TRIBUNA E ORATÓRIA…

“Preciso de desafios. Gosto da tribuna, da oratória ( não seria oratórria?…). Meu primeiro desafio como atleta foi uma Olimpíada”(…)

(…) “Neste caso, o esporte olímpico do Brasil estava em jogo aqui. Porque uma Olimpíada alavanca a construção do esporte num país. O esporte sai da esfera do comitê e vai para a sociedade. Esse é o maior legado em que posso pensar”(…). (Presidente do COB- O Globo 11/10/09).

Perfeito discurso, perfeita oratórria, idêntico ao que antecedeu o Pan Americano, com seu legado absolutamente nulo, tanto em esporte, como em benefícios à população do Rio.

Já se descortina no futuro de 2016 seu discurso e oratórria ao declarar aberta a Olimpíada, claro, após uma bem orquestrada vaia presidencial. Afinal, o amor à tribuna e extrema vaidade não tem limites: “Eu era o único que poderia ter feito aquele discurso na apresentação final, falando diretamente com os delegados, e pedindo para que refletissem sobre a decisão histórica que poderiam tomar. Soubemos utilizar meu peso político e isso contou nessa candidatura”.

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E para provar o que disse, logo após a leitura do voto vencedor, agarra com as duas mãos a cabeça do presidente do país e beija a sua face, da mesma forma como se cumprimentam os de seu circulo corporativista, como um premio de consolação àquele cujo insignificante discurso aos delegados pouco valor teve se comparado ao seu monumental poder de oratórria…

E para não deixar qualquer margem a dúvidas sobre sua perene influência declara: (…)” Já observo gente que pode me suceder, mas por enquanto, eu sigo o que generais e estrategistas do passado fizeram: lidero as minhas tropas. Essa questão de limitar mandatos não existe” .

E pensar que o presidente do país estava crente de que seu discurso teria sido fundamental…  E sequer imagino se ainda não se convenceu dos papéis que protagonizou na abertura do Pan, e agora, em Copenhagen, onde serviu de escada para o mago da oratórria destilar seu convencimento e poder mafioso.

Serão 23 ou mais bilhões na banca, rodeada pelos reis do blefe, com suas mãos recheadas de naipes em publicidade, marketing, projetos e mais projetos de construções e falsas benfeitorias, segurança com data marcada, conluio com o transporte rodoviário lobista, e um possível e pretenso investimento na malha ferroviária, escolas de línguas, preparo e treinamento dos úteis e ingênuos voluntários, a massa que dá duro para os comandantes lucrarem, e mais um milhar de obras que serão fatalmente super faturadas, numa repetição multiplicada por cem do ocorrido num Pan de triste e tão recente memória.

E conclui solene: (…) “Até o final do ano anunciaremos planos para o esporte de alto rendimento. Há o compromisso com o Lula, que me chamou para cobrar resultado já no dia 3 (…). E todos nós pensávamos que tais planos já estivessem sendo processados desde muito antes do Pan… Engano, somente os do vôlei, sua escada original.

Enquanto isto, nossas escolas agonizam, os professores, desculpem, os profissionais de Ed.Física, atrelados curricularmente aos centros de formação biomédica, dicotomizados da formação humanística dos centros de formação de professores, vegetam uma vida paramédica de terceira categoria, vigiados por confefs e crefs que distribuem autorizações a dungas e congêneres, aliados que estão à industria do corpo, e afastados do comando e liderança do MEC, mas ligados politicamente aos desígnios de um Ministério do Esporte partidário, tornando inviável a disciplina de Ed.Fisica nas escolas, outrora de importância vital , junto com as artes e a música, para a formação plena de nossos jovens, direito constitucional do país.

E por conta desta insânia, falar de esporte na rede pública escolar do país passou a ser pecado capital, o mesmo já falido nos clubes, o mesmo que o agora imperador do país denomina de alto rendimento, como se a massa de jovens pudesse ser espremida como limões a seu bel prazer, na busca de uma excelência somente possível com a massificação do mesmo.

E onde massificar senão na escola prezado imperador? Mas antes, bem antes teremos de preparar professores e técnicos, em escolas para professores, sob a ótica clássica do humanismo e dos princípios generalistas, que são a base da educação democrática, e não o pragmatismo desenfreado dos atuais currículos forjados e administrados em cursos de base paramédica.

E com a volta estratégica da formação de professores para a área humanística, veríamos cessar a catastrófica influência e tutela de conselhos de educação física, cuja maior performance foi a de autorizar milhares de leigos a empunharem um legado didático pedagógico que absolutamente não dominam.

Com essa base formativa reinplantada, poderíamos reintroduzir a educação física de qualidade nas escolas, e seu produto natural, o desporto escolar, jamais dissociado da formação plena do cidadão, do atleta-cidadão.

E com uma ou duas gerações de trabalho intenso poderíamos alcançar padrões atléticos que nos situasse ao nível das grandes nações, aquelas mesmas que colocam a educação no patamar maior de suas conquistas humanas e tecnológicas, que como podemos avaliar, em muito ultrapassariam os 2016 da vida, em contraponto aos projetos enganosos e criminosos de esporte de alto rendimento, saídos da verve oportunista de um amante incondicional da oratórria.

Não nos iludamos, pois a performance atlética e grandes resultados em 2016, com exceção óbvia do vôlei, não terão a menor importância ante à presença real e palpável de um cornucópia financeira que enriquecerá uma geração cada vez mais elitizada e especializada, altamente especializada, em se apropriar de verbas públicas, a qual, em absoluto interessa escolas de qualidade, educação democrática e acessível, pois um povo educado seria o maior entrave às suas conquistas político econômicas.

Maquiar uma realidade brutal como essa não resolverá o nosso atraso, e sim investir pesadamente em educação, o que duvido que venha a ocorrer, ainda mais em um país presidido por um homem que não lê, rodeado por oportunistas que amam a tribuna e a oratórria, ah, e os milhões também.

Que todos os deuses disponíveis nos protejam, mais uma vez.

Amém.



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