simplesmente ridículo, para não dizer, assustador, tal a disparidade técnica que separa essas duas equipes dentro da que deveria ser a seleção brasileira de basquetebol, única, participativa em seu total, e representativa do que temos de melhor na pratica do grande jogo, para a qual, acredito convicto, existirem praticantes aptos a servi-la de forma eficiente e técnica, e não contemplativa como agora.

E hoje, nossa equipe de basquete society se viu em apuros ante o limitadíssimo, porém aplicado na defesa, Canadá, e não fosse a exibição de gala do Leandro, provavelmente estaríamos lamentando a perda de mais uma vaga entre os melhores. E é aconselhável tratarmos com urgência o conveniente preparo para os futuros enfrentamentos, começando com o Uruguay amanhã, e terminando com os portorriquenhos mais adiante, já que sistema de jogo no formato society deve ser diferente do tradicional, acho eu, que somente entendo deste último. Mas como sempre anseio aprender mais…

Não devemos brincar com coisa séria, ainda mais se tratando de seleções nacionais. E sugiro ao Moncho, ou ao eslavo, checheno ou esquimó que querem trazer para substituí-lo se não quiser ou puder continuar, que freqüente o basquete tupiniquim, assistindo seus campeonatos e torneios, os mais que puder, a fim de exercer uma convocação técnica, eminentemente técnica, e não de política compensatória como se tornou hábito em nosso país, a fim de que abandonemos de uma vez por todas inovações absurdas como essa em vigor, o basquete society, e que tenhamos no Mundial uma equipe forte, coesa e completa com seus doze componentes, todos habilitados a defenderem o nosso tão mal tratado basquetebol.

Que assim seja.

Amém.



4 comentários

  1. Walter Carvalho 03.09.2009

    Professor Paulo Murilo,

    Concordo integralmente com o seu comentario. Um pais como o Brasil nao pode ter uma equipe de Baketball Society participando de uma competicao taoimportante quanto a Copa America e o Mundial como tambem nao pode ter um tecnico “part-time” especialmente se este for estrangeiro!!!!

    Gracas a Deus conseguimos vencer o Canada assim nos classificando para o Mundial – porem fico pensando o que poderia ter acontecido se jogadores como o Huertas, Varejao ou Leandrinho tivessem se machucado em um dos jogos anteriores os impedindo de continuar na competicao????

    Ate breve – Professor!

  2. Basquete Brasil 03.09.2009

    E quase aconteceu Walter, o Spliter por pouco não se contundiu seriamente, e sabe quem o foi substituir? O Guilherme, um dos 7 magníficos, já que o JP está lá… Estagiando?
    Inédita e constangedora essa nova modalidade de basquete society que o Moncho,agora desperto do erro de delegar a convocação a seu político assistente, trata de divulgar como uma solução de alta técnica, contrastando frontalmente sua retórica na formação dos técnicos espanhois, esse arremedo canhestro de dividir uma seleção brasileira em dois segmentos, dos que podem ou não participar dos jogos mais sérios, ou seja, configurando o basquete society.Duvido que ele coloque tal estratagema na grade curricular da escola de treinadores de seu país, repito e afirmo, duvido.
    Por estas e outras situações kafkanianas é que temo, cada vez mais pelo futuro do basquete no país, sob a orientação dessa turma que está dando continuidade à época gregoriana. Aliás, está lá em Porto Rico o triunvirato Greg,Chak & Carl, certamente sorvendo juntos um White Label 12 anos, brindando e gargalhando nossa endêmica omissão.
    Um abraço Walter. Paulo.

  3. Walter Carvalho 04.09.2009

    Professor Paulo Murilo,

    No campo da administracao, muitos “falsos administradores” fream qualquer tentativa de crescimento por nao terem a capacidade para administrar e coordenar e sair daquele mundinho pequeno que controlam e enganam.

    Acredito que o Basket Society e igualmente uma situacao ideal para os “curiosos do grande jogo” por ser esta uma situacao mais facilmente de ser controlada, nao questionada e contestada. Uma vez, escutei um desses falsos “tecnicos” dizer que “quanto menos jogador eu tiver para dirigir e substituir – melhor sera – pois estarei assim evitando problemas”

    A situacao da selecao brasileira e a do basket society e isso ai! 7 jogadores dividem os minutos de jogo e 5 aceitam a situacao.

    Professor, nosso esporte esta realmente na contra-mao – especialmente quando comparamos com o que esta sendo planejado e executado nos paises desenvolvidos no esporte.

    Tive a oportunidade de visitar a Turquia a convite da federacao de basketball e la pude observar o invejavel numero de participantes e o trabalho fantastico que estes estao executando especialmente nas categorias de base.

    Os jovens turcos entre 12 e 19 anos – todos uniformizados adequadamente, com bolas novas e em um ginasio fantastico – dividem os horarios para pratica do grande jogo sob a cordenacao de tecnicos que trabalhavam os fundamentos basicos do esporte e nao sistemas de jogo como atualmente esta sendo feito no Brasil.

    Realmente – adoraria nao estar aqui criticando e sim congratulando o trabalho que esta sendo executado porem estes curiosos nao estao nos dando condicoes para tal….

    Ate breve Professor.

  4. Basquete Brasil 04.09.2009

    >>> “Se Leandro e Tiago não estiverem 100%, não vão jogar contra Porto Rico. Seria maravilhoso usá-los na luta pelo título, mas não vou ameaçar a trajetória de Tiago na Espanha e de Leandro no Phoenix Suns. Se estiverem em boas condições, jogam. Se não, ficam fora”

    MONCHO MONSALVE, sobre o jogo desta sexta-feira em San Juan.

    publicado por Rodrigo Alves – 01:37

    Veja isto Walter.Foi publicado no Rebote ontem, e eu mesmo vi no SPORTV quando da coletiva após o jogo contra o Uruguai.
    Esquece, ou se faz de desentendido o Moncho, que ambos os jogadores são e estão no momento defendendo a seleção brasileira, e que todos os interesses devem ser pautados por esta evidência, o de serem da seleção brasileira, segurados e autorizados, sob cláusulas contratuais, para exercerem esse pleno direito.Imagine tal declaração numa possivel disputa classificatória no próximo Mundial, onde tal colocação poderia, ou justificaria a não participação dos jogadores? Teria o Moncho a mesma presteza em defender os interesses de clubes da NBA e de seu país natal em anteposição aos nossos? E por que não o vimos tomar tal posicionamento ante as públicas decisões do Gasol, do Scola, do Ginobilli, entre tantos outros que optaram e lutaram pelo direito inalienável de defender seus países?
    Porque, e por quais motivos empumha um microfone em uma coletiva de imprensa e emite tais declarações que não são de sua alçada? E ainda mais, quando se trata de um estrangeiro? Há, dizem muitos ingênuos de plantão,que ele já conseguiu a classificação, e o título da Copa já não é tão mais importante assim. Estão tais depoimentos espalhados pelos blogs especializados. Pois bem, tem importância sim, e muita, haja vista os grandes jogos que estão sendo disputados por argentinos, costariquenos, dominicanos e canadenses,dois deles já classificados,e que estão sendo incensados por estes mesmos comentaristas nos mesmos blogs. Então, tais jogos são importantes para os outros, e para nós não, satisfeitos com a classificação? É esse o posicionamento para avalizar declarações vazilinadas do Moncho? Estarei enganado quando defendo uma seleção formada dos melhores doze jogadores que possuamos, e que lutemos por um título importante ao nosso soerguimento, e que está sendo perseguido tenazmente pelas demais seleções? Ou estamos tão embaçados pela visão orgástica de uma classificação para um Mundial, que esquecemos a verdadeira situação de penúria em conquistas em que nos encontramos a tantos e tantos anos? Que o Moncho tem o direito de fazer seu marketing pessoal, por ser um bom e competente técnico, não se discute, mas que o faça em assuntos espanhois, e não à custa do nosso tão espezinhado basquete, no qual ainda não alcançou o status de referência e unanimidade nacional. Um abraço Walter. Paulo.

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